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Elaboração de projetos e execução e exploração de obras

ESCOLHA DO PLANO PROGRAMAÇÃO DO PLANO

8.4 Elaboração de projetos e execução e exploração de obras

Entre as obras que dependem das entidades encarregadas da gestão das águas, em nível nacional ou regional, apontam-se como mais importantes as seguintes:

- barragens e outras obras que visam o aproveitamento dos recursos hídricos e ainda obras para transferência de água entre bacias hidrográficas;

- diques, canais, açudes, eclusas e outros tipos de obras hidráulicas para controle de cheias, regularização fluvial e navegação;

- captações e grandes aduções regionais de água de abastecimento; - grandes emissários e executores coletivos de águas residuais; - instalações coletivas de depuração de águas residuais.

Obras do tipo das indicadas têm caráter marcadamente coletivo e, por isso, o seu projeto, execução e exploração devem depender diretamente das entidades responsáveis pela gestão. Assim, por exemplo, os grandes empreendimentos de irrigação, os aproveitamentos hidroelétricos, as regularizações de rios e as recuperações de cursos de água poluídos são, nitidamente, obras de gestão nacional.

A elaboração de projetos das mais importantes obras de gestão levanta alguns problemas de normalização de critérios de base, de descentralização de competências e de simplificação de processos de apreciação, para os quais há que procurar soluções que favoreçam o dinamismo da política de gestão.

Assim, no que se refere a normas para a elaboração de projetos, a imaginação e atividade criadora dos projetos devem ser canalizadas para o equacionamento dos problemas específicos e originais e para a procura das soluções globalmente mais vantajosas, e de modo algum serem desperdiçadas no estabelecimento de certos elementos relativos a critérios de projeto e na obtenção de dados de base com utilização repetida. A entidade responsável pela gestão das águas em nível nacional deverá chamar para si a tarefa de selecionar e normalizar os referidos critérios de projeto e elementos de base.

Como se sabe, um sistema demasiadamente burocrático pode implicar que seja desnecessariamente moroso o processo de apreciação dos projetos.

A normalização de critérios de dimensionamento pode evitar controvérsias desnecessárias, deixando oportunidades para uma análise mais cuidadosa dos aspectos fundamentais dos projetos. A referida normalização favorece também uma desejável descentralização das decisões, que naturalmente tem de ser acompanhada de maior responsabilidade dos órgãos regionais competentes ou até dos próprios autores dos projetos.

As entidades proprietárias das obras poderão elas próprias executar essas obras ou encarregar outrem da sua execução. Nas obras de maior vulto é usual o lançamento de empreitadas, uma vez que tal sistema dispensa os donos das obras de se proverem com equipamentos de utilização ocasional e de constituírem quadros de pessoal que, uma vez terminadas as obras, excedem as necessidades de rotina. O problema já se põe de modo diferente no que se refere a obras de caráter corrente, para as quais se considera normalmente vantajoso poder dispor-se de meios próprios de realização, pela independência que conferem aos donos das obras relativamente às disponibilidades momentâneas de empreiteiros providos para o efeito.

É em relação à exploração conjunta de obras, cujo funcionamento está interligado, que se levantam os problemas mais críticos, os quais, contudo, são atualmente resolvidos de forma satisfatória por meio de sistemas de controle automático programáveis em função de determinados objetivos a atingir.

Tanto a execução como a exploração das obras deve ser objeto de rigoroso planejamento que garanta um escalonamento racional da entrada em funcionamento das várias obras e uma correta adequação aos programas de investimento.

No caso dos países em desenvolvimento, assume especial importância o desenvolvimento da chamada tecnologia adequada, que procura implementar soluções tecnológicas relativamente simples e ajustadas às disponibilidades locais de matérias-primas e mão-de-obra, e em regra com baixos custos de capital.

