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Preparação para uma velhice digna

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 62-67)

II SITUAÇÃO ATUAL DO IDOSO NO MEIO SOCIAL 2.1 O conceito de idoso

2.7. Preparação para uma velhice digna

A preparação para uma velhice digna depende de todos nós, individual e coletivamente.

O Serviço Social do Comércio-SESC, desenvolveu uma pesquisa junto aos grupos de idosos, que possibilitou detectar a realidade vivenciada pela grande maioria da população idosa, expressa pelas seguintes características119:

a) baixo nível de remuneração agravado pela aposentadoria;

b) deficiência de programas médico-sanitários para essa faixa etária; c) inexistência de condições que favoreçam a permanência de idosos doentes dependentes em seus domicílios, para que se evite o excesso de internações;

d) falta de programa para aposentadoria;

118 Cláudia Lima da Costa, Vítimas da Idade, www.portugaldiario.iol.pt., 09-05-2003.

e) falta de programas de lazer que proporcionem uma adequada utilização do tempo livre.

A informação acerca dessa fase da vida é condição básica para um envelhecimento digno. O envelhecer com saúde resume-se em assumir comportamentos e costumes de vida saudáveis desde a infância. A verdadeira formação humana é aquela voltada para a educação, o amor, cuidado, promoção e o respeito à vida humana. No processo educativo é importante o envolvimento de todas as idades.120

Necessário, também, programas voltados para a saúde dos idosos, capacitação de agentes nessa área e preparação para a aposentadoria através de planos destinados aos trabalhadores e seus familiares, criando espaço de discussão, reflexão e esclarecimentos de dúvidas para que os trabalhadores tenham oportunidade de planejar sua aposentadoria e se engajar em atividades profissionais ou voluntárias. Essas tarefas devem ser compartilhadas entre governo, empresários e sociedade civil. A aposentadoria tem que ser vista como uma circunstância, uma mudança e jamais uma despedida da vida.121

Não podemos deixar de lado o componente subjetivo da pessoa, porque há quem se sinta idoso com quarenta anos de idade e outros nem se sentem aos oitenta anos.122 E isso deve ser respeitado, dando-se ao idoso a oportunidade de continuar em atividade, se assim quiser.

A colocação, se preparar para a velhice, não é não ter participação, não é não incomodar o menos possível, não é tornar-se invisível ou até falar

120 CNBB, Manual, cit., p. 125.

121 CNBB, Manual, cit., p. 125 e 126; Dalmo de Abreu Dallari, O destino dos velhos em nossa sociedade, A

terceira idade, nº 4, São Paulo: Sesc, julho/1991. 122 Dalmo de Abreu Dallari, O destino, cit., p. 17.

menos possível. Devemos criar condições para melhor entender a velhice. A condição básica é a partilha de informações acerca desta fase da vida. As condições gerais devem ser completadas com as peculiaridades de cada um. Na verdade, não há parâmetros absolutos, não há esquemas em que todos se devam enquadrar, mas tem que se levar em conta as próprias características, tendências e interesses de cada um. O tipo de sociedade também influência e faz com que as pessoas com mais idades se sintam prestigiadas, capazes e com condições de continuar lutando pela vida.123

É preciso dar ao idoso ou ao aposentado a opção de querer ou não participar; porém a intenção deve ser a de participação. Contudo, devemos reconhecer a existência de limitações, diferenças individuais, preferências e peculiaridades. Muitos idosos poderiam trabalhar em movimentos voluntários, principalmente naqueles que pleiteam melhores condições para beneficiar a vida do próprio idoso, utilizando habilidades e experiências adquiridas anteriores.124

A participação não significa, necessariamente, a mesma atividade que era executada anteriormente pelo idoso, podendo ser uma nova e se possível que seja em benefício da comunidade, através de atividades solidárias, tentando vencer a tendência natural à solidão e ao individualismo. Desta forma, toda a sociedade se beneficiará dessa atitude positiva de auto-doação, da experiência e sabedoria das pessoas da terceira idade.125

Preparar-se para a velhice significa pensar em novas atividades que poderão ser exercidas na nova vida social.

123 Dalmo de Abreu Dallari, O destino, cit. p. 18; CNBB, Manual, cit. p. 125. 124 Dalmo de Abreu Dallari, O destino, cit., p. 19.

O idoso deve estar integrado na vida familiar como também, a família deve estar integrada na vida do idoso. Essa participação é fundamental para que haja, reciprocamente, a troca de conhecimentos, de valores, de respeito, de solidariedade e de amor que é o mais importante para o ser humano e principalmente nesta fase, em que o idoso está carente pelas dificuldades que se apresenta pelo acúmulo de anos e pelas batalhas vencidas ao longo da vida.

O governo, sem dúvida, tem que desempenhar o seu papel. A sociedade, a comunidade e cada um de nós não devemos ficar de braços cruzados e sim contribuir para encontrar e participar das soluções para que a velhice não seja uma doença, mas uma das fases mais belas da vida.

O chamado é para todos trabalharem, envolvendo todas as gerações, inclusive os próprios idosos, para que exista uma sociedade mais justa, sem discriminação por motivo de raça, cor, sexo e idade.

Os direitos conquistados na Constituição Federal, nas leis federais, estaduais, municipais demonstram um avanço com relação à proteção aos idosos e são benefícios para toda a sociedade como também para os futuros idosos. Mas durante muitos anos ainda, a grande maioria da população de baixa renda, terá que lutar e reivindicar para obter melhores aposentadorias, benefícios de saúde, assistência hospitalar e domiciliar, transporte, alimentação etc.

O indivíduo, ao envelhecer, deve continuar amando a vida porque o futuro é um manancial, isto é, uma fonte abundante. O idoso não deve fingir que é jovem para ser aceito e sim estar aberto para admitir novos valores. Em toda fase da nossa vida temos algo para dar, para fazer e muito para partilhar.

O ser humano deve se preocupar com a velhice, no sentido de se preparar para ter uma boa vida social, afetiva e continuar dando sua contribuição para a humanidade. E o meio para atingir a felicidade, conforme palavras de Rita de Cássia da Silva Oliveira é “o sentimento de ser, de pertencer, de significar, de crescer, de se dar e saborear plenamente a essência da vida”.126

O envelhecimento bem sucedido parece ser aquele em que a pessoa, em estado constante de experimentação, continua a inventar novas formas de viver e de estar no mundo, a fazer escolhas e a ocupar o seu lugar na família e na comunidade. Aumentando a participação dessa parcela significativa da sociedade na luta solidária e firme nos Conselhos dos Idosos, nos movimentos populares, nas associações, nos grupos sociais, nos sindicatos, para que os governantes implementem políticas públicas e novos direitos sejam conquistados e os já existentes sejam respeitados.127

126 Rita de Cássia da Silva Oliveira, Velhice, cit., p. 64.

127 Wladimir Novaes Martinez (Comentários, cit., p. 24) afirma que: “O elaborador da norma reconhece que as ações resgatadoras da dignidade do idoso não se reduzem às normas legais. Há muito o que fazer no seio da família, escola, trabalho, ambiente desportivo, enfim na sociedade”.

III - TUTELA JURÍDICA DO IDOSO NO DIREITO BRASILEIRO

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 62-67)