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SUPLEMENTAÇÃO DE BEZERROS DE CORTE João Mauricio Bueno Vendramini 1 , João Marcelo Dalmazo Sanchez

CREEP-FEEDING

As duas principais estratégias de suplementação no creep-feeding são: 1) uso ad libitum de suplementos a base de grãos para fornecer energia adicional; 2) uso de su- plementos de consumo limitado, caracterizado pelo oferecimento de quantidades pré- determinadas; e 3) uso de forragem de alto valor nutritivo, conhecido como “creep- grazing” (Lardy et al., 2007). O creep-feeding pode ser utilizado para superar baixas ofertas de forragem, melhorar uniformidade dos bezerros, fornecer nutrientes extras aos bezerros, promover adaptação a cochos e dietas concentradas e também melhorar o peso a desmama (Lusby e Wettermann, 1986; Faulkner et al., 1994; Moriel e Arthington, 2013).

O uso de creep-feeding ad libitum tem sido correlacionado com aumento na per- formance de bezerros, no entanto, a relação alimento:ganho geralmente é ruim, com 5- 15 kg de alimento para cada kg adicional de ganho de peso (Stricker et al., 1979). Bai- xas eficiências alimentares podem ser relacionadas a diminuição no consumo de forra- gem, provavelmente devido a menor degradabilidade ruminal e digestibilidade da FDN em bezerros consumindo dietas com mais de 25% de grãos (Mould et al., 1983, and Cremin et al., 1990). Vendramini et al. (2012) observaram que bezerros recebendo 1% do peso corporal em concentrado via creep-feeding tiveram ganho de peso 0,12 kg/d maior que bezerros não suplementados com uma relação alimento:ganho de aproxima- damente 9:1.

Vários autores reportaram que bezerros podem substituir forragem e/ou leite por concentrado (Cremin et al., 1991, Tarr et al., 1994, Faulkner et al., 1994). O leite é um alimento de alta qualidade que potencialmente pode atender aos requerimentos de ami- noácidos de bezerros, portanto, uma diminuição no consumo de leite poderia diminuir o consumo de aminoácidos (Loy et al., 2002). Suplementos energéticos, comumente usa- dos em dietas de creep-feeding, podem levar a uma maior digestão de amido, aumen- tando a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) e diminuindo o pH ruminal (Tarr et al., 1994).

Bray (1934) comparou bezerros não suplementados com suplementados em creep- feeding a partir de dois períodos, 70 e 133 dias antes da desmama. O suplemento utili- zado foi uma mistura de milho, farelo de arroz e farelo de algodão. O consumo médio diário do suplemento foi 1,5 kg/d para ambos os tratamentos com creep-feeding. Os autores concluíram que bezerros que iniciaram o programa de suplementação aos 133 e aos 70 dias antes da desmama tiveram ganho de peso superior aos não suplementados

em 40 e 28,4%, respectivamente. Powell (1935) testou três níveis de PB em suplemen- tação em creep-feeding contendo 15, 17 e 19% PB por 187 dias, e comparou com ani- mais não suplementados. O consumo médio diário foi de 0,8, 1,0 e 1,4 kg/d por bezerro, respectivamente para os níveis de proteína.O autor reportou um aumento de 20% no GMD dos animais suplementados, contudo, não houve efeito de nível de PB. O mesmo autor comparou o GMD de bezerros suplementados por 165 dias com 0,88, 1,22 e 1,4 kg/d de suplementos com 12,6 e 13,1% de PB, além de animais não suplementados. Os animais suplementados ganharam, em média, 15% mais peso e foram mais uniformes do que os animais não suplementados.

Sticker et al. (1979) reportaram um aumento de 32 kg no peso de desmama de be- zerros suplementados com 1,9 kg/d de um suplemento energético em comparação com bezerros não suplementados, contudo, a conversão alimentar foi de cerca de 10 kg de suplemento para cada kg extra no ganho de peso. Isto fez com que o uso de creep- feeding não fosse economicamente viável neste estudo. Martin et al. (1981) reportaram em uma revisão de literatura sobre creep-feeding que bezerros que receberam suplemen- tação energética ad libitum tiveram performance superior (15 kg adicionais de peso cor- poral) do que bezerros não suplementados. Prichard et al. (1989) compararam dois perí- odos de creep-feeding (154 e 64 dias) usando um suplemento de alta energia e reporta- ram maior GMD para animais suplementados em comparação com o grupo controle. A conversão alimentar foi de 5,3 kg de suplemento por kg extra de ganho, e não houve diferença entre os períodos de creep-feeding. Similarmente, Tarr et al. (1994) compara- ram três períodos de suplementação em creep-feeding (28, 56 e 84 dias antes da des- mama) em bezerros pastejando capim festuca (Lolium arundinacea Schreb.) infectado com fungo endófito. Houve aumento linear do GMD com o aumento da duração do cre- ep-feeding, contudo, o tratamento de 56 dias antes da desmama apresentou a melhor eficiência alimentar. Nenhum tratamento afetou a performance das vacas. Há evidências suficientes na literatura de que a suplementação de bezerros com suplementos energéti- cos a base de grãos aumenta o GMD, contudo, a viabilidade econômica é questionável, dado o decréscimo na eficiência do ganho.

