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APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.1 Apresentação e análise dos dados: as crenças e as atitudes de Maria

3.1.1 Crenças sobre o aprendizado da LE 40 pela LE

CRENÇAS ATITUDES EXCERTOS

 As aulas de LE devem ser ministradas somente na língua-alvo, pois, a compreensão auditiva é uma das habilidades mais importantes, por isso deve ser bastante trabalhada.

 A professora diz aos alunos que é preciso falar sempre em espanhol nas aulas, pois, segundo ela, falar em espanhol é uma oportunidade que os alunos têm de praticarem a língua-alvo. Se os alunos não entendem o que foi dito, Maria utiliza gestos ou explica o que disse com outras palavras – em espanhol –, recorrendo à língua portuguesa em último caso.

¡Muy bien! Así es, cada palabra en español ayuda a aprender e entrenar la lengua española. Ustedes son inteligente y consiguen hablar en español. (Maria, 14-04- 2011).

 Quanto mais se ouve a LE, mais se aprende a LE.

 A professora ministra suas aulas em espanhol, falando português raramente.

¡Muy bien! Ahora vamos al texto y les pido que cualquier palabra o expresión que no comprendan, me pregunten que repetiré (Maria, 07-04- 2011).

 Quanto mais se fala a LE, mais se aprende a LE.

 A professora felicita os alunos por responderem a chamada em espanhol e os incentiva a se manifestarem, entre si ou com ela, somente na língua-alvo.

Se dice presente la s con sonido de c. ¡Enhorabuena fulano! (Maria, 14-04-211.

Quadro 1: Crenças sobre o aprendizado da LE pela LE

Os dados sobre aprendizado da LE pela LE demonstram que esta tem a preocupação que seus alunos estejam atentos para poder treinar e aprender a língua, ou seja, para a professora, o importante é que seus alunos estejam atentos para ouvirem o que for falado em espanhol, nas aulas. Certamente que o exercício de compreensão auditiva é importante, em conjunto com o exercício de outras habilidades utilizadas para o ensino e a aprendizagem de línguas. A importância que se atribui ao desenvolvimento da habilidade da compreensão auditiva é defendida por quase todas as abordagens de ensinar e aprender línguas estrangeiras provavelmente porque, de acordo com Graham Hall (2011), a existência dos diferentes métodos pode ser definida como linear e ao mesmo tempo cíclica, de modo que não é possível afirmar categoricamente que, em qualquer momento, um determinado método – e seus pressupostos – tenha predominado em relação aos demais. Por essa razão, Maria se preocupa tanto em propor exercícios de compreensão auditiva nas aulas de língua estrangeira.

40 Língua estrangeira (LE).

Além disso, as características das crenças apresentadas por Maria em relação a essa categoria parecem relacioná-las às características das crenças mediadas, definidas por Barcelos (2010) como oriundas da possibilidade de o professor se perceber como mediador no processo de aprendizagem de seus alunos. Para a autora, quanto melhor o professor souber compreender seu espaço de mediador do ensino e da aprendizagem, melhor o aluno exercerá o controle sobre as atividades a serem desenvolvidas. Neste caso, pode ser que Maria tenha como objetivo essa motivação (de mediar), o que não se concretiza porque Maria apresenta seus argumentos como quase imposição aos alunos, para que estes prestem atenção à aula, pois esta é, segundo a professora, uma estratégia importante para aprender uma língua estrangeira.

Entretanto, se a professora crê que chamar a atenção do aluno para que este silencie e preste atenção na aula seja uma estratégia que garanta a condução da aula, tal crença pode ser um pressuposto de utilização do status que o professor tem garantido como o único responsável pelo que acontece em sua sala de aula. Ou ainda, pode ser que essas crenças insurjam de suas teorias pessoais na tentativa de ensinar língua estrangeira, teorias essas que, de acordo com Pessoa e Sebba (2010), podem estar relacionadas à ideia de que ensinar é transmitir conhecimentos por meio de leituras, diálogos e filmes, entre outros.

Já a participante se posiciona dizendo que: Quanto à crença de que a aula de LEM deve ser ministrada na língua-alvo tenho como princípio o fato de termos aprendidos nossa língua materna dessa forma, através de gestos, repetições, imagens, objetos. Se aprendemos LM ouvindo e vendo outras pessoas, acredito que assim se pode aprender espanhol ( Maria, resposta organizada entre os dias 20 a 26-07-2013).

