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A previdência social brasileira como elemento para o crescimento econômico e desenvolvimento humano

No documento Dimensões dos Direitos Humanos (páginas 111-131)

KEY WORDS:

3. A previdência social brasileira como elemento para o crescimento econômico e desenvolvimento humano

Dentre as políticas públicas desenvolvidas pelos governos nacionais, uma parte delas visa atender ao que se denomina elementos constituintes dos direitos sociais. Estes englobam lazer, educação, cultura e seguridade. A seguridade social consiste em um conjunto de ações com o intuito de amparar o cidadão e sua família em casos de velhice, doença e desemprego, prestando serviços de saúde pública e de assistência social. A Previdência Social deve ser incluída dentro dessa política de seguridade social.

No Brasil, a previdência foi pensada não como um sistema de capitalização, como aqueles utilizados pelos Bancos e Instituições financeiras, onde o segurado, ou um conjunto destes, contribui para formar um fundo com lastro suficiente para cobrir as necessidades previdenciárias de seus integrantes, mas sim como um sistema de repartição, onde todos contribuem

Os direitos sociais no Estado Nação: uma análise da (...)

para um fundo comum de reservas, fazendo jus aos benefícios mediante o atendimento dos requisitos previstos nas normas previdenciárias.

A seguridade social, segundo Ibrahim (2011, p. 5), é conceituada como a rede protetiva formada pelo Estado e por particulares, com contribuições de todos, incluindo parte dos beneficiários dos direitos, no sentido de estabelecer ações para o sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, providenciando a manutenção de um padrão de vida digna. Dentro da seguridade social está a saúde, a assistência e a previdência social.

A origem da previdência brasileira remonta a chamada Lei Eloy Chaves, que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de estrada de ferro existentes, mediante contribuições dos trabalhadores, das empresas do ramo e do Estado, assegurando aposentadoria aos trabalhadores e pensão a seus dependentes em caso de morte do segurado, além de assistência médica e diminuição do custo de medicamentos.

Em 1960, foi promulgada a Lei Orgânica da Previdência Social que unificou o plano de benefícios dos Institutos. Em 1971, aconteceu a inclusão no sistema previdenciário dos trabalhadores rurais, logo depois em 1972, os domésticos foram inseridos. Nesse aspecto, a previdência pode ser definida como um seguro com regime jurídico especial, pois é regida por normas de Direito Público, sendo necessariamente contributiva, pois disponibiliza benefícios e serviços aos segurados e seus dependentes, que podem ser variáveis, a depender do plano de cobertura.

A relação previdenciária, no Brasil, tem duas vertentes: a primeira, é o custeio. Envolve a obrigação de pagar as contribuições previdenciárias pelos segurados e pelas empresas, empregadores e equiparados, tendo natureza tributária. A segunda é o plano de benefícios e serviços. Resta, porém, salientar que a definição de previdência é jurídico-positiva, pois sofrerá modificações de acordo com a análise da legislação de cada nação, sendo necessariamente contributiva no Brasil.

Os planos previdenciários brasileiros podem ser divididos em básicos e complementares, sendo os primeiros compulsórios para as pessoas que exerçam atividade laboral remunerada, ao contrário dos últimos, que visam apenas ofertar prestações complementares para a manutenção do padrão de vida do segurado e de seus dependentes.

O Regime Geral de Previdência Social é obrigatório para os trabalhadores em geral, exceto para os titulares de cargos públicos efetivos e militares filiados a Regime Próprio de Previdência Social, de competência da União e administrado pelo Ministério da Previdência Social. Competirá ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, a administração do plano de benefícios e serviços.

