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Diagnóstico de qualidade ambiental em unidades de conservação: o caso do Parque Estadual Vitório Piassa

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

ALINE BUGONI

DIAGNÓSTICO DE QUALIDADE AMBIENTAL EM UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO: O caso do Parque Estadual Vitório Piassa

DISSERTAÇÃO

PATO BRANCO 2016

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ALINE BUGONI

DIAGNÓSTICO DE QUALIDADE AMBIENTAL EM UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO: O caso do Parque Estadual Vitório Piassa

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Desenvolvimento Regional no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Área de Concentração: Desenvolvimento Regional Sustentável.

Orientador: Dr. Rodrigo Lingnau

Coorientador: Dr. Edival Sebastião Teixeira

PATO BRANCO 2016

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Ficha Catalográfica elaborada por Suélem Belmudes Cardoso CRB9/1630 Biblioteca da UTFPR Campus Pato Branco

B931d Bugoni, Aline.

Diagnóstico de qualidade ambiental em unidades de conservação: o caso do Parque Estadual Vitório Piassa / Aline Bugoni . -- 2016.

124 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Lingnau

Coorientador: Prof. Dr. Edival Sebastião Teixeira

Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. Pato Branco, PR, 2016.

Bibliografia: f. 98 – 114.

1.Áreas de conservação de recursos naturais. 2. Parques. 3. Biodiversidade. 4. Indicadores biológicos. 5. Qualidade ambiental. I. Lingnau, Rodrigo, orient. II. Teixeira, Edival Sebastião, coorient. III.

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. IV. Título.

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TERMO DE APROVAÇÃO Nº 99

Título da Dissertação

“DIAGNÓSTICO DE QUALIDADE AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: o caso do Parque Estadual Vitório Piassa”

Autora Aline Bugoni

Esta dissertação foi apresentada às 14 horas do dia 08 de julho de 2016, como requisito parcial para a obtenção do título de MESTRA EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL – Linha de Pesquisa Ambiente e Sustentabilidade – no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A autora foi arguida pela Banca Examinadora abaixo assinada, a qual, após deliberação, considerou o trabalho aprovado.

Prof. Dr. Rodrigo Lingnau – UTFPR

Presidente Profª Drª Gilza Maria de Souza Franco - UFFS Examinadora

Prof. Dr. Edival Sebastião Teixeira – UTFPR Examinador

Visto da Coordenação

Profª Drª Marlize Rubin Oliveira Coordenadora do PPGDR

O Termo de Aprovação assinado encontra-se na Coordenação do PPGDR.

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Câmpus Pato Branco

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional

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Dedico este trabalho a todos que me fizeram encontrar forças quando eu mais precisei e não me deixaram desistir no meio do caminho.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer não é tarefa fácil, fica sempre a sensação de que não foi o suficiente. São tantas as pessoas que nos ajudam ao longo da caminhada, seja com trabalho, com um ombro amigo, com conselhos, força e encorajamento, apontando nossas capacidades muitas vezes diminuídas por nós mesmos.

A Deus agradeço por ter me mantido em pé apesar de todas as dificuldades, permitindo-me chegar até aqui e também, por Ele ter colocado pessoas especiais ao meu lado, que sempre terão minha admiração e amizade.

Agradeço a você Alcides, por ter me encorajado a largar tudo e fazer o mestrado, tirando de mim os medos de não conseguir, estimulando-me a persistir quando a insegurança era maior que a vontade de vencer. Por ter me acompanhado nas partes tristes, alegres e também engraçadas desta fase. Obrigada por ter passado comigo o carnaval de 2015 fazendo covas na terra dura do parque, em pleno feriado. Por ter resistido à preparação e distribuição das “iscas”, mesmo reclamando um monte do “perfume agradável” que possuíam.

Ao meu orientador Rodrigo Lingnau, pela paciência, disponibilidade, ajudas, preocupações e confiança depositada, elementos essenciais para a conclusão deste trabalho.

Ao meu Coorientador Edival Sebastião Teixeira, por ter usado da psicologia para me mostrar que ninguém é perfeito, todos temos falhas, mas mesmo assim precisamos prosseguir. Sempre vou me lembrar da nossa conversa em sua sala quando eu pensava em desistir do mestrado.

A minha orientadora de graduação em 2012, Malva Medina Hernández, pela ajuda prestada mesmo a quilômetros de distância para com o envio dos besouros à Florianópolis. Ao André por transportá-los até Florianópolis; ao Pedro pela ajuda com a identificação das espécies e análise dos dados; ao Victor por levar alguns besouros para o Fernando Vaz de Mello. Agradeço ao Laboratório de Ecologia Terrestre Animal (LECOTA) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por colaborarem com esta parte importante do trabalho.

Ao professor Jamhour do Laboratório de Entomologia, Zoologia e Apicultura da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), agradeço a confiança e disponibilização do espaço para que eu fizesse toda a triagem, secagem e montagem dos besouros.

À Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), agradeço pela disponibilidade de veículo para acesso ao parque sempre que solicitado.

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Agradeço a minha colega de mestrado e amiga Maisa, por desvendar o EstimateS comigo, a curva de acumulação de espécies e os intermináveis índices automático (risos) e todo o tempo que dedicou a me ajudar durante essa caminhada.

À Letícia, também colega e amiga de mestrado, que em um período inicial muito difícil me disponibilizou de seu tempo e paciência para me ajudar. Agradeço por tudo, pelas palavras de confiança e pelo estímulo.

Agradeço também ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP) pelas autorizações concedidas para que essa pesquisa pudesse ser executada.

Não posso deixar de agradecer também a professora Gilza Maria de Souza Franco pelas valiosas contribuições feitas ao meu trabalho quando da qualificação do mesmo.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida no último ano de mestrado e ao professor Miguel Ângelo Perondi pelo empenho em consegui-la. Que eu possa retribuir em conhecimento o valor investido em mim.

Às senhorinhas queridas moradoras do Parque Estadual Vitório Piassa por suas contribuições na pesquisa.

Enfim, a todos vocês que tanto me ensinaram, o meu muito obrigada!

***

“Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso. ”

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"A mente que se abre para alguma coisa nova, nunca mais será a mesma”. Albert Einstein

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RESUMO

BUGONI, Aline. Diagnóstico de Qualidade Ambiental em Unidades de Conservação: o caso do Parque Estadual Vitório Piassa. 2016. 124 f. Dissertação (Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional), Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2016.

Com o passar do tempo, a humanidade começou a se dar conta dos impactos negativos que o mundo moderno ocasionou ao meio ambiente. O bioma Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade, abrangendo mais de 60% de todas as espécies do planeta. Este bioma cobria cerca de 15% do território brasileiro, restando atualmente apenas 7 % de seus remanescentes florestais totalmente fragmentados. É o bioma que mais sofreu com a modernização e as fortes pressões antrópicas no Brasil. Por conta desta degradação ambiental, na segunda metade do século XIX houve uma mudança de pensamento, dando-se maior ênfase na conservação de algumas paisagens naturais, com a pretensão de afastar o homem da natureza ainda preservada. Baseado nos modelos preservacionistas americanos criou-se as Unidades de Conservação da Natureza. O presente trabalho teve como objetivo analisar a qualidade ambiental do Parque Estadual Vitório Piassa, uma Unidade de Conservação situada no município de Pato Branco - PR. A qualidade ambiental foi avaliada através do uso de bioindicadores de qualidade ambiental bem como foram identificadas algumas pressões socioambientais que o Parque vem sofrendo ao longo dos anos. Besouros da família Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) foram utilizados como os organismos bioindicadores. Para comparar as áreas mais conservadas e as áreas mais degradadas do Parque, foram delimitados três locais específicos dentro do fragmento de Mata Atlântica, onde por meio de armadilhas de quedas (Pitfall) os insetos foram capturados e identificados quanto a suas espécies e gêneros. Foram feitas duas coletas nos meses de fevereiro e março do ano de 2015, o que resultou em 945 indivíduos distribuídos em 22 espécies de nove gêneros diferentes. Em seguida, a população de besouros de cada área foi classificada com base em medidas ecológicas como riqueza de espécies, abundância de indivíduos de cada espécie, por meio de índices de diversidade (Shannon e Simpson) para identificar as diferenças entre os grupos amostrados e equitabilidade (Pielou) para medir a distribuição da abundância total entre as espécies de cada área. Para atender ao objetivo de identificar as pressões socioambientais que ocorrem no PEVP, foram coletadas evidências através de fotografias, observação a campo, imagens aéreas e conversas com a população residente no parque. Do mesmo modo, se fez pertinente tomar por base o projeto em execução pelo município, para a construção de infraestrutura para visitação pública. Estes dados serviram de subsídios para confrontar a situação atual do parque e a legislação brasileira vigente para as UC’s de Proteção Integral, evidenciando os conflitos socioambientais existentes no parque, envolvendo questões políticas e a proximidade da Unidade de Conservação com a área urbana da cidade.

