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A CONVENÇÃO EUROPEIA PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS E O PAPEL INOVADOR DO TRIBUNAL

No documento Dimensões dos Direitos Humanos (páginas 194-200)

EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM

O século XIX foi palco de mudanças políticas e marcado por revoluções liberais, invasões e guerras. Esses acontecimentos são fundamentais para contextualizar as transformações no plano das ideias acerca do Direito. Segundo Barbas Homem3 constitui um erro metodológico elaborar a história do pensamento jurídico ou da filosofia do direito olvidando essa realidade social.

Já o século XX marca a história da humanidade pelas consequências dos grandes conflitos bélicos mundiais em que a dignidade da pessoa humana foi afrontada e violações aos direitos humanos experimentadas de forma dolorosa.

A análise da dignidade do homem ganha espaço no âmbito internacional, consolidando o entendimento de que a soberania não é um poder ilimitado, reconhecendo que os indivíduos possuem direitos inerentes à sua existência e que estes devem ser protegidos. No pós - Segunda Guerra uma profunda alteração ocorreu em razão dos Direitos Humanos terem sido internacionalizados, a partir da criação da ONU4. Antes disso, todavia, a Convenção de Genebra de 1864 previu regramentos de direito humanitário em situações específicas de guerra.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) foi adotada como um objetivo a ser alcançado por todos os povos, na tentativa de que indivíduos, sociedade e Estados se unam no desenvolvimento e respeito a esses direitos e liberdades, além de promover o seu reconhecimento e sua aplicação. Essa Carta da ONU influenciou muitos Estados a incluírem partes dos seus 3 HOMEM; António Pedro Barbas; BRANDÃO, Cláudio. Do Direito Natural aos Direitos Humanos.

Coimbra. Almedina. 2014.

4 MÉNDEZ, Isel Rivero. Las naciones Unidas y los derechos humanos. 50º aniversario de la

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dispositivos nas Constituições e outros a tê-la como sistema de referência, demonstrando a intenção da Comunidade Internacional em sistematizar e desenvolver normas contra às práticas abusivas e degradantes da dignidade da pessoa humana5.

As noções de direitos humanos surgiram como reflexo do momento porque a humanidade passou surgindo como uma conscientização contra a opressão ou atuação errônea e arbitrária do Estado. A princípio houve uma positivação em instrumentos internos e só depois no âmbito internacional6.

Nos anos subsequentes vários acordos internacionais sobre direitos humanos foram elaborados, dentre eles: a Convenção Europeia de Direitos Humanos (1950); o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966); a Convenção Interamericana de Direitos Humanos (1969); os Acordos de Helsinque (1975); a Carta dos Povos Africanos (1981); Declaração de Cartagena (1984), dentre outros7. Não há na atualidade quem negue a necessidade de observância dos direitos humanos, todavia, isso não significa garantia de efetiva e concreta proteção, uma vez que as inclinações políticas de determinado Estado podem influenciar na observância desses direitos. Além de que os direitos humanos se fundamentam na identidade universal da pessoa humana e no princípio da igualdade entre todos os seres humanos 8.

Assim, os Direitos Humanos constituem um conjunto de regras jurídicas de caráter internacional que reconhecem às pessoas, individualmente consideradas, sem discriminação de qualquer monta, direitos e liberdades fundamentais que assegurem a dignidade da pessoa humana e que consagrem as respectivas garantias desses direitos. Procura proteger as pessoas através da atribuição direta e imediata de direitos aos indivíduos pelo Direito Internacional e pelo próprio Estado9.

Desse modo, ao regime global de proteção dos direitos humanos é ainda acrescentado três regimes regionais: o regime europeu, o regime africano e o regime interamericano.

Esse trabalho deter-se-á somente ao sistema de proteção dos direitos humanos em nível europeu, encabeçado pela CEDH e o papel do TEDH, uma vez que possui uma característica inovadora que o distingue dos demais sistemas regionais, qual seja: a capacidade processual internacional ativa garantida aos cidadãos que podem demandar diretamente o TEDH10.