Na Conferência da Água de 1977, das Nações Unidas, foram especialmente salientados aspectos referentes ao desenvolvimento das tecnologias adequadas, aplicadas ao desenvolvimento e gestão dos recursos hídricos:

- os resultados dos programas de investigação nem sempre se podem concretizar, direta e imediatamente, em tecnologias adequadas; muitas vezes, para desenvolver as tecnologias adequadas, é necessária uma fase transitória de experimentação e adaptação;

- as tecnologias importantes relacionadas com a gestão de recursos hídricos podem - numa fase intermédia da transferência de tecnologia - exigir estudos e experimentação complementares, no sentido de se determinar a conveniência da sua adaptação aos recursos disponíveis e às condições sócio-culturais, econômicas e ambientais prevalecentes;

- a escassez de água pode, muitas vezes, ter influência decisiva na definição da tecnologia adequada; em certos casos pode ser eventualmente necessário substituir tecnologias tradicionais por outras relativamente complexas;

- a auto-suficiência tornou-se um objetivo em numerosos países em desenvolvimento; deve-se procurar estimular as capacidades locais e estabelecer tecnologias adequadas à plena utilização das competências e recursos locais; tais esforços devem se beneficiar de apoios institucionais e financeiros.

No seguimento das considerações anteriores, a Conferência da Água de 1977 das Nações Unidas recomenda ainda aos Estados membros que:

- analisem os dispositivos institucionais existentes, no que se refere ao desenvolvimento de tecnologias adequadas na gestão dos recursos hídricos, e apoiem esse desenvolvimento; - forneçam todo o apoio e estímulo possíveis aos organismos nacionais responsáveis pelo

desenvolvimento de tecnologias adequadas com vista ao desenvolvimento dos recursos hídricos;

- forneçam os créditos necessários para permitir aos especialistas a observação e o conhecimento do trabalho já realizado noutros países, assim como dos eventuais aperfeiçoamentos das tecnologias já em utilização;

- estimulem ampla divulgação de conhecimentos sobre a aplicação da tecnologia adequada; criem e promovam a expansão de empresas e apliquem, de forma produtiva, as tecnologias já desenvolvidas;

- estudem como as populações devem participar na concepção, construção, funcionamento e manutenção das obras hidráulicas e atuem no sentido de garantir o aumento dessa participação, organizando consultas e promovendo a transferência de conhecimentos a diversos níveis, a começar pelo dos pequenos aglomerados populacionais;

- utilizem o máximo de mão-de-obra na construção de obras hidráulicas, tendo sempre presente a necessidade de um equilíbrio razoável entre as tecnologias de mão-de-obra intensiva e as de capital intensivo, e dando grande importância à necessidade de reduzir o desemprego e o subemprego, especialmente no que diz respeito à mão-de-obra não qualificada;

- promovam a fabricação, a partir de recursos localmente disponíveis, de equipamentos e materiais tais como bombas, motores, tubulações de aço, de PVC (cloreto de polivinil), de fibrocimento e de concreto armado, e reagentes utilizados no tratamento de águas; nessa ação deve-se estimular a utilização das matérias-primas, locais feita através de tecnologias avançadas; na fabricação e utilização de substâncias ou materiais potencialmente perigosos, como por exemplo o amianto, devem ser tomadas as precauções pertinentes;

- criem instalações para a manutenção e reparação do equipamento hidráulico em serviço e para a fabricação de peças sobressalentes;

- promovam a normalização do equipamento a fim de se facilitar a resolução de problemas resultantes da falta de peças sobressalentes;

- realizem a normalização das especificações técnicas, dos modelos e dos projetos relativos a obras e equipamentos hidráulicos;

- estimulem sistemas sub-regionais e regionais para o planejamento, a concepção e a construção de obras hidráulicas, assim como para a troca de informação com outras regiões em que prevaleçam condições semelhantes;

- promovam a cooperação técnica inter-regional com vistas na eliminação das diferenças entre países em estágios diversos de desenvolvimento tecnológico, estimulando simultaneamente a inovação tecnológica no que diz respeito a planejamento, materiais e equipamento, e a troca de informações com outras regiões;

- assegurem que as instalações e equipamentos hidráulicos construídos a partir de recursos locais não envolvam riscos para a saúde;

- elaborem programas de emergência para o abastecimento de água em zonas afetadas por escassez de água potável;

- façam todos os esforços para melhorar a relação custos-benefícios, considerando os requisitos de proteção do meio ambiente e da saúde, assim como os aspectos locais e sócio- econômicos pertinentes.