Os Regimes Próprios de Previdência Social são obrigatórios para os servidores públicos efetivos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, bem como os militares, caso tenham sido criados pelas respectivas entidades políticas. É necessário frisar que os servidores que são apenas titulares de

Auricélia do Nascimento Melo & Maria do Rosário Pessoa Nascimento

cargos em comissão temporários ou empregados públicos serão segurados do RGPS, na condição de segurados empregados, conforme a Constituição Federal, em seu art. 40, §13, bem como os titulares de mandato eletivo, pois o RPPS, só alcança os servidores efetivos em todas as áreas.

A previdência complementar se divide em Regime Privado Complementar Aberto, explorado por sociedades anônimas com autorização estatal, de índole facultativa e que tem por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário, concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas, regulamentado pelo artigo 202, da Constituição e pelas Leis Complementares 108 e 109/2001.

O Regime Privado Complementar Fechado, mantido por entidades fechadas de previdência complementar (associações ou fundações), facultativo, que oferece planos de benefícios a todos os empregados dos patrocinadores ou associados dos instituidores, também regulado pelas normas já referidas.

Além dos recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a manutenção da seguridade social contará com as receitas decorrentes das contribuições para a seguridade social, que têm aplicação vinculada ao sistema securitário, por serem tributos afetados ao sistema.

Toda a sociedade deverá financiar a seguridade social brasileira, de maneira direta ou indireta, ante o seu caráter universal que objetiva a proteção da população contra os riscos sociais selecionados pelo legislador, consoante o interesse público através de prestações na área da saúde pública, assistência e previdência social.

Mesmo em um país de grandes desigualdades sociais, o entendimento geral de que os benefícios previdenciários resguardam de maneira mínima os segurados, é necessário destacar que a Previdência Social adquire uma inesperada importância econômica para a maioria dos municípios brasileiros, proporcionando um incremento nas economias locais, constituindo assim um instrumento de redução de desigualdades sociais, fornecendo uma garantia de renda, ainda que mínima para muitos cidadãos brasileiros.

A previdência social contribui para o crescimento econômico e desenvolvimento humano, pois protege o contribuinte dos riscos sociais, como a idade avançada, o acidente, a morte, a invalidez, permitindo assim, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana.

Carducci (2014), ao falar sobre o sistema de seguridade social na Itália, relata a questão da quebra do sistema tanto de forma geracional como vertical, pois a discussão sobre a previdência social naquele país passa pela questão de categorias. O professor citou que existe a necessidade de uma discussão política mais profunda para que sejam feitas reformas que possam resolver essas “fraturas”, que são responsáveis pela quase falência do sistema de previdência.

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CONCLUSÕES

Para explicar o desenvolvimento humano e o crescimento econômico, o trabalho buscou supedâneo no conteúdo ministrado pelo Professor Michele Carducci. O doutrinador iniciou a discussão explicando que a primeira conexão entre o constitucionalismo e desenvolvimento surge a partir de uma cultura da constitucionalidade que, através de um sistema de normas, constrói um projeto de desenvolvimento.

O capitalismo necessita do Estado e de um projeto de desenvolvimento para sobreviver; os poderes devem ser democraticamente legitimados; o sistema eleitoral deve ser legítimo e o parlamento contenha uma composição plúrima. Para realizar o projeto de integração, a Europa adotou o sistema funcionalista e isso vem provocando uma restrição dos direitos individuais, que somente são reconhecidos se estiverem servindo como objetivos para a integração.

O projeto de integração europeia é um processo de renúncia de soberania, pois os direitos antes assegurados pelas Constituições internas passam a ser exercidos, de maneira satisfatória, se atenderem aos objetivos da integração. Carducci (2014) cita como exemplo o direito ao trabalho, que na Constituição europeia está descrito como o “direito a buscar trabalho”, pois esta expressão atende aos objetivos da integração, não existindo a preocupação com o resguardo e vontade pessoal do trabalhador.

No Brasil, os direitos sociais percorreram um longo caminho, até alcançarem o status de que dispõem hoje. São prestações estabelecidas constitucionalmente que devem proporcionar o desenvolvimento humano e viabilizar de forma sustentável o crescimento econômico. Dentro dessa esteira, merece destaque a previdência social.

