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Cooperação Internacional

ESCOLHA DO PLANO PROGRAMAÇÃO DO PLANO

8.9 Cooperação Internacional

A cooperação internacional no domínio da gestão das águas tem os seguintes objetivos principais:

- dirimir conflitos e compatibilizar interesses, no que se refere aos problemas internacionais de utilização das águas;

- estabelecer intercâmbio de informações, experiências e conhecimentos no domínio dos recursos hídricos;

- empreender programas internacionais, tendo em vista ações de estudo, investigação e formação relacionadas com os problemas da água;

- assegurar assistência financeira e técnica, por parte de países estrangeiros ou de organizações internacionais, para a concretização de projetos de aproveitamento e controle dos recursos hídricos.

Desse modo, de acordo com os objetivos indicados, embora a cooperação internacional relativa à gestão das águas assuma aspectos relevantes entre países com interesse nos mesmos recursos hídricos, não se confina apenas à resolução de questões decorrentes da utilização dos recursos hídricos compartilhados mas tende para uma ação coletiva com vistas no desenvolvimento dos recursos hídricos.

As ações de cooperação internacional relativas à gestão das águas podem, metodologicamente, ser classificadas quanto ao seu objeto, quanto ao quadro geográfico em que se inserem, ou ainda quanto ao tipo de institucionalização.

Quanto ao objeto, podem-se distinguir as ações de gestão que visam as águas interiores e as que contemplam as águas marítimas, sendo ainda possível distinguir, entre estas últimas, as ações que se referem às águas marítimas territoriais e as que dizem respeito ao alto mar.

Quanto ao quadro geográfico, podem-se referir as ações de âmbito local, envolvendo dois ou mais países, as de âmbito regional e as que se processam em escala mundial.

Finalmente, quanto ao tipo de institucionalização, as ações de cooperação internacional podem ser "ad hoc" ou ter caráter de permanência segundo um quadro institucionalizado.

A assistência técnica e financeira a projetos de aproveitamento e controle dos recursos hídricos são dois aspectos importantes da cooperação internacional, em relação aos quais se apresentam em seguida alguns comentários.

No passado, a assistência técnica foi realizada, sobretudo, pelos países desenvolvidos em benefício dos países em desenvolvimento. Atualmente, os países em desenvolvimento procuram estabelecer acordos de cooperação técnica entre si, com o objetivo de permitir o intercâmbio das capacidades técnicas que alguns desses países já atingiram em certos domínios.

A Conferência da Água de 1977, das Nações Unidas, sugere que os países em desenvolvimento se esforcem para criar mecanismos adequados para promover a cooperação técnica mútua com a finalidade de atingirem uma autonomia técnica coletiva posta ao serviço do desenvolvimento dos seus recursos hídricos. Nesse sentido é recomendado que os países tomem, nos níveis nacional, regional e sub-regional, as seguintes medidas:

- estabelecer um sistema de informações permanente que permita divulgar os meios disponíveis e as necessidades de cooperação técnica para o desenvolvimento dos recursos hídricos;

- cooperar, nos escalões sub-regional e regional, na preparação e atualização de uma lista de especialistas e de consultores que conheçam bem os problemas levantados pelo aproveitamento dos recursos hídricos na sub-região ou região respectiva, e cujos serviços possam ser utilizados pelos diferentes governos de acordo com as suas necessidades; - definir os domínios prioritários em matéria de desenvolvimento dos recursos hídricos e

determinar as instituições que detêm, nesses domínios, os meios e os conhecimentos necessários para desenvolver tecnologias adequadas aos países em desenvolvimento; - realizar projetos-piloto para determinadas regiões ou sub-regiões, promovendo o acordo dos

países interessados para a constituição de um grupo de engenheiros e de especialistas no domínio dos recursos hídricos da região ou sub-região, o qual deveria incentivar a cada um dos países o recolhimento de informações pormenorizadas sobre os recursos disponíveis e sobre as necessidades de permuta de recursos técnicos na região;

- definir, tendo em vista o aproveitamento dos recursos hídricos, programas que possam ser conduzidos através da cooperação entre países em desenvolvimento em setores específicos como o abastecimento de água, a irrigação, a drenagem, a produção de energia hidroelétrica, o desenvolvimento e a gestão dos recursos hídricos internacionais, o desenvolvimento das águas subterrâneas, os meios de evitar e de reduzir os prejuízos ocasionados pelas cheias e pelas secas, a luta contra a poluição, a legislação das águas, as ações de formação, a transferência de tecnologia adequada às necessidades dos países em desenvolvimento e o progresso desta tecnologia;

- aos países da África, da Ásia e da América Latina recomenda-se especialmente o estudo das possibilidades de desenvolvimento e produção de equipamento e de tecnologias de baixo custo, objetivando alcançar, o mais rapidamente possível e com pequenos encargos, um inventário global dos seus recursos hídricos e encorajar a permuta de informações no escalão regional.