5 GUERRA, Sidney. Direito Internacional dos Direitos Humanos. São Paulo. Saraiva. 2015. p. 95. 6 MARTINS, Ana Maria Guerra. Curso de Direito Constitucional da União Europeia. Almedina.

Coimbra, 2004. p. 80-85.

7 Acrescentamos inda: Pacto dos direitos Civis e Políticos, Pacto dos Direitos Econômicos,

Sociais e Culturais; Convenção sobre Discriminação Racial; Convenção sobre os Direitos da Mulher; Convenção sobre a Tortura; Convenção sobre os direitos da Criança.

8 GUERRA. 2015. p. 88.

9 MARTINS, Ana Maria Guerra. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Coimbra: Almedina.

2006. p. 80 e ss.

10 FERREIRA. Paulo A. “A Convenção Europeia dos Direitos do Homem e o Tribunal Europeu

A proteção dos direitos humanos na Europa: o papel (...)

Verifica-se que a proteção aos direitos do homem por meio de instituições e normas de caráter regionais e, mais especificamente, que levam em consideração as peculiaridades de cada território tem-se revelado mais eficazes, na medida em que os Estados que se encontram em contextos semelhantes têm maior probabilidade de compor soluções mais reais e atingíveis. Esse sistema, apesar de conter falhas, é a mais avançada e sólida estruturação de normas sobre direitos humanos em que o homem é a figura central e tem prioridade de proteção.11.

O sistema europeu tem sua estrutura alicerçada pelos dispositivos criados pela CEDH, na atuação das instituições que se encarregam de sua fiscalização e nos vários outros catálogos de direitos adotados. Vale salientar que os cidadãos europeus se beneficiam de instrumentos de proteção como a Carta Social Europeia, Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e demais instrumentos da União que protegem os direitos humanos12.

Em 1949, ainda sob a insegurança do pós-guerra, foi criado, em Strasburgo, o Conselho da Europa na tentativa de incrementar a cooperação entre os Estados e melhorar a integração entre eles com o objetivo de prevenir conflitos. Para tanto, foi assinado, em Roma, a Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Individuais (CEDH), que entrou em vigor em 195313, com o escopo de proteger os direitos fundamentais da pessoa humana e consolidar as democracias políticas e plurais14.

A CEDH protege o direito à vida, proíbe tortura, tratamentos degradantes, bem como trabalho forçado e escravidão, proclama o direito à liberdade, ao devido processo legal, à segurança, observância do princípio da legalidade e irretroatividade das leis. O respeito à vida privada e a existência de tribunais imparciais e independentes também são previstos no texto legal sem quaisquer espécies de discriminação. Observa-se que essa Convenção ateve- se aos direitos civis e políticos numa clara alusão ao combate aos governos totalitários que existiram na Europa.

da Detenção e da Prisão”. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Vol. 3. 2015. p. 8.

11 GUERRA. 2015. p. 145.

12 MESQUITA, Maria Rangel de. Forças e Fraquezas do Tratado que estabelece uma

Constituição para a Europa: cinco breves tópicos de reflexão. In: O Direito, Almedina, Coimbra,

2005.

13 Mesmo que a CEDH tenha sido acordada em Roma, no ano de 1950, só entrou em vigor no

ano de 1953.

14 É o que afirma o preâmbulo da CEDH: “(...) Considerando que a finalidade do Conselho da

Europa é realizar uma união mais estreita entre os seus Membros e que um dos meios de alcançar esta finalidade é a proteção e o desenvolvimento dos direitos do homem e das liberdades fundamentais, reafirmando o seu profundo apego a estas liberdades fundamentais, que constituem as verdadeiras bases da justiça e da paz no mundo e cuja preservação repousa essencialmente, por um lado, num regime político verdadeiramente democrático e, por outro, numa concepção comum e no comum respeito dos direitos do homem (...)”. Disponível em http://www.oas.org/es/cidh/expresion/showarticle.asp?artID=536&lID=4. Acesso em 14 de abril de 2016.

