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APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1 Apresentação e análise dos dados: as crenças e as atitudes de Maria

3.1.9 Crenças sobre a facilidade em aprender E/LE

CRENÇA ATITUDE EXCERTO

 Para o brasileiro, é mais fácil aprender espanhol do que inglês.  Para o brasileiro é fácil aprender espanhol, porque é uma língua tipologicamente próxima do português.

 A professora tenta convencer os alunos de que é fácil aprender espanhol porque é uma língua parecida com português e mais fácil que inglês.

Alumnos: - Não entendi,

professora.

Profesora: ¡Cómo no! Voy a poner otra vez el audio.

[A professora repete o áudio 3 vezes]

Profesora: ¿Y entonces? Alunos: É, mais ou menos. Profesora: - Bueno, si hacen un esfuerzo verán que pueden comprender sí. La lengua española es más comprensible que el inglés por ser una lengua más cercana de la lengua portuguesa (14-04-2011)

Quadro 9: Crenças sobre a facilidade em aprender E/LE.

É possível dizer que o ensino da língua espanhola no Brasil é algo em expansão porque, desde 2005, existe uma lei que regulamenta seu funcionamento nas escolas de ensino básico do país. Entretanto, de acordo com Paraquett (2009), a realidade, no Brasil, da lei 11.161/2005 tem sido marcada por certo descompromisso entre os detentores do poder a quem, ao que parece, não interessa politicamente que caminhemos para uma relação de argumentação e negociação em que se possa vislumbrar melhor o processo de ensinar e aprender a língua espanhola na escola:

O espanhol e o português são línguas muito próximas. Por isso o ensino de espanhol para falantes nativos de português deveria ter características específicas, que levassem em consideração essa proximidade. Não é raro escutarmos comentários de professores de espanhol como língua estrangeira (doravante ELE) de que no começo do processo de aprendizagem os alunos brasileiros aprendem muito mais rápido do que os falantes de outras línguas. Porém, também comentam que é mais difícil para eles aperfeiçoares a língua, o que não quer dizer que isso não aconteça (SALINAS, 2005, p. 54).

De acordo com Moreno Fernández (2005), a característica do espanhol de ser uma língua fácil – segundo muitos, pelo menos em relação ao inglês – pode nos levar a algumas armadilhas:

É normal encontrarmos brasileiros que se consideram falantes do espanhol pelo simples fato de se compreender algumas características fonéticas ou unidades léxicas. Esta confiança juntamente com a facilidade de compreensão se constitui em característica apropriada para o surgimento da manifestação linguística, tão volúvel e heterogênea como pertinente que é o portunhol (MORENO FERNÁNDEZ, 2005, p. 21, grifos do autor, tradução

nossa)45.

Não queremos dizer que o portunhol é mais apropriado para a comunicação do que o espanhol. O encontro das duas línguas, português e espanhol, se faz presente principalmente nas fronteiras do Brasil com países hispanófanos em que existe contato direto e diário entre as duas línguas, de modo que, para estes falantes, a mescla entre o português e o espanhol é que será a (variedade de) língua necessária para garantir a comunicação. No mesmo sentido, na sala de aula, lugar em que geralmente aprendemos uma língua estrangeira, o portunhol também fará parte desse processo de ensino e aprendizagem de espanhol como língua estrangeira (FERNÁNDEZ, 2005), caso os estudantes sejam lusófonos, evidentemente.

Entretanto, a crença de Maria de que a língua espanhola pode ser compreendida por todos os alunos pode contrariar alguns preceitos sobre como o outro recebe nossas informações. Entendemos que é possível que alguns alunos que não tenham tido contato com a língua espanhola, ao ouvi-la pela primeira vez, não compreendam tudo, mas apenas uma parte do contexto enunciado. Portanto, conceber essa prática como uma verdade para todos os alunos em uma sala de aula de 40 alunos é reflexo de um entendimento simplista de que todos esses mesmos quarenta alunos compreendem tudo (e da mesma forma) o que dizem seus professores. Nem mesmo em língua materna existe a garantia de compreensão total, pois existem muitos fatores que podem interferir neste processo:

Quando nos comunicamos com outras pessoas, frequentemente acreditamos que o outro nos entende. Se o nosso interlocutor for de outra cultura ou de outro país, o simples fato de conhecermos sua língua será o suficiente para crermos que há comunicação. Normalmente, existe a frustração na comunicação principalmente porque nenhum dos interlocutores percebe que vivem em mundo de percepções diferentes. [...] De fato podem aparecer conflitos na comunicação pelo fato de os participantes não compartilharem as normas de interação e interpretação. Ou seja, aqueles fatores que fazem com a comunicação sejam percebidos de maneira diferente em cada língua e em cada cultura (OLIVERAS, 2000, p. 10, tradução nossa)46.

45

Es frecuente encontrar brasileños que se consideran hablantes de español por el simple hecho de sentirse dominadores de unos pocos rasgos fonéticos o unidades léxicas. Esta confianza, unida a la facilidad de la intercomprensión, constituye un caldo de cultivo idóneo para la aparición de esa manifestación lingüística, tan voluble y heterogénea como pertinaz, a la que se da el nombre de portuñol (MORENO FERNÁNDEZ, 2005, p. 21, grifos do autor).

46

Cuando nos comunicamos con otra persona, partimos a menudo de la idea de que entiende e interpreta nuestras intenciones, lo que queremos decir. Si nuestro interlocutor procede de otro país u otra cultura, creemos que el hecho de compartir la lengua asegura le efectividad de la comunicación. A menudo, sin embargo, la comunicación se frustra principalmente porque ninguna de las partes comprende que cada una de ellas vive en un mundo de percepciones diferente. […] En efecto: pueden surgir conflictos

Ainda que a língua espanhola e a portuguesa tenham afinidades (de vocabulário, sintaxe, morfologia, por exemplo), isso não significa que todos os alunos de Maria a compreendam quando esta se utilizada da língua-alvo na comunicação em sala de aula. Provavelmente, alguns alunos não a compreendem e nem se manifestem, ou seja, a crença de que o espanhol é mais fácil do que o inglês pode ser ter fundamento para ela, que já a estuda há algum tempo. Entretanto, será que para seus alunos essa “facilidade” também existe? Poderíamos dizer então que somos capazes de compreender todas as línguas que têm parentesco com a língua portuguesa? Existem línguas estrangeiras mais fáceis de serem apreendidas que outras? Parece pouco provável, mas mesmo assim deixamos as questões como reflexão.

comunicativos por el hecho de que los participantes no comparten las normas de interacción e interpretación, aquellas que hacen que vean y entiendan de una manera diferente el hecho comunicativo (OLIVERAS, 2000, p. 10).