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3 DIREITOS FUNDAMENTAIS

3.3 D IREITOS F UNDAMENTAIS DAS C RIANÇAS E A DOLESCENTES E A

4.1.3 Contrapartida dos Filhos que Prestam Obediência, Respeito e

Questão delicada é saber qual a forma correta e equilibrada de os pais exigirem obediência e respeito dos filhos sem descambar para autoritarismo repressor e sufocante, com ataques físicos e psicológicos de uma criança ou adolescente. Quem ama dá limites para seus filhos, sabendo até que ponto é possível que uma criança ou adolescente possam, na sua liberdade, fazer ou deixar de fazer determinadas coisas.

A psicóloga Rosely Sayão, na sua obra “Como Educar Meu Filho? Princípios e desafios da educação de crianças e de adolescente hoje”, apresenta, num de seus textos, a transformação que ocorreu do século passado aos dias de hoje, e coloca sem dúvidas a necessidade de os pais estarem presentes e firmes nesse ministério:

“O Papel de Pais”

“Até a década de 50, mais ou menos, ao papéis sociais eram definidos com bastante clareza. A idéia sobre o que significava ser homem ou mulher, o que se esperava de um pai ou de uma mãe, qual a função do professor, por exemplo, era compartilhada pela maioria das pessoas. Da mesma forma, a estrutura familiar era entendida por meio de uma única configuração familiar: a forma elo pai, mãe e filhos.

Foi a partir da década de 60 que grandes e significativas mudanças sociais, políticas, econômicas, da moral e dos costumes tornaram-se mais nítidas, e os papéis sociais, antes rigidamente conceituados e limitados, passaram a ter mais relatividade, transformaram-se, ganharam elasticidade. Junto com esse ganho, entretanto, surgiram problemas, e um dos mais complexos, a afetar diretamente a família, foi a confusão sobre sua estrutura e a respeito das atribuições e das expectativas sobre o que significa ser homem ou mulher, pai ou mãe. A solidão social, na prática da educação familiar, foi apenas uma das conseqüências dessas mudanças. Os pais ficaram sem referências.

Apesar de tantas mudanças e transformações, os pais mantiveram um anseio: o de ser bons pais. O problema é que isso foi, pouco a

pouco, sendo confundido com proteger o filho sempre, fazer o possível para dar a ele tudo o que quer, acatar a posição dele sempre, entre tantas outras coisas. E tem sido em nome desse ideal de perfeição que os pais têm cometido muitos equívocos.

Não é possível ser perfeito: os pais se enganam, erram, falham. Todo o pai sabe disso por antecipação, tanto que já começa a experiência da paternidade ou maternidade sentindo culpa. Culpa que, muitas vezes, serve de justificativa para que os pais declinem de seu papel.

Mas, se no lugar da culpa os pais colocarem a responsabilidade, fica mais claro qual o papel a desempenhar: dar um norte ao filho, transmitir sua experiência de vida, fazer escolhas para o filho enquanto ele não tiver condições de ser autônomo – e se fazer respeitar e obedecer. Sim, sim, não dá para fugir dessa palavra: obediência. É aprendendo a obedecer aos pais que o filho aprende a ter autocontrole, de modo que, mais tarde, ele possa mandar em si mesmo. Muitos pais relutam em se fazer obedecer, mas aí ficam em débito com o filho.

É com os pais que o filho deve aprender as primeiras lições para tornar-se uma pessoa apta a viver em comunidade. E esse aprendizado ocorre principalmente pelo exemplo, e por meio da afetividade.

É este o papel dos pais: acompanhar, com afeto, os primeiros passos que o filho dá em direção da vida própria. Com firmeza, acolhimento, apoio e, quando preciso, oferecendo resistência ao que o filho quer impor. Aliás, se alguém tem de impor algo na relação entre pais e filhos, este alguém é o pai e/ou mãe.

