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Atitudes preservacionistas não estiveram sempre presentes em nosso meio. Foi após a Revolução Industrial que a preocupação em manter espaços preservados teve seu auge. Nesta época, muitos camponeses abandonaram suas terras e foram morar nas cidades, o que ocasionou um inchaço nos centros urbanos (JACOBI,1999). Como resultado desta expansão, houve um crescimento na demanda de alimentos e outros serviços ambientais que a natureza fornece. O setor agrícola também se transformou, desenvolvendo novas tecnologias para aumentar a produção de grãos e as áreas disponíveis ao plantio. Associado a essa evolução no setor

agrícola, deu-se início a destruição das florestas e consequente degradação da biodiversidade (BALSAN, 2006). Consequentemente, os recursos naturais se esgotaram rapidamente, excluindo qualquer chance de recuperação dos ecossistemas, tornando-os insuficientes para a sobrevivência humana.

Desse modo, em meados do século XIX, a humanidade passou a se enxergar como agente transformador do meio em que habitava e responsável por suas transformações (BENSUSAN, 2006). Foi por volta de 1962 que a consciência ambiental se solidificou a partir dos estudos de Rachel Carson em sua obra intitulada Primavera Silenciosa (Silent Spring), onde a bióloga americana alertava sobre os efeitos nocivos causados pelo uso dos agrotóxicos e questionava sobre os rumos desta relação entre o homem e a natureza (LEFF, 2001). Seus expostos alertavam mundialmente sobre os problemas ambientais e isso inspirou vários movimentos ambientalistas de caráter político naquela época. Dessa forma, começam os primeiros fóruns e debates entre cientistas, ambientalistas e empresários para a criação de leis que visassem a proteção e preservação do meio ambiente. Por conseguinte, em 1968 surgiu um grupo formado por cientistas e economistas denominado Clube de Roma, que se reunia com a finalidade de discutir a crise ambiental e o futuro da humanidade. A partir de então, já em 1972, as preocupações que eram constantemente debatidas deram origem ao primeiro relatório que abordava temas relacionados com o meio ambiente: o Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows (BAGLIANO et al., 2012; MONTEIRO, 2015).

Este relatório alertava a população, os responsáveis políticos e economistas do mundo sobre os limites de crescimento da produção pela utilização de recursos não renováveis. O relatório chegou à conclusão de que se a população mundial continuasse a consumir os recursos naturais na mesma projeção em que estavam sendo consumidos na época, estes se esgotariam em menos de cem anos. O documento testava vários modelos de previsões onde eram alterados os valores de produção, o crescimento da população, a poluição, a disponibilidade de recursos. Porém, em qualquer cenário o resultado obtido era de que uma crise econômica aconteceria durante o século XXI e a principal causa seria o crescimento populacional acelerado. Este documento indicava a necessidade de uma mudança coletiva na maneira em que as sociedades humanas se relacionavam com as bases naturais, de onde se extraem seus recursos primordiais de existência. O meio ambiente não poderia mais ser considerado “[...] uma fonte inesgotável onde pudesse-se abastecer sem restrições, nem como uma matéria passivamente submetida à vontade dos homens” (RAYNAUT, 2006, p. 8).

Outro marco importante foi a Conferência da ONU em Estocolmo, realizada em 1972, junto aos Estados e a comunidade científica, cujo foco era discutir os problemas ambientais,

sobretudo, a poluição. “Naquele momento é que foram assinalados os limites da racionalidade econômica e os desafios da degradação ambiental ao projeto civilizatório da modernidade” (LEFF, 2001, p.16).

Realizou-se então a 1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano, na tentativa de suavizar esta relação do homem com o ambiente em que vive, pelo fato de que as consequências da industrialização já estavam sendo sentidas pela população (COSTA et al., 2012). Os resultados deste encontro deram origem à Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, onde a questão ambiental foi colocada mais fortemente e indicou a necessidade de criação de princípios que deveriam ser seguidos para a preservação do meio ambiente. Como consequência desta conferência, criou-se em 1974 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, que foi a primeira organização reconhecida internacionalmente, criada para proteger o meio ambiente (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE, 1994; CAMARGO, 2002; RAYNAUT, 2006).

Em 1984 foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD, com o intuito de avaliar os avanços da degradação ambiental e se de fato as políticas ambientais eram eficazes na luta contra a destruição da natureza. O resultado foi o lançamento de um documento denominado Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório de Brundtland (LEFF, 2001).

