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O taylorismo como categoria central para os estudiosos da organização do

No documento leandrotheodoroguedes (páginas 93-95)

3 PROCESSO DE TRABALHO E BASE TÉCNICA: SUPERIORIDADE DE

3.2 IRRAZOABILIDADE DAS CATEGORIAS REGULACIONISTAS

3.2.3 O taylorismo como categoria central para os estudiosos da organização do

As pesquisas sobre o desenvolvimento da organização do trabalho, tem tido, no Brasil, diferentes abordagens que contribuem com a aproximação da compreensão dos seus impactos. Fundamentando-se, esses autores, a partir do desenvolvimento do capitalismo e das chamadas teorias da administração, o taylorismo é encarado como o parâmetro de análise mais difundido dessa organização do trabalho. Desenvolve-se, portanto, por um lado, um debate crítico da administração que a privilegia como objeto ideológico49, e por outro, concentram-se as pesquisas na investigação da ocorrência do taylorismo no Brasil, como elo de ligação com o desenvolvimento da indústria. Assim, é possível encontrar nos chamados clássicos da crítica marxista da administração, como Tragtenberg (2005), Motta (1986) e Faria (201), decisivos lineamentos que consideram, o taylorismo em conjunto com o espectro teórico da administração (no caso, como ideologia, também inspirados por Althusser), obnubilando as condições repressivas de controle do capital sobre o trabalhador, tomando como índice elementar a expressão do taylorismo nos Estados Unidos. Esta linha de análise confere ao problema uma tematização crítica, mostrando a que se serviam aquelas técnicas naquele estágio de desenvolvimento do capitalismo, mas ainda se preocupa com o problema teórico. Especialmente nos dois primeiros, há uma tematização que amalgama uma crítica marxista com um weberianismo50 tomando o ponto dos efeitos deletérios da racionalização como também expressos no taylorismo. Outra importante linha de análise, essa um pouco mais difusa, é aquela que se debruçou sobre as manifestações históricas do taylorismo no Brasil, especificamente. Estes trabalhos podem ser encontrados em autores como Zanetti e Vargas (2007), que destacaram o fato de o taylorismo e fordismo estarem mais difundido no ideário do empresariado nacional, mas sem muita aplicação prática efetiva; Weinstein (2000), por sua vez, destacou que mesmo as aplicações mais manifestas de uma chamada organização científica do trabalho no Brasil, por intermédio de industriais como Roberto Simonsen e Jorge Street, não foram suficientes para denotar um movimento robusto de aplicação dessa forma organizativa do trabalho neste país. Um outro esforço seguindo nessa direção do exame histórico nacio nal pode ser encontrado em Vargas (1985) que compreende todos esses exemplos esparsos anteriormente encontrados, destacando também a atuação do IDORT (Instituto de Difusão da

49 Com objeto ideológico quer-se dizer o tratamento de um objeto teórico, um ideário, um sistema de ideias.

Portanto, nesse caso, o tratamento da administração se concentra na análise das diferentes elaborações teóricas dos autores.

50 Isto se apresenta também na forma, especialmente de Tragtenberg analisar a gênese do pensamento tayloriano,

muito próximo da explicação dada por Guerreiro Ramos (2009): de que o autor estadunidense desenvolveu os procedimentos de racionalização inspirado na sua tradição religiosa Quaker.

Organização Racional do Trabalho), na difusão do ideário taylorista. Este autor entende que não se pode falar em taylorismo no Brasil antes da década de 1970. Esta tese é corroborada por Fleury (1980), que além de encontrar uma aplicação mais tardia, também vê uma aplicação com diversas particularidades que delineiam o taylorismo brasileiro como uma expressão bastante específica, nomeada por ele “rotinização”. O problema do IDORT, especificamente, é também estudado por autores como Vizeu (2018), que conecta a difusão do ideário fabricado neste instituto como tributária ao patrimonialismo, herança colonial, que deslocava o problema do desenvolvimento nacional. O autor ressalta com mais força a influência que o IDORT teve não necessariamente sobre o setor empresarial, mas sobre a racionalização do setor público, na reforma administrativa do estado liderada pelo DASP nos anos 1940. Fleury e Vargas (1987) ainda reúnem uma série de estudos em diferentes setores da indústria para compreender o estágio de difusão da racionalização da organização do trabalho no Brasil. Estes trabalhos também serão tratados posteriormente quando houver a análise do desenvolvimento específico desse debate no Brasil.

Levando em consideração a evolução do capitalismo brasileiro, é possível compreender porque não houve no Brasil um movimento mais robusto de taylorização. O taylorismo, como ideário, movimentou os setores nacionais produtivos de fato, culminando na criação do IDORT, contudo à medida que isto não tenha representado um impulso mais sólido na indústria, foi somente no fim dos anos 1970 em que se possibilitou verificar um desenvolvimento mais claro da sistematização da organização do trabalho nas indústrias do país. Ainda assim, de maneira mais restrita e não idêntica ao que foi o taylorismo em sua acepção mais clássica, num processo nomeado por Fleury (1983) de rotinização, tomando os princípios tayloristas como se fossem ideais para o desenvolvimento produtivo dos ramos industriais àquela época.

Todavia, olhando para as categorias que fundamentaram a aplicação do taylorismo nos Estados Unidos: a acumulação de capital e a luta de classes, sobretudo, percebe-se que, no Brasil, além de não ter havido altos índices de acumulação antes da década de 1960, a própria organização operária não conseguia se articular tão fortemente. Ademais, pôde ser acompanhado como as movimentações operárias até a década de 1960 tiveram como foco de repressão a própria atuação do Estado através da polícia e do direito penal (PAÇO CUNHA; GUEDES, 2016). De maneira sintética, quando se olha para o taylorismo enquanto articulação particular do processo de trabalho, é preciso ter em mente as condições favoráveis à sua explosão nos Estados Unidos não se repetiram na particularidade brasileira ou em outros lugares da mesma maneira que nação norte-americana. Tampouco pôde-se constatar a replicação dos seus pontos mais fundamentais na particularidade brasileira.

No documento leandrotheodoroguedes (páginas 93-95)