Palavras-chave: Unidades de Conservação. Parques. Biodiversidade. Qualidade Ambiental.

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ABSTRACT

BUGONI, Aline. Environmental Quality diagnosis in protected areas: the case of the State Park Vitório Piassa. 2016. 124 f. Dissertação (Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional), Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2016.

Over time, humanity began to realize the negative impact that the modern world has caused to the environment. The Atlantic Forest is one of the richest biomes in biodiversity, covering more than 60% of all species on the planet. This biome covered about 15% of the Brazilian territory, leaving currently only 7% of its fully fragmented forest remnants. This was the biome that suffered most from modernization and strong anthropogenic pressures in Brazil. For the account of environmental degradation, in the second half of the nineteenth century there was a shift in thinking, giving greater emphasis on conservation of some natural landscapes, with the intention of removing the man still preserved nature. Based on American models of conservation there were created the Nature Conservation Units. This study aimed to analyze the environmental quality of the State Park Vitório Piassa, a Conservation Unit located in the city of Pato Branco - PR. The environmental quality was measured by use of bio-indicators and some environmental pressures that the Park has suffered over the years also were identified. Beetles of the familiy Scarabaeinae (Coleoptera: Scarabaeidae) were used as the bioindicators. To compare the most conserved areas and the most degraded areas of the Park, three specific sites were defined within the Atlantic Forest fragment, these insects were captured with pitfall traps and identified as to their species and genera. There were two collections in February and March 2015, which resulted in 945 individuals in 22 species and nine different genus. Then the population of beetles in each area were classified based on ecological measures such as species richness, abundance of individuals of each species through diversity index (Shannon and Simpson) to identify the differences between the sampled groups and equitability (Pielou) to measure the distribution of the total abundance of the species in each area. To meet the objective of identifying the environmental pressures that occur in PEVP, evidence were collected through photographs, watching the field, aerial images and conversations with the resident population in the park. Similarly, if made relevant to build on the project running by the municipality for the construction of infrastructure for public viewing. These data served as subsidies to confront the current situation of the park and the current Brazilian legislation for UC's of full protection, highlighting the existing socio-environmental conflicts in the park, involving political issues and the proximity of the Conservation Unit with the urban area of the city.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo de vida de um coleóptero da família Scarabaeidae, subfamília Scarabaeinae.

... 31

Figura 2 - Percentual de Unidades de Conservação criadas até o ano de 2015 em cada bioma no Brasil. ... 46

Figura 3 - Localização do Parque Estadual Vitório Piassa, no município de Pato Branco, PR. ... 55

Figura 4 - Vegetação típica do local de coleta 1 (Área 1). ... 60

Figura 5 - Vegetação típica do local de coleta 2 (Área 2). ... 60

Figura 6 - Vegetação típica do local de coleta 3 (Área 3). ... 61

Figura 7 - Distribuição das armadilhas de queda montados em cada área de coleta no Parque Estadual Vitório Piassa. ... 62

Figura 8 - Locais onde foram coletadas as armadilhas do tipo "pit-fall"e coletadas amostras de insetos bioindicadores. ... 62

Figura 9 - Armadilha de queda montada com isca de atração usada para coleta dos besouros escarabeíneos copro-necrófagos. ... 63

Figura 10 - Espécies mais abundantes coletadas no PEVP – Pato Branco – PR. ... 70

Figura 11 - Curva de acumulação de espécies calculada para os Scarabaeinae do Parque Estadual Vitório Piassa, coletados nos meses de fevereiro e março de 2015. ... 73

Figura 12 - Similaridade da comunidade de Scarabaeinae medida pelo índice de Jaccard das três áreas amostradas: áreas 1, 2 e 3. ... 74

Figura 13 - Similaridade da comunidade de Scarabaeinae medida pelo índice de Bray – Curtis das três ... 75

Figura 14 - Áreas adjacentes e internas do PEVP- Pato Branco – PR. ... 78

Figura 15 - Áreas adjacentes e internas do PEVP - Pato Branco – PR. ... 79

Figura 16 - Rio Ligeiro e lixos encontrados em diversos pontos do PEVP - Pato Branco - PR. ... 80

Figura 17 - Delimitações do Parque Estadual Vitório Piassa Pato Branco – PR e áreas do entorno. ... 81

Figura 18 - Casa das três senhoras que habitam na área do Parque Estadual Vitório Piassa – Pato Branco – PR. ... 82

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Figura 19 - Futuras instalações do Parque Estadual Vitório Piassa de acordo com projeto apresentado pela Prefeitura Municipal de Pato Branco – PR. Denominado “Parque Ambiental Vitório Piassa – Pato Branco – Paraná”. ... 83

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de Unidades de Conservação conforme plano de manejo e área de abrangência em km² no Brasil. ... 45 Tabela 2 - Lista de espécies de besouros copro-necrófagos da subfamília Scarabaeinae coletados no PEVP – Pato Branco - PR e abundância de indivíduos por mês de coleta (fevereiro) e (março) de 2015. ... 69 Tabela 3 - Espécies de besouros da subfamília Scarabaeinae que apresentaram mais de 10 indivíduos coletados no PEVP - PR durante o ano de 2015 em armadilhas de fezes e de carne em decomposição e sua classificação em relação à preferência alimentar. ... 70 Tabela 4 - Besouros copro-necrófagos da subfamília Scarabaeinae coletados em Pato Branco - PR e abundância de indivíduos em três ambientes de coleta dentro do Parque Estadual Vitório Piassa nos meses de fevereiro e março de 2015. ... 71 Tabela 5 - Medidas ecológicas da comunidade de Scarabaeinae nos locais de coleta 1, 2 e 3 do Parque Estadual Vitório Piassa. ... 72

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

APA Área de Proteção Ambiental APPS Áreas de Preservação Permanente CDB Convenção de Diversidade Biológica CFB Clima Mesotérmico Superúmido

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNUC Cadastro Nacional de Unidades de Conservação

CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente CONABIO Comissão Nacional da Biodiversidade

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CONTRAN Conselho Nacional de Trânsito

CTB Código de Trânsito Brasileiro

CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança DIBAP Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas EIA Estudo de Impacto Ambiental

EUA Estados Unidos da América IAP Instituto Ambiental do Paraná

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDH Índice de Desenvolvimento Humano

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza OGM Organismo Geneticamente Modificado

ONU Organização das Nações Unidas PEVP Parque Estadual Vitório Piassa

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente RIMA Relatório de Impacto Ambiental

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

SISBIO Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16

CAPÍTULO 1 ... 21

MATA ATLÂNTICA E BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL ... 21

1.1 MATA ATLÂNTICA E SEU STATUS ATUAL DE CONSERVAÇÃO ... 21

1.2 BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL ... 27

CAPÍTULO 2 ... 33

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E CONFLITOS AMBIENTAIS... 33

2.1 CRIAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS: COMO TUDO COMEÇOU. ... 33

2.2 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ... 39

2.2.1 Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC ... 40

2.2.2 A situação atual ... 44

2.3 CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS ... 47

2.4 A PRESENÇA HUMANA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ... 48

CAPÍTULO 3 ... 55

MATERIAIS E MÉTODOS: OS PROCEDIMENTOS DA PESQUISA... 55

3.1 ÁREA DE ESTUDO ... 55

3.2 BREVE HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO SUDOESTE DO PARANÁ E ATUAL ÁREA DE ESTUDO ... 56

3.3 DESCRIÇÃO DAS FASES DA PESQUISA ... 58

3.4 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 59

3.5 ANÁLISE DE DADOS ... 64

3.5.1 Medidas ecológicas ... 64

3.5.2 Comparação entre áreas de coleta ... 65

3.5.3 Análise das pressões socioambientais ... 65

CAPÍTULO 4 ... 68

BIONDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL E PRESSÕES SOCIOAMBIENTAIS NO PARQUE ESTADUAL VITÓRIO PIASSA ... 68

