• Nenhum resultado encontrado

Parte I: Enquadramento Teórico

Capítulo 3: Estratégias de Ensino do Inglês como Língua Estrangeira

3.6 Crenças e perceções do professor e dos alunos quanto ao Ensino e Aprendizagem da

No que concerne às crenças, importa referir que consultadas várias obras sobre esta temática, conclui-se que apesar de existir vários estudos sobre “crenças” a sua conceitualização não é uniforme. Mulik (2008), por exemplo, opta por uma visão simplista e popular ao conceber crenças como “opiniões que alunos e professores têm sobre o processo de ensino - aprendizagem”. Por seu turno, Barcelos (2006) avalia as crenças como “construções da realidade, maneiras de perceber o mundo e seus fenómenos”. Para Silva (2005, p. 78) “ crenças seriam um acervo vivo de realidades individuais ou coletivas, na maioria das vezes implícitas,

(re) construídas ativamente nas experiências, que guiam a ação do indivíduo” e podem influenciar outros.

Por exemplo, tanto os professores tanto os alunos do Ensino Secundário Geral Público tem cada um sua perceção ou crença sobre a forma mais eficaz de ensino ou de aprendizagem do Inglês. Essa perceção tanto pode influenciar as estratégias de ensino a serem adotadas por parte do professor, tanto pode influenciar a manifestação do aluno na sala de aula. Isto porque, segundo Madeira (2008, p. 50) as crenças “servem em última instância como fator organizador e definidor na escolha e preparação das tarefas” por parte do professor neste caso. Aliás, Pajares (1992), afirma que as crenças não atuam apenas sobre o ensino porque elas constituem uma natureza humana. Esta visão resulta, segundo o autor, da suposição de que as crenças “são os melhores indicadores das decisões” que os homens vão tomando ao longo das suas vidas. Face a estes estudos concluímos que as crenças podem ter efeito na opção estratégica do professor ao ponto de constituírem a sua “cultura de ensinar”, tal como sugere (Kudiess, 2005). Concordamos igualmente que, as crenças, segundo Horwitz (1988), podem ser desmistificadas e criar-se uma consciência sobre elas, desde que se exerça uma cultura de auto-reflexão por parte do professor. Na opinião de Mulik (2008, p. 4) “se o professor reflete sobre suas crenças e suas ações, provavelmente fará com que os seus alunos reflitam sobre o que pode ajudar ou atrapalhar o aprendizado de LE”.

Em suma, compreender a perceção ou crenças dos professores do Ensino Secundário Geral e dos seus alunos é bastante relevante porque nos ajudará a compreender os fatores que contribuem ou influenciam para o sucesso e/ou fracasso do ensino de Inglês nas escolas. Pelo que, neste estudo, não só, vamos poder identificar as atividades de ensino que os professores utilizam frequentemente, como também, vamos poder compreender os fatores que influenciam na tomada de decisão sobre elas. Há consciência plena da difícil tarefa de investigar crenças de professores pelo facto de elas, segundo Garbuio (2006), serem instáveis, porque quando o professor se depara com novas situações de ensino e novas informações, novas crenças são criadas passando assim a fazer parte do repertório do professor.

Quanto às perceções dos professores e alunos há que realçar que para este estudo se torna indispensável pelo facto do sucesso de ensino da Língua Inglesa como Língua Estrangeira passar, necessariamente, pela interpretação harmoniosa dos seus intervenientes, designadamente, a do professor e a do aluno. Isto deve-se ao facto do comportamento das pessoas se basear na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Pois, a

perceção do mundo vária de indivíduo para indivíduo e cada um percebe um objeto ou situação de acordo com os aspetos que têm especial importância para si próprio. Barcelo (2006) citado por Oliveira (2007, p.153) admite que a perceção que os alunos possuem sobre o que é ensinar ou o papel do professor influencia sobremaneira na abordagem de aprender dos alunos. Um estudo feito por Clark e Peterson (1990), conclui existir uma relação recíproca entre domínios de pensamento e a atividade do docente e, recomenda:

“Para a compreensão da realidade ou situação educativa, tarefa complexa e multidimensional, deve-se observar, não apenas o que é diretamente visível, as ações, mas igualmente, os seus pensamentos, as suas conceções, significações e atribuições, bem como as suas tentativas de clarificação e justificação”.

