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Direito à vida e à integridade física

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 118-122)

IV DIREITOS DO IDOSO

4.1. Pessoa idosa e os direitos da personalidade 1 Generalidades

4.1.2. Direito à vida e à integridade física

O direito à vida é instintivo, natural e absoluto. É resguardado na Constituição Federal, no artigo 5º, caput, ao garantir a inviolabilidade do direito à vida.223 O direito à integridade física é a proteção a incolumidade do corpo e da mente, opondo-se contra todos e a qualquer atentado que venha atingi-los.224

A agressão ao corpo é uma agressão à vida porque a vida se efetiva no corpo humano. Desta forma, a integridade física constitui um bem vital e revela- se em direito fundamental do indivíduo.225

222 A velhice aparece no corpo do ordenamento constitucional brasileiro somente após a Constituição de 1934. Todavia, apenas passa a ser tratada como direito fundamental na Constituição Federal de 1998 (Marco Aurélio Serau Junior, O Estatuto, cit. p. 47).

223 A palavra vida, consoante José Afonso da Silva (Curso de direito constitucional positivo, 9ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1993, p.181), não deve ser considerada apenas no sentido biológico de incessante auto-atividade funcional, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. Segundo o autor, de nada adiantaria a Constituição assegurar outros direitos fundamentais, como a igualdade, a liberdade, se não erigisse a vida humana num desses direitos (apud Pérola Melissa V. Braga, Direitos, cit., p. 134); É dever do Estado preservar e amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida”(TRF – 5ª Região – 2ª T – Agravo nº 92.05.02178/DE – Rel. Juiz Petrúcio Pereira, Diário da Justiça, Seção II, 21 de maio 1993, p. 19.307, apud Alexandre de Moraes, Cidadania, p. 84).

224 Carlos Alberto Bittar (atualizada por Eduardo Carlos Bianca Bittar): Os direitos, cit., p. 76; artigo 5º, inciso III da Constituição Federal.

O direito à integridade física acompanha o ente humano desde a sua concepção até a morte, alcançando tanto o nascituro como o corpo sem vida, mas, ao contrário do direito à vida, em certas circunstâncias é disponível, tendo em vista o interesse geral.

Dalmo de Abreu Dallari ressalta que a vida é o bem principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral de todos os seres humanos. A vida é necessária para a pessoa existir, ocupa posição de primazia, como bem maior na esfera natural e também na jurídica. Todos os seus bens, dinheiro, coisas que acumulou, prestígio político, poder, cargo, importância na sociedade, até seus direitos, tudo isso deixa de ser importante quando se perde a vida. Nenhum outro bem pode ser concebido separado da vida.226

O direito à vida manifesta-se desde a concepção (um embrião humano está vivo quando se completa a fertilização) e permanece integrado à pessoa até a morte. O direito de qualquer pessoa à vida é protegido por lei e ninguém pode ser intencionalmente privado dela.

Esse direito é estendido a qualquer ser, não importando o modo de nascimento, da condição do ser, de seu estado físico ou de seu estado psíquico. Basta, como ensina Carlos Alberto Bittar, “que se trate de forma humana, concebida ou nascida natural ou artificialmente (in vitro, ou por inseminação), não importando, portanto: fecundação artificial, por qualquer processo; eventuais anomalias físicas ou psíquicas, de qualquer grau; estados anormais: coma, letargia ou de vida vegetativa; manutenção do estado vital com auxílio de processos mecânicos, ou outros”.227

226 Dalmo de Abreu Dallari, Viver em sociedade, São Paulo: Editora Moderna, São Paulo, 1985 apud Suzete Franco Pereira, Proteção social ao idoso, Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica – São Paulo, 2004, p. 76.