4.1 MEDIDAS ECOLÓGICAS ... 68

4.2 COMPARAÇÃO ENTRE ÁREAS DE COLETA ... 71

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4.3 DISCUSSÃO ... 83

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 95

REFERÊNCIAS ... 98

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INTRODUÇÃO

Myers et al. (2000), conceituaram como hotspots, as áreas com maior importância na biodiversidade mundial. Estas áreas foram assim determinadas levando-se em consideração o fato destas possuírem grande diversidade de espécies endêmicas e que, atualmente, vêm sofrendo uma grande perda de espécies, ocasionada principalmente pelo uso indevido de seus recursos naturais pela humanidade (MYERS et al., 2000; TABARELLI et al., 2005; LAGOS e MULLER, 2007).

O Brasil é um país com grande riqueza de espécies de fauna e flora. O bioma Mata Atlântica, em especial, é considerado um centro de biodiversidade1 e um dos 25 hotspots,

estando dentre os mais ameaçados do planeta, encontrando-se, desta forma, atualmente sob forte pressão antrópica (SOS MATA ATLÂNTICA, 2014; TABARELLI et al., 2005). Por isso, esse bioma é uma das áreas prioritárias para conservação (MYERS et al., 2000).

Originalmente, este bioma se estendia por uma área de 1.350.000 km² (PINTO et al., 2006) ou aproximadamente 15% do território brasileiro estando presente em 17 estados, além de partes da Argentina e Paraguai (SOS MATA ATLÂNTICA, 2014, LAGOS e MULLER, 2007, VARJABEDIAN, 2010). O bioma Mata Atlântica abriga 70% de toda a população brasileira, fato este que o coloca como o bioma mais ameaçado do Brasil. Atualmente restam apenas 7% de seus remanescentes florestais (PRIMACK e RODRIGUES, 2001; KAGEYAMA e GANDARA, 2006; VARJABEDIAN, 2010).

Apesar do alto nível de fragmentação em que se encontra a Mata Atlântica, este ainda é um dos biomas de maior biodiversidade da Terra contendo mais de 60% de todas as espécies terrestres do planeta (LAGOS e MULLER, 2007). Atualmente são conhecidas para a Mata Atlântica mais de 20 mil espécies de plantas, sendo 8 mil endêmicas (PINTO et al., 2006; VARJABEDIAN, 2010).

A devastação da Mata Atlântica teve seu início logo após o descobrimento do Brasil iniciando-se com a extração do pau-brasil. Não obstante, a maior degradação se deu no século XIX com o aumento de áreas para agricultura e pecuária (LAGOS e MULLER, 2007; CABRAL e CESCO, 2008). Desde então a degradação continua, principalmente por conta do aumento da

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1 Variedade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo animais, plantas e microorganismos. Bio (= vida) diversidade (= variedade), (ICMBio, 2013).

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população, da industrialização e da expansão urbana, fatores estes que implicam em desmatamento e poluição de águas (PRIMACK e RODRIGUES, 2001).

Primack e Rodrigues (2001, p. 82) consideram como as maiores ameaças à diversidade biológica causada pela atividade humana, a “destruição, fragmentação, degradação do habitat (incluindo poluição), superexploração das espécies para uso humano, introdução de espécies exóticas e o aumento de ocorrência de doenças”.

A implantação de espécies florestais exóticas, como eucalipto e pinus para a produção de lenha, papel, carvão entre outros, também afetou e afeta drasticamente este bioma (DI BITETTI et al., 2003; SOS MATA ATLÂNTICA, 2015). De acordo com Bacha e Barros (2004), no ano 2000 o Brasil se tornou o sexto país em área ocupada por monoculturas de espécies exóticas em especial, pinus e eucalipto, chegando a 5 milhões de hectares cultivados.

Sampaio e Schmidt (2013, p. 32), asseveram que as “invasões biológicas estão entre as principais causas de perda de biodiversidade” e que este problema se estende até mesmo em áreas protegidas, ocasionando alteração na composição das espécies, nos processos dentro dos ecossistemas e em casos mais graves, a extinção de espécies. Isso acontece pelo fato de que as espécies exóticas invasoras possuem maior vantagem na competição por espaço perante as espécies nativas dentro dos ecossistemas.

Entretanto, a principal causa da perda de biodiversidade desse bioma é a fragmentação florestal, que leva ao efeito de borda2, que altera os fatores ambientais através do aumento da incidência de luz em locais anteriormente cobertos por vegetação, diminuição da umidade e aumento da temperatura do ar e do solo, aumento dos ventos, causando a derrubada de árvores dentro do fragmento que antes eram protegidas (LOUZADA et al., 2001). A fragmentação de habitats leva “à perda de espécies nas comunidades biológicas” e por esse motivo, é considerada “uma das maiores ameaças à biodiversidade” (PAGLIA et al., 2006, p. 281). Este problema tem como causa principal a intervenção humana nestes ambientes (CARVALHO, et al., 2004; OLIFIERS e SIQUEIRA, 2006).

Tendo em vista a constante devastação, tornam-se necessárias medidas para diminuir os impactos causados pela fragmentação florestal nesse bioma. Uma forma de minimizar esses impactos e preservar os ambientes naturais é a criação de Unidades de Conservação (UC’s). Essas unidades de acordo com o Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, art.

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2 Efeito de borda pode ser entendido como uma alteração que acontece na estrutura, na composição e na abundância de espécies da parte que circunda um fragmento florestal.

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7º, se dividem em dois grupos: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável (SNUC, 2006).

Nas Unidades de Proteção Integral permite-se apenas o uso indireto de seus recursos naturais através da pesquisa científica e do turismo ecológico. Por sua vez, as Unidades de Uso Sustentável admitem a presença de moradores em seu interior conciliando a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais (SNUC, 2006).

Assim, as UC’s, de acordo com a forma de manejo, contribuem para o sistema de suporte de vida silvestre, para a preservação da diversidade genética e para a utilização sustentável dos recursos naturais, para a recreação e turismo. Podem, ainda, promover a ligação entre ecossistemas naturais por meio de corredores ecológicos, criando uma rede de áreas conservadas em vez de um mosaico de fragmentos e matrizes, diminuindo os efeitos da fragmentação (MORSELO, 2001; MMA, 2014).

Segundo Bensusan (2006, p. 13), a ideia de preservação é antiga, mas foi apenas na “segunda metade do século XIX que surgiu a ideia de definir espaços para a conservação das paisagens naturais [...]”.

O primeiro parque criado no mundo foi o Parque Nacional de Yellowstone, no ano de 1872. Nos seus documentos de criação, o Congresso dos Estados Unidos determinou que nos locais escolhidos para a criação de parques fosse proibida a habitação, a colonização e a venda (BENSUSAN, 2006). Segundo Vianna (2008, p. 145), “A criação do Parque Nacional de

Yellowstone em 1872 visava principalmente resguardar para as gerações futuras paisagens

naturais consideradas intactas”.

A partir do modelo do Yellowstone, os parques foram sendo criados pelo mundo todo. Contudo, sem que fossem levadas em conta as diferenças culturais e contextuais. Em

Yellowstone, o homem só poderia permanecer como visitante, jamais como um morador

(DIEGUES, 2001; BENSUSAN, 2006; VIANNA, 2008), pois se acreditava no “mito da natureza intocada” (DIEGUES, 2001), e que a presença do homem neste local seria drasticamente prejudicial. Assim, houve um “extermínio quase total das populações indígenas” [...] (VALLEJO, 2009, p. 03) que residiam nestas áreas. No Brasil, as formas de criação e administração dos parques seguem o modelo americano, restringindo ao extremo a presença humana, afetando da mesma forma as populações ditas tradicionais, (extrativistas, pescadores e índios) (ARRUDA, 1999; BRITO, 2008).

