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2.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

2.2.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação SNUC

A Lei do SNUC estabeleceu mecanismos que regulamentam a participação da sociedade na gestão das UC’s, potencializando a relação entre o Estado, os cidadãos e o meio ambiente (MMA, 2014). O SNUC foi criado em 18 de julho de 2000 como forma de unir as leis de proteção à natureza e aumentar o papel das Unidades de Conservação, para que estas sejam planejadas e administradas de maneira integral e conforme as demais UC’s. Assegura-se desta forma, que amostras importantes e ecologicamente viáveis, das mais variadas populações, habitats e ecossistemas, estejam representados de forma igualitária em todo o território nacional, e que se apliquem as garantias necessárias para que as leis sejam cumpridas (MMA, 2014).

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC constitui-se de um conjunto de Unidades de Conservação (UC) que se dividem em federais, estaduais e municipais. Estas três esferas também são responsáveis pela gestão do SNUC. Este sistema é composto por doze categorias diferentes de Unidades de Conservação, onde cada qual tem seus objetivos específicos que as diferenciam quanto à permissão de uso e quanto à forma de proteção destas unidades.

Sendo assim, dividem-se em unidades que necessitam de maiores cuidados, sejam por suas fragilidades ou particularidades, e aquelas que podem ser utilizadas de forma sustentável, porém, conservadas ao mesmo tempo.

A lei que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação determinou que o SNUC tem por objetivos:

[...] capítulo II. Art. 4º

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;

IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo- as social e economicamente (ICMBio, 2009).

O artigo 6º da LEI nº 9.985/2000 determina que o SNUC seja administrado pelos seguintes órgãos, com suas respectivas atribuições:

O órgão consultivo e deliberativo, que é representado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e assume a função de acompanhar a efetivação do SNUC; O órgão central, representado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e que tem a função de coordenar o SNUC; e por fim, os órgãos executores, que são representados na esfera federal, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em caráter especial, e nas esferas estadual e municipal, representado pelos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente. Estes órgãos executores do SNUC têm como função implementar, apoiar as propostas de criação e administrar as Unidades de Conservação federais, estaduais e municipais, cada qual em seus respectivos âmbitos de atuação (CASA CIVIL, 2000; ICMBio, 2009; MMA, 2014).

As Unidades de Conservação estão divididas em dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável.

As Unidades de Proteção Integral:

Estão divididas em cinco categorias. As Unidades de Proteção Integral permitem apenas o uso indireto dos seus recursos naturais em ações voltadas à pesquisa científica e turismo ecológico. Elas se classificam da seguinte maneira:

1. Estação Ecológica: área destinada à preservação da natureza e à realização de

pesquisas científicas, podendo ser visitadas apenas com o objetivo educacional.

2. Reserva Biológica: área destinada à preservação da diversidade biológica, na qual

são realizadas medidas de recuperação dos ecossistemas alterados para recuperar o equilíbrio natural e preservar a diversidade biológica, podendo ser visitadas apenas com o objetivo educacional.

3. Parque Nacional: área destinada à preservação dos ecossistemas naturais e sítios

de beleza cênica. O parque é a categoria que possibilita uma maior interação entre o visitante e a natureza, pois permite o desenvolvimento de atividades recreativas, educativas e de interpretação ambiental, além de permitir a realização de pesquisas científicas.

4. Monumento Natural: área destinada à preservação de lugares singulares, raros e

de grande beleza cênica, permitindo diversas atividades de visitação. Essa categoria de UC pode ser constituída de áreas particulares, desde que as atividades realizadas nessas áreas sejam compatíveis com os objetivos da UC.

5. Refúgio da Vida Silvestre: área destinada à proteção de ambientes naturais, no

qual se objetiva assegurar condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna. Permite diversas atividades de visitação e a existência de áreas particulares, assim como no monumento natural (MMA, 2014).

As Unidades de Uso Sustentável:

Estão divididas em sete categorias. Estas Unidades de Conservação de uso sustentável admitem a presença de moradores em seu interior. Elas têm como objetivo conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais e se dividem em:

1. Área de Proteção Ambiental: área dotada de atributos naturais, estéticos e

culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. Geralmente, é uma área extensa, com o objetivo de proteger a diversidade biológica, ordenar o processo de ocupação humana e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. É constituída por terras públicas e privadas.