O nascimento da previdência social foi analisado no trabalho à luz da evolução lenta e gradual dos direitos fundamentais sociais. O direito à previdência obedece a uma sistemática e dinâmica próprias, pois o sistema é regido pela exigência de contribuição, para que o segurado possa fazer jus a benefícios ou serviços.

O que se verifica nos dias atuais é que o Brasil necessita debater de maneira cuidadosa a questão do viés geracional de políticas públicas e dos gastos públicos relacionados com a previdência social, pois os aposentados do regime geral, em regra, têm o seu poder de compra reduzidos com o passar do tempo, pois os reajustes não acompanham o aumento da inflação, fazendo com que muitos tenham uma condição de vida precária. E isso não é diferente do que vem ocorrendo na maioria dos países europeus.

Existe a necessidade de ajustes ou reformas no campo da previdência, pois para assegurar ao contribuinte do sistema uma proteção adequada deve haver mudanças nas regras adotadas e, necessariamente, essas reformas serão implementadas em face do aumento da expectativa de vida.

É relevante o papel do Estado no sentido de, ao mesmo tempo, assegurar a criação e manutenção de um sistema de proteção aos infortúnios

Auricélia do Nascimento Melo & Maria do Rosário Pessoa Nascimento

que atingem a capacidade de subsistência e obrigar os integrantes economicamente capazes da coletividade, a participarem compulsoriamente do sistema de previdência, para que nenhum indivíduo fique em desamparo, pois a sociedade tem uma cota de participação no custeio desta proteção, para a manutenção de uma existência digna, produzindo desenvolvimento humano.

REFERÊNCIAS

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. Decreto 3048, de maio de 1999. Aprova o Regulamento da

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. Lei nº 8213/91. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência

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.Lei nº 8212/91. Dispõe sobre os Planos de Custeio da Previdência

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SZTAJN, Rachel e ZYLBERSZTAJN, Décio. Direito & Economia. Análise

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THOMPSON, Lawrence. Older & Wiser: The economics of public pensions. Tradução de Celso Barroso Leite. Coleção Previdência Social, Série Debates, Brasília, 2000.

A Fundamentação do Direito à Livre Expressão do Pensamento

Lucila Gabriella Maciel Carneiro Vilhena1

Resumo

O presente trabalho visa apresentar uma ideia de fundamentação da ampla proteção da liberdade de expressão. É dizer, uma vez que sabemos que os direitos fundamentais limitam-se mutuamente, diante de uma situação de conflito, o que nos autoriza a defender que a balança do direito deve pender para o lado desta liberdade?

Palavras-Chave: Direitos Humanos, Liberdade de Expressão, Teoria da Verdade.

Abstract

This paper aims to present some reasons for the broad protection of freedom of speech. Once we know that fundamental rights are limited one to another, in a situation of conflict, what authorizes us to defend that the balance of the law should fall to the side of freedom of expression?

Key-words: Human Rights, Freedom of Speech, Theory of Truth.

Introdução

Embora um direito fundamental goze de um status de superioridade histórico-filosófica, ainda que de maneira simbólica, como é o caso da liberdade de expressão, que mais do que uma mera permissão por parte do Estado, representa um direito conquistado pela democracia, cujo conceito vem sendo construído e preenchido historicamente, o seu exercício não o torna um direito absoluto.

1 Professora de Direito Internacional Público da Universidade Estadual da Paraíba, Doutoranda

e bolseira de investigação em Direito Internacional e Europeu pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Advogada.

A Fundamentação do Direito à Livre Expressão do Pensamento

Faz parte do cotidiano de uma sociedade moderna, plural e inclusiva, o fato de que, dentro do exercício regular de um direito, este se choque com outros de igual valor. No caso latente da liberdade de expressão, é comum que esta se choque com certos direitos da personalidade, ou em casos mais evidentes, e de maior interesse para este presente estudo, a dignidade da pessoa humana.