A construção destes ambientes protegidos como instrumento de preservação da biodiversidade é bem aceita como um meio indutor ao desenvolvimento sustentável. Isso vem sendo resultado dos vários congressos internacionais onde se discutem sobre o desenvolvimento

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sustentável como, por exemplo, o “Relatório de Brundtland” em 1987, a Rio - 92 e a Convenção de Diversidade Biológica – CDB (BENVINDO, 2009).

No Brasil, o primeiro idealizador da cultura de construções de parques foi André Rebouças, que, baseado, nos princípios do parque americano, trouxe a ideia ao país. O primeiro parque a ser construído foi o Parque Itatiaia no Rio de Janeiro no ano de 1937. Em 1939, o Paraná teve a criação do Parque Nacional do Iguaçu e, desde então, o Brasil vem se destacando mundialmente na criação de novas áreas protegidas (RYLANDS e BRANDON, 2005).

Os parques são, portanto, a categoria mais antiga de Unidades de Conservação. Essas UC’s têm como objetivo preservar os ecossistemas de grande relevância ecológica e beleza cênica, permitindo a realização de pesquisas científicas, atividades educacionais, recreação e turismo ecológico (ICMBio, 2015). No Brasil, o manejo dos parques nacionais é feito pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio. Já o manejo dos parques estaduais e municipais é feito por órgãos estaduais e municipais de meio ambiente. No Paraná o órgão estadual competente é o Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

Seguindo-se a criação de uma Unidade de Conservação, é necessária a elaboração de um plano de manejo. Este documento deve ser elaborado dentro de um prazo máximo de cinco anos contados a partir da data de criação da UC (HENRY-SILVA, 2005; SNUC, 2006; MMA, 2015).

Para a criação do plano de manejo de uma UC, levam-se em consideração os elementos que compõem tal espaço, bem como a interpretação da interação destes elementos entre si. Atenta-se ao uso que o homem faz deste espaço, analisando os impactos atuais e futuros, como forma de encontrar meios conciliadores de uso sustentável de acordo com a criação de cada categoria de Unidade de Conservação. Para tanto, o plano de manejo compreende um conjunto de ações necessárias para a gestão e o uso sustentável dos recursos naturais e conservação da biodiversidade, tanto no interior como no entorno destas áreas (ICMBio, 2015).

Nesse contexto podemos então situar o Parque Estadual Vitório Piassa, o qual foi criado no dia 30 de julho de 2009, através do Decreto 5169 assinado pelo governador do Estado do Paraná em exercício na época, Roberto Requião. Este Parque está situado no município de Pato Branco, sudoeste do estado do Paraná e abrange uma área de 107,23 hectares, tratando-se de um pequeno fragmento florestal remanescente do Bioma Mata Atlântica, situado próximo ao centro urbano da cidade e totalmente circundado por áreas altamente antropizadas. Essa UC é circundada pela bacia hidrográfica do Rio Ligeiro, rio que atravessa toda a cidade de Pato Branco. Na área que corresponderia à zona de amortecimento, estão instaladas famílias,

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indústrias, lavouras e a Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR mantém uma estação de tratamento do esgoto.

Considerando a legislação brasileira vigente, o SNUC em seu artigo 22, § 2º que trata da criação das UC’s e a exigência de estudos técnicos para a localização, dimensão e limites adequados para uma unidade (ICMBio, 2009), causa estranheza a criação de um Parque Estadual praticamente no centro de uma cidade, como é o caso do Parque Estadual Vitório Piassa. Assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral analisar a qualidade ambiental do “Parque Estadual Vitório Piassa3” sob uma perspectiva socioambiental.

Os objetivos específicos foram: 1) Identificar os bioindicadores de qualidade ambiental coletados no Parque Estadual Vitório Piassa, e calcular os índices de diversidade de espécies e a similaridade entre as áreas de coleta; 2) Identificar pressões socioambientais sobre o Parque Estadual Vitório Piassa e analisá-las à luz da legislação.

Justifica-se a realização desta pesquisa tendo em vista que a mesma possui relevância social e científica para a população patobranquense, por aportar elementos importantes para a elaboração do plano de manejo do Parque, bem como demonstrar a importância das Unidades de Conservação na manutenção da biodiversidade.

Desta forma, a presente dissertação está estruturada em quatro capítulos. O capítulo 1 discute conceitos importantes para a pesquisa começando pela situação atual do bioma Mata Atlântica e a necessidade de preservação deste bioma. O capítulo ainda aborda sobre o uso dos insetos como bioindicadores de Qualidade Ambiental e sua importância nos ecossistemas. Apresenta quem são estes bioindicadores de qualidade ambiental e quais suas funções no ambiente. O capítulo 2 discorre sobre as Unidades de Conservação, seus conceitos, categorias e criação dos Parques. Inclina-se sobre a Legislação brasileira, os conflitos socioambientais em decorrência da presença humana nas UC’s. Já o capítulo 3, intitulado materiais e métodos, revela a metodologia aplicada para cada análise feita durante a pesquisa e coleta de dados bem como a apresentação da área de estudo. No capítulo 4, discutem-se os resultados obtidos através das coletas dos bioindicadores de qualidade ambiental e as pressões socioambientais encontradas no Parque Estadual Vitório Piassa. Por fim, traz algumas considerações importantes para a região onde esta Unidade de Conservação está inserida.

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3 As aspas estão sendo utilizadas na denominação do Parque Estadual Vitório Piassa tendo em vista o fato de a criação do mesmo ter sido feita de modo que afronta toda a lógica e toda a legislação vigente.

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CAPÍTULO 1

MATA ATLÂNTICA E BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL

O presente capítulo tem a finalidade de apresentar elementos teóricos importantes para a pesquisa. O texto está dividido em dois tópicos. O primeiro aborda sobre o bioma Mata Atlântica e os problemas que este bioma vem enfrentando, por conta das ações antrópicas insustentáveis, que levam à fragmentação e consequente perda de espécies ao longo dos anos. Nessa vereda, traz ainda algumas informações referentes à situação atual do bioma Mata Atlântica. Já o segundo tópico, trata de bioindicadores de qualidade ambiental, sua importância nos ecossistemas, hábitos alimentares, ciclo de vida e alguns exemplos de pesquisas envolvendo insetos bioindicadores para o monitoramento de espécies em determinados ecossistemas.

1.1 MATA ATLÂNTICA E SEU STATUS ATUAL DE CONSERVAÇÃO

Em 1988 Norman Myers através de seus estudos, analisou as plantas pelo mundo para saber se alguma área do planeta possuía um número maior de espécies do que outras. Desta forma, Myers descobriu que a maioria das espécies estava localizada em algumas áreas dispersas pelo globo. Fato este que fez com que definisse os locais primordiais para a conservação. Então descobriu que as áreas mais ricas em espécies, são também as que sofrem maior degradação em seu habitat. Assim, Myers denominou estas áreas como hotspots (JENKINS e PIMM, 2006).

De acordo com Oliveira et al. (2008), hotspots são pontos quentes, e se caracterizam por abrigarem a maior diversidade de espécies endêmicas4, que estão sendo fortemente afetadas devido a exploração desordenada de seus recursos naturais, por meio da espécie humana. Os critérios analisados para determinar um hotspot, exigem que a área apresente espécies endêmicas, compreendendo pelo menos 0,5% de todas as espécies do mundo. Devem-se analisar questões-chave da espécie/área e a semelhança entre os táxons (MYERS et al., 2000). ──────────

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Estes estudos classificaram 25 áreas prioritárias para conservação. Myers et al., (2000), expõe que estes 25 hotspots são compostos por diversos tipos de habitats em escala global, mas principalmente, são formados por florestas tropicais, que estão presentes em pelo menos 15 destes hotspots. Nove, são basicamente cobertos por ilhas, quase todas tropicais distribuídos em diversos pontos de acesso. Dezesseis destes pontos estão localizados nos trópicos, que representam grande parte dos países em desenvolvimento, onde os recursos para conservação são escassos e as ameaças são maiores. Desta forma, nota-se que algumas áreas são mais ricas em endemismos, como os Andes Tropicais e Madagascar. No Brasil, a Mata Atlântica foi eleita por sua riqueza de espécies sendo, portanto, considerada um dos hotspots mundiais de conservação (MYERS et al., 2000).

