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Ocupação da Região Norte de Minas e o Surgimento do Projeto Jaíba

CAPÍTULO 2. PROJETO JAÍBA: CONCEPÇÃO INICIAL E ASPECTOS FORMAIS

2.2. Ocupação da Região Norte de Minas e o Surgimento do Projeto Jaíba

A região Norte do estado de Minas Gerais, onde se insere o Projeto Jaíba possui características sociais e econômicas singulares quando comparada as diversas regiões do estado. Tal região teve seu processo de ocupação e povoamento iniciado em 1711, quando houve o desmembramento da capitania de São Paulo e Minas Gerais – antiga Capitania de São Vicente e criação da Vila Ribeirão do Carmo, Vila Rica e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará, atualmente os municípios de Mariana, Ouro Preto e Sabará respectivamente (RODRIGUES et al., 2000).

O território mineiro foi objeto de diversas partições ao longo de sua história, devido as condições sociopolíticas e econômicas da ocupação do estado. Apenas em 1970, após o avanço do IBGE na promoção da divisão regional do território nacional16, o governo mineiro realizou estudos com o intuito de agrupar municípios com características socioeconômicas semelhantes. Na atualidade, o estado de Minas Gerais classifica a divisão dos municípios em 10 regiões: Centro-Oeste, Jequitinhonha/Mucuri, Mata, Noroeste, Rio Doce, Sul de Minas, Triângulo, Alto Paranaíba, Central e Norte de Minas, região em que se insere o Projeto Jaíba, em que perímetro irrigado ocupa parte das áreas pertencentes aos municípios de Jaíba, Verdelândia e Matias Cardoso.

Figura 4 – Mapa Regiões de Planejamento: estado de Minas Gerias.

15 - Mediante a um processo de reformulação das atribuições das Secretarias Estaduais, o governo de Minas Gerais, gestão 2015-2018, extinguiu a autarquia Ruralminas, diluindo suas atividades e colaboradores, entre variadas secretarias estaduais.

16 - Divisão regional realizada com base nos critérios de semelhança dos aspectos físicos, humanos, culturais, sociais e econômicos. IBGE

Fonte: Governo do Estado de Minas Gerais.

Durante o processo de ocupação do território do Norte de Minas, a expansão da pecuária extensiva avançou pelo interior de estado mineiro, ocupando áreas próximas ao rio São Francisco, e prosseguiu em direção ao território baiano, integrando se com cultivo do algodão (CARDOSO, 2000). Entre os séculos XVI e XVII, ocupações bandeirantes formadas por paulistas e baianos também avançaram pelo território mineiro, sendo que ainda, no século XVII as primeiras grandes sesmarias foram concedidas no estado, porém, a região norte mineira margeada pelo rio São Francisco, seria ocupada por bandeirantes, resultando nas cidades de Matias Cardoso, Januária, São Romão e Guaicuí (OLIVEIRA, 2000).

Considerada a grande extensão da região norte mineira e as adversidades das condições climáticas, o povoamento não ocorreu de forma uniforme, pois a escassez das chuvas dificultava o desenvolvimento de atividades econômicas produtivas, fazendo com que a pecuária e o plantio da agricultura fossem similares a condição nômade, aproximando-se das regiões ribeiras em tempo de seca e ocupando as regiões de cerrado no tempo das chuvas. Quando de ocupações próximas ao rio São Francisco, muitas famílias se estabeleciam em suas proximidades, ocupavam as terras ao estabelecer

fazendas de criação, tornando este último tipo de ocupação responsável pelo nascimento dos pequenos lugarejos e cidades do norte mineiro, que mais tarde seriam responsáveis pelo dinamismo econômico da região. Assim sendo, “conferiu-se o rio São Francisco como determinante nas primeiras ocupações e propulsionador do dinamismo econômico” (PEREIRA, 2004, p. 18).

Diante desta conjuntura, surgiram as grandes fazendas do Norte de Minas Gerais, em que a renda era obtida através da ocupação de áreas por meio da pecuária extensiva e do cultivo a partir da utilização do sistema de parcerias. Os donos das grandes fazendas da região, conseguiram se apropriar de parte do poder político e econômico apoiados na posse da terra. Segundo Rodrigues et al. (2000), os fazendeiros também controlavam a movimentação do capital na região, de modo que emprestavam dinheiro aos parceiros e pequenos agricultores na entressafra e compravam a produção por preços baixos na época da safra, perdurando tal dinâmica até meados do século XIX. No período posterior, com a ampliação do cultivo do algodão e do couro para o mercado internacional, a região Norte de Minas Gerais e Sul da Bahia, passaram a ser de grande importância para a economia do país, fato que ampliou o crescimento econômico da região, melhorou as vias de acesso para escoamento da produção, promoveu o crescimento demográfico e deu origem a cidade de Montes Claros, que se tornaria o centro comercial da região norte mineira.

