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Criação da ABANORTE – Associação dos Fruticultores do Norte de Minas Gerais

CAPÍTULO 2. PROJETO JAÍBA: CONCEPÇÃO INICIAL E ASPECTOS FORMAIS

2.7. Criação da ABANORTE – Associação dos Fruticultores do Norte de Minas Gerais

A ABANORTE- Associação dos Bananicultores do Norte de Minas Gerais, foi criada em 1993 no município de Janaúba- MG, através da reunião de produtores de banana da região, que viam na personalidade de associação uma forma de ampliar o mercado de venda da fruta no Norte de Minas Gerais. Porém, com o tempo outros produtores de frutas se aproximaram a associação, tornando com que o objetivo se ampliasse e fosse além do fortalecimento apenas do cultivo e venda da banana, mas também de outras frutas, e passou a ser denominada como Associação dos Fruticultores do Norte de Minas Gerais. A esta época o Projeto Jaíba, instalado na região, ainda era incipiente, porém, as primeiras colheitas de banana já começavam a chegar no mercado regional da fruta.

E em 1994, um agricultor regional passou a realizar e divulgar a chamada cotação da banana, precificando o fruto por meio de caixas de madeira com 22 kg de banana. Com o tempo, por meio congregação dos primeiros associados, foi transferida a ABANORTE esta tarefa de emitir as cotações para a fruta na região.

No entanto, a forte crise vivida pela bananicultura do Norte de Minas Gerais no segundo semestre em 1997, fez com que muitos produtores da região perdessem suas safras e se endividassem, no entanto, a esta época a ABANORTE ainda era pequena para que pudesse tomar importantes ações no enfrentamento desta crise. Porém, uma coisa era certa, com o início do funcionamento do Projeto Jaíba, a oferta da banana no mercado regional havia sido alterada. De todo modo, a crise ajudou a fortalecer os produtores regionais que enfrentaram esta crise.

Em 2006, através de um convênio com firmado com o IMA- Instituto Mineiro de Agropecuária, a ABANORTE foi capaz de consolidar os dados de toda a produção comercializada em informações estratégicas para a definição dos preços para cotação da banana, sendo que por meio do IMA, dados referentes a preços praticados, volumes comercializados, origem e destino das cargas da fruta puderam ser consolidados e transformados em uma cotação segura para o preço da banana na região.

Atualmente, segundo a própria ABANORTE, a cotação para a banana é apresentada semanalmente através de boletins e está de acordo com o panorama da bananicultura de todo o país, tornando-se este como o principal serviço ofertado aos

produtores da região, sejam estes associados ou não, pois a cotação tem sido utilizada para mediar o preço de venda e compra dentre os negociantes, sejam atacadistas, compradores finais e até mesmo aqueles denominados como atravessadores (pessoas físicas que intermediam o processo de venda da fruta entre produtores da Etapa I e atacadistas ou vendedores do Ceasa de Belo Horizonte MG)31. Logo, tornou-se a

ABANORTE como uma referência para todos os produtores da região.

2.8. Considerações Finais do Capítulo

A partir do levantamento histórico do Projeto Jaíba, o que se vislumbra é o enorme potencial socioeconômico, concebido para ser executado no longo prazo32, tendo em vista

a infraestrutura e o potencial de irrigação da área que compõem as quatro etapas de implantação, afinal são mais de 66.000 ha irrigáveis, com capacidade de se incorporar áreas de sequeiro ao plantio irrigado.

Os órgãos que acompanham o Projeto Jaíba e que participam da gestão do perímetro detêm de diferenciadas visões acerca da dinâmica estabelecida dentre as relações do projeto, em que muitos avaliam como positiva a proximidade entre pequenos, médios e grandes produtores agrícolas, pois seriam uma maneira de articular as diferentes atividades econômicas na região e assim promover o crescimento econômico a partir da divisão do trabalho ali desenvolvida. Segundo este entendimento, tal dinâmica também se entende as relações com os assentados do perímetro, pois ao lidar e conviver com as diferentes técnicas aplicadas nos empreendimentos agrícolas, muitas delas poderiam ser aplicadas nos lotes recebidos. Porém, quanto aos assentados resta a dúvida: estaria a família assentada como força de trabalho ao empreendimento agrícola presente no perímetro, ou estaria esta família assentada como um potencial produtor agrícola?