Forragens tropicais podem apresentar baixa concentração de PB e proteína degra- dável no rúmen (PDR) (Minson, 1990), sendo assim, o fornecimento de quantidades limitadas de PDR via suplementação pode melhorar a performance de bezerros, com melhor conversão alimentar do que bezerros recebendo suplementação energética ilimi- tada. Aguiar et al. (2015) avaliaram a suplementação de 200 ou 400 g/d de arelo de soja

para bezerros via creep-feeding, além de grupos não suplementados (controle). Vinte e quatro pares vaca-bezerro foram distribuídos aleatoriamente em oito pastos de limpo- grass (Hemarthria altissima Poir.; 1,0 ha/pasto; 3 pares vaca-bezerro/pasto). Não houve efeito do uso de creep-feeding sobre a massa de forragem (média = 6.800±700 kg/ha), digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO; média = 52± 3,5%), e concentra- ção de PB (média = 11,1± 0,5%), contudo, houve aumento linear no GMD, de 0,33 a 0,62 kg/d para bezerros recebendo de 0 a 400 g/d de farelo de soja. Bezerros recebendo 400 kg/d tiveram relação ganho adicionado (GMD dos animais suplementados – GMD controle):alimento de 0,75. O GMD das vacas foi semelhante entre os tratamentos. Os autores concluíram que suplementação limitada de farelo de soja via creep-feeding pode ser uma pratica de manejo efetiva para melhorar o peso de desmama em bezerros lacten- tes.

Espera-se que a suplementação proteica aumente o consumo e digestibilidade de matéria seca de forragens de estação quente com concentração limitada de PB, e assim aumente o uso da forragem por bezerros (Wheeler et al., 2002). Lusby et al. (1985) pro- puseram uma suplementação proteica limitada (0.37 kg farelo de algodão/d) para bezer- ros lactentes por 63 dias no primeiro ano e 76 no segundo. Animais suplementados tive- ram GMD de 0,13 kg a mais que os não suplementados, com uma conversão alimentar de 2,5 kg de suplemento por kg extra de ganho. Não houve efeito na performance das vacas. Além disso, os autores afirmaram que para que se obtivessem melhores relações alimento:ganho, houve um aumento no consumo de forragem e/ou melhora em sua di- gestibilidade. Lusby e Wettemann (1986) suplementaram bezerros (peso inicial = 77 kg) com 0,45 kg de farelo de soja/d em creep-feeding e comparam com bezerros não suple- mentados por cinco meses. Animais suplementados tiveram maior GMD do que os não suplementados de Dezembro a Março, provavelmente devido ao declínio na produção de leite das vacas e aumento no consumo de forragem dos bezerros. Não houve diferen- ça na perfomance das vacas para os diferentes tratamentos. Cremin et al. (1991) compa- raram o uso de suplementos de consumo limitado com alta e baixa proteína e um su- plemento de consumo ilimitado com baixa proteína com um grupo controle pastejando forragens de inverno. Não houve diferenças no consumo de forragem, matéria orgânica (MO), fibra em detergente neutro (FDN) e ácido, e leite entre os tratamentos de consu- mo limitado. Os bezerros recebendo o tratamento de consumo ilimitado e baixa proteína consumiram menos forragem, enquanto o consumo de MO (forragem mais suplemento) foi maior do que os outros tratamentos. O pH ruminal diminuiu com o aumento da su-

plementação via creep-feding, resultando em uma menor digestibilidade ruminal da fibra. Contudo, nenhuma diferença foi reportada na digestibilidade do FDN ao longo do trato digestivo entre os tratamentos suplementados ou não suplementados. Os autores atribuíram a digestibilidade semelhante do FDN a um maior tempo de retenção ruminal, o qual permitiu a forragem ser digerida mais lentamente. Faulkner et al. (1994) compa- raram bezerros que não receberam suplementação via cree-feeding (controle) com be- zerros que receberam suplementados com duas fontes diferentes de energia, milho ou casca de soja, com consumo ilimitado ou limitado de feno de capim festuca infectado com fungo endófito. Houve um aumento crescente no GMD dos bezerros a partir do tratamento controle (0,66 kg/d), forragem limitada (0,92 kg/d) e forragem ilimitada (1,04 kg/d), e não houve diferença entre as fontes de suplemento. Contudo, os bezerros consumiram menos casca de soja do que milho (1,53 vs. 1,77 kg/d) nos tratamentos com forragem ilimitada. A conversão alimentar foi similar entre os tratamentos. Além disso, houve uma correlação negativa entre o consumo de suplemento e o consumo de forra- gem, e o milho diminuiu a digestibilidade forragem a uma maior magnitude que a casca de soja. Os autores concluíram que a casca de soja pode substituir o milho como suple- mento em creep-feeding sem afetar a performance animal e a digestão da fibra. Moriel e Arthington (2013) reportaram inconsistência nos benefícios da suplementação proteica limitada via creep-feeding para bezerros 112 dias antes da desmama. Os bezerros foram suplementados 3 vezes por semana com 0,23 kg/d de um suplemento em forma de fare- lo (PB = 21%, NDT = 75%). Os resultados de GMD foram 0,88 a 0,95 kg/d para os tratamentos controle e suplementado, respectivamente no experimento 1. No experi- mento 2, os bezerros foram suplementados com suplemento em forma de cubos (PB = 17% e NDT = 71%), que não promoveu efeito algum no GMD dos animais. O uso de creep-feeding é uma técnica com o potencial de ser incorporada em sistemas de produ- ção de vacas e bezerros com o objetivo de melhorar a performance dos bezerros e tam- bém a sua conversão alimentar.

Além disso, o uso de creep-feeding pode aumentar o consumo de minerais e vita- minas e melhorar a condição imunológica dos bezerros quando estes são expostos a estresse. Os fatores mais comum de estresse em bezerros lactentes são a desmama e o transporte. Moriel e Arthington (2013) obsevaram que bezerros suplementados via cre- ep-feeding com quantidades limitadas de concentrado fortificado com minerais apresen- taram maiores concentrações hepáticas de Co, Cu e Se e maior consumo de matéria seca na primeira semana de confinamento.