2. Área de Relevante Interesse Ecológico: área com o objetivo de preservar os

ecossistemas naturais de importância regional ou local. Geralmente, é uma área de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana e com características naturais singulares. É constituída por terras públicas e privadas.

3. Floresta Nacional: área com cobertura florestal onde predominam espécies

nativas, visando o uso sustentável e diversificado dos recursos florestais e a pesquisa científica. É admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam desde sua criação.

4. Reserva Extrativista: área natural utilizada por populações extrativistas

tradicionais onde exercem suas atividades baseadas no extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais existentes. Permite visitação pública e pesquisa científica.

5. Reserva de Fauna: área natural com populações animais de espécies nativas,

terrestres ou aquáticas; adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos.

6. Reserva de Desenvolvimento Sustentável: área natural onde vivem populações

tradicionais que se baseiam em sistemas sustentáveis de exploração de recursos naturais. Permite visitação pública e pesquisa científica.

7. Reserva Particular do Patrimônio Natural: área privada com o objetivo de

conservar a diversidade biológica, permitida a pesquisa científica e a visitação turística, recreativa e educacional. É criada por iniciativa do proprietário, que pode ser apoiado por órgãos integrantes do SNUC na gestão da UC (MMA, 2014).

A Lei 9.985/2000 do SNUC também normatiza outros pontos importantes para a criação, implantação e gestão das Unidades de Conservação, como a zona de amortecimento, planos de manejo, corredores ecológicos entre outros preceitos importantes para o manejo destas áreas. De acordo com o art. 2º inciso XVIII, a zona de amortecimento é definida como “o entorno de uma Unidade de Conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade” (ICMBio, 2009, p. 10). A zona de amortecimento tem a função de prevenir impactos negativos que ocorrem fora da UC, como “ruídos, poluição, espécies invasoras, e avanço da ocupação humana”, principalmente em áreas próximas a centros urbanos. Nestas áreas as

atividades humanas devem seguir as normas específicas da lei como forma de proteção de sua periferia (SNUC, 2000; MMA, 2016). Esta área também previne a fragmentação do ecossistema e os efeitos de borda.

O art. 25 desta lei define que “as Unidades de Conservação, exceto Área de Proteção Ambiental (APA) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos” (MMA, 2006, p. 22). A Resolução nº 428, de 2010, que “Dispõe sobre normas referentes às atividades desenvolvidas no entorno das Unidades de Conservação” em seu art. 2º prevê que “Nas áreas circundantes das Unidades de Conservação, num raio de dez quilômetros, qualquer atividade que possa afetar a biota, deverá ser obrigatoriamente licenciada pelo órgão ambiental competente6” (CONAMA,

2010).

Outro documento primordial para o planejamento das UC’s é o Plano de Manejo. De acordo com o art. 27 do SNUC, todas as UC’s devem possuir um Plano de Manejo. O §1º deste artigo define que “o Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas” (ICMBIO, 2009). E no que dispõe sobre o prazo de elaboração o §3º esclarece que “o Plano de Manejo de uma Unidade de Conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação” (ICMBIO, 2009). O art. 27 também regulamenta sobre as atividades no entorno das UC’s, prezando a conservação destas áreas:

[...] § 4º “O Plano de Manejo poderá dispor sobre as atividades de liberação planejada e cultivo de organismos geneticamente modificados nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das demais categorias de unidade de conservação, observadas as informações contidas na decisão técnica da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio sobre:

I - o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres;

II - as características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente modificado;

III - o isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus ancestrais diretos e parentes silvestres; e

IV - situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade. (Redação dada pela Lei nº 11.460, de 2007) ” (ICMBIO, 2009, art. 27, § 4º).

A lei do SNUC menciona também os corredores ecológicos, outra medida importante para a conservação de espécies. No capítulo I, parágrafo XIX os conceitua como:

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6 RESOLUÇÃO CONAMA nº 13, de 6 de dezembro de 1990. Publicada no DOU, de 28 de dezembro de 1990, Seção 1, página 25541. Correlação: Revogada pela Resolução nº 428, de 2010.

Corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais (ICMBIO, 2009).

Os corredores ecológicos promovem maior movimentação de espécies entre os fragmentos florestais, permitindo que plantas e animais se dispersem facilmente de uma reserva a outra. Isso facilita “o fluxo de genes e a colonização de espécies” (PRIMACK e RODRIGUES, 2001, p. 231).

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