A Mata Atlântica “é a segunda maior floresta pluvial tropical do continente americano” (TABARELLI et al., 2005, p. 133). Ela abriga os maiores nichos urbanos, bem como os maiores pólos industriais do país (CONAMA, 1999). É uma das regiões mais ricas do mundo em diversidade de espécies, tendo importância vital para aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, e onde são gerados aproximadamente 80% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, prestando importantíssimos serviços ambientais (GUIMARÃES, 2005; LAGOS e MULLER, 2007; MMA, 2014). Estima-se que este bioma abriga mais de 8.000 espécies endêmicas de plantas vasculares, mamíferos, répteis, anfíbios e aves (MYERS et al., 2000). As formações florestais da Mata Atlântica são formadas basicamente por quatro grupos fitofisionômicos principais: as Florestas Ombrófilas Densas; as Florestas Estacionais Semideciduais e Deciduais; as Florestas Ombrófilas Mistas e as Florestas Ombrófilas Abertas (CONAMA, 1999).

No entanto, este é também o bioma que mais sofre destruição (MORELLATO e HADDAD, 2000). Primack e Rodrigues (2001) advertem que a cada ano são perdidos 180.000 km² de floresta tropical. 80.000 km ² são destruídos totalmente e 100.000 km² degradados de tal maneira que modificam os ecossistemas, afetando a composição das espécies. A destruição do bioma Mata Atlântica intensificou-se no Século XIX, com a queima das florestas para o plantio de café. Com a comercialização do café, houve também um aumento no “crescimento demográfico, a urbanização, a industrialização e a implantação de ferrovias” (DEAN, 1996, p. 206). Consequentemente, cresceu a necessidade de lenha, carvão, além do aumento das áreas agrícolas e pecuárias para a produção de alimento que aumentava abruptamente devido a superpopulação do planeta (DEAN, 1996).

Esta destruição, associada principalmente à ocupação territorial e a exploração descontrolada dos recursos naturais, foi a geradora dos sucessivos impactos que este bioma vem

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sofrendo. Fatores como o aumento da população, o crescimento dos centros urbanos, a industrialização, a agricultura e pecuária, fazem com que este bioma seja drasticamente reduzido e dominado pelo homem (PINTO et al., 2006). De acordo com Dean (1996), entre 1900 e 1950, a população do Sudeste, incluindo a floresta latifoliada do Paraná, teve um crescimento de 7 milhões para 22 milhões de pessoas, o que fez com que restassem apenas pedaços dispersos do que era a vegetação original. O crescimento da população humana em massa no bioma Mata Atlântica, acelerou o processo de destruição florestal. A agricultura fazia uso de sistemas agressivos, como o fogo, onde era queimada a floresta primária e em seguida, fazia-se uso destas áreas para pastagem do gado e agricultura.

Contudo, o dado mais agravante dentre todos, é que a maioria das espécies ameaçadas de extinção no Brasil vive no bioma Mata Atlântica (TABARELLI et al., 2005). Myers et al., (2000, p. 855) demonstraram em um de seus estudos intitulado “Biodiversity hotspots for

conservation priorities”, que a região tropical dos Andes, o Sudeste da Ásia, a ilha de

Madagascar, a Floresta Atlântica do Brasil e do Caribe contém pelo menos 2% do total de plantas endêmicas do mundo. Juntos, eles compõem 20% e 16%, respectivamente, de todas as plantas e vertebrados, e 45% de todas as plantas e vertebrados endêmicos dos hotspots, entretanto, eles compreendem apenas 0,4% da superfície terrestre do planeta. Simultaneamente, são identificados os habitats mais empobrecidos, constatando que o Caribe possui 11,3% de sua vegetação primária, Madagascar 9,9%, o Sudeste da Ásia 7,8% e o bioma Mata Atlântica do Brasil, apenas 7,5% de sua vegetação original. Alguns autores, atualmente, consideram um percentual de apenas 7% (PRIMACK e RODRIGUES, 2001; GUIMARÃES, 2005; TABARELLI et al., 2005; VARJABEDIAN, 2010). De acordo com Primack e Rodrigues (2001), muitas espécies foram quase exterminadas por conta das atividades humanas, restando apenas um número muito pequeno de algumas espécies ameaçadas de extinção.

Fonseca (1985), também aborda sobre a exploração da Mata Atlântica. O autor considera que a exploração desse bioma teve seu início no período da Primeira Guerra Mundial, quando a Europa esteve impossibilitada de comercializar madeira de pinho-de-riga5 (Pinus

sylvestris), na Letônia. Isso fez com que se iniciasse no Brasil a exploração do pinheiro Araucaria angustifolia. Acrescenta ainda, que entre 1915 a 1960, o Brasil exportou mais de

dezoito milhões de m³ de madeira, oriunda principalmente da Mata Atlântica.

Segundo dados divulgados no Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que foi elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas ──────────

5 Pinho-de-riga é uma árvore conífera, nativa das florestas temperadas da América do Norte, Europa e Ásia. Fonte: < http://www.dicionarioinformal.com.br/abeto/>.

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Espaciais (INPE), entre 2012 e 2013 a Mata Atlântica perdeu 23,9 mil hectares de floresta, um aumento de 9%, comparado com o período anterior (2011 e 2012), quando foram registrados 21,9 mil hectares de desmate. Essa constituiu a maior perda de cobertura florestal desde 2008 (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA e INPE, 2014).

Este processo de destruição do bioma Mata Atlântica causa alterações nos seus ecossistemas principalmente pela perda e fragmentação de habitats, resultando no aparecimento do efeito de borda e extinção de espécies (PINTO et al., 2006; TABARELLI et al. 2005). O processo de fragmentação de habitats é considerado uma das principais ameaças que resultam em perda da biodiversidade (PIRES et al., 2006).

Pinto et al. (2006, p. 94) ressaltam que “[...] a fragmentação da paisagem natural afeta a quantidade e a qualidade do habitat disponível e, consequentemente, a sobrevivência de espécies, especialmente as endêmicas e ameaçadas de extinção”. No que tange as espécies ameaçadas de extinção, o fato de algumas espécies serem encontradas apenas um exemplar dentro de um fragmento, coloca estas espécies na lista da fauna ou flora brasileira de ameaças de extinção. Assim, fica evidente que a melhor forma de proteção da diversidade, é a proteção dos habitats (PRIMACK e RODRIGUES, 2001).

Outra consequência da fragmentação é o efeito de borda (PIRES et al.,2006). Pelo fato de se formarem fragmentos separados uns dos outros, ocorrem diferenças no microclima do interior e da borda do fragmento. Essas mudanças podem ser notadas em até 500 metros para dentro do fragmento. O efeito de borda se dá pelo aumento da luminosidade, da temperatura (tanto do solo quanto do ar), pela diminuição da umidade e maior incidência de ventos que adentram os fragmentos florestais (PRIMACK e RODRIGUES, 2001; OLIFIERS e CERQUEIRA, 2006). O fato de algumas espécies serem adaptadas a certa temperatura ou luminosidade faz com que muitas espécies se extingam, por não se adaptarem ao novo ambiente formado, por conta das mudanças destes fatores no fragmento. A característica de algumas espécies evitarem a borda torna-as ainda mais suscetíveis à extinção (PRIMACK e RODRIGUES, 2001; PIRES et al., 2006).

A perda de habitat causada pela fragmentação, pode também eliminar definitivamente uma espécie se esta for rara ou estiver isolada em alguns fragmentos separados entre si. Este fenômeno acontece quando indivíduos de uma mesma família se mantêm isolados em fragmentos, sem contato frequente com outras espécies. Esse modelo estrutural causa o aumento dos endocruzamentos e leva a formação de uma metapopulação. As metapopulações ocorrem quando um conjunto de populações se reproduzem localmente formando assim subpopulações. Essas subpopulações, ocasionalmente migram entre si e recolonizam as

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manchas vazias oriundas de extinções ocorridas em habitats próximos (OLIFERS e CIQUEIRA, 2006; PAGLIA et al. (2006); PIRES et al. (2006). “Quanto maior o grau de isolamento de um fragmento de habitat favorável, menor é a probabilidade de ocorrer dispersão de indivíduos envolvendo aquele fragmento” (OLIFERS e CERQUEIRA, 2006, p. 272). A perda de habitats e o isolamento dos fragmentos diminuem o fluxo de genes, culminando na extinção de espécies.