Neste sentido, sabendo que a liberdade de expressão ocupa lugar de destaque na construção da sociedade democrática, a supressão deste direito, se não for levada a cabo com a máxima cautela, pode ser tendencialmente perigosa, e desvirtuar a própria natureza deste direito.

Para ilustrar essa afirmativa, a história nos mostra que regimes autoritários muitas vezes apoiam-se em argumentos que visam, aparentemente, proteger a sociedade, para proibir algum discurso. Um exemplo é o caso da Rússia, que sob o argumento da segurança nacional, recentemente condenou o repórter Vadim Tyumentsev à 5 anos de prisão por promover o extremismo, após este ter publicado em seu blog na internet, críticas à política Russa em relação à Ucrânia. Outro exemplo latente é o da China, que proíbe manifestações favoráveis à independência do Tibet, sob o argumento de que estas incitam o ódio racial2.

Esses fatos apenas reforçam que é necessário máxima cautela em proibir ou punir um discurso, pois como demonstra Warburton3, é difícil resistir à tentação de usar a lei ou a força para silenciar um adversário. Sem a liberdade de criticar e desafiar os que agem em nosso nome, as democracias podem degenerar em tiranias.

O grande objetivo deste trabalho é entender portanto, dentro de uma perspectiva multicultural e de uma forte e atual tendência de proteção múltipla dos direitos fundamentais, o que fará a balança do direito, em uma situação de conflito, pender para o lado da liberdade de expressão. Qual a justificativa que

2 Matéria veiculada na revista “The Economist” de 4 de Junho de 2016. Disponível em:

http://www.economist.com/news/leaders/21699909-curbs-free-speech-are-growing-tighter-it- time-speak-out-underattack consultado em: 14 de Junho de 2016.

3 WARBURTON, Nigel. Liberdade de Expressão – Uma Breve Introdução. Gradiva : Lisboa,

Lucila Gabriella Maciel Carneiro Vilhena

nos autoriza a reconhecer este direito como embrião de uma sociedade democrática, cuja privação arbitrária seria inúmeras vezes mais lesivas do que seu exercício absoluto?

Discussão e Apresentação de Resultados

Segundo os ensinamentos de Jónatas Machado, o direito à liberdade de expressão do pensamento tem um lugar de prestígio no processo de constitucionalização dos demais direitos fundamentais. Este autor ainda destaca, na construção da liberdade de expressão, a primeira emenda à Constituição dos Estados Unidos que integram o Bill of Rights de 1791, onde estabeleceu-se uma norma de competência negativa, proibindo o Congresso de produzir leis restritivas à liberdade de expressão ou de imprensa. Neste cenário, diante da consolidação da interpretação de um direito quase que absoluto, passa-se a entender a autodeterminação democrática de um povo diretamente dependente da existência e manutenção de uma esfera de discurso público livre e aberta4.

Com efeito, a liberdade de expressão aqui estudada transcende à liberdade individual e aos direitos fundamentais individualizados. Ela atinge à sociedade como um todo por meio de uma necessidade coletiva de conhecer todas as versões de uma suposta verdade, e através da informação adquirida em um discurso livre e aberto, chegar às suas próprias conclusões e tomar as suas próprias decisões acerca do tema. A liberdade de expressão, portanto, se soma à liberdade de imprensa e à liberdade de conhecimento sobre todas as matérias, mesmo aquelas consideradas imorais, impopulares ou chocantes.

O ponto de partida para o estudo da liberdade civil como um todo, e de maneira mais específica, da liberdade de expressão, é “On Liberty”, onde John Sturat Mill, desenvolvendo seu “princípio do dano” (harm principle), explicou que este é o princípio de que o único fim para o qual o poder pode ser corretamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a vontade deste, é o de prevenir um dano a outros5.

