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ESCOLHA DO PLANO PROGRAMAÇÃO DO PLANO

8.6 Formação de pessoal

A gestão dos recursos hídricos implica participação conjugada de grande número de profissionais com diversas formações e com diferentes níveis de preparação. Essa participação, de caráter interdisciplinar, envolve, entre outros especialistas, os engenheiros de diversas especialidades,

hidrologistas, meteorologistas, físicos, químicos, geólogos, matemáticos, economistas, juristas, sociólogos, administradores, biólogos, urbanistas, ecologistas e ambientalistas.

As ações de formação devem ser estruturadas de forma a permitir a preparação dos técnicos necessários para assegurar o funcionamento das estruturas de gestão dos recursos hídricos, desde os operadores e hidrometristas aos projetistas, gestores e responsáveis pelo funcionamento das instalações de utilização da água - com destaque para os técnicos de planejamento aos níveis regional, nacional e internacional - e ainda aos responsáveis pelas ações de formação de outros técnicos. A atenção crescente que tem sido dedicada aos aspectos econômicos, sociais e ambientais dos problemas dos recursos hídricos não pode deixar de condicionar tanto o número de técnicos a preparar como os perfis dos técnicos necessários. Por outro lado, a crescente participação da população no processo de tomada de decisões relativas aos recursos hídricos impõe que sejam programadas ações de educação da própria população, objetivando prepará-la para uma intervenção consciente e eficaz.

Admite-se que são necessários quatro escalões de técnicos: os professores, os investigadores e os quadros dirigentes, com uma formação complementar ao nível de pós-graduação, seja orientada para uma especialização, ou de caráter interdisciplinar; os quadros superiores com formação universitária, na maior parte dos casos engenheiros; os quadros médios, como por exemplo os engenheiros operacionais; os profissionais qualificados, operadores e encarregados entre os quais se incluem, por exemplo, os hidrometristas e os assistentes de campo.

A definição criteriosa das proporções entre os números de técnicos desses quatro escalões é condição essencial da eficiência de utilização dos recursos financeiros relacionados à gestão da água, procurando-se, entre outros aspectos, evitar o subaproveitamento do pessoal técnico e científico.

A estruturação das ações de formação deve ter presente a preocupação de incorporar nos currículos escolares conhecimentos suficientemente atualizados e de fornecer instrumentos que permitam aos técnicos valorizar a sua formação para além da permanência na escola.

Com efeito, a introdução dos conhecimentos correspondentes às novas aquisições científicas deverá ser feita sempre com uma relativa defasagem. Aceita-se que, desde a intenção de introduzir no ensino novos conhecimentos até a aplicação prática desses conhecimentos pelos profissionais a quem foram ministrados enquanto estudantes, decorrem facilmente períodos de 8 a 10 anos, o que é um prazo demasiadamente amplo em face das constantes evoluções da tecnologia. Desse modo, a atualização dos currículos escolares deveria visar não tanto ministrar conhecimentos diretamente orientados para as aplicações práticas mas, sobretudo, fornecer os instrumentos que permitam apreender os novos conhecimentos e as novas técnicas que serão introduzidas no futuro, quando os técnicos desempenharem as suas tarefas profissionais. Uma vez garantida uma formação de base, a aprendizagem das novas técnicas não poderá deixar de ser assegurada em boa parte por um sistema de educação permanente devidamente estruturado.

Uma ação voltada para o futuro, como aquela a que se fez referência, não só é extremamente importante, mas também muito difícil de concretizar, e só pode ter validade se resultar da colaboração entre professores - que muitas vezes não têm a percepção dos problemas que na prática se levantam - e técnicos ligados à resolução dos problemas práticos - que desconhecem normalmente os mais recentes progressos da ciência e as modificações dos currículos dos cursos que ocorreram depois da sua passagem pela escola. É importante ponderar que uma perspectiva errada das futuras necessidades do ensino pode ser mais prejudicial do que uma ausência de perspectiva, pois pode influenciar negativamente a eficácia do ensino no futuro e ser, portanto, inconveniente.

Por razões de sistematização, pode-se considerar que as ações de formação a realizar no domínio dos recursos hídricos são de cinco tipos diferentes:

- preparação de técnicos com formação superior; - preparação de técnicos de nível médio;

- educação permanente dos técnicos e dos professores; - educação das populações;

- ações internacionais de educação.