Ao longo dos anos, a dinâmica econômica desta região permaneceu baseada na agropecuária e na agricultura de subsistência, pouco representativa perante o PIB estadual e demandante de investimentos em saúde, educação e combate à fome, tendo em vista as fortes secas que assolavam a região e castigavam a sua população. No entanto, com o acirramento das desigualdades sociais e períodos de fortes secas, a posse da terra passou a ser um sério problema na região Norte de Minas. Rodrigues et al. (2000), destaca, que na década de 1960, em virtude da expansão das fazendas de pecuária e agricultura, pequenos sitiantes, posseiros e antigos parceiros encontraram-se em situação de insegurança, pois eram expulsos das parcelas de terra que ocupavam17. Dentre os grupos reclamantes da posse da terra, haviam também populações quilombolas que perderam suas terras em situações de conflitos violentos.

Diante da identificação de tais conflitos, o governo de Minas Gerais ao final dos anos de 1960 criou a Ruralminas, fundação que tinha como 18objetivo planejar, desenvolver, coordenar, executar projetos de logística de infraestrutura rural e de engenharia, com vistas a promoção do desenvolvimento social e econômico do meio rural no Estado de Minas Gerais (RURALMINAS, s.d.). A época, era evidente que a criação desta fundação tinha como objetivo principal minimizar os conflitos de terra ocorrentes no Norte do estado, pois a situação jurídica da posse da terra na região, era de irregularidade, tanto quanto dos grandes fazendeiros, quanto dos ocupantes de menores parcelas de terras, em razão de que as terras historicamente eram reconhecidas como devolutas e foram repassadas a terceiros por eventuais ocupantes que não portavam do título de propriedade (OLIVEIRA, 2000). Logo, os conflitos tratavam-se de áreas eram de controle do Estado. E para resolver tal situação, a Ruralminas receberia as terras do Estado e realizaria a distribuição das parcelas aos proprietários através da criação do programa “Terras para Todos”, implantado através de projetos de colonização. Porém, apesar da proposta feita pelo estado de Minas Gerais, poucas colônias foram criadas e grande parte das terras da região Norte, restaram como de propriedade dos grandes fazendeiros e grupos empresariais, que receberam os documentos e financiamentos a fundo perdido, através do Fundo de Investimentos do Nordeste – FINOR, administrado pela SUDENE, com a proposta de promover o desenvolvimento da agricultura e gerar empregos, o que de fato não ocorreu com o passar do tempo (RURALMINAS, s.d. ; (OLIVEIRA,2000).

Na região da chamada Mata do Jaíba, às margens do rio Verde Grande e dentre as cidades de Janaúba e Manga, foram desenvolvidas as primeiras colônias em parceria com o extinto INIC. O Objetivo era assentar aproximadamente 200 famílias, em lotes de 20 a 30 hectares, em um total de 310 mil hectares de terras devolutas doadas pelo governo de Minas Gerais19 (GOMES, 1982). No entanto, a tentativa de colonizar estas terras não foi bem-sucedida, resultando na prática da pecuária de corte20, pois a falta de assistência técnica, escassez de chuvas e isolamento territorial em relação ao restante do estado

18- Competências da Ruralminas. Este órgão foi recentemente extinto pelo atual governo estadual: http://www.Ruralminas.mg.gov.br/sobre-o-orgao/objetivo-operacional-e-competencias-legais. Acesso em 08 de julho de 2017.

19 - De acordo com os registros da RURALMINAS (s. d.): A área da Mata do Jaíba, constituía uma área de 310.000 ha que foram doados, enquanto terrenos devolutos, pelo estado de Minas Gerais à RURALMINAS, através da escritura registrada sob o nº 3.358, livro 3-B, pág. 215, do Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Manga, em 22/11/1967.

mineiro foram impossibilitaram o avanço do cultivo agrícola das famílias de colonos (SOARES, 1999).

Apoiado em uma das colônias da Ruralminas, surgiria o Projeto Jaíba, em uma área de aproximadamente 300 mil hectares, com a proposta de irrigar 100 mil hectares, fruto de um convênio entre o estado de Minas Gerais e SUDENE, que estudou a região da Mata do Jaíba e concluiu através do recolhimento dos recursos hidráulicos e de solos da Bacia de São Francisco” que em torno de 100.000 hectares poderiam ser destinados a irrigação, haja vista a infraestrutura instalada na formação das colônias anteriores, como estradas, campo de pouso e núcleo administrativo-habitacional (RURALMINAS, s.d.).

Em período posterior, as ações voltadas ao desenvolvimento da agricultura irrigada na região foram transferidas a CODEVASF, que trabalharia em ação conjunta com a Ruralminas na implantação do perímetro irrigável.

2.3.Planejamento, Financiamento e Execução da Infraestrutura de Irrigação no