Assim, o estudo da perceção dos professores e dos alunos face ao ensino e aprendizagem do Inglês como Língua Estrangeira é de extrema importância porque, cada um destes intervenientes pode ter visão diferente, o que efetivamente vai influenciar na decisão do professor, comportamento do aluno e até culminar com a inviabilização do alcance dos objetivos preconizados pelo currículo escolar. Para uma pesquisa sobre o ensino de língua estrangeira é recomendável, segundo Freeman e Richards (1996), que se estenda ao professor, pois, só sabendo o que este faz, como faz e, como ele aprende é possível ter melhor entendimento sobre o ensino de língua. Por outras palavras, segundo o autor, “para compreender o ensino é preciso entender como os professores interpretam seus mundos”.

Em matéria da perceção, um estudo feito por Freeman sobre o professor de LE, identifica três categorias de tendências a avaliar pelo ponto de vista do pesquisador e o grau de contribuição do professor-pesquisado, que são: visão comportamental, visão cognitiva e visão interpretativista.

A visão comportamental é aquela que focaliza o comportamento do professor dentro da sala de aula e centra-se fundamentalmente no produto e não no processo de aprendizagem per se. Esta tendência é vista como compartimentarizada do ensino separada do próprio professor e distanciada do contexto onde ocorre o ensino. Por sua vez, a visão cognitiva focaliza os processos mentais do professor integrando suas perceções, suas crenças, seu raciocínio, seu conhecimento dando assim forma ao seu comportamento e às suas ações na prática quotidiana. Importa referir que estudos feitos nestes moldes tendem, não só, apurar o que efetivamente ocorre na sala de aula, como também, o que os professores pensam na realização de atividades específicas. De salientar que o nosso estudo sobre a perceção do professor enquadra-se nesta visão, pois temos interesse de, não só, identificar as esratégias e atividades de ensino usadas

pelos professores no ensino da língua inglesa, como também, temos um interesse especial em apurar o que os professores pensam ao tomarem uma determinada decisão no ato do planeamento assim como durante o decorrer da aula. Face a esta múltipla ação desta tendência, Freeman (1996) citado por Mattos (2002, p.113) “ressalta que essas pesquisas tentam relacionar o que os professores pensam antes de dar aula (pre-active decisions) com o que eles pensam ao dar essa aula (interactive decisions).

Quanto a visão interpretativista, vista como uma tendência pouco explorada, focaliza compreender “como os professores interpretam a sua própria prática em relação ao contexto específico em que estão atuando” (Mattos, 2002, p.114). Na ótica de Freeman (1996), os professores estão permanentemente envolvidos na interpretação do seu mundo que inclui, o assunto que ensinam, o contexto da sala de aula e os alunos com que trabalham. Neste contexto, é importante que, para qualquer pesquisa relativa ao ensino de língua estrangeira a voz dos participantes (professor e alunos) esteja sempre presente no centro do estudo. Esta visão é igualmente comungada por Shavelson e Stern (1981) ao afirmar que “os comportamentos dos professores são largamente influenciados pelos seus pensamentos ou cognições”. Aliás, Clark e Peterson (1990), consideram o pensamento e ação como estruturas independentes, “mas interligadas, que se vão modificando mutuamente”.

Estudos sobre a matéria de perceção referrem que toda a perceção sofre influência quer de fatores externos quer de fatores internos. Os fatores externos são aqueles que proveem do próprio meio ambiente enquanto os internos são aqueles cuja sua origem é do próprio organismo e, incluem a motivação e a experiência. Em termos concretos, a falta de motivação no aluno aprendente da língua inglesa pode inviabilizar sua aprendizagem se, o professor não proporcionar um grau de interesse pela língua alvo e por sua cultura que deiam valor ao estudo, no que tange à necessidade futura. Assim, a partir deste estudo pretendemos compreender dos professores da língua inglesa e dos alunos do ESGP o seu entendimento relativo a importância de se aprender o inglês, o status da disciplina de Inglês, as condições de ensino e de aprendizagem do Inglês como língua estrangeira e as condições ideais para que o ensino do Inglês ocorra de forma efetiva.

Assim, queremos compreender no final do estudo se existe ou não influência das crenças e perceções do professor sobre a aprendizagem de língua estrangeira. Perceber igualmente se a eleição das atividades tem a ver com o alcance da competência comunicativa face aos objetivos preconizados.