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POLÍTICAS PÚBLICAS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E AS GERAÇÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

No documento Dimensões dos Direitos Humanos (páginas 141-144)

KEY WORDS:

1. POLÍTICAS PÚBLICAS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E AS GERAÇÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

Em 1988, com advento da atual Constituição, conhecida por Constituição Cidadã, os direitos sociais tomaram forma e foram incluídos em capítulo específico, “Dos Direitos Sociais”, significando importante avanço do tema para a população e para concepção jurídica do termo.

A Constituição de 1988 declarou formalmente como sendo de relevância constitucional uma série de bens e valores jamais mencionados nas constituições anteriores, protegendo bens como saúde, previdência social, educação, meio ambiente, família, crianças e adolescentes, anciões além dos indígenas (MIRANDA, 2013, p. 60).

Assim, os direitos sociais brasileiros surgem na esfera constitucional como uma prestação positiva a ser realizada diretamente pelo Estado com o fim de possibilitar melhor condição de vida e sobrevivência aos menos favorecidos.

O atual modelo de Estado Constitucional absorve algumas das figuras criadas com o Estado de Bem-Estar, dando a elas um novo sentido, agora não mais de intervenção sobre a atividade privada, mas de diretriz geral, tanto para a ação de indivíduos e organizações como do próprio Estado.

Os direitos sociais nos termos em que se expressa na Carta Magna, tornam-se direitos não subsidiários de outros direitos, não se encontrando hierarquicamente inferior ou superior aos direitos civis e políticos, acabando por ser incorporado aos direitos humanos numa dimensão necessariamente social.

Em que pese às proteções dos direitos sociais estarem previstas no texto constitucional, cumpre esclarecer que estes estão insculpidos como normas programáticas, asseverando Alexandre Moraes que tais normas incumbem ao Poder Legislativo, no exercício de sua função legiferante, limitar-se a alcançar interesses ou direitos de obrigação do Poder Executivo, sempre observando a evolução das situações de fato (MORAES, 2007, p. 9).

Normas programáticas constitucionalmente analisadas, dizem respeito a determinados programas de ação social de caráter progressivo assumido pelo Estado,

Efetivação dos direitos fundamentais no Brasil (...)

podendo ser atribuídas a estas o conceito de eficácia limitada, pois precisam de legislação ulterior para alcançar o fim objetivado.

Observando o protecionismo constitucional em relação aos direitos sociais trazido na Lei Maior, criou-se um mecanismo de execução dessas proteções que são delimitadas pela gerência por parte do Estado de políticas públicas destinadas à aplicação das normas programáticas previstas na Constituição, superando a preocupante fase de normatizar as proteções sociais e buscando uma forma de aplicá- las, conforme Bobbio (1992, p. 25) “que o problema grave do nosso tempo, com relação aos direitos do homem, não era mais o de fundamentalmente tê-los e sim o de protegê-los”.

Esta proteção nada mais é do que a derivação da evolução natural da proteção dos direitos fundamentais construída sob a perspectiva de gerações ou dimensões tomando por base os processos históricos em que determinada categoria de direito passou a ser reconhecida.

Falamos em proteger todas as dimensões dos direitos e garantias fundamentais, os direitos de primeira geração que tratam dos direitos à liberdade referente aos direitos civis e políticos, tendo o indivíduo como titular de tal garantia/direito valorizando primeiro o homem-singular, de liberdades abstratas, que remete à fase inaugural do constitucionalismo do Ocidente (BONAVIDES, 2002, p. 517).

Após o reconhecimento dos direitos fundamentais de primeira geração, o Estado se encontrava de forma passiva diante do aspecto social e econômico, sendo ausente na vida do homem, porém com o advento da Revolução Industrial ocorreram densas mudanças na vida social e política dos países, o que exigiu que o Estado abarcasse maiores responsabilidades, intervindo com maior abrangência na vida econômica e social, com o intuito de solucionar os conflitos de interesses de grupos e de indivíduos (CUNHA JÚNIOR, 2008, p. 209), surge então o que se considera os direitos sociais de 2ª geração, apoiando-se na ideia do homem como ser vivente em coletividade, emergindo neste momento os direitos coletivos.

O reconhecimento dos direitos sociais, econômicos e culturais, veio para reduzir a desigualdade social e econômica que debilitava a dignidade humana, explica Dirley da Cunha Júnior:

Priscila Luciene Santos de Lima & Rafael Lima Torres

O que caracteriza esses direitos é a sua dimensão positiva que objetiva não mais obstar as investidas do Estado no âmbito das liberdades individuais, mas, sim, exigir do Estado a sua intervenção para atender as crescentes necessidades do indivíduo. São direitos de crédito porque, por meio deles, o ser humano passa a ser credor das prestações sociais estatais, assumindo o Estado, nessa reação, a posição de devedor. Estes direitos fundamentais sociais não estão destinados a garantir a liberdade frente ao Estado e a proteção contra o Estado, mas são pretensões do indivíduo ou do grupo ante o Estado. (CUNHA JÚNIOR, 2008, p. 212).

Pode ser notado então que a essência dos direitos fundamentais de 2ª geração é a preocupação com as necessidades do indivíduo, onde o Estado deve estar presente.

Embora as garantias dos direitos fundamentais de primeira e segunda geração tenham proporcionado ao cidadão uma proteção em relação aos poderes estatais, surgem os direitos fundamentais de terceira geração, iniciada por Karel Vasak, que denominou de direitos de solidariedade, que se ajustam na fraternidade, esses direitos de terceira dimensão residem fundamentalmente, na sua titularidade coletiva (MELO, 2001, p. 62).

Dentre os direitos fundamentais de terceira geração podem-se citar os direitos à paz, à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento, ao meio ambiente e qualidade de vida, assim como o direito ao uso do patrimônio histórico e cultural, bem como o direito de comunicação. Na verdade, são reivindicações novas do ser humano, geradas pelo impacto tecnológico (SARLET, 2003, p. 54).

Portanto, nos direitos de terceira geração ou dimensão, o sujeito ativo possui titularidade difusa ou coletiva, esses direitos não enxergam o homem como um ser único, mas como membro de uma coletividade ou grupo.

Com o avanço social, as garantias fundamentais até então estudadas tiveram que evoluir, sendo concebida da evolução mencionada os direitos fundamentais de quarta geração, tendo em sua essência o direito à democracia, ao pluralismo e à informação ante ao fato do avançado desenvolvimento tecnológico.

A democracia direta e globalizada é tida como o mais importante dos direitos fundamentais de quarta geração; nessa esteira, também entende Adilson Josemar Puhl, onde o direito tido como o mais importante é o da democracia, tendo que ser “direta e livre da mídia manipuladora produzida pelas classes dominantes” (PUHL, 2005, p. 137).

O que se pode perceber é que as garantias sociais contidas na Constituição da República Federativa do Brasil é fruto de uma constante evolução das gerações de

Efetivação dos direitos fundamentais no Brasil (...)

direitos fundamentais, abrindo uma oportunidade para entender que o texto constitucional não é mero texto de expectativa, mas sim um instrumento de garantia de execução de políticas públicas capazes de sustentar o fundamento da constituição cidadã.

No documento Dimensões dos Direitos Humanos (páginas 141-144)