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Convivência familiar na velhice

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 51-54)

II SITUAÇÃO ATUAL DO IDOSO NO MEIO SOCIAL 2.1 O conceito de idoso

2.4. Convivência familiar na velhice

O artigo 226 da Constituição Federal preceitua que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. E, o parágrafo 8º, do artigo 226, prescreve que “o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismo para coibir a violência no âmbito de suas relações”.

De acordo com o artigo 230 da Constituição Federal, “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. E, o parágrafo 1º, do artigo 230, alude que “os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares”.

O artigo 229, da Constituição Federal, determina que, assim como os pais têm o dever de assistir, criar e educar seus filhos menores, os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

O envelhecimento da população também reflete na família. Pode ocorrer que em uma casa chegue a morar quatro gerações. Desta forma, a família tem que estar preparada para viver com um, dois ou mais idosos e saber tratá-los adequadamente.90

89 CNBB, Manual, cit., p. 131; João Batista Lima Filho, Envelhecer, cit., p. 41; Rita de Cássia da Silva Oliveira, Teorias, conceitos e preconceitos, A terceira idade, revista nº 25 – agosto de 2002, SESC/SP, p. 39.

Não há melhor ambiente para o idoso do que o seio familiar. Para ele é importante a convivência com o cônjuge, filhos, netos e parentes. Num mundo anônimo ou impessoal, em que só se procura a eficácia da produção, as relações humanas tornam-se extremamente superficiais; o lar surge como um dos espaços em que se pode descobrir a dimensão pessoal, o contato íntimo e a aceitação amorosa; sentir-se como pessoa e não como simples objeto. Se só o amor pode encher de felicidade o coração humano, a família é a instituição que melhor pode oferecer esta experiência afetiva.91

A solidão, o abandono e a falta de poder econômico constituem fatores preponderantes e determinantes que conduzem necessariamente à dependência do idoso.92 Considerando a atual dinâmica da sociedade constata-se que a maioria dos idosos vivem dependentes, principalmente, por estes três fatores.

Portanto, a família é o amparo e o suporte ideal para o idoso.93 A família deve respeitar o idoso, atendê-lo com carinho, amor, aceitar os seus defeitos, exaltar as suas qualidades, preservar a sua dignidade, dar-lhe liberdade e autonomia enquanto houver condições de responder por si. A família deve incentivar e ajudar o idoso a viver e aproveitar a vida, integrando-o na comunidade, ouvindo-o com atenção e cordialidade, não esquecendo que ele representa a história da família, uma biblioteca viva, apoiando e dando-lhe

91 CNBB, Manual, cit., p. 133; Eduardo López Azpitarte, Idade inútil?, cit. p. 69; M. Cabada, O amor

como energia essencial humanizadora, Pensamiento 40 (1984) 33-54; Maria T. Bazo, A família como elemento fundamental n a saúde e bem-estar das pessoas idosas, Revista Española de Geriatria y

Gerontología 26 (1991) 147-152, apud Eduardo López Azpitarte, Idade inútil?, p. 69 e 70; João Batista Lima Filho, Envelhecer, cit, p.60..

92 Adelaide Fernandes Pires Malainho, Entender a terceira idade na procura de soluções; Dissertação de mestrado, organização: Instituto Superior de Serviço Social do Porto com colaboração da PUC/SP, 1999, p. 164. 93 O idoso tem o direito fundamental de ser mantido dentro de seu próprio lar, até porque os móveis, utensílios e objetos da casa compõem uma rotina de vida, além de propiciarem uma sensação de conforto espiritual (Marcos Ramayana, Estatuto, cit., p. 18).

forças nas horas difíceis, tratando-o quando estiver enfermo, partilhando com ele a fé e os sentimentos.94

O Estatuto do Idoso, no artigo 3º, afirma que “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito, à convivência familiar e comunitária”.95

A lei fala em obrigação e não em faculdade da família ou das entidades públicas em garantir os direitos acima arrolados aos idosos. Se a família não tiver condições, o Poder Público deve proporcionar esses direitos. É necessário que o órgão competente faça uma investigação sumária para saber se realmente o idoso pertence a uma família sem condições econômicas. Se durante as investigações forem comprovadas as condições dos familiares deverão os responsáveis sofrerem as sanções civis e penais cabíveis.

Assim por exemplo, no Capítulo III, do Título VII, do Código Penal, nos crimes contra a assistência familiar, encontramos o crime contra o abandono material, artigo 244, alterada a redação pelo Estatuto do Idoso, que diz: “Deixar, sem justa causa, de prover à subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos, ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando

94 CNBB, Manual, cit., p. 133; Adelaide Fernandes Pires Malainho, Entender, cit., p.164.

95 Wladimir Novaes Martinez (Comentários ao Estatuto do Idoso , São Paulo: LTr, 2004, p. 29 e 30) ensina que: “O caput do art. 3º arrola quatro instituições chamadas a ensejar as garantias legais: a) família; b) comunidade; c) sociedade ; e d) Estado. Família, tomada no seu sentido amplo, incluindo todos os membros, em particular os filhos e netos. Mas, à evidência, arrolando os irmãos e sobrinhos. Por comunidade, diante da proximidade do vocábulo “sociedade”, uma fração desta última, isto é, o circulo de amizade das pessoas que compõem o local de trabalho, a escola, o clube, as associações, enfim qualquer grupo humano. Até mesmo, se condenado e recolhido à prisão, à reunião dos reclusos. Sociedade é toda a população, sem qualquer distinção. Poder público, o Estado, representado pelo governo municipal, distrital, estadual e federal, por meio de repartições, autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e estatais. Embora não referida expressamente, claro e com ênfase, a empresa privada”.

ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo”. É o caso típico de familiares que abandonam seus idosos em asilos ou outras entidades assistenciais, sem visitá-los, somente aos cuidados de terceiros. Essa conduta tipifica abandono material punido com detenção que varia de um a quatro anos, e multa. A sanção penal é cumulativa, eis que não pode ser aplicada isoladamente.

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 51-54)