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O Parque Estadual Vitório Piassa atualmente encontra-se com os portões abertos, sem a presença de cercas de isolamento ao público por toda sua extensão, permitindo assim que qualquer pessoa ou (indivíduo) tenha acesso livre a esta UC. Diante disso, logo ao adentrar o Parque, foram observadas muitas marcas de pneus e longas trilhas feitas para a prática de esportes com jipes ou “gaiolas”, como são popularmente chamados os veículos modificados para o esporte de trilhas em locais com bastante lama.

Ao longo do Parque, puderam-se observar várias nascentes d’águas sendo desviadas para a formação destas poças com bastante lama. Trilhas diferenciadas para a prática conhecida na região como “moto-trilha” também foram observadas por toda a extensão do Parque, bem como rampas e objetos preparados para saltos com motocicleta.

Figura 11 - Similaridade da comunidade de Scarabaeinae medida pelo índice de Bray – Curtis das três áreas amostradas: áreas 1, 2 e 3.

Logo no primeiro dia do trabalho de campo no Parque, foram encontradas algumas pessoas caminhando no interior do mesmo portando instrumentos cortantes e alguns sacos plásticos, com os quais coletavam bromélias, xaxins e ananás (Ananas bracteatus). Porém, estes indivíduos não foram abordados nem acompanhados para tentar identificar o que mais os interessava dentro do Parque.

Outro fato importante a ser relatado neste subitem, é a presença de moradores dentro do PEVP. Trata-se de três senhoras que vivem no local há mais de 60 anos, segundo o relato de uma delas, em conversa informal, logo no primeiro contato da pesquisadora com o Parque, ainda no ano de 2014.

Estas mulheres não são mencionadas em nenhum documento, órgão responsável ou relato sobre este Parque. Elas foram localizadas ao acaso, pois, a residência das mesmas fica oculta entre as árvores, localizada ao sul do Rio Ligeiro, rio que circunda o PEVP e margeia também a estação de tratamento de esgotos da Cidade de Pato Branco e que se situa bem próximo da residência dessas senhoras conforme exposto na Figura 18.

Nesta dissertação estas senhoras serão mencionadas pelas iniciais de seus nomes: H. A. A. de 61 anos de idade, A. M. A. com 71 anos e E. C. A. com 74 anos. Todas se dizem nascidas em Pato Branco, onde no passado seus pais se instalaram por meio do antigo proprietário da área para cuidar de uma serraria que ali estava instalada. De acordo com a idade mencionada pelas mesmas, isto se deu provavelmente quando Pato Branco ainda se chamava Colônia Bom Retiro, que teve sua criação em 1918 pelo Governo do Estado, deixando então de pertencer a Bela Vista de Palmas, local que posteriormente deu origem ao município de Clevelândia (VOLTOLINI, 2000).

Durante as visitas, apenas uma delas falava com a pesquisadora em todos os momentos de permanência no Parque. Uma apenas observava e a outra se escondia dentro de casa. No seu relato, uma das irmãs contou que seus pais faleceram e elas continuaram a viver ali por não ter outros familiares na região. E. C. A. não foi alfabetizada, H. A. A. apenas assina seu próprio nome e A. M. A. não consegue mais assinar seu nome por problemas de visão. A. M. A. é divorciada e as outras duas irmãs nunca se casaram. Ambas se consideram negras, assim como seus avós (mencionam), e de religião católica.

E. C. A. relata que ganharam uma televisão do antigo proprietário da área, sendo que apenas um ano e meio antes desse fato possuíam somente um rádio que as mantinham informadas dos acontecimentos regionais. Do mesmo modo, revelam que há apenas três anos possuem energia elétrica em sua residência. Contudo, não possuem chuveiro elétrico e os banhos são tomados em bacias individuais, com água aquecida em fogão a lenha.

Mostram-se conhecedoras de várias plantas presentes no Parque, usadas por elas quando estão com algum problema de saúde. Elas mesmas produzem alguns de seus alimentos como, batata – doce (Ipomoea batatas), mandioca (Manihot esculenta) e feijão (Phaseolus

vulgaris) os quais são plantados próximo à sua humilde residência. Não criam aves para

consumo, pois temem os animais que vivem no parque, os quais segundo elas consumiriam as aves se estas estivessem em seu quintal, que em suma, tem a própria extensão territorial do parque.

Em respeito à natureza, dizem não se alimentar de animais silvestres presentes no local. E. C. A. e H. A. A. às vezes trabalham como domésticas em um bairro próximo ao Parque para proverem seu sustento, já que apenas E. C. A. menciona estar “encostada” e receber um salário mínimo para então comprarem o que necessitam para subsistência. Comenta feliz que foi o antigo patrão, proprietário do terreno, que conseguiu aposentá-la há pouco.

As senhoras relatam ainda que quando jovens, assim como seus pais, trabalhavam para a família Piassa ou para outros agricultores, carpindo, arrancando feijão ou quebrando milho, sempre em serviços árduos na agricultura. Recordam que o pai veio de Santa Catarina para trabalhar para a família Piassa aqui no Paraná como peão de fazenda, e em uma de suas idas ao Estado de Santa Catarina para visitar a família, conheceu sua mãe e a trouxe consigo para Pato Branco.

Declaram ainda que apesar de sentirem-se incomodadas com as práticas esportivas que se iniciaram no local14 após a venda da área para a instituição do PEVP, pretendem continuar ali, pois foi ali que viveram todos os anos de suas vidas junto aos pais, agora falecidos. Que gostam de ver os animais do local embora a maioria tenha desaparecido e há tempos não os vêem mais. Consideram que mesmo sendo um parque, este local é a casa delas.

