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CONCEPÇÃO E IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NA VISÃO DOS PROFESSORES E ALUNOS

3.1 Corpo docente

3.1.1 Perfil e atuação acadêmica dos professores

Entre os respondentes, constata-se que, no item formação acadêmica, há um alto percentual de especialistas (44,2%), sendo que o menor índice (4,7%) refere-se aos doutores, conforme se pode observar no Quadro 1.

Quadro 1: Titulação acadêmica

Titulação acadêmica (%) Graduação 23,3 Especialização 44,2 Mestrado 27,9 Doutorado 4,7 Total 100

O pequeno percentual de doutores e de mestres existentes no curso de Direito da instituição é um fenômeno comum. Tem-se a impressão que há pouca motivação, entre os bacharéis em Direito, em realizar um curso de pós-graduação, seja ele strictu senso ou lato senso. De fato, para a maioria deles, o tempo e esforço despendidos num programa de especialização, se canalizado para um concurso de acesso à magistratura ou outro cargo técnico, traz um retorno financeiro mais elevado.

Em relação ao tempo de magistério, a pesquisa aponta que todos os doutores têm o maior tempo de exercício no magistério. De um modo geral, pode-se afirmar que a maioria dos docentes tem pouco tempo de exercício do magistério, uma vez que 61% só têm até quatro anos de sala de aula.

Quadro 2: Tempo de docência Menos de 2 anos (%) De 2 a 4 anos (%) De 5 a 10 anos (%) Mais de 10 anos (%) Total 29,5% 31,8% 13,6% 25% 100%

Fonte: dados colhidos na pesquisa

Apenas quatro, dos 44 professores, exercem o magistério com exclusividade. Entre os demais, 24 são advogados, quatro são consultores, três declararam ser servidores públicos, três são procuradores federais, um é assessor judiciário, um é assessor parlamentar e um é advogado geral da União.

Dos pesquisados, 61,4% leciona em apenas uma instituição, 27,3% em duas instituições e, 11,4%, o menor índice, atuam em mais de duas instituições. Não há aqui uma relação entre a formação acadêmica e o fato de lecionar em uma ou mais de uma instituição.

A pequena porcentagem daqueles que exercem exclusivamente o magistério pode ser justificada pelo fato de que na área jurídica é importante o exercício profissional prático, além do exercício do magistério, pois é relevante que o agente/operador do Direito traga para a sala de aula o resultado de sua vivência no exercício da profissão. Esse exercício efetivo é fundamental para a atualização das discussões jurídicas que se promove, ou pelo menos, deveria se promover na universidade.

Vale ressaltar que, sobre esse aspecto, Faria e Menge (1979), ao falarem sobre a necessidade de desenvolver o senso crítico do bacharel em Direito, a fim de permitir uma efetiva confrontação dos valores ensinados nas faculdades e os reais valores sociais, recomendam que a teoria e prática devem caminhar juntas. Ora, isso só é possível por meio do exercício profissional. Daí a necessidade de um curso jurídico poder contar com juízes, advogados e outros.

Vale lembrar, no entanto, que a OAB, ao atribuir o seu “Selo” a uma instituição de ensino superior, leva em consideração a variável “qualificação do corpo docente”. O fato de esses professores investirem em suas carreiras, dedicando-se ao magistério de forma parcial, não deveria ser indicador de falta de qualidade do corpo docente do curso de Direito. Com muita propriedade Nunes (2001), recorda que “a variável ‘qualificação do corpo docente’, nas condições de oferta, exclui do rol de qualificados todos os ministros, desembargadores, juízes, defensores públicos, ministros procuradores, isto é, a elite do sistema judicial” (p.78). E conclui questionando se professores titulados, mestres e doutores, com dedicação exclusiva, agregariam mais aos estudantes de Direito do que aqueles profissionais que estão na lide diária.

3.1.2.Percepção de problemas no Curso de Direito

Ao serem indagados sobre a existência de uma crise no ensino jurídico, apenas um respondeu negativamente, mas 97,4% reconheceram essa crise e 11,4% não responderam. Dentre os que reconheceram a crise, as principais causas apontadas estão registradas no Quadro 3:

Quadro 3: Principais causas da crise no ensino jurídico, na visão dos professores

Professores Importância

Causa (em%) 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª S/R Total

Falta de preparo dos alunos 199,8 45,5 76,0 28,5 14,2 4,8 16,7 368,8 Falta de preparo dos professores 128,4 131 67,6 7,2 19,0 7,1 16,7 360,3 Falta de relação entre o que é ensinado e a

prática profissional 135 62,5 120 22,5 5,0 7,5 17,5 352,5

Falta de relação entre as disciplinas do curso 114 59,5 28,4 99,9 14,2 4,8 16,7 320,8 Rigor formalístico no ensino 71,4 83,5 38,0 21,3 47,6 14,3 16,7 276,1 Excessivo número de disciplinas 110,4 26,5 42,0 15,9 26,4 47,4 0 268,6 Fonte: dados da pesquisa (professores)

A maioria dos respondentes apontou, como principal causa da crise, a falta de preparo dos alunos seguido pela falta de preparo dos professores. O excessivo número de disciplinas foi apontado como a sexta causa mais importante da crise.

Ainda que não enfatizado pelos professores, o incentivo do governo ao crescimento do ensino superior privado no Brasil é apontado como o grande responsável pela má qualidade nele reinante (NUNES, 2001). Esse crescimento acelerado aconteceu de forma desordenada, sem controle efetivo por parte do setor público sobre as novas instituições e cursos, tornando o que já era ruim em péssimo. Nesse sentido, Nunes chama a atenção para o fato de que “Corporações profissionais, notadamente advogados e médicos, alegam que a expansão conduzirá à saturação do mercado de trabalho, com o conseqüente aviltamento dos salários e perda da qualidade dos serviços” (pág. 55).

A questão salarial e condições de ensino vêm exercendo também forte impacto na área do magistério. Inúmeras greves realizadas pelo corpo docente das diversas IES deste país

reivindicam, não apenas melhores salários, como também melhores condições de ensino, que vão desde o próprio ambiente de sala de aula até materiais e tecnologias necessárias para um ensino de qualidade. Acredita-se que esta situação é suficiente para demonstrar que as reivindicações vão além da questão corporativa.

Nota-se que a causa da crise existente no ensino jurídico a ser combatida, na opinião dos professores participantes da pesquisa, não é o excessivo número de IES, como defendem muitos autores da atualidade, mas a falta de preparo dos alunos para assimilar os conteúdos ministrados. Os alunos, na ótica dos professores, trazem uma grave deficiência em sua educação escolar, resultado de um ensino fundamental e médio insuficiente.

Não se pode negar, de fato, a triste realidade que se vivencia no Brasil em relação a um ensino fundamental e médio precários, incapazes de atender às necessidades básicas de nossos jovens em termos educacionais. O resultado disso é, muitas vezes, desolador, pois esses jovens ingressam no ensino superior sem o devido preparo científico e humanístico que um curso superior nem sempre poderá suprir. Esse círculo vicioso tem conseqüências perversas. Vêm-se pacientes indevidamente tratados por médicos despreparados e cidadãos mal assistidos por advogados desprovidos de habilidades jurídicas.