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No capítulo dois desta dissertação, brevemente foram apresentados os diferentes contextos de deposição dos artefatos arqueológicos cerâmicos e líticos no setor 2A do sítio Porto e as diferenças quantitativas em cada um deles. Retomando esses dados, e refletindo-se primeiramente nas práticas de descarte fora dos bolsões, observa-se que na maior parte desta área o material cerâmico e lítico quase sempre aparece em qualquer espaço que seja escavado; a exceção ocorreu em cinco unidades, quatro localizadas na parte noroeste da área e uma na parte nordeste, onde somente fragmentos cerâmicos foram encontrados. Nesses casos, o pacote cultural predominantemente foi pouco espesso e a quantidade total de material cerâmico não ultrapassou 400 exemplares31, enquanto o volume total escavada em cada unidade foi de 1,86m³. Outro aspecto é que a quantidade de material por unidade predominantemente manteve-se inferior a 400 artefatos. Estes dados representam principalmente os setores norte e central da 2AC1, sendo que na parte sul estava a maior concentração devido aos quatro bolsões.

Devido à predominância do material cerâmico no sítio, ao representarmos espacialmente a distribuição de material lítico por unidade, é possível observar algumas diferenças em relação a distribuição geral (Figura 23). Por exemplo, apenas comparando o material lítico, as unidades que se encontram mais a esquerda e fazem parte da feição F1 não apresentam quantidades tão distintas das demais sem feição arqueológica. O próprio bolsão F6, mais ao sul, aparece com quantidade de material pouco representativo.

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Mais uma vez é importante ressaltar os limites desses dados, por causa da retirada da camada cultural durante a reutilização contemporânea na área.

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Figura 23 - Quantidade de material lítico por unidade na área 2A

Fora estas, comparando-se as demais unidades observa-se uma maior quantidade de líticos por m³ escavado na parte leste, enquanto os fragmentos cerâmicos por m³ escavado ocorriam em maior número na porção oeste da área, principalmente, mas não apenas, devido a uma feição (F1) com 1.447 fragmentos cerâmicos 111 líticos em aproximadamente 2,84m³ escavados. Fora dos bolsões, a presença de lítico em grande quantidade não parece estar relacionada com as feições, visto que em uma unidade da parte leste sem presença de feições que ocorreu maior número de líticos.

Comparando-se as feições, mais a leste da F1, apareceu outra feição (F7) com forma mais regular do que a F1, visto a menor quantidade de bioturbações, entretanto com menos material e menor densidade de artefatos por cm³ (Quadro 8). Já na outra feição (F2) encontrada nessa área, uma vasilha fragmentada, não foram encontrados vestígios líticos. A profundidade de ocorrência de material cerâmico foi de 16cm, enquanto carvões ocorreram até 36cm. A deposição desses vestígios portanto parece ter sido bem específica na F2.

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Setor Qt. geral Qt. Cerâmica Qt. Lítico Volume escavado (m³) com

presença de material 2AC1&EC32 23.634 18.088 5.546 38,77 Bolsões 16.447 11.876 4.571 18,29 Leste (s/ bolsões) 1.623 1.155 468 7,79 Oeste (s/ bolsões) 3.445 3.080 365 1.089 Feição 1 (F1) 1.558 1.447 111 2,84 Feição 2 (F2) 206 206 0 0,16 Feição 7 (F7) 355 324 31 1,26

Quadro 8 - Quantidades e volume escavado na área 2A

A distribuição do material lítico é mais irregular do que a de material cerâmico. Observa-se que na porção noroeste os primeiros 10cm na maioria das unidades escavadas não houve presença de lítico. Há casos em que o material lítico não aparece durante um ou dois níveis e depois ocorrem novamente. Isso acontece tanto a leste quanto a oeste, mas principalmente nas unidades mais ao norte. Maior quantidade de vestígios líticos relacionados com atividades de polimento foram encontrados na porção oeste, enquanto o lítico lascado predominou a leste (Quadro 9).

Porção Lítico lascado Polidores

Leste 415 16

Oeste 299 22

Quadro 9 - Distribuição do material lítico fora dos bolsões

Em relação aos primeiros níveis, a camada original foi visivelmente alterada pelas ocupações mais recentes em Santarém. Já, em relação à ausência de material lítico em alguns níveis, tal fenômeno também ocorreu em outras áreas do Porto e pode estar relacionada a bioturbações ou feições culturais. Curioso observar que nenhuma dessas distribuições estratigráficas desiguais ocorreu nos bolsões, ou a reocupação mais recente da área foi menos intensa na parte sul da área 2A, ou, por neles haver maior concentração de artefatos, as bioturbações provocaram menos alterações.

De uma forma geral, não é possível observar que em alguma parte dessa área haja um ou alguns espaços nos quais o material tenha aparecido em maior profundidade, o que poderia sugerir que um setor dessa área foi ocupado em períodos mais antigos.

124 Excluindo-se as feições, que no caso de buracos escavados são intrusões em níveis inferiores, a exceção ao que foi dito anteriormente diz respeito a dois pontos na parte nordeste da área (Figura 24), sendo que o predominante em diferentes partes da área foi o descarte a partir dos 50cm.

Figura 24 - Profundidades (cm) máximas com presença de material arqueológico

Tendo como referência apenas o material lítico, se pensarmos na quantidade de material distribuída por nível, sempre excluindo as feições e mantendo em mente que proporcionalmente mais unidades foram escavadas a oeste, mas maior volume foi retirado na porção leste da área, é possível obsevar que do quarto nível escavado para baixo houve maior descarte na parte oeste da área, enquanto a partir do terceiro nível até a superfície ocorre uma alternância entre as metades leste e oeste, sendo que no primeiro nível os valores de material são equivalentes (Gráfico 6).

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Gráfico 6 - Quantidade de material lítico na parte leste e oeste da 2AC1

Mas, devido ao tipo de material presente em cada setor e nível, há uma distinção nos picos do quesito peso (Figura 25). Isso se deve pela presença de fragmentos de calibradores, que, devido ao tipo de matéria-prima (arenito) e ao tamanho, pesam mais do que as lascas de sílex. Nesse sentido, por exemplo no nível quatro, a leste temos 131 peças líticas, sendo que entre estes há um polidor plano com aproximadamente 180g; enquanto a oeste ocorreram 39 líticos, mas entre estes há um polidor plano, três calibradores e quatro arenitos, que juntos pesam 516g (Gráfico 7).

35 106 39 131 52 57 37 7 1 2 35 101 73 39 33 28 26 10 7 2 0 20 40 60 80 100 120 140

Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 Nível 6 Nível 7 Nível 8 Nível 9 Nível 10

Leste Oeste

Figura 25 - Peso (g) do material lítico por unidade na área 2A

A oeste há menor quantidade de material lítico, entretanto esses pesam mais dos localizados a leste. Esse material pesado encontra-se majoritariamente na feição F1. Observa-se ainda que, com o atributo peso, o material lítico do bolsão F6 ganha expressividade semelhante à dos demais bolsões, sendo que, como se verá mais detalhadamente mais adiante, a amostra lítica do F6 é a mais pesada entre os quatro bolsões.

Gráfico 7 - Peso do material lítico na parte leste e oeste da 2AC1