Conforme o excerto anterior, podemos dizer que Maria reforça a crença de que é significativo ministrar suas aulas em língua espanhola e mais para a participante se trata de um argumento muito bem justificado, porque afinal para sermos o falante de determinada língua que passamos a adquirir pela convivência, geralmente com os pais, parentes, amigos ou instituições (abrigos, orfanatos, entre outros), seja qual for a língua aprendemos pela convivência entre pessoas que falam uma língua, idioma, ou variedade de língua.

Entretanto, como já dissemos a aula de língua estrangeira não deve basear-se apenas no conhecimento do professor (PESSOA; SEBBA, 2010), mas isso acaba acontecendo, pois ainda faltam entendimentos entre professores e alunos que garantam que o processo de ensino e aprendizagem passe a ser algo construído individual e

conjuntamente e não apenas repassado. Por isso que talvez a não superação da crença de que o conhecimento deve ser transmitido tenha um papel importante na manutenção de outra crença manifesta pela professora participante, a de que a responsabilidade a respeito do “sucesso” ou “fracasso” das suas aulas seja somente sua.

Podemos afirmar também que a crença de Maria sobre a necessidade de utilizar somente a língua-alvo durante as aulas está relacionada a uma determinada metodologia de ensinar e aprender língua estrangeira moderna (BARCELOS, 2010), razão pela qual esta crença não diz respeito somente ao contexto do ensino de E/LE, mas também é recorrente no ensino da língua inglesa e como a própria participante afirmou não nos preocupamos como aprendemos a língua materna, mas, se observarmos se trata de uma crença recorrente à maneira como aprendemos a falar e nos comunicar. Assim, essa crença, já apontada por Marques (2001), tem relação com a crença de que o trabalho de imersão na língua-alvo é facilitador da aprendizagem. Nesse sentido, a crença apontada em Marques (2001) é ratificada por este trabalho, pois é igualmente manifesta por Maria. No primeiro caso, a crença a respeito da imersão é manifesta pelos participantes e, neste, a crença ainda relaciona-se a determinadas atitudes da professora que, por sua vez, lê textos na LE em voz alta, em todas as suas aulas; ao menor esforço do aluno de se comunicar na língua-alvo, a professora o felicita em espanhol “Muy bien, fulano”, até mesmo quando o aluno simplesmente responde a chamada em espanhol. Neste caso, a crença de Maria de que elogiar os alunos os motivará a gostar de ou querer aprender a língua-alvo evidentemente é uma estratégia que pode ser bem- sucedida ou não.

Em Viciedo (2007), também encontramos o registro da crença sobre a relevância de inserir-se no mundo da língua que se queira aprender para que a aprendizagem se efetive. Os participantes daquela pesquisa igualmente mencionaram que consideravam importante ter mais vivência na língua-alvo durante a aprendizagem.

Os dados trazidos sobre a crença da necessidade da imersão na língua-alvo durante as aulas de LE vão ao encontro de algumas crenças de outros aprendizes e professores envolvidos com o processo de ensinar e aprender uma língua estrangeira, sistematizadas em outras pesquisas, como Viciedo (2007), por exemplo. No caso de Maria, a preocupação que tem e o esforço que emprega para se fazer compreender pelos alunos diz também que a professora acredita que esta é uma estratégia que aumenta a possibilidade de seus alunos estarem em contato com a língua-alvo.

para explicar o conteúdo da aula – fazendo-o genericamente; repetindo (sempre em espanhol) exatamente o que pronunciou; gesticulando ou parafraseando o que disse, também em espanhol – partem do princípio de que os alunos são um todo homogêneo e não indivíduos que têm percepções diferentes das coisas – que inclusive podem não compreender o que se passa na aula de espanhol, apesar do seu esforço para garantir o contrário.

Assim, mesmo que algumas abordagens, métodos e estratégias pareçam ser os melhores para o professor, isso não significa que seus objetivos em relação ao ensino e à aprendizagem de uma língua estrangeira serão alcançados, ou seja, a crença de Maria sobre sucesso do aprendizado da língua-alvo pela língua-alvo pode até ter algum fundamento como estratégia, mas é preciso que o professor utilize variados instrumentos com seus alunos, até mesmo a língua materna dependendo da situação de aprendizagem, uma vez que os alunos são diferentes e têm diferentes formas de aprender.

Para Kuramavadivelu (2006), a questão da utilização ou não de um método no ensino e aprendizagem de línguas se fundamenta na possibilidade de os professores se apoiarem nas teorias existentes para estabelecer relações entre estas e suas vivências.