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Direito à cultura e ao lazer

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 170-175)

IV DIREITOS DO IDOSO

4.1. Pessoa idosa e os direitos da personalidade 1 Generalidades

4.1.12. Direito à cultura e ao lazer

O direito à cultura pode ser entendido conforme o conjunto de direitos culturais constantes nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal. Esses direitos culturais são assim resumidos por José Afonso da Silva: a) direito de criação

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cultural, compreendidas as criações científicas, artísticas e tecnológicas; b) direito de acesso às fontes da cultura nacional; c) direito de difusão da cultura; d) liberdade de formas de expressão cultural; e) liberdade de manifestações culturais; f) direito-dever estatal de formação de patrimônio cultural brasileiro e de proteção dos bens de cultura, que, assim, ficam sujeitos a um regime jurídico especial, como forma de propriedade de interesse público.353

Os textos constitucionais referidos destacam o princípio da universalidade: todos têm direito e acesso à cultura. Outro ponto relevante, no cotejo dos textos constitucionais, é o que nos mostra Manoel Gonçalves Ferreira Filho, isto é, a preocupação de fazer o Estado o protetor de todas as manifestações culturais. Em especial o patrimônio cultural brasileiro, que se deve preservar de todas as maneiras. Cabe-lhe, também, estimular o desenvolvimento pelo incentivo e a divulgação de bens e valores culturais.354

Canotilho e Vital Moreira ensinam que “ao incluir uma constituição cultural, constitui de certo modo, um Estado Cultural ou Estado de Cultura. Ele é, por um lado, um Estado-de-direito cultural, obrigado a respeitar a liberdade e a autonomia cultural dos cidadãos (liberdades culturais); é, por outro lado, um Estado democrático cultural empenhado no alargamento e na democratização da cultura (direitos à cultura). O preceito ocupa-se de três realidades diversas, a educação, a cultura e a ciência. Cuja precisa distinção conceitual não constitui tarefa fácil. A noção de cultura, no sentido normativo-constitucional, além de ser tradição, que deve ser garantida e defendida, é também tarefa e inovação, que exige promoção positiva da criação e fruição cultural por parte do Estado e de outras estruturas autônomas; a educação designa principalmente o processo de aquisição, transmissão, conhecimento e valores (através da escola e de outros

353 José Afonso da Silva, Curso, cit., p. 312; Marco Aurélio Serau Junior, O Estatuto, cit., p. 51.

354 Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Curso de direito constitucional, São Paulo: Editora Saraiva, 2001, p. 367,

meios formativos); ciência é a noção mais restrita, ligada, como está, á ampliação e à descoberta do saber”.355

O artigo 20 do Estatuto do Idoso garante o direito à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem a sua condição peculiar de idade.

A família, a comunidade, a sociedade e Poder Público têm a obrigação de assegurar a efetivação desse direito ao idoso, com absoluta prioridade, como determina o artigo 3º do Estatuto do Idoso. Esse direito é amplo e compreende: diversões, espetáculos, meia-entrada etc.356

O lazer que se pode colocar ao lado da recreação entende-se, segundo José Afonso da Silva, como a “entrega à ociosidade repousante. Recreação é entrega ao divertimento, ao esporte, ao brinquedo. Ambos se destinam a refazer as forças depois da labuta diária e semanal”.357

Para os dicionaristas, lazer é o período de inatividade, isto é, desocupação, lapso de tempo dedicado ao descanso. Mas também é o exercício de atividades lúdicas, apreciação artística (música, teatro, cinema, televisão viagem e outras mais). Se o trabalho é fazer, o lazer não é necessariamente o não fazer, podendo ser inclusive atividade de esforço físico, como esporte, ginástica e práticas radicais.358

As pessoas idosas de hoje são resultado de uma cultura, no qual o trabalho era a meta principal da vida e o lazer considerado uma atitude de perda

355 J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República portuguesa anotada, Coimbra: Coimbra Editores, 1993, apud Marco Aurélio Serau Junior, O Estatuto, p. 51.

356 Luiz Eduardo Alves de Siqueira, Estatuto, cit., p. 69; Antonio Rulli Neto, Proteção, cit., p.192. 357 José Afonso da Silva, Curso, cit., p. 314.

de tempo, razão pela qual, muitos ficam perdidos ao chegar à aposentadoria, não sabendo o que fazer, principalmente, porque tem vergonha dessas horas livres. Daí, a importância da inclusão do lazer como direito humano fundamental incluído dentre os direitos sociais (artigo 6º, da Constituição Federal).359

Portanto, o Estado tem a obrigação de disponibilizar parques, praças, cinemas, teatros, museus, shoppings e demais locais e ainda garantir os meios de transportes adequados a fim de facilitar e estimular os passeios das pessoas idosas.360

A Política Nacional do Idoso, instituída pela Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, no artigo 12, determinou que na implementação das políticas na área de cultura, esporte e lazer, há a necessidade de: a) garantir ao idoso a participação no processo de produção, reelaboração e fruição dos bens culturais; b) propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços reduzidos; c) valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habilidades do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade cultural; d) incentivar os movimentos de idosos a desenvolverem atividades culturais; e) às entidades vinculadas do Ministério da Cultura, no âmbito de suas respectivas áreas afins, compete a implementação de atividades específicas, conjugadas à Política Nacional do Idoso.

A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelos menos 50% (cinqüenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como acesso preferencial aos respectivos locais (artigo 23, do Estatuto do Idoso).

359 Marcelo Antonio Salgado, Velhice: uma nova questão social, São Paulo: SECS/CETI, apud Paulo Roberto Barbosa Ramos, O direito, cit., p.155.

Os meios de comunicação, conforme artigo 24 do Estatuto do idoso, manterão espaços ou horários especiais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e ao público sobre o processo de envelhecimento.

O Poder Público, consoante artigo 25 do Estatuto do idoso, apoiará criação de universidade aberta para as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a natural redução da capacidade visual.

Para Alexandre de Moraes, o artigo 217, da Constituição Federal, consagrou como dever do Estado o fomento de práticas desportivas formais e não-formais, como um direito de cada um. O direito constitucional às práticas desportivas conjuga-se com o direito à vida, à saúde, ao lazer, em busca da efetivação do bem de todos.361 Conforme Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “atribui-se ao Estado o dever de fomentar as práticas desportivas, formais e não- formais. Estas, com efeito, contribuem para a higidez do povo”.362

O acesso ao esporte é um direito do idoso, sendo que a prática deve respeitar as peculiaridades e condições da idade, como determina o artigo 20, do Estatuto do idoso. As unidades esportivas devem estar preparadas ao atendimento esportivo e de recreação da população, destinando atendimento às crianças, aos adolescentes, aos idosos e aos portadores de deficiência.

O Poder Público tem a responsabilidade pela promoção de algum tipo de esporte ao idoso (artigo 3º, do Estatuto do Idoso). Na sua falta, a comunidade e a sociedade poderão solicitar o cumprimento deste dever. O Ministério Público

361 Alexandre de Moraes, Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional, São Paulo: Atlas, 2003, p. 1997 e 1998 apud Marco Aurélio Serau Junior, O Estatuto, cit., p. 52.

também tem à sua disposição meios judiciais e extra-judiciais para exigir o cumprimento da legislação.363

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 170-175)