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Contribuição da filosofia e da filosofia do direito para a compreensão da ciência jurídica quanto ao seu fim social

CONCEPÇÃO E IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA VISÃO DOS PROFESSORES E ALUNOS

3.2. Corpo discente

3.2.2 Contribuição da filosofia e da filosofia do direito para a compreensão da ciência jurídica quanto ao seu fim social

Ao serem solicitados a relacionar a contribuição das disciplinas filosóficas à ciência jurídica, por meio de questões abertas, os alunos manifestaram, em síntese, algumas das seguintes opiniões, que podem ser reunidas em dois blocos temáticos.

a) Desenvolvimento do senso crítico na área do Direito:

“Entendimento do conteúdo histórico e cultural criando um senso crítico”; “Amadurecimento do raciocínio jurídico”;

“Reflexão, argumentação e raciocínio na área do direito”.

b) Contribui para a reflexão das relações do Direito com a justiça:

“Direciona o entendimento quanto à complexidade das relações e a aplicação do senso de justiça em seu fim social”;

“Compreender os fenômenos sociais e questionar a realidade”;

“Que a justiça social deve ser a busca incansável dos operadores do direito, relacionando a situação real das relações sociais com o mundo, sociedade que se pretende construir, alcançar”;

“Compreensão do homem inserido na sociedade e suas repercussões no mundo jurídico”; “Tenta explicar as origens dos conflitos sociais que o direito tenta resolver”;

“É importante pensar o direito enquanto uma disciplina que organiza a vida em sociedade, só assim é possível realizar a justiça”;

“Valorização do ser humano e o entendimento de aspectos éticos e morais e morais na realidade jurídica”;

Percebe-se na fala desses alunos a conscientização que têm da importância do estudo das disciplinas filosóficas para o desenvolvimento do raciocínio lógico, da arte da argumentação, da compreensão dos aspectos éticos e humanos intrínsecos às análises jurídicas, além da compreensão do por que da existência de um sistema legal numa sociedade politicamente organizada.

3.2.3 Temas filosóficos relevantes

Para complementar a questão anterior, pediu-se aos alunos que indicassem três temas filosóficos por eles considerados importantes. Observou-se que a abstinência nesse item foi pequena. Apenas cinco alunos deixaram de sugerir algum tema. Os demais fizeram indicações diversificadas. Alguns dos temas apontados foram:

“Contrato social de Rousseau; crítica da Razão Pura de Kant; livre arbítrio de Santo Agostinho”;

“Valores éticos e morais; vida em sociedade; as leis enquanto reguladoras e organizadoras da vida em grupo”;

“Justiça e moral; história da filosofia jurídica, conseqüências dos estudos filosóficos”;

“O papel social do direito, o papel social do profissional do direito, direito penal e suas penas”;

“O direito como norma, o direito social, o direito alternativo”;

“A formação jurídica das antigas sociedades e seus reflexos nas sociedades contemporâneas”; “Posicionamento ético do advogado, a função do bacharel de direito na sociedade”.

Percebe-se que não há uma clareza na indicação dos temas propriamente filosóficos; ora referem-se à filosofia como a questão dos valores, da ética e da moral, ora à história ou à própria ciência jurídica, tais como conceito de Direito e das leis como reguladoras da vida em sociedade.

Pode-se, no entanto, inferir que a demanda predominante concentra-se nos temas relativos às questões de valor e ética.

Isso veio corroborar o que já se suspeitava: não há uma clara separação entre filosofia, filosofia do direito, sociologia, introdução ao direito. Tudo se mistura na cabeça de nossos jovens aprendizes e se torna, pela óbvia confusão gerada, difícil de identificar, o que é considerado relevante nas disciplinas filosóficas presentes num curso jurídico, no entender dos alunos.

3.2.4 Debates filosóficos: despertam o interesse da turma?

A resposta dos alunos sobre com que freqüência ocorrem debates filosóficos em sala de aula estão registradas no Quadro 7.

Quadro 7: Realização de debates reflexivos em sala de aula, na visão dos alunos Alunos

9º semestre 10º semestre

Realização de debate

Diurno (%) Noturno (%) Diurno (%) Noturno (%)

Sempre 5,6

Algumas vezes 46,2 38,9 66,7 33,3

Raramente 53,8 55,6 27,6 66,7

Nunca 5,6

Total 100 100 100 100

Os dados acima expõem uma considerável convergência de opiniões entre os alunos do 9º. Semestre quando se trata da realização de debates. Os percentuais correspondentes aos que informaram a realização de debates como ocorrendo algumas vezes ou raramente, nos períodos diurno e noturno, praticamente se equivalem.

