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O crescimento econômico e o desenvolvimento humano na visão de Michele Carducc

No documento Dimensões dos Direitos Humanos (páginas 107-109)

KEY WORDS:

1. O crescimento econômico e o desenvolvimento humano na visão de Michele Carducc

A análise dos direitos sociais ao longo do tempo permite especificar uma realidade que passa pela construção do constitucionalismo para evidenciar o crescimento econômico e o desenvolvimento humano.

Para discutir sobre o tema e tratar do crescimento econômico e do desenvolvimento humano sob uma perspectiva de uma realidade atual, o Professor Michele Carducci (2014), em seminário realizado pela Universidade de Fortaleza iniciou a sua palestra falando sobre a crise que ocorre na Europa, por conta do processo de integração. Em primeira análise o professor explica que a conexão entre a ideia de constitucionalismo e desenvolvimento nasce com a Constituição de Weimar em 1919, elaborada após a primeira guerra mundial, texto que também influenciou o constitucionalismo brasileiro, como frisou o palestrante.

Dentro da exposição, Carducci (2014) relaciona que o projeto de constitucionalização de Weimar se deu através da racionalização do poder legitimado democraticamente, ou seja; a Constituição de 1919 funcionaliza as liberdades para realizar e manter um projeto de desenvolvimento econômico capitalista. Ficava claro no texto de Weimar a legitimação democrática do poder e das liberdades, pois o capitalismo precisa do Estado para conseguir se desenvolver.

A estrutura da Constituição de Weimar se baseava no constitucionalismo de um sistema eleitoral proporcional plúrimo, para construir um parlamento múltiplo. A principal crítica, que o professor enfatiza à Constituição de Weimar, é que o texto fala de “alemães” e não de pessoas alemãs, e cita o artigo 48 do texto constitucional como “a cláusula de suicídio” que vai legitimar o poder absoluto de Hitler. Ou seja, esse artigo da Constituição alemã abriu a porta ao nazismo.

Depois do falecimento da experiência de Weimar, Carducci (2014), explica que o primeiro país a elaborar uma Constituição, através de um poder constituinte originário, foi a Itália. O processo aconteceu quando findou a guerra e a Itália criou o Ministério da Constituinte. Constantino Mortati traduziu o texto de Weimar, porém foi imaginada uma construção diferente entre regras constitucionais e ideias econômicas de desenvolvimento. Para o projeto de constitucionalismo italiano, uma Constituição não tem que falar de justiça, ela é uma garantia para construir e realizar estruturas para eliminar as injustiças, garantindo o desenvolvimento; isso a diferencia da Constituição alemã.

Para Weimar, um desenvolvimento justo precisa da funcionalização dos poderes às liberdades. A Itália toma em consideração Weimar para não repetir os mesmos problemas, não funcionalizar e nem realizar, mas permitir e garantir a liberdade para desenvolver o ser humano.

A Constituição deve ser vista como um instrumento de garantia para todos, para o inimigo, para as minorias. Carducci (2014) ressalta que a

Os direitos sociais no Estado Nação: uma análise da (...)

Constituição italiana é solidarista, fala de pessoas que têm o direito de se desenvolverem, enquanto Weimar falava de ideias. O Professor relata como direito de se desenvolver, a possibilidade dos cidadãos terem acesso a uma boa educação, saúde, previdência, trabalho, ou seja; ao que a Constituição brasileira chama de normas programáticas. A Constituição italiana traz a expressão “dignidade social da pessoa humana” e trata as normas programáticas da doutrina brasileira como normas deontológicas.

Depois de explicar a diferença entre o constitucionalismo alemão e italiano Carducci (2014) passou a falar sobre o processo de integração europeia para explicar o processo de desenvolvimento e crescimento econômico da União Europeia.

O processo de integração foi pensado sob a visão federalista e a perspectiva funcionalista. Originariamente, o projeto federalista seria adotado, porém necessitava de um discurso sobre as identidades dos países. Ao final, o processo funcionalista foi adotado, retomando os segmentos experimentados por Weimar.

Nos anos de 1951 a 1957 foram realizados vários tratados como meio de formalizar a integração. Entre os anos 1992 e 1997 ocorreu o alargamento: a abertura da integração para o leste europeu, o que foi chamado de integração horizontal, como afirma Carducci (2014). Logo após, foi criada a Corte de Justiça Europeia que estabeleceu um catálogo de direitos fundamentais como princípios sendo assim estabelecido um funcionalismo progressivo.

Com o Tratado de Lisboa assinado em 2007, foi feito um rechaçamento da perspectiva funcionalista enfatizando a tutela de direitos como projeto de integração. A Corte de Justiça passou a decidir sobre os objetivos da integração. No primeiro momento, Carducci (2014) relata que, para a concretização da União europeia, foi retomado o funcionalismo da Constituição de Weimar, e que as quatro liberdades fundadoras da integração são: a circulação de mercadorias, de capitais, de serviços e de pessoas.

A grande crítica que o Professor faz é que os direitos fundamentais do cidadão sempre são deixados de lado, em função dos objetivos da integração, segundo o Tratado da União Europeia de 2009. Para exemplificar Carducci (2014) cita o direito à liberdade de expressão que é visto como um direito que deve ser exercitado em favor da integração e não como um direito da pessoa.

Outra situação que o professor descreve é o direito de greve, que é um direito individual, mas que não pode ser exercido para comprometer a integração, ou seja; os trabalhadores não podem fazer greve se esse ato for impeditivo ao processo de integração.

Carducci (2014) explica que, a partir de 2010, a União Europeia confeccionou uma reforma que introduz um orçamento e impõe a cada Estado uma reforma econômica. A limitação da soberania estatal é para garantir a estabilidade do projeto de integração. Foram estudados meios de como sair da

Auricélia do Nascimento Melo & Maria do Rosário Pessoa Nascimento

crise, visto que uma das formas seria a implementação de projetos que permitam aos trabalhadores buscar trabalho.

A grande crítica feita por Carducci (2014) é que a União Europeia não reconhece o direito individual ao trabalho, reconhece o direito de buscar trabalho, o que na sua análise é bem diferente, pois o direito de buscar trabalho é entendido como um objetivo da integração e não da pessoa, individualmente, falando. Falta aí a ideia de dignidade social, afirma Carducci (2014).

O Professor critica o processo de integração da União Europeia e cita que, como vem sendo feito, é um processo de renúncia à soberania estatal de cada país, pois introduzir uma moeda única, independente da soberania democrática, produz uma desintegração. Por exemplo, a Itália ter que resolver problemas com uma moeda que não pode controlar, enfatiza o Professor, constitui problemas italianos e, como tal, devem ser resolvidos pela Itália e não pela União Europeia. Carducci (2014) cita em seu discurso o autor brasileiro Marcelo Neves (2009), ao dizer que a Europa é a expressão do transconstitucionalismo, segundo o qual, o transconstitucionalismo é o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas, tanto estatais como transnacionais, internacionais e supranacionais, em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional.

No documento Dimensões dos Direitos Humanos (páginas 107-109)