Diversos outros eventos continuaram acontecendo pelo mundo, mas foi em 1992 que aconteceu a 2ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente – CNUMAD, que ficou conhecida como a Rio 92, Eco 92 ou Cúpula da Terra. Este foi o encontro mais importante do século XX, onde ficaram explícitos os perigos que ameaçavam a vida na Terra e a necessidade de mudanças de atitudes a fim de se estabelecer uma sociedade mais sustentável (MOTA et al., 2008). Muitos documentos foram sancionados durante esta conferência, sendo que os principais foram a Agenda 21, que é um programa de ação global, considerado de suma importância e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Carta da Terra. Foi a partir destes documentos que se tornou efetivo o desenvolvimento de políticas públicas com o objetivo de implantar o “paradigma do desenvolvimento sustentável” (MOTA et al., 2008).

De acordo com Da Silva e Francischett (2012), foi por volta de 1981 que se consolidou oficialmente um planejamento ambiental no Brasil,

[...] em razão do aumento dramático da competição por terras, água, recursos energéticos e biológicos, que gerou a necessidade de organizar, e de compatibilizar

esse uso com a proteção de ambientes ameaçados e de melhorar a qualidade de vida das populações, além de surgir também como uma resposta adversa ao desenvolvimento tecnológico, puramente materialista, buscando o desenvolvimento como um estado de bem-estar humano, ao invés de um estado de economia nacional. (DA SILVA e FRANCISCHETT, 2012, p. 4-5).

Essa crise ambiental, decorrente das formas inadequadas de relação do homem com o meio ambiente, das formas de apropriação da natureza e do uso inadequado dos seus recursos naturais, gerou no passado muitos debates e discussões envolvendo o tema.

De acordo com o Relatório de Brundtland, o conceito de desenvolvimento sustentável trouxe consigo o dever de garantir qualidade de vida para as gerações do presente, sem prejudicar as gerações futuras, isto é, sem destruir o meio ambiente, utilizando-se dos recursos naturais de forma que estes permaneçam com a maioria de suas características inalteradas e possam estar disponíveis posteriormente.

A conscientização de que os recursos naturais eram limitados, e as demonstrações de finitude destes recursos revelados pela própria natureza, apontavam as consequências que as ações humanas haviam ocasionado. A escassez de água, os processos de desertificações, a perda da biodiversidade e tantos outros fatores, confirmavam a necessidade de preservar a natureza que ainda restava (MENON, 1992; VAINER, 2010). A partir desta necessidade e depois de longos debates sobre o problema ambiental, criaram-se ambientes destinados a preservação dos ecossistemas, aplicando-se formas adequadas de proteção, mesmo que ainda muito aquém do necessário.

Atualmente, o principal, se não o mais eficiente, recurso encontrado para a conservação da biodiversidade é a criação de áreas protegidas (ICMBio, 2013). Algumas dessas áreas protegidas foram criadas ainda no século XIX, com o objetivo de preservar as paisagens naturais para as gerações futuras. Porém, foi no século XX que este recurso se propagou efetivamente, devido à alta taxa de extinção de espécies (BENSUSAN, 2006).

Inicialmente a primeira Unidade de Conservação criada foi intitulada “Parque Nacional”. De acordo com Bensusan (2006, p.15), a definição de “Parques Nacionais” teve início nos Estados Unidos da América – EUA para então se espalhar pelo mundo. Entretanto, ainda no ano de 1933 não havia uma definição aceita sobre os reais objetivos dos parques nacionais. Foi então que na Convenção para a Preservação da Flora e Fauna, realizada em Londres, que se definiram três características importantes dos parques nacionais: a primeira foi a de que seriam “áreas controladas pelo poder público”; a segunda característica foi que estas seriam “áreas para a preservação da fauna e flora, objetos de interesse estético, geológico e arqueológico, onde a caça é proibida”; e a terceira característica, “áreas de visitação pública”.

