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Cooperação

No documento leandrotheodoroguedes (páginas 56-58)

3 PROCESSO DE TRABALHO E BASE TÉCNICA: SUPERIORIDADE DE

3.1 O PROCESSO DE TRABALHO E A INFLEXÃO DA BASE TÉCNICA SEGUNDO

3.1.3 Cooperação

A cooperação tem como pressuposto básico a divisão simples do trabalho, a execução de tarefas simples que combinam a soma da atuação de vários trabalhadores potencializando a produtividade. Seguindo as palavras de Marx, pode-se ler que se consiste na “atividade de um número maior de trabalhadores, ao mesmo tempo e no mesmo lugar (ou, se se preferir, no mesmo campo de trabalho), para a produção do mesmo tipo de mercadoria, sob o comando do mesmo capitalista” (MARX, 2013, p. 397). A divisão do trabalho, dada sob determinadas condições (como a subordinação a uma direção), portanto, coloca-se como um ponto de partida do capitalismo, mas no caso da cooperação, trata-se de um processo de base ainda pré- capitalista que o capitalismo herda. Seu potencial produtivo existe a partir do aumento quantitativo da força de trabalho: “Mesmo quando o modo de trabalho permanece o mesmo, o emprego simultâneo de um número maior de trabalhadores opera uma revolução nas condições objetivas do processo de trabalho” (MARX, 2013, p. 399). A divisão simples do trabalho em tarefas como a movimentação de materiais grandes e pesados, muito comuns à época, eleva a capacidade produtiva em grande medida quando se emprega mais operários.

Dessa forma, cabe trazer à baila a definição da cooperação que se articula como corolário dessa divisão do trabalho:

Aqui não se trata somente do aumento da força produtiva individual por meio da cooperação, mas da criação de uma força produtiva que tem de ser, por si mesma, uma força de massas o trabalho de cada um, como parte do trabalho total, pode representar diferentes fases do próprio processo de trabalho, fases que o objeto do trabalho percorre com maior rapidez graças à cooperação (MARX, 2013, p. 400).

A divisão do trabalho, como pressuposto da cooperação, articula-se como um elemento sem o qual já não se pode ser mais possível desenvolver o processo de trabalho. Ela se impõe como condição necessária. O trabalho total aqui, mais que a soma dos esforços individuais, é o empreendimento de um sistema de trabalho que submete o esforço individual ao conjunto coletivo, ainda que não haja a diversificação das tarefas realizadas, como no exemplo utilizado por Marx, o carregamento de tijolos numa fila de trabalhadores. A sistematização dessa mesma atividade repetida e estendida por um grande contingente de trabalhadores resulta na potencialização do produto do trabalho. Em outros termos:

A realização da tarefa no tempo apropriado depende, aqui, da aplicação simultânea de muitas jornadas de trabalho combinadas; a amplitude do efeito útil depende do número de trabalhadores, sendo tal número, porém, sempre menor do que o número de trabalhadores que realizariam isoladamente a mesma quantidade de trabalho no mesmo período de tempo (MARX, 2013, p. 403).

Na cooperação, esse trabalho, realizado em conjunto, oferece um salto produtivo sensível em relação ao trabalho individual. A combinação do trabalho é o que determina a produção, e nesse particular, a função de direção econômica aparece, ainda que limitadamente, pelo comando do capital “Essa função de direção, supervisão e mediação torna-se função do capital assim que o trabalho a ele submetido se torna cooperativo. Como função específica do capital, a direção assume características específicas” (MARX, 2013, p. 406). Essa coordenação do trabalho configura o comando do capital no processo de trabalho, subordinando os trabalhadores formalmente (sobretudo por haver ainda uma base técnica limitada). Ainda que esse comando não implique o controle total do processo produtivo em si, já define os parâmetros de quantidade de produção, por exemplo. Essa própria função específica adquire alguns traços próprios como se pode ver abaixo:

Com o desenvolvimento da cooperação em maior escala, esse despotismo desenvolve suas formas próprias. Assim como o capitalista é inicialmente libertado do trabalho manual tão logo seu capital tenha atingido aquela grandeza mínima com a qual tem início a produção verdadeiramente capitalista, agora ele transfere a função de supervisão direta e contínua dos trabalhadores individuais e dos grupos de trabalhadores a uma espécie particular de assalariados (MARX, 2013, p. 407)

É na própria cooperação que se estabelece aquele grupo de trabalhadores que não está inserido de fato na modificação dos materiais, mas na coordenação do trabalho. A função de direção como um desdobramento da cooperação adquire, assim, funções específicas, na medida em que permite que o capitalista controle o processo de produção sem estar introduzido diretamente nele, tendo os interesses personificados em outros trabalhadores. Percebe-se,

adicionalmente, que a função de direção sob o comando do capital, o chamado despotismo de fábrica, sequer são contemporâneas ao taylorismo, senão muito anteriores como notou Moraes Neto (2003). Estabelece-se uma nova função no processo produtivo executada pelos próprios trabalhadores e essencial para o resultado da cooperação (subsunção formal em vias de ser superada).

Mas como ressalta Moraes Neto (2003), essa função de direção ainda é limitada pelo fato de o trabalho ainda estar concentrado no saber dos artesãos. Assim como apenas tarefas mais simples eram divididas, a produção de determinadas mercadorias poderia ficar inteiramente sob a responsabilidade de um artesão, pois somente ele dominava aquele processo de trabalho. A alternativa era reunir esses artesãos, pois “a produtividade do trabalho, é de exclusividade do coletivo de trabalhadores” (MORAES NETO, 2003, p. 73).

Dados esses princípios todos

é a própria cooperação que aparece como uma forma histórica peculiar do modo de produção capitalista, como algo que o distingue especificamente. A cooperação simples continua a predominar naqueles ramos de produção em que o capital opera em grande escala, sem que a divisão do trabalho ou a maquinaria desempenhem um papel significativo (MARX, 2013, p. 410).

O fato de ter como ponto de partida formas pré-capitalista faz com que as medidas engendradas pela cooperação (como a extensão da divisão do trabalho em tarefas simples, a modificação da função de direção e a reunião de artesãos) posicionem-na como forma adaptada ao capitalismo. O que faz com que ela se coloque como base para outras formas de processo de trabalho, especialmente a manufatura. Basta recordar que é uma forma organizativa dependente do trabalho vivo que se ocupa das possibilidades de potencialização deste trabalho, por meio da exacerbação da divisão do trabalho. A complexificação das tarefas que virão a seguir (impostas por algum avanço tecnológico, por exemplo) serão desdobramentos desse pressuposto. O autor, nessa passagem, também apresenta um ponto que ficará mais claro posteriormente; trata-se da reprodução de pontos regredidos na evolução do processo de trabalho. A cooperação simples não é eliminada enquanto não seja eliminada a dependência do trabalho humano para a execução de determinadas tarefas.

No documento leandrotheodoroguedes (páginas 56-58)