Papel de pai é árduo, complexo, delicado, principalmente no mundo atual, em que a criança está sujeita a tantas interferências que os pais consideram negativas. Mas os pais não podem desanimar nem se esquivar de cumprir a obrigação que criaram quando tiveram o filho.”214

Em termos legais, após indicar o Código Civil no art.1.634 os deveres atribuídos aos pais devido ao poder familiar em contrapartida no último inciso do referido artigo que os pais podem (VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição).

Pelo visto, andou bem o legislador em garantir que os pais exijam respeito e obediência dos filhos, o que está interligado aos deveres de criar e educar o filho, pois sem autoridade seria impossível levar a cabo este mister. Aliás, muitos, desconhecendo o Estatuto da Criança e do Adolescente e o próprio Código Civil, lavam as mãos dizendo que nada podem fazer na criação de seus filhos, com o liberalismo trazido pela nova legislação. Confundem democracia nas relações familiares que devem ser ditadas com

respeito sem perder de vista a dignidade humana em relação a todos os membros da família, aí incluídas as crianças e adolescentes, sem castigos físicos e termo reverencial nas raias da tortura psicológica.

Neste sentido, é importante a advertência feita por COMEL215 no sentido que o dever de obediência do filho, na busca da educação e criação, deve ser acatada com sujeição e resignação, desde que se trate de comandos lícitos e em consonância com o direito, citando como exemplo:

“(ordem para estudar ou para ir ao médico), incluindo as proibições (não freqüentar determinados locais, não voltar para casa de madrugada, não andar com determinada pessoa). Exclui-se, de outro lado, toda e qualquer ordem ilícita e arbitrária (ordem de mendigar, para colar nos exames, para roubar, trapacear ou corromper), que, evidentemente, não são dadas no interesse do filho nem têm caráter educativo.”

De tudo o que foi dito, pode-se afirmar que o aprendizado do respeito e obediência pela criança e adolescente é o caminho natural para vida em comunidade onde, sem limites, regras pré-estabelecidas, a sociedade não teria como desenvolver as relações humanas na vida profissional, social e comunitária. Essa regra básica de obediência e respeito deve ocorrer também na escola, que é o inicio da vida comunitária de uma criança, como direito fundamental que possui.

Por último, a possibilidade de os pais exigirem que os filhos prestem serviços compatíveis com sua idade e condição também é uma questão delicada que não pode se levar ao radicalismo dos extremos de nada fazer dentro de sua casa relacionado aos trabalhos de arrumação e organização, diversamente de outros trabalhos relacionados à renda da casa com ajuda na atividade econômica dos pais. Mesmo nestes casos é comum filhos, principalmente na zona rural, ajudarem os pais na lidas do campo, sem que isso signifique exploração do trabalho infantil.216

215 COMEL, Denise Damo. ob. cit. p. 127.

216 ECA - Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é vedado trabalho: grifo nosso

Com o Direito da Infância e Juventude é alicerçado o estudo multidisciplinar a respeito da questão de que tipos de tarefas os pais devem exigir dos filhos. É oportuno trazer-se à baila, novamente, a opinião da psicóloga Rosely Sayão, expressa no seu texto “Da bagunça na casa à organização interna”, de onde extraímos o seguinte trecho:

“Antes dos seis anos, é muito difícil que a criança consiga aprender a se responsabilizar por alguma tarefa da casa ou por organizar suas coisas. Mas nada impede que os pais já comecem a introduzir os hábitos da família, desde que não esperem demais dela, é claro. Nessa idade, o filho pode, por exemplo, ser convidado a ajudar os pais na hora de guardar seus brinquedos, ser incentivado a colocar a roupa sozinho, ser encorajado a guardar os sapatos no local apropriado. Mas deve sempre estar acompanhado de perto pelo adulto.

A partir dos seis anos, no entanto, o filho já pode receber a incumbência de realizar algumas tarefas domésticas simples. Nessa idade, a criança já sabe como a casa funciona, onde as coisas são guardadas, onde as roupas sujas devem ser levadas, por exemplo. E, a partir dessa idade, a criança já consegue distinguir o espaço que é só dela – em geral o quarto – dos ambientes que são compartilhados por todos. E a família deve, sim, exigir um mínimo de ordem neles.