O mesmo não ocorre no 10º. semestre. A maioria dos alunos do período diurno considera que os debates ocorrem algumas vezes, enquanto que no período noturno essa maioria considera que o debate raramente ocorre.

Será que também, nesse caso, o fator aula expositiva constrange os alunos a questionarem e os impede de terem uma educação ativa e participativa?

Interligada a esta questão foi indagado se, uma vez ocorrendo o debate, este desperta o interesse da turma? As respostas estão registradas no Quadro 8, onde se observa uma grande disparidade na opinião dos alunos no tocante ao debate filosófico.

Quadro 8: Interesse dos alunos pelos debates reflexivos em sala de aula Alunos 9º semestre 10º semestre Nível de interesse Diurno (%) Noturno (%) Diurno (%) Noturno (%) Muito 15,4 12,5 22,2 44,4 Bastante 23,1 25 22,2 Pouco 61,5 62,5 55,6 44,1 Nenhum 11,1 Total 100 100 100 100

Fonte: dados da pesquisa (alunos)

Os mais interessados são os matriculados no 10º semestre do período noturno com 44,4% de aprovação, embora a turma se encontre dividida sobre o assunto, pois 44,1% informaram pouco interesse. De qualquer forma, este é o menor índice de desinteresse pelo debate, visto que, nas demais turmas, o percentual ser muito maior, atingindo 62,5% no 9º semestre, do período noturno. Aliás, os alunos do 9º semestre apresentam uma quase

coincidência de pontos de vista, entre os dois períodos, no que tange ao debate: quase dois terços demonstrando pouco interesse, um quarto bastante interesse e cerca de 15% muito interesse.

Depreende-se desses dados que alguns dos parâmetros gerais a serem seguidos na elaboração das diretrizes curriculares (CNE/CES-MEC nº776/97) não têm como serem alcançados com respeito a:

a) incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção

do conhecimento (grifo nosso), permitindo variados tipos de formação e habilitações

diferenciadas em um mesmo programa;

b) estimular prática de estudo independente, visando a uma progressiva autonomia

profissional e intelectual do aluno (grifo nosso);

c) fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão.

Como podemos incentivar a produção do conhecimento, estimular a autonomia intelectual do aluno e, ainda, articularmos teoria e prática sem debate algum durante o curso de Direito? Acredita-se que somente estes três exemplos são suficientes para nos fazer refletir sobre a necessidade de estimular o debate de idéias sobre diretrizes curriculares jurídicas, filosóficas, sociais e tudo o mais que diz respeito ao ser humano e ao mundo em que vivemos. Se o aluno não costuma expressar suas idéias em sala, muitas vezes até por medo do professor que já tem uma opinião formada e não admite contrapontos, como irá fazê-lo após a saída da universidade? Nesse sentido, procede a observação de Rubem Alves de que:

(...) Claro que há respostas certas e erradas. O equívoco está em ensinar ao aluno que é disto que a ciência, o saber, a vida são feitos. (Rubem Alves, 1994, p.29)

Nessa linha de pensamento, procurou-se saber dos alunos se costumam fazer perguntas aos seus professores a respeito do conteúdo por eles exposto. Em relação ao 9º semestre diurno, os resultados registrados no Quadro 9 indicam a prevalência de quase sempre, raramente e sempre, realidade essa compartilhada pelo período noturno. Portanto, verificou-se que o que deveria ser uma regra – questionar- somente é praticada pela minoria.

No 10º semestre noturno, registra-se o maior percentual de alunos que raramente costumam questionar (77,8%).

Quadro 9: Freqüência de perguntas dirigidas pelos alunos aos professores Freqüência Alunos

9º. semestre 10º. Semestre

Diurno (%) Noturno (%) Diurno (%) Noturno (%)

Sempre 15,5 17,6 - -

Quase sempre 38,5 41,2 55,6 11,1

Raramente 38,5 41,2 44,4 77,8

Nunca - - - 11,1

Total 100 100 100 100

Fonte: dados da pesquisa (alunos)

Em relação ao hábito de questionar, percebe-se que não há diferença entre o 9º e o 10º semestre. É possível que a ausência de questionamento decorra da falta de “coragem” para pedir ao professor o esclarecimento de uma dúvida, ou quem sabe, reclamar do formalismo da disciplina, do autoritarismo do professor, ou ainda medo de se expor perante a turma e outros.