4 MACHADO, Jónatas. Liberdade de Expressão. Dimensões Constitucionais da Esfera Pública

no Sistema Social. Coimbra : Coimbra Editora, 2002, pág. 67.

5 In: ADAMS, David M. Philosophical Problems in the Law. 5a. ed. Boston : Wadsworth, 2013,

A Fundamentação do Direito à Livre Expressão do Pensamento

O princípio do dano de Mill é o início da discussão, não o seu fim, como veremos ao longo do trabalho. Não poderemos aceitá-lo sem nenhum retoque, como tampouco podemos rechaça-lo, pois trata-se de um verdadeiro clássico da liberdade6.

Na referida obra, Mill desde logo deixa claro que o princípio do dano busca evitar dano a outrem, não à própria pessoa causadora do dano, refutando assim o paternalismo do Estado. A exceção a este ideia se dará apenas para as pessoas incapazes, pois estas sim, necessitam da proteção do Estado, no sentido de que este garanta aquilo que é socialmente considerado o melhor para aquelas pessoas.

John Stuart Mill 7 afirmou que a supressão de ideias advindas de questões históricas, científicas, teológicas, filosóficas, políticas e morais seria sempre mais danosa do que as ideias em si, porque devemos considerar a possibilidade de estas ideias serem completamente ou parcialmente verdadeiras, e a sua supressão levaria ao dano social incalculável da perda da verdade, e portanto, nunca se justificaria8.

Não podemos olvidar também, do fato de que ainda que a ideia seja totalmente falsa, ela é útil para que as pessoas conheçam e percebam as versões contrárias ao seu pensamento e assim, construam e fortaleçam as suas próprias verdades. Proibir a divulgação de uma ideia não passa de uma pretensão humana de infalibilidade, é dizer, uma ideia só pode ser extirpada do conhecimento da sociedade, se tivermos completa certeza de que ela é falsa e tão desimportante que seja inútil para a construção de um pensamento, o que sabemos, é impossível afirmar. Sendo assim, a autoridade que pretenda em um caso concreto, suprimir uma ideia, nunca o faz, e nem seria possível fazer, em nome de toda a humanidade.

6 Para Mill, a liberdade como um princípio, só nasce quando a própria humanidade se estabelece

como fruto de uma discussão livre. Qualquer estado de coisas anterior a isso, significa uma mera obediência. (MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade. Lisboa : Edições 70, 2015, pág. 52).

7 MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade. Lisboa : Edições 70, 2015, pág. 53.

8 Este, Segundo Scanlon, parece ser um argumento consequencialista. (SCANLON, T. A Theory

of Freedom of Expression. In: The Philosophy of Law. Editado por R. M. Dworkin. Oxford : The Oxford University Press, 1977, pág. 154.)

Lucila Gabriella Maciel Carneiro Vilhena

Segundo Peirce 9 , quando o homem quer ardentemente saber da verdade, seu primeiro passo nessa busca é imaginá-la. Neste sentido, para Mill10, permitir a livre divulgação de qualquer ideia, não importando o grau de verdade contido nela, minimiza o risco permanente de compromisso com aquilo que é falso. Embora neste processo, se permita a divulgação também de ideias falsas, dificilmente elas prevalecerão sob a verdade11.

Estes argumentos são facilmente verificado no mundo das ciências, onde as hipóteses vão sendo desmentidas ou complementadas face a verdade que surge na medida em que se avança na própria ciência. Um forte exemplo é a teoria heliocêntrica de Copérnico, que a despeito do que era tido como verdade na época, qual seja, a teoria geocêntrica difundida por Aristóteles, afinal descobriu que a Terra move-se em torno do sol. Copérnico, segundo os historiadores 12 , chegou a temer a revolução que sua teoria iria causar na sociedade e pensou em abandoná-la, tendo em vista que ele estava por romper com uma verdade sólida,

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