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Esse rol de direitos, no entanto, foi ampliado pelos protocolos adicionais15 e os direitos e garantias elencados na CEDH são dirigidos a todos os indivíduos, nacionais ou estrangeiros, que estão sob jurisdição dos Estados- parte da Convenção16. Contudo esse âmbito de atuação vem sendo flexibilizado pela jurisprudência17 do TEDH para que as obrigações dos Estados-partes possam abranger os indivíduos que se encontram sob sua responsabilidade e não se limitando apenas aqueles que estão em seus limites territoriais18.

Desse modo, a Convenção consagrou liberdades e direitos civis e políticos, além de um sistema que garantia que os Estados-contratantes respeitassem as obrigações por eles assumidas. Por essa razão é considerada como grande avanço em matéria de direitos humanos, uma vez que estabeleceu um sistema de proteção regional observando as características específicas do continente europeu.

Outro ponto de destaque da Convenção foi a instituição de órgãos fiscalizatórios e jurisdicionais. Assim, a Comissão Europeia dos Direitos do Homem, o TEDH e o Comitê de Ministros ficaram responsáveis pela fiscalização ao respeito dos direitos humanos, como também legitimados a julgar as violações aos direitos do homem19.

Para Comparato20 a grande contribuição da CEDH para a proteção dos direitos do homem e efetivação da dignidade da pessoa humana foi, além da instituição de órgãos de controle, fiscalização e jurisdicional, o reconhecimento do indivíduo como sujeito de direito internacional. Acrescenta ainda que a existência desses órgãos, dentro de cada Estado, é uma questão crucial para a evolução do sistema de proteção internacional da pessoa humana, continuando os Estados a zelarem pela sua soberania, rejeitando ingerências

15 Ao todo foram 14 protocolos adicionados à CEDH. Destaca-se que: o Protocolo n.º 11, que

trouxe inovações fundamentais ao funcionamento do regime. Neste aspeto há a salientar: i) a reestruturação profunda dos mecanismos de controlo da Convenção, dado que os três órgãos de decisão – Comissão, Tribunal e Comité de Ministros do Conselho da Europa – foram substituídos por um só órgão, o TEDH; ii) o funcionamento do TEDH, a partir de 1 de novembro 1998, a tempo integral; iii) o acesso direto ao TEDH pelos cidadãos, ou seja, os cidadãos passaram a ter o ius postulando.

o Protocolo 12 reforçou o direito de não ser discriminado por qualquer razão como sexo, raça, cor, idioma, religião, opinião política, nacionalidade, nascimento, etc e o Protocolo 13 que aboliu a pena de morte em todas as circunstâncias, fortalecendo a proteção à vida.

16 Artigo 1º da CEDH: “As Altas Partes Contratantes reconhecem a qualquer pessoa dependente

da sua jurisdição os direitos e liberdades definidos no título I da presente Convenção”.

17 Como exemplo, citamos o caso Soering versus UK de 1989 em que se estabeleceu que a

extradição de uma jovem alemã para os Estados Unidos para enfrentar acusações de homicídio violava Artigo 3 da Convenção Europeia dos Direitos humanos que garantia o direito contra o tratamento desumano e degradante. Esse julgamento foi importante porque observou-se o alargamento da abrangência da CEDH incluindo sob sua proteção a extradição ou expulsão por Estado-parte de um indivíduo que se encontrava em território de Estado que não fazia parte da Convenção.

18GODINHO, Fabiana de Oliveira. Para entender a Proteção Internacional dos Direitos Humanos.

Del Rey. Belo Horizonte. 2006. p. 53.

19 GUERRA. 2015. p. 151.

20 COMPARATO, Fabio Konder. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. São Paulo:

A proteção dos direitos humanos na Europa: o papel (...)

externas em assuntos de sua jurisdição exclusiva, uma vez que assim também preceitua a Carta das Nações Unidas quando declara que a não interferência em assuntos internos de cada Estado é um princípio fundamental.

Os juízes integrantes da Corte europeia de Direitos do Homem gozam de imunidade sobre os votos ou opiniões exprimidas no exercício de suas atividades, constituem as mesmas facilidades concedidas às autoridades diplomáticas, tendo em vista a importância de suas funções21. Os juízes se dividem em comitês, com 3 membros, em seções, compostas por 7 juízes, e no tribunal pleno, com 17 juízes. A Convenção estabelece o direito de cada Estado, que seja parte em um litígio, de que o juiz eleito por ele componha a seção do tribunal pleno que julgará a demanda.