A análise pormenorizada dos problemas que se levantam e das estratégias que são possíveis adotar em relação às ações da formação não cabe no âmbito deste estudo.

A Conferência da Água de 1977, das Nações Unidas, também contempla os problemas de formação de pessoal, recomendando que os Estados membros devem:

- promover levantamentos de mão-de-obra que cubram todos os domínios relacionados com a gestão dos recursos hídricos, incluindo a avaliação desses recursos, as diferentes utilizações da água, as doenças de veiculação hídrica e as técnicas relacionadas, tais como a informática, a instrumentação, a aplicação de modelos e as técnicas de gestão;

- proceder a uma avaliação global das necessidades de mão-de-obra relativamente a quadros técnicos nos níveis superior, médio e auxiliar;

- considerar os estudos de necessidade de mão-de-obra no que tange a pessoal destinado ao desenvolvimento dos recursos hídricos, como parte integrante dos estudos relativos a pessoal qualificado para o desenvolvimento de todos os setores da economia nacional, de modo a fornecer meios verdadeiramente eficazes para a definição das políticas e para a execução dos projetos;

- melhorar as condições de trabalho e de vida dos técnicos especializados para estimular a divulgação dos seus conhecimentos;

- fazer um inventário dos quadros que emigram e criar condições que estimulem o seu regresso ao país de origem;

- tomar medidas para reforçar e desenvolver as instituições, universidades, escolas, institutos politécnicos e centros de formação existentes, incrementando os quadros docentes e os meios de ensino, de modo a aumentar o número e melhorar a qualidade dos diplomados; - atualizar os programas das instituições e dos centros de formação existentes, de forma a

incluírem matérias relativas ao desenvolvimento dos recursos hídricos, à conservação do solo e da água, ao ensino das principais técnicas de controle da poluição, a fim de limitar e combater as doenças de veiculação hídrica nas comunidades rurais, instruir os agricultores na prática da irrigação e formar técnicos de abastecimento de água, doméstico e industrial, e de saneamento;

- estabelecer programas de formação, no local de trabalho ou em centros próprios, destinados aos responsáveis por estações de tratamento de água, sistemas de distribuição de água e estações de depuração de águas residuais, dentre outros;

- considerar a criação de escolas de formação especiais vinculadas, em caráter permanente, aos estabelecimentos de ensino e a organismos nacionais de administração da água;

- encorajar a cooperação em nível regional entre países interessados, com vistas na criação de instituições capazes de formar quadros técnicos, superiores e médios, em particular recorrendo a pessoal docente proveniente de organismos da administração da água da respectiva região;

- disponibilizar bolsas de longa duração para recursos de ensino superior em matérias relacionadas com o desenvolvimento dos recursos hídricos e bolsas de pequena duração concedidas no âmbito de projetos específicos;

- inventariar e reforçar as instituições regionais que se ocupam de problemas de engenharia sanitária, pondo à sua disposição o pessoal, os meios financeiros e os equipamentos necessários;

- prever a criação de centros, de âmbito sub-regional ou regional, para a formação de especialistas em nível de pós-graduação, em vários domínios de tecnologia relacionados com o desenvolvimento dos recursos hídricos, mediante formação no local de trabalho e cursos de reciclagem, incluindo cursos especiais sobre gestão dos recursos hídricos; nos casos em que esses centros já existam, deve-se procurar reforçá-los;

- atribuir aos especialistas e aos engenheiros que trabalham no domínio do desenvolvimento dos recursos hídricos estatuto análogo ao dos quadros de outros setores da economia nacional, a fim de assegurar a sua permanência naquelas funções

- estabelecer, em cooperação com organizações regionais e internacionais, programas de intercâmbio de pessoal, a fim de fornecer peritos e técnicos de países em desenvolvimento a outros países com carências de pessoal, proporcionar ao pessoal que trabalha na exploração de aproveitamentos hidráulicos estágios noutros países e estimular os estudantes de nível universitário a realizar investigações sobre assuntos relacionados às necessidades dos respectivos países;

- publicar manuais técnicos e outros documentos de apoio para o projeto e a construção de obras hidráulicas, conferindo particular relevância às condições locais;

- proporcionar, aos professores universitários e de instituições de ensino técnico, suficiente experiência prática e formação multidisciplinar que lhes permitam melhorar a qualidade do ensino e da investigação;

- estimular os gestores e dirigentes a colaborar, individual ou coletivamente, como monitores em tempo parcial, na formação do respectivo pessoal subordinado.