Evidente que isso exige persistência e dedicação dos pais na hora de ensinar, como sempre. Nessa fase, pode parecer mais fácil para os pais continuar fazendo tudo, já que a criança resiste. Espertas que são, quando percebem que alguém faz o que elas deveriam fazer, aprendem que não precisam assumir a responsabilidade. Ainda que haja uma pessoa responsável pelos serviços da casa, é bom que a criança tenha algumas tarefas sob sua responsabilidade, mesmo que seja necessário repetir a mesma coisa todo santo dia. Só assim ela começa a aprender os princípios da vida em grupo, como a colaboração e o respeito aos outros e às regras de convivência.”217

Trata da questão com veemência PAULO LÔBO218, afirmando que

“é incompatível com a constituição, principalmente em relação ao princípio da dignidade da pessoa humana (arts. 1º, III e 227), a permissão contida no inciso VII, do art. 1.634 do Código Civil de exploração da vulnerabilidade dos filhos menores para submetê-los a “serviços próprios de sua idade e condição”, além de consistir em abuso (art.227,§4º). Essa regra surgiu em contexto histórico diferente, no qual a família era considerada, também, unidade produtiva e era tolerada pela sociedade a utilização dos filhos menores em trabalhos não remunerados, com fins econômicos. A interpretação em conformidade com a Constituição apenas autoriza

217 SAYÃO, Rosely. ob. cit. pp.59/60. 218 LÔBO, Paulo. ob. cit. p. 278.

aplicá-la em situações de colaboração nos serviços domésticos, sem fins econômicos, e desde que não prejudique a formação e educação dos filhos, mas nunca para transformá-los em trabalhos precoces.”

Pelo exposto, pode-se observar que tanto a psicologia como o ordenamento legal reconhecem que a criança e o adolescente façam pequenos trabalhos domésticos, que já fazem parte do ensinamento da vida que deve se formar num espírito de colaboração e responsabilidade e começa com a educação dada dentro de casa.

4.2 DEVER DE TER POLÍTICAS PÚBLICAS PRIMÁRIAS VOLTADAS PARA O LAZER,

ESPORTE, CULTURA E PROFISSIONALIZAÇÃO COMO GARANTIA DA LIBERDADE DA

CONVIVÊNCIA COMUNITÁRIA

Não basta a criança ou adolescente estar no seio de sua família para que possa ter de fato uma convivência comunitária digna; é importante o papel do Estado, principalmente representado pelo ente político município, o qual deve ter políticas voltadas para que as crianças tenham espaços e programas para o lazer e esportes, atividades extra classe, além da profissionalização como forma de inclusão social.

O art. 227 do Constituição elenca entre os diretos fundamentais o lazer, a cultura e a profissionalização. Por sua vez, o esporte está implícito no direito à saúde e à educação. Consta no Estatuto da Criança e do Adolescente, também, como direito à liberdade, no inciso IV, do art. 16 – brincar, praticar esportes e divertir-se.

Brincar é diferente do lazer que, para o adulto, é qualquer atividade fora do trabalho, como forma de distração e descanso. Brincar para criança é a descoberta do seu mundo e do mundo que tem a sua volta. Como esclarece L. Josefph Stone e J. Church, citados por Tânia Pereira, sobre a importância do brincar no desenvolvimento de uma criança, assim transcrito:

“Da mesma forma o processo no desenvolvimento do ser humano também se manifesta na criança a partir de sua capacidade de sentir os elementos externos. O seu comportamento social gira em torno de suas brincadeiras e atividades lúdicas em geral.

O brinquedo significa para a criança o que ele reflete a seu respeito e a respeito de seu mundo e sobretudo, o que diz a respeito do mundo dos seus familiares, especialmente dos pais.