A Competência da Corte divide-se em: Consultiva e contenciosa. A Corte adquiriu a competência consultiva por força do Protocolo 2 e somente o Comitê de ministros possui legitimidade para requerer um parecer consultivo à Corte, por voto da maioria dos membros. Até hoje nenhum parecer consultivo foi solicitado.

A competência da Corte também foi modificada pelo Protocolo 11 que impôs, dentro outras modificações, a obrigatoriedade de jurisdição do TEDH imediatamente após a ratificação da Convenção.

Vale ressaltar que a jurisdição da Corte só pode ser invocada depois de esgotada toda a via recursal interna do ordenamento jurídico do Estado para a reparação ou extinção da violação aos direitos observada, isso se deve ao princípio da subsidiariedade22. O demandante tem que demonstrar que cumpriu esse requisito inclusive se submetendo ao prazo de seis meses contados a partir da data da decisão definitiva que foi proferida no âmbito interno do Estado.

Todos os Estados-partes na Convenção estão legitimados a submeterem questões que envolvam direitos elencados no texto convencional e as petições individuais seriam o resultado concreto do desenvolvimento experimentado principalmente após a Segunda Guerra na concepção do indivíduo e do lugar que o ser humano ocupa no contexto internacional23.

A obrigação de seguir os preceitos da Convenção para os Estados que a ratificarem também impõe o respeito às sentenças definitivas emanadas da Corte nas demandas em que determinado Estado seja parte24.

Cabe ao Comitê de Ministros acompanhar e fiscalizar a execução dessas sentenças25. A forma de execução dessas decisões proferidas pelo Tribunal depende dos procedimentos adotados no ordenamento jurídico interno do Estado-parte envolvido.

As sentenças podem inclusive estipular um prazo máximo para o pagamento da reparação. Todavia, vale ressaltar que o Tribunal utiliza a

21 Acordo Geral sobre Privilégios e Imunidades de 1949. 22 Artigo 35 CEDH.

23 GODINHO. 2006. p.63. 24 Artigo 46, 1, CEDH. 25 Artigo 46, 2, CEDH.

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discricionariedade quanto ao estabelecimento de justa reparação, ou seja, o texto da CEDH não reconhece direito subjetivo à reparação financeira nos casos de violação de direitos humanos, uma vez que a declaração emanada da Corte de que determinado Estado desrespeitou normas de direitos humanos por si só já é considerada reparação. Há casos, porém, em que uma declaração ou uma simples compensação financeira não resolveria a questão e se exigiriam medidas concretas, como anulação de ato, para haver uma reparação eficaz26.

Dessa forma, a sentença definitiva é transmitida para o Comitê de Ministros que, a partir daí, fiscaliza as medidas adotadas pelo Estado violador na execução da decisão da Corte. O Comitê pode examinar se o Estado adotou as medidas necessárias para resolver a questão ou se efetuou o pagamento de eventuais reparações pecuniárias. Todas as informações são publicizadas, com exceção das confidenciais por razões de interesse público ou particular, para que todos possam acompanhar as decisões da Corte. Essa acessibilidade ao público dos dados emanados do Tribunal repercute de forma afirmativa na medida em que constitui, além da concretização da transparência, uma forma de pressionar os Estados envolvidos nas violações em assumir suas responsabilidades e executar as sentenças definitivas para que possam ser reconhecidos como Estados que respeitam os ditames e as normas de direitos humanos27.

A Corte Europeia vem enfrentando momentos de dificuldade quanto ao alcance de seus objetivos de fortalecimento e respeito aos direitos humanos. As modificações trazidas na estrutura e funcionamento da Corte pelos seus Protocolos, por um lado, simplificaram procedimentos e ampliaram o acesso à jurisdição do Tribunal, fazendo com que novos Estados se submetessem à CEDH. De outra banda, o crescimento intenso de demandas apresentadas tem comprometido a dinâmica e eficiência do sistema.