A fragmentação de habitats também ameaça as espécies em longo prazo. No começo, a fragmentação pode reduzir a capacidade de dispersão e colonização de uma determinada espécie. Pelo perigo de predação, muitas espécies não atravessam nem mesmo faixas pequenas de ambientes abertos, fazendo com que algumas áreas não sejam recolonizadas depois da extinção da população original. Consequentemente, a dispersão de sementes também será afetada, ocasionando a extinção de plantas com frutos ou sementes. Por conseguinte, animais que se alimentam desses frutos também passarão a sofrer pela falta de alimento, ocasionando um “efeito em cascata” dentro dos ecossistemas. Portanto, a extinção de uma espécie leva a extinção de outra automaticamente (PRIMACK e RODRIGUES, 2001; SOFIA e SUZUKI, 2004).

Os “efeitos em cascata” estão relacionados tanto à extinção de espécies quanto a invasão de espécies exóticas, que alteram a diversidade de um ecossistema (PIRES et al., 2006). Segundo Ziller (2006), espécies exóticas invasoras são aquelas encontradas em locais distintos dos seus ambientes naturais até então conhecidos. De acordo com a autora, as espécies exóticas invasoras são consideradas a segunda maior ameaça à biodiversidade. Estas se espalham pelos ambientes por dispersão acidental ou intencionalmente por meio de atividades humanas. Espécies exóticas não necessariamente serão danosas ao ambiente, no entanto, uma vez introduzidas adaptam-se facilmente e reproduzem-se de maneira capaz de substituir espécies nativas, modificar os padrões ecológicos nos ecossistemas, predominando no local após um período de adaptação.

Primack e Rodrigues (2001) esclarecem que a grande maioria das espécies exóticas não se estabelecem nos locais em que são introduzidas, pelo fato do ambiente não apresentar as características necessárias de determinada espécie, porém, uma porcentagem de espécies consegue se instalar neste novo ambiente e passam a competir com espécies nativas através de competição por restrição de recursos.

ZILLER (2001) assegura que alguns ambientes são mais suscetíveis às invasões biológicas do que outros. Algumas hipóteses relacionadas a esta predisposição são consideradas como: ecossistemas que apresentam menor diversidade e riqueza natural; espécies invasoras

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livres de competidores, predadores e parasitas presentes em suas áreas naturais; elevado grau de perturbação de um ecossistema. Estes fatores aumentam o potencial de dispersão e estabelecimento de espécies exóticas, especialmente quando há redução da diversidade natural de um ecossistema por exploração excessiva e extinção de espécies.

Ainda de acordo com a autora acima citada, Ziller (2001) assegura que do mesmo modo existem espécies com características que elevam o grau de adaptação e invasão destas em determinados ambientes, como: plantas com produção de sementes pequenas e em grande quantidade, de fácil dispersão, longa duração de vida no solo, crescimento rápido, maturação precoce, reprodução por brotação, floração e frutificação mais longas, adaptação em áreas degradadas, eficiência reprodutiva, liberação de toxinas capazes de impedir o crescimento de outras plantas em suas imediações.

Ziller (2006) afirma que os estudos sobre as espécies invasoras surgiram de fato no Brasil a partir do ano 2003. Esta preocupação surgiu por conta de algumas espécies exóticas terem causado problemas às atividades humanas pelo Brasil. Dentre as espécies que mais causaram problemas destacam-se o mexilhão-dourado (Limnoperma fortunei) e o caramujo-gigante-africano (Achatina fulica).

Com a extinção de espécies nativas nos fragmentos florestais, ocorre maior probabilidade de incidência de espécies exóticas, que se adaptam facilmente no ambiente degradado. “Estas plantas competem por luz, água e nutrientes e por vezes produzem toxinas que inibem o crescimento de outras espécies [...]” (ZILLER, 2006, p. 42). De acordo com Primack e Rodrigues (2001, p. 123), “os efeitos das espécies exóticas são geralmente maiores em locais que já sofreram perturbações decorrentes da ação do homem”. A intervenção humana cria condições diferentes das naturais, seja pela escassez de nutrientes no solo, resultante de queimadas e erosões, as quais tornam o ambiente mais adaptado para espécies exóticas do que para as espécies nativas.

Ziller (2001), adverte que as mesmas espécies exóticas são invasoras em diversos países, podendo causar uma homogeneização na flora mundial. Os fragmentos isolados são mais propícios a tal homogeneização pelo fato de causarem perda de diversidade em locais com grande número de espécies endêmicas. No Brasil, as espécies de plantas invasoras mais conhecidas e bem aclimatadas são, “Pinus elliottii, Pinus taeda, Casuarina equisetifolia” mais ao litoral, “[...] Melia azedarach cinamomo, Tecoma stans amarelinho, Hovenia dulcis uva-do-japão, Cassia mangium, Eriobotrya japonica nêspera, Cotoneaster sp. e Ligustrum japonicum alfeneiro” (ZILLER ,2001, p. 5). O gênero Bracchiaria, foi amplamente introduzido para uso nas pastagens no país. Algumas espécies de gramíneas como Eragrostis spp. capim-anoni, estão

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colocando em risco até mesmo os sistemas de produção de gado no modelo de pecuária sustentável, pela perda de vegetação nos campos naturais e uso de herbicidas para controle das espécies invasoras. “O mesmo capim é encontrado nos campos naturais dos estados de Santa Catarina e Paraná” (ZILLER, 2001, p. 6).

Primack e Rodrigues (2001), esclarecem que o problema não é só o processo de fragmentação, mas que as atividades humanas podem criar condições ambientais diferentes dos habituais por conta da superexploração dos recursos naturais, prejudicando assim os ambientes. Portanto, espécies também correm o risco de extinção pela prática de criação de gados em florestas, poluição ambiental por pesticidas, produtos químicos, esgoto liberado por indústrias e sociedade em geral, emissão de fábricas, veículos e erosões, contaminado o ar, a água e comprometendo até mesmo a qualidade do clima global.

1.2 BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL

A conservação dos ecossistemas é o elemento primordial para a manutenção da biodiversidade. Quando as características básicas de um ecossistema são alteradas, muitas das espécies presentes neste ambiente não serão capazes de se adaptarem as novas condições ambientais impostas, deixando de integrar este ecossistema, alterando toda a cadeia alimentar necessária para a sobrevivência das espécies (WINK et al., 2005).

As formas inadequadas de uso dos recursos naturais pelo homem têm ocasionado a extinção de várias espécies de animais e plantas, algumas ainda nem mesmos identificadas (ALMEIDA e LOUZADA, 2009). Nas florestas tropicais, a extinção de espécies é relativamente alta, principalmente, pelo fato das espécies serem representadas por um número pequeno de indivíduos e por participarem de interações ecológicas restritas e complexas com outras espécies (THOMAZINI e THOMAZINI, 2000). Por este motivo, mesmo que algumas espécies sobrevivam em pequenos fragmentos isolados de vegetação, ocorrem algumas alterações nas interações entre as espécies no interior destes ecossistemas, ocasionando a redução da biodiversidade (HALFFTER e ARELLANO, 2002, SPECTOR e AYZAMA, 2003). De acordo com Klein (1989), a extinção de algumas espécies de vertebrados em fragmentos florestais ocasiona um efeito em cascata nos ecossistemas, interferindo em outras comunidades de animais, bem como nos processos ecológicos que estes indivíduos desempenham, como a dispersão secundária de sementes e a decomposição de excrementos. Os

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efeitos da fragmentação e dos impactos ambientais causados pela intervenção humana nos ecossistemas, pode ser feita através da análise dos indivíduos presentes nestes ambientes (THOMAZINI e THOMAZINI, 2000; FREITAS et al., 2006; AUDINO et al., 2007). Estes indivíduos são chamados indicadores biológicos ou bioindicadores, pois permitem avaliar alguns aspectos estruturais dos ecossistemas, através de alterações na abundância, na diversidade e na composição do grupo de indicadores, medindo assim a perturbação do ambiente (BROWN, 1997). Portanto, é primordial que estes indicadores biológicos, sejam indivíduos sensíveis aos efeitos das alterações nos ecossistemas. El-Deir e Neumann (2009) defendem que existem três circunstâncias principais para o uso dos bioindicadores no monitoramento de áreas ambientais: onde haja indícios de que espécies nativas estão sendo ameaçadas; quando há consequências para a saúde humana pelo consumo de organismos potencialmente contaminados; e quando existe a necessidade de análise da qualidade ambiental.