Alguns registros fotográficos foram feitos durantes os dias de preparação e coleta dos besouros no Parque Estadual Vitório Piassa. Tais registros caracterizam algumas das pressões antrópicas sofridas pelo PEVP.

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14 Uma das trilhas passa próximo à residência e as mesmas reclamam que o barulho é muito grande e que remexem toda terra do quintal onde plantam seus alimentos, quando passam com as motocicletas.

Na Figura 14 pode se observar da própria rodovia PR 493 que margeia uma das faces do Parque, sentido UTFPR mais especificamente em frente ao portão central, a falta de planejamento e ordenamento desta área. Pode-se notar a ausência da Zona de Amortecimento, a presença de espécies de flora exóticas, as cercas caídas e restos de lixo abandonado, entre outros problemas.

Outra questão bastante delicada é a prática de trilhas. Em um dos arbustos do gênero

Pinus próximo da rodovia, uma placa indicativa de trilha pode ser avistada (Figura 14). Estas

trilhas não são trilhas ecológicas, utilizadas como forma de educação ambiental, mais a diante

Figura 12 - Áreas adjacentes e internas do PEVP- Pato Branco - PR.

nota-se tratar-se de uma trilha para a prática de esportes radicais no meio da mata. Comprovando isto, encontraram-se na área alguns restos de materiais modificados para atender a esta modalidade de esporte, como rampas utilizadas para saltos com motocicleta conforme exposto na Figura 15.

Figura 13 - Áreas adjacentes e internas do PEVP - Pato Branco – PR. Fonte: Bugoni, 2015.

A Figura 15 demonstra que o Parque também apresenta diversas valas causadas pela erosão do solo. Devido a presença do asfalto da rodovia PR 493, as águas das chuvas são impedidas de serem absorvidas pelo solo, sendo então lançadas para dentro do Parque. Nesta mesma figura pode se observar também um grupo de pessoas presentes no Parque com liberdade para coletar plantas, sementes, frutos, capturar animais, poluir o ambiente entre outras várias possibilidades de apropriação e uso incompatível com a categoria em que esta UC se classifica, podendo causar diversas consequências negativas no futuro.

Da mesma forma, a poluição presente no rio que transcorre ao lado da UC, se destaca pelo mau cheiro e pela presença de restos de lixo deixados às margens do seu curso e também em meio à vegetação do Parque conforme mostra a Figura 16.

Figura 14 - Rio Ligeiro e lixos encontrados em diversos pontos do PEVP - Pato Branco - PR. Fonte: Bugoni, 2015.

A Figura 17 revela as dimensões da área do Parque e seu entorno. O fato de o PEVP estar inserido em zona urbana já caracteriza mais uma pressão socioambiental. No entorno da UC pode-se observar a presença de lavouras, rodovias e bairros novos sendo criados.

A criação de novos bairros decorre do plano de urbanização que determina a área norte da cidade como alternativa de expansão urbana, com planejamento para novos loteamentos e também a construção de um shopping center nestas imediações com início previsto ainda em 2016. A linha branca presente na fotografia da Figura 17 trata-se das delimitações do território

do Parque, sem considerar a zona de amortecimento exigida para a área. Ainda observando as delimitações do Parque, é possível avistar as residências à beira do rio, a área industrial, bem como a Estação de Tratamento de Esgoto da Cidade (ETE).

Figura 15 - Delimitações do Parque Estadual Vitório Piassa Pato Branco – PR e áreas do entorno. Fonte: Bugoni, 2016.

A Figura 18 abaixo retrata a residência das três senhoras mencionadas nesta pesquisa. ETE

Figura 16 - Casa das três senhoras que habitam na área do Parque Estadual Vitório Piassa – Pato Branco – PR.

Fonte: Bugoni, 2016.

A Figura 19 demonstra como serão as futuras instalações do então chamado pela administração pública de “Parque Ambiental Vitório Piassa – Pato Branco – Paraná”, conforme escrito no portal apresentado no projeto de execução da obra. O projeto arquitetônico elaborado pela Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Secretaria Municipal de Engenharia e Obras, conforme divulgado nas mídias regionais, não atende ao modelo de categoria “Parque” nem mesmo os objetivos legais exigidos para uma UC de Proteção Integral. Em reportagem ao jornal “Diário do Sudoeste”, em fevereiro de 2016, foi divulgado que o projeto prevê construção de “pistas de caminhada e ciclismo em asfalto, pórtico de entrada, estacionamento para veículos de passeio e para ônibus de turismo, ponto do transporte coletivo” (havendo uma linha que passará no parque). O projeto ainda prevê a construção de um lago com dois níveis, permitindo assim a “construção de uma mini cascata”, e ainda “lanchonete com quiosques, playground, entre outras atrações”. A notícia jornalística é concluída com a seguinte afirmação: “a princípio não haverá espaço para que a população faça churrascos” (DIÁRIO DO SUDOESTE, 2016 - grifo da autora da pesquisa).

Figura 17 - Futuras instalações do Parque Estadual Vitório Piassa de acordo com projeto apresentado pela Prefeitura Municipal de Pato Branco – PR. Denominado “Parque Ambiental Vitório Piassa – Pato Branco – Paraná”.

Fonte: Departamento de Comunicação Social do Município de Pato Branco.15

Como se pode notar, essas fotografias apresentam o estado atual de conservação desta Unidade de Proteção Integral, após sete anos de criação pelo então governo estadual em exercício no ano de 2009.

Até o momento, nenhuma medida de proteção a esta UC foi executada. Os impactos causados sobre ela fazem-se notar através das imagens inseridas nesta dissertação. As imagens demonstram algumas situações incompatíveis com a legislação vigente dos órgãos responsáveis pelo Meio Ambiente e Unidades de Conservação da natureza.

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