Ajustes ainda devem ser realizados na tentativa de melhorar essa dinâmica modificando alguns trâmites, tais como, os que permitem que muito tempo seja perdido com demandas que serão julgadas inadmissíveis ao final ou muito semelhantes a outras já decididas pelo Tribunal, o que ocasiona acúmulo de processo e, consequentemente, violações são perpetradas pelo excesso de tempo em se resolver a demanda.

Desse modo, foram elaboradas reestruturações dos procedimentos junto á Corte através do Protocolo 14 que objetiva, dentre outras medidas, melhorar a celeridade do sistema sem, contudo, comprometer o acesso à jurisdição por toda pessoa que seja vítima de violação dos direitos e garantias insculpidos na CEDH.

As mudanças adotadas objetivam reestruturar o funcionamento da Corte e propor alterações no sistema de controle da Convenção. Para isso são

26 GODINHO. 2006. p. 70. 27 GODINHO. 2006. p. 71.

A proteção dos direitos humanos na Europa: o papel (...)

feitas alterações no mecanismo de seleção de demandas e na admissibilidade das ações em que há risco de dano iminente28.

As ações que tiverem sido inadmitidas pelos Tribunais nacionais e as que se relacionem com a interpretação e aplicação das normas constantes na CEDH não serão rejeitadas ab initio cabendo à Corte essa análise. Outra simplificação foi a possibilidade do comitê composto por três juízes decidirem sobre casos relacionados com a jurisprudência consolidada na Corte, evitando demandas repetitivas e acelerando o processo decisório.

As modificações adotadas pelo Protocolo 14 incluíram expressamente em seu Artigo 17.º a possibilidade da União Europeia aderir à Convenção. É interessante esse destaque, uma vez que desde o estabelecimento, em 1957, da Comunidade Econômica Europeia, pelo Tratado de Roma, não se fazia menção expressa sobre os direitos humanos e sua proteção, embora tivesse neles fonte de inspiração para a concretização da integração entre os países. As decisões da Corte Europeia de Justiça convergiam no sentido de uma maior proteção dos direitos das pessoas e isso se seguiu nos vários Tratados subsequentes29.

O Tratado de Maastrich, que instituiu a União Europeia, tornou evidente a necessidade de todos os países do bloco respeitarem os direitos elencados na CEDH. Em 1999, com o Tratado de Amsterdã, a tendência de ampliação do reconhecimento dos direitos humanos como parte integrante do direito comunitário, prescrevendo que a União Europeia se baseia nos princípios da igualdade, liberdades fundamentais e respeito aos direitos humanos, podendo a violação aos mesmos acarretar suspensão de determinados direitos dentro da União Europeia30.

O Tratado de Amsterdã amplia o reconhecimento dos direitos humanos como parte importante dentro do direito comunitário e, em 2000, foi adotada a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia corroborando com a proteção dos direitos humanos perseguida pelo bloco europeu.

A Carta foi inspirada na CEDH e ampliou alguns aspectos desta, como foi o caso dos direitos sociais e econômicos e o artigo 52 dispõe no sentido que a proteção e o alcance dos direitos devem ser os mesmos nos dois documentos. Contudo, existem diferenças entre esses instrumentos normativos na medida em que a Convenção pretendia que seu texto fosse compulsório, enquanto que a Carta tinha o propósito de alcançar o povo europeu com uma linguagem simples e direta. Em linha gerais, a Carta representa um avanço, principalmente, por

28 As principais modificações na estrutura e nos procedimentos do TEDH abordadas ao longo

desse texto a partir do Protocolo 14 podem ser conferidas e melhor analisadas no Relatório explicativo sobre a estrutura do Protocolo 14. Disponível em: http://www.echr.coe.int. Acesso em 14 de julho de 2016.

29 QUADROS, Fausto de. Direito da União Europeia. 3.ª ed., Almedina, 2013.

30 (...) a União respeitará os direitos fundamentais como se garantiam na Convenção Europeia

dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais assinado em Roma, a 4 de novembro de 1950, e tal como resulta das tradições constitucionais comuns aos Estados membros como princípios gerias do direito comunitário.

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