A assistência financeira aos projetos de aproveitamento e controle dos recursos hídricos é igualmente importante, porque muitos países lutam com dificuldades para assegurar as condições financeiras necessárias que garantam o conveniente desenvolvimento dos recursos hídricos.

É preciso encontrar fórmulas que permitam assegurar, no momento oportuno e em boas condições, os créditos necessários para o planejamento e a formulação de projetos de aproveitamento dos recursos hídricos. A Conferência da Água de 1977, das Nações Unidas, sugere que os países que dispõem de recursos financeiros excedentes, criem com os países em desenvolvimento, de acordo com as possibilidades oferecidas pelos seus regimes constitucionais, empresas de capitais mistos ou empresas intergovernamentais, de preferência regionais, tendo em vista a gestão e o desenvolvimento dos recursos hídricos. Com esse objetivo, recomenda-se que os diversos países devem:

- examinar as diferentes formas de mobilizar recursos internos;

- elaborar um inventário das necessidades de investimento no domínio dos recursos hídricos e classificá-las por ordem de prioridades;

- examinar as formas de, na medida do possível, tornar autônomos os aproveitamentos de recursos hídricos;

- procurar reduzir os custos dos aproveitamentos, recorrendo à maior participação das populações, à maior utilização de mão-de-obra, das técnicas e dos equipamentos locais, à preparação de planos mais econômicos, à preparação e adoção de projetos, à criação de empresas de bombas, válvulas, dutos e outros equipamentos, à formação de firmas nacionais de consultores e outras medidas;

- melhorar a viabilidade econômica e a utilidade social dos projetos, tomando-os mais eficientes;

- apoiar, sempre que necessário, o trabalho das organizações não governamentais responsáveis pelo aproveitamento dos recursos hídricos, em particular os de baixo custo e os que promovam a autonomia local.

Por fim, a Conferência da Água de 1977, das Nações Unidas, recomenda ainda que as instituições internacionais de financiamento, como o Banco Mundial, os bancos de desenvolvimento regionais e sub-regionais, os bancos nacionais de desenvolvimento e outras instituições bilaterais e multilaterais para financiamento do desenvolvimento, sempre que tal se justifique e no âmbito das respectivas competências:

- coordenem as suas atividades e políticas de financiamento de projetos e planos de desenvolvimento de recursos hídricos;

- revejam os seus critérios de financiamento e pesem convenientemente os efeitos sócio- econômicos dos projetos de desenvolvimento, incluindo os benefícios diretos, indiretos e sociais;

- adotem métodos flexíveis na execução dos projetos, para encorajar a efetiva participação das capacidades nacionais e a promover a cooperação regional;

- definam, após criterioso estudo, políticas de assistência financeira globais e realistas, que abram caminho para a formulação de programas a longo prazo para a execução de aproveitamentos de recursos hídricos;

- reforcem os acordos institucionais existentes, em nível regional e sub-regional, através do fornecimento de equipamento, pessoal e créditos necessários;

- empreendam estudos ou ações coordenadas para o desenvolvimento das bacias hidrográficas internacionais, quando tal seja solicitado pelos Estados;

- promovam, na medida do possível, o lançamento de consultas internacionais para o fornecimento de bens e serviços, deixando aos países beneficiários a responsabilidade da execução dos projetos financiados, desde que se atenda à relação custo-eficácia desses projetos;

- aceitem, na medida do possível, que sejam contratadas empresas de consultores locais capazes de executar total ou parcialmente os projetos, e transferir para essas empresas conhecimentos técnicos, tirando partido de ações de consultoria relativas a diversos aspectos do projeto, realizadas a pedido dos Estados interessados.

9. OS RECURSOS HÍDRICOS E AS PRINCIPAIS CONFERÊNCIAS DA ONU