O que se vê é que, apesar do avanço identificado nas relações de produção e de crescimento econômico da região do Jaíba, torna-se manifesto que problemas sérios ainda estão por resolver, como atrasos na implementação das diferentes fases do Jaíba, regularização fundiária dos ocupantes, melhoria de estradas e vias de acesso, questões sociais e muitas outras para que o Projeto Jaíba seja um empreendimento sustentável, mesmo que este não objeto fim desta pesquisa. De fato, a irrigação pode transformar

31 - A biografia da ABANORTE foi construída a partir do acesso a página de internet da associação, disponível em: http://www.abanorte.com.br/web/app.php/. Acesso em 16/01/2018.

regiões inteiras, assim como feito em Israel, Califórnia e até mesmo no Brasil, porém, através do acompanhamento dos dados referentes ao Projeto Jaíba e ao desenvolvimento da região Norte Mineira, entende-se que as metas do perímetro irrigável, não são as mesmas encontradas nos assentamentos e empreendimentos agrícolas, na medida que segundo Morais (1999), os resultados são insatisfatórios do ponto de vista social, econômico e ambiental.

A etapa II, ocupadas pelos empreendimentos agrícolas geram uma produção expressiva, demonstrando a devida integração ao agronegócio, com a geração de empregos e conquista do mercado interno e externo da fruticultura. Conforme relatório divulgado pela CODEVASF em 2011, a ocupação do perímetro naquele período ainda não era ampla, pois de um total de aproximadamente 66.000 ha irrigáveis, apenas 10.240 ha irrigáveis estavam em utilização para o plantio, logo, 15,15% da área irrigada. Contudo, a produção desta área irrigada, a geração de empregos e renda dos produtores já eram significativos e tornavam o Projeto Jaíba expressivo no mercado nacional e internacional de fruticultura33. Tal sucesso não foi percebido ao analisar os lotes destinados aos colonos assentados, que registrou um desempenho de produção abaixo do esperado.

Alguns trabalhos acadêmicos aos quais obtive acesso, acerca do Jaíba (RODRIGUES, 1998; SOARES, 1999; MONTALVÃO, 2007; COUTO, 2016), fazem o exercício de reflexão acerca das questões que justificariam o “insucesso” da colonização no Projeto Jaíba. A falta de aptidão para o cultivo irrigado é um dos motivos considerados, outros entendem que faltou assistência técnica e social aos irrigantes, o custeio com a irrigação também foi citado (altas tarifas para o consumo de água), dificuldade em acessar linhas de crédito, dentre outros. Todavia, ao realizar tal levantamento histórico acerca do planejamento, implementação e metas para o desenvolvimento do Projeto Jaíba, foi possível compreender que o objetivo principal era promover o desenvolvimento e integração econômica da região através do cultivo agrícola. O processo de colonização foi realizado segundo a premissa colocada por meio das condições de financiamento internacional, e era tida como uma forma de reduzir a pobreza e fixar o homem no campo. O programa de assentamento dos colonos previa a transformação de famílias em

33 - A CODEVASF empreende tal análise a partir da produção total do perímetro irrigado. É preciso salientar que dentre a área considerada Etapa I, determinadas áreas eram de propriedade privada e foram beneficiadas com a construção dos canais. Inúmeros pequenos e médios empresários agrícolas produzem nesta área, dentre elas, uma grande empresa rural, Brasnica, que possui uma área de 613 hectares no perímetro, em que cultiva mais de 300 hectares de banana e aproximadamente 100 hectares de outras frutas.

potenciais pequenos produtores da fruticultura (PLANVASF, 1989).

Durante o período de conformação do objeto da pesquisa, uma visita preliminar foi realizada em meio a etapa I, e partir das conversas informais realizadas com os agricultores, verificou-se que ao longo dos anos, de fato, houve uma transformação da estrutura fundiária das glebas direcionadas aos colonos na Etapa I. Parte dos agricultores ouvidos, não haviam adquirido o domínio da área de cultivo por meio da seleção, bem como, estes agricultores detinham uma área superior a aquela permitida para cada assentado, de quatro lotes. De fato, era possível perceber um processo de saída de beneficiários dos lotes agrícolas, no entanto, tais lotes não foram abandonados, mas sim, negociados através da venda informal, mesmo que em desacordo com as condições legais que regem o assentamento, ou seja, mesmo diante da impossibilidade de qualquer tipo de alienação do lote. O grupo destes agricultores que adquiriram lotes eram compostos por irrigantes assentados e agricultores provenientes da área de sequeiro.

Uma outra percepção auferida durante esta visita preliminar, constituiu a hipótese para o desenvolvimento deste trabalho: um provável movimento de concentração da posse da terra na Etapa I do Projeto Jaíba, pois aqueles agricultores que adquiriram uma área na Etapa I, não se restringiram apenas a compra de 01 lote, mas sim de vários, fossem lado a lado ou dispersos dentre uma determinada gleba, contrariando a lógica inicial do processo de colonização.

E tais observações foram determinantes para a composição da próxima fase deste trabalho, construído mediante a realização de visita ao campo, através da adoção da técnica de entrevistas semiestruturadas por amostragem, com o objetivo a obtenção de evidências para comprovação ou rejeição da hipótese apresentada.

CAPÍTULO 3 – ESTUDO DE CASO: PROJETO JAÍBA – ETAPA I - ACESSO À