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4 MÚSICA POPULAR MARANHENSE (MPM)

4.3 A teorização do contexto histórico da Música Popular Maranhense

4.3.1 A Criação do LABORARTE

Outro marco para a Música Popular Maranhense foi a criação do Laboratório de Expressões Artísticas (LABORARTE) no final da década de 1960. Segundo Murilo Santos, o LABORARTE teve ideia inicial em 1969, com denominação definida apenas em 1972. Nele, os integrantes adotavam como metodologia a observação das expressões artísticas, basicamente ligadas à cultura popular, com o objetivo de extrair elementos expressivos e analisar quais deles poderiam ser aproveitados na arte da música.

Então ficou Laboratório de Expressão Artística. É interessante já colocar que dentro dessas experiências que fizeram surgir o LABORARTE, aconteceram experiências no campo da literatura, como César Teixeira coloca numa entrevista que ele deu ao ZEMA (jornalista). Ele coloca a versão que ele entende da formação do LABORARTE, como que teria surgido, segundo ele, é a partir do movimento Antroponáutica, que é um movimento de literatura (Murilo Santos, entrevista concedida em 28 maio de 2019).

Para Chico Pinheiro, a ideia do LABORARTE partiu de Tácito Borralho12.

Tácito era seminarista em Recife e já fazia teatro dentro do seminário. Todas as vezes que vinha ao Maranhão, ele criava peças. Segundo Chico Pinheiro, a ideia de criação do LABORARTE tem início com a saída de Tácito do seminário e o seu regresso ao Maranhão.

A proposta dele foi trabalhar o teatro, mas utilizando-se dos elementos culturais do Maranhão e com a interação das várias outras expressões que era música, dança, artes plásticas. Por isso que era LABORARTE, laboratório. Um lugar pra se elaborar trabalho e com a proposta também de oferecer trabalhos de extensão para as escolas, principalmente para as escolas públicas municipais e estaduais (Chico Pinheiro, entrevista concedida

12 Professor Doutor em Artes (Artes Cênicas-Teatro/ Área de concentração: Texto e Cena) pelo CAC/ECA- USP, 2012. Professor Universitário. Dramaturgo, Ator, Cenógrafo, Carnavalesco, Ator e Diretor Teatral.

em 28 maio de 2019).

Porém, César Teixeira destaca que a criação do LABORARTE ocorreu em plena ditadura militar, momento de grande censura e repressão dos movimentos artísticos, sendo resultado da união de vários grupos maranhenses de diferentes linguagens e vertentes artísticas:

Antes disso a gente se reunia aleatoriamente, em lugares diferentes, para discutir questões, e essa parte é importante, porque muita gente não observa a parte do Laborarte. A partir de 1969, ainda garoto, um grupo de Liceu que chamava-se Antroponáutica, que era um movimento poético, mas que incluía outras categorias como música, por exemplo. Nós convidávamos participantes desse grupo, os músicos, para tentar fazer um movimento, a partir do Laborarte. Porém, os encontros com o Antroponáutica nunca davam certo [...]. A partir disso resolvermos alugar um espaço. Tínhamos à disposição a parte de cima do prédio, que era uma antiga pensão. Poucas são as pessoas que sabem disso. A pensão era dividida por madeirite e compensado. [...] Embaixo eram duas quitandas e com o tempo a gente conseguiu pagar o aluguel. Todo mundo trabalhava no seu setor, uns pintando, outros funcionários públicos [...], tinha desenhista... cada um se virava para manter a casa, limpeza, comida e tudo. A partir dali começamos com esse nome: Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), e esse trabalho de arte era integrado, pois tinha teatro, música, literatura e artes plásticas geral, artesanato, pintura, trabalho em madeira. Seu início ocorreu em 1962 (César Teixeira, entrevista concedida em 28 maio de 2019).

César Teixeira explica também que o LABORARTE era dividido em departamentos de fotografia, de som, de artes plásticas e de literatura e os grupos que tinham essa tendência passavam pelo teatro, salientando que tratava-se até de saúde intelectual, pois o teatro impossibilitava trabalhar o corpo, a voz, a leitura de textos importantes não só escritos no Brasil, mas de fora, como a literatura dramática e dos métodos dramáticos, que incluíam Augusto Boal, Stanislavski, Grotovski, considerados grandes cérebros do teatro desse período e que, a partir dali foram montados espetáculos, sendo premiados como Espectrofúria.

Eu participei de Maré Memória, uma adaptação, ocorrido entre 1973 e 1974, tendo uma adaptação de poemas do José Chagas, com o mesmo título. Maré Memória, retomava a ideia da pré-história nas palafitas, interessante poema, talvez seja o maior poema dele, fizemos todo o livro (César Teixeira, entrevista concedida em 28 maio de 2019).

Josias Sobrinho confirma essas informações, relatando a influência do LABORARTE no início da sua carreira como compositor, atuando sobretudo na montagem de peças de teatro.

O LABORARTE trabalhava com teatro, então comecei a compor para o teatro, compondo para as peças do LABORARTE. Então, ele é muito importante no sentido da minha primeira expressão como compositor, como autor. E depois que eu saí mesmo, eu voltei a compor pra lá, com eles, e além de compor pra outros grupos de teatro também. Ele foi muito importante nesse processo inicial. E de alguma forma a gente nunca sai de fato do LABORARTE, volta e meia a gente tá por lá se relacionando e contribuindo também com a manutenção do grupo (Josias Sobrinho em entrevista concedida em 02 de abril de 2019).

Para Murilo Santos, o Laborarte teve o nome adotado em 1972, era autoexplicativo e a metodologia empregada nessa época era a de observar as expressões artísticas basicamente da cultura popular, extraindo elementos expressivos e analisando quais poderiam ser aplicados na arte da música.

Então ficou laboratório de expressão artística. É interessante, já colocar que dentro dessas experiências, que fizeram surgir o Laborarte. Aconteceram experiência no campo da literatura, como cesar Teixeira coloca numa entrevista que ele deu ao ZEMA. Jornalista, no blog do Zema ribeiro. (18:02) ele coloca uma versão. Que é a versão que ele entende da formação do laborarte, como que teria surgido, segundo ele. É a partir do movimento antroponaltica. Que é um movimento de literatura (Murilo Santos em entrevista cedida em 11 de abril 2019).

A cantora Rosa Reis, que está à frente do Laborarte como cantora e gestora cultural, é responsável pela produção cultural e ressalta que o Laborarte não é só a música, mas também teatro, dança, capoeira, cultura popular, é tudo.

Na época, tinham vários cantores e compositores que se integraram a esse movimento do Laborarte, do laboratório, tinha César Teixeira, Sérgio Abili, Joacir Sobrinho e outros artistas, assim, de música também que passaram muito rapidamente, a partir daí começou esse trabalho com a música, Josias passou em tempo aqui depois ele saiu, formou o rabo de vaca, já o Sérgio Abili também ficou um período aqui, e aí acho que foi a partir daí que surge toda essa história também da música, do pessoal começar a mostrar as composições, fazer shows né, produzir a música para o palco, eu acho que foi bem esse período aí junto com o nascimento do Laborarte (Rosa Reis em entrevista cedida em 27 de maio 2019).

Os entrevistados relembram as dificuldades em manter o Laborarte, a sociedade era mais conservadora, pela questão também do regime militar, os trabalhos no Laborarte eram limitados, pois a censura imperava nesse período. Vale ressaltar que houve um período em que o LABORARTE exerceu função pedagógica, pois havia um projeto desenvolvido dentro de aula. Porém, ele perdeu-se ao longo dos anos.