Os adultos costumam conceber jogos com recreação, como forma de descanso dos assuntos do trabalho. Toleram as brincadeiras desde que não atrapalhem e são inclinados a desfazê-los com algo sem importância. À medida que a criança começa a se tornar consciente de outras pessoas com uma existência fora da sua própria, à medida que começa a se liberar do seu egocentrismo, ela tenta compreender o estilo, as atitudes, as atividades dos outros, colocando-se ela mesma – muitas vezes, literalmente –“nos sapatos dos outros”. Vemos crianças vestindo roupas de adultos, brincando de mãe e filho ou de médico, servindo chá, brincando de bombeiro ou de balconista, fingindo ser um coelho ou um tigre, atuando ao mesmo tempo como avião e piloto, como uma máquina a vapor e o maquinista. “O jogo dramático não serve simplesmente como um meio de aprender sobre a sociedade da qual a criança é uma parte. Ao representar, seu sentimento de participação e identificação lhe proporciona o sendo de poder, consumação e realização que não está ainda no seu esquema prático de coisas.

Instrumento importante na socialização, o “brincar” é efetivamente atividade que integra a criança na vida em comunidade e representa elemento essencial à saúde, emocional, e intelectual do ser humano em fase de desenvolvimento.” 219

Temos uma população eminentemente urbana e com grandes conglomerados populacionais que necessitam de equipamentos públicos de acesso fácil para que nossas crianças e adolescentes tenham o direito fundamental da convivência comunitária integrativa e satisfatória para um desenvolvimento saudável em todos os seus aspectos.

É verdade que hoje tudo se resolve para a classe média e alta que costuma levar os filhos a paraíso do consumo que são os shoppings, local que, além do cinema, abriga jogos eletrônicos e alguns brinquedos lúdicos, mas todos pagos para o seu uso. Por sua vez, as praças públicas estão, na grande maioria, deterioradas, sem equipamentos de brincadeiras, ou quando existentes, alocam-se em condomínios horizontais ou verticais, que são verdadeiros clubes fechados para os moradores. Praça é algo em desuso, em

219 PEREIRA. Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p.50. apud STONE, L. Joseph e CHURCH, J. Infância e Adolescência: uma psicologia da pessoa em desenvolvimento. Belo Horizonte: inter-livros,1992.p.p.141/142.

virtude de a comunidade viver amedrontada pela violência. Foi o caso de menino que buscou a Vara da Infância de Cuiabá para utilizar um carrinho automotor (bugue), que tinha ganhado de presente, no condomínio vertical que morava. O Regimento do condomínio proibia que trafegasse nas ruas, bairro intramuros com o brinquedo. Perguntou-se ao empreendedor do condomínio, em audiência, onde estava a praça para esse fim. Não havia praça!!

É necessário que o Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001, para cidades com mais de vinte mil habitantes, seja adimplido com o seu plano diretor trazendo qualidade de vida para os seus moradores e com prioridade absoluta para os equipamentos públicos utilizados pela população infanto- juvenil, para que possam brincar, ter lazer diversificados e quadras esportivas.

Essa preocupação está explícita, também, no Estatuto, no seu Art. 71, com a municipalização das políticas públicas, com apoio dos Estados e da União, o que estimulará e facilitará a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e juventude.

Questão importante, também, é o direito à cultura, ainda mais num mundo globalizado, onde tudo se pasteuriza numa única forma de viver, atropelando muitas vezes costumes que antes eram passados de geração em geração, trazendo uma identidade própria de cada comunidade. Esta é outra preocupação do Estatuto, que no processo educacional se respeitem os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, prevista no seu art. 58 com garantia da liberdade de criação e acesso às fontes culturais, fazendo com que a realidade da escola se confronte totalmente com a de seu domicílio.

