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4 ESTUDO DE CASO: O PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO

4.3 A continuidade do programa: o PAC 2

Dando seguimento ao PAC 1, que na realidade não atingiu muitos dos seus objetivos, o governo federal lançou, em 29 de março de 2010, o PAC 2, com os mesmos fins do anterior. Vários foram os motivos alegados pelo governo federal que levaram a lançá-lo antes sequer que o PAC 1 tivesse alcançado metade de suas metas. Um deles é que o PAC seria uma ação de Estado, e não apenas de governo, devendo ser mantido o legado do planejamento dos investimentos necessários ao crescimento econômico permanente do país. Ainda, alegou-se, à época, a necessidade de seu lançamento como forma de garantir previsibilidade dos investimentos que deveriam ser feitos no médio prazo, bem como que as empresas produtoras de insumos somente fariam seus investimentos para ampliar a produção a partir das expectativas de demanda para realização de obras. Outra justificativa foi a de que Estados e municípios só investiriam em projetos se houvesse perspectiva de captação de recursos junto ao governo federal.

O PAC 2 tinha previsão preliminar de recursos da ordem de 1,59 trilhão de reais em uma série de segmentos, tais como transportes, energia, cultura, meio ambiente, saúde, área social e habitação. São 6 as áreas – ou eixos, como são chamados – de investimentos do PAC 2: Cidade Melhor; Comunidade Cidadã; Minha Casa, Minha Vida; Água e Luz para todos (expansão do Luz para Todos); Transportes e Energia. Para melhor compreensão, segue tabela com os eixos e a previsão preliminar de investimento:231

231 BRASIL. Relatório – Lançamento PAC 2. Brasília: Ministério do Planejamento, 2012. Disponível

O PAC Cidade Melhor engloba ações de infraestrutura social e urbana, com o objetivo de enfrentar os principais desafios dos grandes centros urbanos para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Encontra-se dividido em 9 subeixos: PAC Cidades Históricas, Cidades Digitais, Mobilidade Urbana, Saneamento, Pavimentação, Prevenção de Áreas de Risco, Infraestrutura Turística, Equipamentos de Esporte de Alto Rendimento e Equipamentos Metroviários.

O PAC Comunidade Cidadã compreende os serviços sociais e urbanos nas grandes cidades brasileiras, com ações de ampliação na cobertura de serviços comunitários nas áreas de saúde, educação e cultura. Fazem parte desse eixo as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), as Unidades Básicas de Saúde (UBS), Creches e Pré-Escolas, Centro de Artes e Esportes Unificados, Centro de Iniciação ao Esporte (CIE) e Quadras Esportivas nas Escolas.

Especificamente quanto à área da saúde englobada por este eixo, as UPAs devem receber um investimento de R$ 2,6 bilhões, com previsão de construção de 500 unidades. O plano também prevê outras 8.694 UBS, com a aplicação de R$ 5,5 bilhões para atendimento de rotina, clínica médica, curativos, ginecologia, pediatria, odontologia e aplicação de vacinas.

Por sua vez, o eixo Minha Casa, Minha Vida acabou se tornando uma das principais bandeiras do PAC 2, visto que profusamente difundido em todo o país. Tendo como principais objetivos reduzir o déficit habitacional brasileiro, dinamizar o setor de construção civil e gerar trabalho e renda, a meta do programa, que se iniciou em 2009, é construir até o final de 2014 dois milhões de unidades habitacionais, das quais 60% serão voltadas para famílias de baixa renda.

Eixos 2011-2014 Após 2014 Total (em bilhões de R$)

PAC Cidade Melhor 57, 1 - 57, 1

PAC Comunidade Cidadã 23 - 23

PAC Minha Casa, Minha Vida 278,2 - 278,2

PAC Água e Luz para Todos 30,6 - 30,6

PAC Transportes 104,5 4,5 109

PAC Energia 461,6 626,9 1.088,5

O programa, ligado à Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, divide-se em 3 subeixos: Financiamento Habitacional, através do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), Urbanização de Assentamentos Precários, além da construção das unidades habitacionais propriamente dita (Minha Casa, Minha Vida).

Somando todas as iniciativas neste eixo, foram previstos 278,2 bilhões de reais, sendo R$ 176 bilhões financiados pela caderneta de poupança, R$ 30,5 bilhões para urbanização de favelas e áreas de palafitas e os R$ 71,7 bilhões restantes provenientes de subsídio do governo para a construção das moradias.

O eixo Água e Luz para Todos abrange investimentos que visam à universalização do acesso à água e à energia elétrica no país, compreendendo os programas Luz para Todos, Recursos Hídricos e Água em Áreas Urbanas. Para esta área, os investimentos antecipados pelo PAC 2 totalizam 30,6 bilhões de reais. A área de água inclui o abastecimento nas áreas urbanas, com a construção e ampliação de adutoras e estações de tratamento, e também a irrigação para a agricultura e revitalização de bacias.

