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APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1 Apresentação e análise dos dados: as crenças e as atitudes de Maria

3.1.10 Crença sobre o papel da realização de trabalhos em grupo

CRENÇA ATITUDE EXCERTO

 O trabalho em grupo ajuda na aprendizagem da língua-alvo

 A professora fornece argumentos de que em grupos os alunos se sentem mais livres para se manifestarem.

Por eso siempre que podemos trabajar con grupos es interesante. Pues, un alumno puede aprender con el otro. (16-06-11)

Quadro 10: Crenças sobre o papel da realização de trabalhos em grupo

Ao falarmos sobre o trabalho realizado em grupo como uma proposta diferenciada a ser discutida com os alunos, acreditamos que a crença da participante esteja voltada para uma proposta que vislumbre um melhor desenvolvimento da capacidade crítica, comunicativa e de decisão destes. Ou seja, para a professora a crença de que é relevante realizar trabalhos em grupo a faz acreditar que essa estratégia garante mais aprendizagem, porque os alunos “interagem” e “se soltam”. Sentem-se mas à vontade para arriscar a falar na língua-alvo e um consegue ajudar o outro na condução da pesquisa e da exposição oral. Pode ser que a convivência em grupo lhes dê mais segurança.

Todavia, para Oliveras (2000), a questão da integração entre os indivíduos em grupos nem sempre é algo fácil porque, nós, seres humanos, trazemos conosco algumas crenças que podem nos distanciar uns dos outros. Desde muito cedo, em convivência social e familiar, somos levados a entender normas e regras que, de fato, são importantes para a convivência social. Entretanto, o que ocorre, de acordo com o autor, é que as normas e regras que aprendemos para a convivência em sociedade nem sempre são desprovidas de crenças complexas como as relativas a questões de poder, individualismo e de gênero (OLIVERAS, 2000). Assim, a crença sobre a relevância do trabalho realizado em grupo apresentada por Maria pode ser válida, desde que sejam trabalhadas anteriormente algumas questões de relacionamento com o grupo como um todo.

Neste sentido, a posição de Oliveras (2000) corrobora a afirmação de Leffa (2011). Para este autor, existem algumas prerrogativas que precisam ser consideradas quando se trata da lida com seres humanos, por exemplo:

A interação não envolve necessariamente a intencionalidade ou o uso da língua, ou seja, um agente não precisa ter intenção ou usar a língua para interagir com outro agente. Existe também a questão das relações de poder: a assimetria pode ocorrer com diferentes agentes; alguns são mais poderosos do que outros, têm mais claros seus objetivos e sabem usar os instrumentos de mediação com mais competência (LEFFA, 2011, p. 276-277).

Neste exemplo, podemos observar que, no que diz respeito aos seres humanos, existem fatores que precisam ser considerados para que haja entendimento. Por exemplo, o trabalho em grupo pode ser, sim, proveitoso e pode aumentar as possibilidades de entendimento e aprendizagem dos alunos, mas, de acordo com Leffa (2011), os sujeitos são diferentes uns dos outros e apresentam interesses comuns ou antagônicos, de acordo com suas experiências. E isso se evidencia em uma sala de aula a partir da qual se formam grupos que desenvolverão pesquisas e apresentarão trabalhos.

Assim, em se tratando de ensino e aprendizagem de língua estrangeira, nem sempre a mera reunião de alunos em grupo significa que estes utilizem a língua-alvo para a realização de suas tarefas, por exemplo. E a expectativa de se ter mais aproveitamento em uma aula em que se realiza trabalho em grupo pode ser frustrada. Se entendermos que cada um possui uma personalidade, um jeito específico de se portar em grupo, a simples reunião destes alunos não garante a efetivação de maior ensino e aprendizagem de E/LE. Para Morin (2011, p. 39), “[...] nossa educação nos ensinou a separar, compartimentar, isolar, e não a unir os conhecimentos, o conjunto delas constitui um quebra-cabeças ininteligível”.

O trabalho em grupo pode ser uma possibilidade de reunir alguns indivíduos em prol do desenvolvimento de um trabalho, o que pode ser proveitoso. Entretanto, para que haja integração entre os alunos envolvidos no processo de realização de um trabalho em grupo é importante que façamos resgates de alguns valores humanos. “A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana” (MORIN, 2011, p. 43). Para o autor, é preciso que entendamos que, ao almejarmos novos desafios para a educação, precisamos atentar para as esferas individuais e sociais em que se encontram inseridos os seres humanos. É preciso que cada um perceba que detém crenças divergentes das dos outros, mas isso pode ser proveitoso em um trabalho em grupo em que haja interesse mútuo pelo conhecimento científico.

Por isso, o trabalho em grupo na sala de aula de Maria parece apresentar aspectos relevantes. Além disso, destacamos as boas intenções da professora em proporcionar diferentes oportunidades para que seus alunos alcancem seus objetivos a partir da sua mediação nas aulas de língua espanhola. Evidente que nem todos os grupos agem de tal forma, mas parece que os alunos percebem aquele momento como menos significante que a aula conduzida pela professora, na frente de todos. Assim, cada qual

lê o que escreveu aos colegas, fazem a disposição de conteúdos abordados, não como uma possibilidade de entender melhor os conteúdos das aulas ou mesmo apreender a língua-alvo e sim como se estivessem cumprindo parte de ritual (e é isso mesmo que fazemos ao apresentarmos um trabalho). Assim, a crença sobre a relevância do trabalho em grupo demonstra relevância por ser algo que envolve os alunos agrupados e não individualmente. Mas pode ser mais bem explorada junto ao grupo, com um diálogo entre os participantes sobre a importância dos objetivos a serem alcançados com uma proposta de trabalho que envolve muitas cabeças para pensarem sobre um tema para compartilharem com os colegas na busca pelo aprimoramento do conhecimento científico.