Pensar que o adolescente esteja integrado na vida comunitária e a caminho da vida adulta implica refletir se o queremos incluído e com possibilidades reais de viver na comunidade em que reside, com autonomia e desempenho profissional valorizado. Por isso o foco, a partir dos 14 anos de até os 16 anos de idade, é a educação, com a possibilidade do aprendizado, e

não o trabalho como forma de subsistência, que deve ser dado pelos pais ou pelo Estado, caso os responsáveis tenham limitações para garantir o básico para seus filhos.220

É importante, também, que se note a visão desigual e o discurso político que é feito no sentido que o estudo para filhos de pobre é para melhorar a renda da família, com algum emprego com conhecimento técnico; já para filhos de ricos, o estudo tem a finalidade de cursarem uma universidade. Há um discurso pré-estabelecido impedindo que, de fato, haja meios para que todos os cidadãos, com igualdade de condições, possam meritoriamente galgar qualquer profissão, independente do nível sócioeconômico de sua família. Esse é o raciocínio também que podemos extrair da obra de MARTHA MACHADO221, quando escreve sobre o direito à profissionalização, afirmando que:

“Em suma, formação profissional garantidora de um mínimo de igualdade entre os cidadãos quando da inserção no mercado de trabalho – o que se objetiva pelo direito à profissionalização – demanda muito estudo e muito tempo, como bem revela a tendência expressiva da sociedade para a educação continuada e permanente.

Assim, quanto antes o adolescente passe a exercer o trabalho regular, mais se limitam suas chances de desenvolver adequadamente sua profissionalização, de maneira que possa, na idade adulta, competir no mercado de trabalho num patamar mínimo de igualdade: se ingressa no mercado de trabalho precocemente, ou seja, quando ainda está por completo descapacitado educacional e profissionalmente para ele, mais a desqualificação profissional tende a se reproduzir, mantendo sua desigual inserção social.

Daí, penso, decorre que a faceta mais importante do direito à profissionalização é a educação profissional de que trata a Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº9.394/96), nos seus artigos 39 a 42, em obediência aos artigos 205 e 214 da CF.”222

220 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; 221 MACHADO, Martha Toledo. ob. cit. p.189.

222 Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público que conduzam à: I – erradicação do analfabetismo. II, universalização do atendimento escolar. III- melhoria da qualidade do ensino; IV – formação para o trabalho. V – promoção humanística, científica e tecnológica do País.

Como constatado até aqui, neste estudo, verifica-se a co- responsabilidade de todos, prevista no art. 227 da Constituição Federal, nos direitos fundamentais da criança e, em especial, para que o direito fundamental da convivência familiar e comunitária, numa sociedade tão desigual como a brasileira, seja garantido. Os deveres dos pais, no poder familiar, devem se confundir com as políticas públicas que tragam o denominado empoderamento das famílias, principalmente nas camadas mais pobres que apresentam número elevado de filhos e com menores condições de cumprirem o seu mister, sem apoio do Estado.

5 PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA SECUNDÁRIA DA LIBERDADE DE CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Denomina-se de promoção, proteção e defesa secundária da liberdade de convivência familiar e comunitária quando a criança ou adolescente, por indícios fortíssimos ou fatos flagrantemente caracterizados de hipóteses de absoluta impossibilidade no convívio familiar, é retirado de seus pais ou já tenha sido rompido de fato este convívio, necessitando de proteção secundária até que se possa restabelecer novamente o seu direito.

O rompimento do convívio familiar pode ocorrer por várias situações de risco, previstas de forma genérica no artigo 98 do Estatuto. A primeira hipótese (I – por ação ou omissão da sociedade e do Estado), que é reflexo da falta ou insuficiência de políticas públicas que dêem empoderamento às famílias e o descaso da sociedade sem mobilização suficiente para reverter o quadro. A segunda hipótese (II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável), que é a mais formalizada no meio forense, com pedido de suspensão e perda do poder familiar, por condutas comissivas ou omissivas que amoldem nos termos art. 1.638 do Código Civil. E por último (III- em razão de sua conduta), ou seja, quando a própria criança e principalmente o adolescente se coloca em risco saindo de casa para morar com terceiros ou