Desse total que devem ser investidos entre 2011 e 2014, o programa Luz para Todos conta com 5,5 bilhões de reais, tendo por meta fazer 716 mil ligações de energia elétrica. Mais 13 bilhões foram destinados para o abastecimento em áreas urbanas e 12,1 bilhões de reais foram previstos para recursos hídricos (agricultura e rios).

O PAC Transportes tem como objetivo consolidar e ampliar a rede logística, interligando diversos modais (rodoviário, ferroviário e hidroviário) para garantir qualidade e segurança aos usuários e otimização do escoamento da produção brasileira. Abrange projetos para aeroportos, portos, rodovias, ferrovias, hidrovias e equipamentos para estradas vicinais, isto é, estradas de caráter secundário, normalmente municipais, mas importantes para a circulação de bens.

Como visto na tabela acima, a expectativa de investimento neste eixo foi de 109 bilhões de reais a partir de 2011. Desse montante, quase a metade (R$ 50,4 bilhões) se destina a rodovias. O PAC 2 pretende expandir em 8 mil quilômetros as rodovias, e fazer manutenção em 55 mil quilômetros. Novos projetos foram direcionados a mais 12,5 mil quilômetros.

As ferrovias ficaram em segundo lugar, com previsão de 46 bilhões de reais, com previsão de expansão de 4696 quilômetros da malha ferroviária. O programa prevê a realização de estudos de viabilidade para criar novos trechos para trens de alta

velocidade, os chamados trens-bala. Parte dos valores destinados às ferrovias pagariam pelos estudos de viabilidade para 1991 quilômetros de linhas de trens de alta velocidade nos trechos São Paulo-Campinas; Campinas-Triângulo Mineiro; e Campinas-Belo Horizonte.

Outros 5,1 bilhões de reais devem ser investidos em 48 empreendimentos portuários em 21 portos: 12 em dragagem de aprofundamento, 24 em infraestrutura portuária, cinco em logística, e sete em terminais de passageiros, com vistas para a Copa do Mundo de 2014.

O PAC 2 prevê também 2,7 bilhões de reais de investimentos em 48 empreendimentos de hidrovias, dos quais 34 serão terminais hidroviários, sete de estruturação de corredores hidroviários e sete relativos a estudos de viabilidade.

Os aeroportos, por sua vez, têm previsão de 3 bilhões de reais, destinados a 22 empreendimentos que abrangem 14 aeroportos, divididos da seguinte maneira: 15 empreendimentos relacionados a terminais de passageiros, 5 a pistas, pátios e torres de controle e 2 a estudos e projetos.

O PAC 2 prevê, ainda, R$ 1,8 bilhão a serem investidos em equipamentos para estradas vicinais em municípios com até 50 mil habitantes.

O último eixo, qual seja Energia, tem como objetivo primordial garantir a segurança do suprimento de energia elétrica a partir de uma matriz energética baseada em fontes renováveis e limpas. Para tanto, seus subeixos são: Combustíveis Renováveis, Geologia e Mineração, Revitalização da Indústria Naval, Geração de Energia Elétrica, Transmissão de Energia Elétrica e Petróleo e Gás Natural. Ressalte-se que este último subeixo visa à promoção da exploração das novas jazidas de petróleo e gás natural descobertas na camada pré-sal na costa brasileira e a construção de refinarias para ampliar e melhorar a produção de derivados do petróleo no país.

Quanto a esta área, o PAC 2 reservou 125,7 bilhões de reais para investimentos relativos ao petróleo da camada do pré-sal. Entre 2011 e 2014, serão injetados R$ 64,5 bilhões na commodity, com mais R$ 61,2 bilhões previstos para o período pós 2014. Os recursos serão distribuídos nos segmentos de exploração e produção, pelas bacias de Campos (RJ), Santos (SP), Amazonas, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará. Ainda, foi prevista a compra de 28 sondas para exploração e perfuração em águas profundas e oito navios para exploração e armazenamento de petróleo e gás natural.

Para o gás natural foram destinados R$ 9,3 bilhões, sendo que R$ 8,2 bilhões serão investidos no período entre 2011 a 2014 e R$ 1,1 bilhão no período pós 2014. O objetivo é ampliar a infraestrutura de transporte de gás natural, implantação de novos gasodutos e terminais de regaseificação e liquefação. Dessa forma, a prioridade para o mercado interno seria reforçada.

Não obstante, o governo federal pretende construir dez usinas hidrelétricas, de modelo plataforma,232 e mais 44 hidrelétricas convencionais com recursos do PAC 2. O investimento previsto para esse ramo totaliza 116 bilhões de reais. Muitas dessas iniciativas dependem ainda de licença ambiental. A região sul do país receberá quase a metade das usinas convencionais previstas no novo PAC. Ao todo, 20 hidrelétricas serão construídas no Rio Grande do Sul, Paraná e em Santa Catarina. Dessas, oito deveriam ter sido concluídas com recursos do PAC 1 e não foram. Outras oito também estavam previstas no PAC 1, mas as obras já tinham previsão de serem concluídas após 2010. Apenas quatro delas são lançamentos do novo PAC.