Em âmbito mundial, o primeiro parque nacional criado foi o Parque Nacional de

Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos da América - EUA. Este parque tinha por objetivo,

preservar as belezas intocadas da natureza para as futuras gerações (BENSUSAN, 2006). Este modelo de parque resultou de ideias preservacionistas e exigia que a região onde se constituísse o parque não fosse habitada, vendida ou colonizada, segundo as leis dos EUA. Uma área dedicada à recreação e lazer, separada ao povo. Neste local o homem seria somente um visitante, jamais um morador (DIEGUES, 2001; BENSUSAN, 2006). Prevalecia a ideia de que mesmo com a natureza domesticada pelo homem, poder-se-ia ter alguns “pedaços” desta natureza preservada. Observou-se então a existência de uma visão e concepção preestabelecida do homem com a natureza, vista de forma apenas destruidora, sem possibilidades de harmonização entre ambos. A única forma possível de preservação da natureza entendida pelo naturalismo da época era afastá-la do próprio homem. As áreas preservadas eram tidas como um refúgio intocado, onde o homem pudesse restaurar “[...] as energias gastas na vida estressante das cidades e do trabalho monótono” (DIEGUES, 2001, p. 13).

No Brasil, o idealizador de uma ética conservacionista foi André Rebouças, que se baseou na criação do Parque Nacional de Yellowstone para defender a ideia de construção de parques nacionais no Brasil. O primeiro parque brasileiro foi criado em 1937 em Itatiaia, no Estado do Rio de Janeiro (RYLAND e BRANDON, 2005). Logo após a criação do primeiro parque, outros dois parques foram estabelecidos, em 1939 foi criado o Parque Nacional do Iguaçu, no estado do Paraná e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, também no Rio de Janeiro (BENSUSAN, 2006).

O marco inicial das Unidades de Conservação se deu em 1948, com a criação da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN). A IUCN tinha por objetivo promover o planejamento racional das áreas ricas em espécies raras, beleza cênica, com características científicas e culturais (HENRY-SILVA, 2005). Data o ano de 1960, quando a IUCN determinou a Comissão de Parques Nacionais e Áreas Protegidas com o propósito de “promover, monitorar e orientar o manejo dos espaços” (BENSUSAN, 2006, p. 15).

De acordo com Benvindo (2009), até 1960 a criação de Unidades de Conservação obedecia rigorosamente aos modelos americanos, dando maior ênfase de preservação aos locais com belezas exuberantes, não se preocupando com a preservação de certos ecossistemas ou espécies. Depois de um tempo, começou-se a valorizar e entender que as paisagens não tão ricas em belezas, também precisavam ser protegidas devido ao seu papel na conservação de alguns ecossistemas e suas riquezas de espécies.

Devido a esses fatores, aconteceram diversos encontros entre os países, nos quais se abordavam o meio ambiente e suas alternativas de conservação da natureza. Dentre esses eventos citamos o 3º Congresso Mundial de Parques Nacionais, em Bali, no ano de 1962; a 10ª Assembleia Geral da IUCN, na Índia em 1969; o 4º Congresso Mundial de Parques em Caracas, no ano de 1992 (BENSUSAN, 2006). Em vista disso, no Brasil por volta de 1970 algumas leis começaram a mudar. E em 1988, por meio de um pedido do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal à Fundação Pró-Natureza (FUNATURA), organizou-se um projeto de lei na qual instituía um sistema que estabelecesse critérios e normas para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação. Este conjunto foi aprovado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em maio de 1992, seguindo para o Congresso Nacional. Após oito anos de discussões e divergências, constituiu-se o então chamado Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Este órgão estabeleceu novas formas de criação de UC’s com base nas indicações biológicas, como “[...] grau de endemismo, (espécies restritas a uma única região), fragmentação de habitats, presença de espécies ameaçadas, dentre outras” (BENVINDO, 2009, p. 35).

No entanto, apenas criar Unidades de Conservação não é suficiente, nem mesmo garantia de conservação de espécies e habitats. Primack e Rodrigues (2001, p. 235) salientam que “o Brasil e o mundo estão cheios de parques que existem apenas no papel, criados por decreto governamental, mas não efetivamente manejados na prática”. Isso faz com que estas áreas percam gradativamente espécies e qualidade ambiental. O fato de não existir um plano de manejo, ou fiscalização nessas áreas, faz com que a população tenha livre acesso a esses parques e extraiam madeiras, plantas, animais e até mesmo, o uso do local para a prática de esportes incompatíveis com as leis de proteção desses lugares. Outro problema ocasionado pela criação dos “parques de papel”, segundo Bensusan (2006), é que estes parques são incluídos no percentual total de áreas protegidas sem que disponham de uma verdadeira conservação da biodiversidade.

Por estes motivos, a criação de Unidades de Conservação deve estar intrinsecamente ligada ao manejo destas áreas e à legislação vigente para que aumentem as chances de conservação da biodiversidade.

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