José Afonso da Silva invoca o ensinamento de Recasén Siches, para demonstrar que o ser humano é um ser especial e que a vida é um dom peculiar, quando afirma: “O homem é um indivíduo, mas é mais que isto, é uma pessoa”. Além das características do indivíduo biológico possui os de unidade, identidade e continuidade substanciais. “A vida é intimidade conosco mesmo, saber-se e dar-se conta de si mesmo, um assistir a si mesmo e um tomar posição de si mesmo”.228

O artigo 5º, caput, da Constituição Federal assegura o direito à vida que integra os elementos materiais (físicos e psíquicos) e imateriais (espirituais). A vida é fonte primária de todos os outros bens jurídicos. Não adiantaria a Constituição Federal garantir outros direitos fundamentais como: a igualdade, a intimidade, a liberdade, o bem-estar, se a vida humana não fosse um desses direitos. E, ainda, é um direito que também envolve o direito à dignidade da pessoa humana, o direito à privacidade, o direito à integridade físico-corporal, o direito à integridade moral e de forma especial, o direito à existência, que consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de permanecer vivo.229

A vida é protegida quando se cuida dela em todos os sentidos. Os seres humanos têm o direito de que respeitem sua vida e esse respeito só existe quando a vida é mantida e vivida com dignidade.230

O direito à vida é o direito de não ter interrompido o processo vital a não ser pela morte natural ou inevitável e por ser essencial ao ser humano, condiciona os demais direitos da personalidade.

228 Recasén Siches, Vida humana, sociedad y derecho, 3ª ed., México, Porrúa, 1952, p. 254 e 60, apud José Afonso da Silva, Curso, cit., p. 196 e 197.

229 José Afonso da Silva, Curso, cit., p. 197.

230 Dalmo de Abreu Dallari, Viver, cit. apud Suzete Franco Pereira, Proteção cit. p. 76; Wladimir Novaes Martinez, Comentários, cit., p. 41.

A Lei nº 8.842, de 04 de janeiro de 1994, no artigo 3º, inciso I, diz que “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida”.

O Estatuto do Idoso, no artigo 8º, reconhece que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social. E, consoante prescreve o artigo 9º, é obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.

O direito à vida significa, por exemplo, em termos de assistência à saúde ou à integridade, atendimento preferencial em prontos-socorros e hospitais particulares ou do Estado. Rotas de fugas em estabelecimentos, lugares em barcos salva-vidas, preferência em ações de salvamento e outros meios próprios de emergência.231

O idoso tem direito de locomover-se em ambiente interno e externo, particularmente nos logradouros públicos e através de veículos de transporte. A atenção também lhe é devida por parte das autoridades e do policiamento civil e militar, a ser ajudado a atravessar ruas e avenidas, a subir rampas ou alçar escadas rolantes, merecendo todo o cuidado à sua livre circulação.232

As legislações citadas têm a preocupação de proteger o direito à vida e de se ter uma vida digna quanto à sua subsistência.

231 Wladimir Novaes Martinez, Direito dos idoso, São Paulo: LTr, 1997, p. 110; Pérola Melissa V. Braga,

Direitos, cit., p. 136.

As condições para uma vida digna só serão possíveis mediante políticas públicas, que é um dever do Estado e também a conscientização da sociedade quanto à educação e ao respeito ao ser humano desde a sua concepção. Somente assim o homem poderá ter uma vida digna, plena e conseqüentemente longa.

A garantia à integridade física e moral do homem é responsabilidade do Estado e um direito fundamental agasalhado na Constituição Federal, no artigo 5º, caput. Devendo criar condições para que o ser humano viva em tranqüilidade e não seja vítima de violência, utilizando-se de medidas preventivas, para diminuir as desigualdades sociais, econômicas e medidas repressivas, punindo, efetivamente, os culpados que lesem integridade física e moral alheia.233

Os idosos necessitam de medidas eficazes do Estado com relação à garantia da integridade física e moral, por estarem, na maioria das vezes, fragilizados e sem condições de se defenderem sem que haja alguma represália. Não é difícil serem vítimas de seus próprios familiares.

No documento OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DO IDOSO (páginas 118-122)