Os insetos, por serem sensíveis a quase todos os tipos de alterações no ambiente, são considerados os melhores indicadores de alterações em habitas ou em comunidades de espécies que habitam um mesmo ecossistema (FREITAS et al., 2006). McGeoch (1998) destaca que os estudos com bioindicadores, tiveram seu início em ambientes aquáticos, evoluindo para a bioindicação em ambientes terrestres a partir da década de 1980. De acordo com esta autora, os bioindicadores se dividem em três categorias diferentes: os indicadores ambientais, os indicadores ecológicos e os indicadores de biodiversidade.

McGeoch (1998) define um indicador ambiental por uma espécie ou grupo de espécies, que respondem de maneira precisa, possibilitando observar e medir a perturbação ambiental ou uma alteração no ambiente. Os indicadores ecológicos são usados frequentemente para verificar os efeitos das mudanças ambientais, tais como alterações, fragmentação de habitats e mudanças climáticas em sistemas bióticos, em vez de funcionar apenas como indicador de mudanças no ambiente. Estes indivíduos determinam a condição do habitat, comunidade ou ecossistema, pois, são sensíveis ao estresse ambiental, e, portanto, demonstram o efeito que esse estresse causa na biota. As respostas obtidas através dos indicadores ecológicos como tamanho da população e alterações nas distribuições espaciais, são essenciais para a conservação ou ainda, para identificar perigos iminentes para a conservação. Já os indicadores de biodiversidade se caracterizam por um grupo de espécies, ordem ou família, que medem a riqueza de espécies (biodiversidade) e endemismo em um determinado habitat.

Muitas espécies de animais têm sido utilizadas como indicadores de qualidade ambiental atualmente. Como exemplo de pesquisas envolvendo bioindicadores, pode-se citar estudos que se utilizam de peixes para identificar a qualidade da água (GOULART e

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CALLISTO, 2003, VIEIRA e SHIBATTA, 2007, ARIAS et al., 2007), análises da diversidade microbiana para indicar a qualidade do solo (ZILLI et al., 2003), borboletas e formigas como indicadores do equilíbrio ambiental em florestas úmidas (THOMANZINI e THOMANZINI, 2000) e besouros rola-bostas em estudos importantes sobre fragmentação florestal (GANHO e MARINONI, 2005; LEWINSOHN e PRADO, 2005; DA SILVA et al., 2008; COSTA, 2012). No trabalho de Arias et al. (2007) os autores se utilizam de bioindicadores para avaliar o impacto e o monitoramento de rios e córregos contaminados por agrotóxicos. Estes autores usaram uma escala de peso e tamanho dos peixes como indicação necessária para saber se esses indivíduos estão ou não em suas condições fisiológicas normais dentro daquele ecossistema.

Vários estudos se utilizam de vertebrados e plantas superiores também como indicadores de perturbações em ecossistemas. Porém, os invertebrados respondem a perturbações menores, tanto em habitats quanto em intensidade de impactos. Sendo assim, dentre tantos indicadores biológicos de qualidade ambiental, os insetos são utilizados frequentemente no controle de alterações do meio ambiente (FREITAS et al., 2006; AUDINO et al., 2007), sejam alterações de causas naturais ou antrópicas. Isso se deve ao fato de os insetos possuírem elevada abundância na natureza, riqueza de espécies, um ciclo de vida curto e também pela facilidade de amostragem através de métodos comparáveis e padronizados. Desta forma, as respostas demográficas são mais rápidas do que se utilizando organismos com ciclo de vida longo (THOMANZINI e THOMANZINI, 2000; LEWINSOHN e PRADO, 2005; GARDNER et al., 2008).

Entre os insetos utilizados como bioindicadores, destacam-se os coleópteros (THOMANZINI e THOMANZINI, 2000; WINK et al., 2005). “Coleoptera (do grego, koleos = estojo; pteron = asa) é a maior ordem da classe Insecta e agrupa os insetos comumente chamados de besouros” (AUDINO et al., 2007, p. 18). Os besouros (ordem Coleoptera) constituem o maior grupo de animais, possuem aproximadamente quatrocentas mil espécies conhecidas e subdivididas em mais de cem famílias. Representam 40 % de toda a classe Insecta (TRIPLEHORN e JOHNSON, 2005) e 30% do total de espécies animais (LAWRENCE et al., 1999). Habitam praticamente todos os ambientes, exceto o marinho, e alimentam-se das mais variadas fontes de alimento (GULLAN e CRANSTON, 2005). Apenas 10% das espécies são aquáticas, sendo a maioria destes insetos, importantes para os ambientes terrestres (AUDINO et al., 2007).

Marinoni e Dutra (1997) por meio dos padrões conhecidos sobre a fauna Coleoptera, afirmam que em habitats mais degradados há um predomínio maior de espécies herbívoras, enquanto que em ambientes mais preservados, como florestas bem desenvolvidas, ocorrem

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mais espécies detritívoras, fungívoras e carnívoras. Além disso, Iannuzzi et al. (2003), em estudos realizados com comunidades de besouros da Caatinga, destacam que o solo também influencia a composição das famílias de besouros, sendo que em solos mais profundos, constata-se maior riqueza de espécies do que em ambientes com solo mais rasos e acidentados. Estima-se que tais resultados estejam relacionados ao tipo de vegetação que cada solo desenvolve, onde uma vegetação mais densa abriga maiores populações de besouros do que em ambientes com pouca cobertura vegetal.

Em virtude destas peculiaridades, besouros detritívoros são frequentemente utilizados em estudos que verificam os efeitos de perturbação ambiental na diversidade e estrutura de fragmentos florestais (p.ex.: MARINONI e DUTRA, 1997; THOMAZINI E THOMAZINI, 2000; THOMANZINI e THOMANZINI, 2002; DURÃES et al., 2005; GANHO E MARINONI, 2006; HERNÁNDEZ, 2007; HERNÁNDEZ e VAZ-DE-MELLO, 2009; ALMEIDA e LOUZADA, 2009; OLIVEIRA et al., 2011). Estes indivíduos são bastante utilizados devido à facilidade de amostragem, alta diversidade de espécies nas florestas tropicais e por serem sensíveis aos impactos do desmatamento (KLEIN, 1989; HALFFTER, 1991).

Dentre os coleópteros mais utilizados como bioindicadores estão as famílias: Carabidae, Coccinellidae, Staphylinidae e Scarabaeidae (SILVA e SILVA, 2011). A fauna de Scarabaeidae começou a ser estudada no Brasil no século XIX, primeiramente com trabalhos de inventários. No século XX, avançou para estudos de taxonomia e ecologia (ENDRES et al., 2007). De acordo com Audino et al., (2007), os besouros da família Scarabaeidae, subfamília Scarabaeinae, possuem metamorfose completa (holometábolos) passando por vários estágios durante seu ciclo de vida, conforme mostra a Figura 1 abaixo. Normalmente apresentam uma geração ao ano, mas também podem variar de quatro gerações/ano, até uma geração ao longo de vários anos. O comprimento pode variar entre 2 e 60 mm, e suas larvas possuem o aspecto de um C, de cor esbranquiçada, com cabeça e tórax bem desenvolvidos, também chamada de larva escarabeiforme ou também conhecida popularmente por coró, avistadas em madeiras podres ou no solo.

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Em sua maioria, prevalece a cor preta, porém alguns são verde-metálicos (BUZZI, 2010) e azuis. Quando adultos, os principais caracteres morfológicos que diferenciam os coleópteros dos demais grupos de insetos são: a presença de élitros; espiráculos abdominais entre os élitros e o corpo; e aparelho bucal do tipo mastigador. Os élitros protegem as asas e o corpo. Os espiráculos abdominais proporcionam maior desenvolvimento dos órgãos internos e previnem a perda de água, possibilitando que estes indivíduos permaneçam em locais extremamente secos. O aparelho bucal do tipo mastigador permite partir e triturar os alimentos (FREITAS et al., 2006).

Estes besouros são conhecidos no Brasil como “rola-bostas”. Esta denominação se deu pelo hábito que algumas espécies possuem de formarem bolinhas de alimentos (fezes, carcaças, frutas em decomposição) onde são colocados os ovos. Estes alimentos servem para o desenvolvimento do indivíduo durante todo o seu ciclo de vida. Depois disso, as bolinhas são roladas e enterradas no solo por meio de túneis construídos por eles mesmos. “Este comportamento é chamado de telecoprismo” (SILVA et al., 2011, p. 330). Existem outros que fazem seus tuneis ao redor ou abaixo do alimento, tal comportamento é conhecido como paracoprismo e ainda, há algumas poucas espécies que se alimentam e constroem seus ninhos no interior do alimento, sendo esse comportamento chamado de endocoprismo (SILVA, et al.,2009).

Os coleópteros da família Scarabaeidae se alimentam de matéria orgânica em decomposição e executam funções essenciais para os ecossistemas terrestres, pois estes indivíduos desempenham importantes processos ecológicos pelo fato de auxiliarem na aeração do solo, na decomposição e ciclagem de nutrientes e favorecerem ainda a sucessão ecológica

Figura 1 - Ciclo de vida de um coleóptero da família Scarabaeidae, subfamília Scarabaeinae.

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auxiliando na dispersão secundária de sementes (HALFFTER e FAVILA, 1993; LEWINSOHN, FREITAS e PRADO, 2005; NICHOLS et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2011). Quando encontrados em sistemas agropecuários, estes coleópteros são essenciais no combate à proliferação de moscas, mosquitos e helmintos gastrointestinais que se desenvolvem nas fezes dos animais (SILVA et al., 2011).

Devido ao seu hábito alimentar, algumas espécies são classificadas como coprófagas, pelo fato de se alimentarem de fezes, e outras chamadas de necrófagas por se alimentarem de carcaças de animais em decomposição. Por conta deste hábito alimentar (copro-necrófago) peculiar de cada espécie, os besouros também podem indicar a quantidade de mamíferos presentes nos ambientes (HALFFTER, 1991). Isto porquê, a presença de grupos de vertebrados, em especial mamíferos de grande porte, fornecem o alimento para estes indivíduos por meio de suas fezes ou carcaças. Este fato comprova que a diminuição ou desaparecimento destes invertebrados de grande porte, leva a redução do tamanho e biomassa dos escarabeíneos (VAZ- DE-MELLO, 2000; SILVA et al., 2007; GARDNER et al., 2008).

Estudos realizados em fragmentos da floresta Amazônica por Lewinsohn, Freitas e Prado (2005, p. 67), demonstram que os besouros rola-bosta sofrem alterações na “abundância, riqueza de espécies e composição” devido aos efeitos da fragmentação florestal. Portanto, para que a biodiversidade destes importantes invertebrados terrestres seja mantida, é necessário que seus habitas sejam conservados e que aumentem os conhecimentos sobre a importância destes indivíduos nos processos de manutenção dos ecossistemas (LEWINSOHN, FREITAS e PRADO, 2005).

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CAPÍTULO 2

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E CONFLITOS AMBIENTAIS

Este capítulo tem como objetivo primordial trazer ao leitor alguns pontos importantes sobre a criação das Unidades de Conservação, as leis criadas para a proteção da biodiversidade e os conflitos existentes quando da implantação das Unidades de Conservação. O texto está dividido em três tópicos.

O primeiro tópico aborda teoricamente sobre eventos que aconteceram pelo mundo que fizeram com que a população começasse a pensar em proteger e conservar ambientes ricos em beleza e diversidade de espécies. Aborda também sobre as possíveis soluções encontradas para a conservação da natureza, dentre elas, a criação das Unidades de Conservação, como se deu início a essa metodologia usada como forma de preservação dos ambientes ricos em diversidade de espécies, e, em especial, da criação da categoria “Parque”. O segundo tópico, discorre sobre as Leis do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC e as categorias que definem as UC’s de acordo com as formas de uso de cada área. Refere-se também à situação atual das Unidades de Conservação quanto ao número de UC’s criadas até o momento no Brasil. Por fim, o capítulo trará em seu terceiro tópico, um apanhado sobre os principais conflitos deflagrados após o estabelecimento de uma Unidade de Conservação.

2.1 CRIAÇÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS: COMO TUDO COMEÇOU.

Atitudes preservacionistas não estiveram sempre presentes em nosso meio. Foi após a Revolução Industrial que a preocupação em manter espaços preservados teve seu auge. Nesta época, muitos camponeses abandonaram suas terras e foram morar nas cidades, o que ocasionou um inchaço nos centros urbanos (JACOBI,1999). Como resultado desta expansão, houve um crescimento na demanda de alimentos e outros serviços ambientais que a natureza fornece. O setor agrícola também se transformou, desenvolvendo novas tecnologias para aumentar a produção de grãos e as áreas disponíveis ao plantio. Associado a essa evolução no setor

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agrícola, deu-se início a destruição das florestas e consequente degradação da biodiversidade (BALSAN, 2006). Consequentemente, os recursos naturais se esgotaram rapidamente, excluindo qualquer chance de recuperação dos ecossistemas, tornando-os insuficientes para a sobrevivência humana.

Desse modo, em meados do século XIX, a humanidade passou a se enxergar como agente transformador do meio em que habitava e responsável por suas transformações (BENSUSAN, 2006). Foi por volta de 1962 que a consciência ambiental se solidificou a partir dos estudos de Rachel Carson em sua obra intitulada Primavera Silenciosa (Silent Spring), onde a bióloga americana alertava sobre os efeitos nocivos causados pelo uso dos agrotóxicos e questionava sobre os rumos desta relação entre o homem e a natureza (LEFF, 2001). Seus expostos alertavam mundialmente sobre os problemas ambientais e isso inspirou vários movimentos ambientalistas de caráter político naquela época. Dessa forma, começam os primeiros fóruns e debates entre cientistas, ambientalistas e empresários para a criação de leis que visassem a proteção e preservação do meio ambiente. Por conseguinte, em 1968 surgiu um grupo formado por cientistas e economistas denominado Clube de Roma, que se reunia com a finalidade de discutir a crise ambiental e o futuro da humanidade. A partir de então, já em 1972, as preocupações que eram constantemente debatidas deram origem ao primeiro relatório que abordava temas relacionados com o meio ambiente: o Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows (BAGLIANO et al., 2012; MONTEIRO, 2015).

Este relatório alertava a população, os responsáveis políticos e economistas do mundo sobre os limites de crescimento da produção pela utilização de recursos não renováveis. O relatório chegou à conclusão de que se a população mundial continuasse a consumir os recursos naturais na mesma projeção em que estavam sendo consumidos na época, estes se esgotariam em menos de cem anos. O documento testava vários modelos de previsões onde eram alterados os valores de produção, o crescimento da população, a poluição, a disponibilidade de recursos. Porém, em qualquer cenário o resultado obtido era de que uma crise econômica aconteceria durante o século XXI e a principal causa seria o crescimento populacional acelerado. Este documento indicava a necessidade de uma mudança coletiva na maneira em que as sociedades humanas se relacionavam com as bases naturais, de onde se extraem seus recursos primordiais de existência. O meio ambiente não poderia mais ser considerado “[...] uma fonte inesgotável onde pudesse-se abastecer sem restrições, nem como uma matéria passivamente submetida à vontade dos homens” (RAYNAUT, 2006, p. 8).

Outro marco importante foi a Conferência da ONU em Estocolmo, realizada em 1972, junto aos Estados e a comunidade científica, cujo foco era discutir os problemas ambientais,

Referências

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