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4 MÚSICA POPULAR MARANHENSE (MPM)

4.3 A teorização do contexto histórico da Música Popular Maranhense

4.3.3 Da contribuição do Laborarte para a valorização da cultura regional

César Teixeira lembra que, foi construído, dentro do teatro Artur Azevedo, um teatro burguês, para popularizar o teatro, o texto era muito bom, e a intenção era transformar o teatro Artur Azevedo devidamente público, já que o Artur Azevedo é patrimônio público. Então foi construído um cenário de palafitas, com lençóis pendurados onde eram projetadas aquelas imagens que foram colhidas nas palafitas reais, pois muitos ali presentes na plateia nunca tinham avistado uma palafita. César Teixeira salienta ainda que, passavam ali porco, cachorro, rato, o som das borbulhas do mar, a miséria e que tinham dois violeiros, sendo ele um dos violeiros, que cantava ali e contava história. A partir dali o movimento do LABORARTE disparou, houve participação em vários espetáculos fora do Maranhão, no Rio de Janeiro, disputando prêmios.

O contexto era de grande repressão, eu não me lembro quem era o presidente da república, se ainda já era o Médici, era o Médici porque o Costa e Silva faleceu em sessenta e nove, em setenta e dois já era o Médici, então a gente tinha também governos conservadores aqui no Maranhão que eram ligados, a princípio ao Vitorino Freire que era cacique político e depois o Sarney, que todo mundo conhece a história, mas o contexto geral era permitir que a censura fosse assistir aos ensaios, tinha censura previa, muitas vezes a gente

tinha que conviver com o censor em pleno ensaio, e eles iam, regularmente, visitar o prédio, era uma situação realmente grave, mas o trabalho nunca parou por conta disso (César Teixeira, entrevista concedida em 28 maio de 2019).

César Teixeira explica que essa identificação com a questão religiosa é muito interessante, pois pelo ponto de vista profano mostra o caráter do homem livre, a grande lição e que o sujeito é livre, muitos não sabem disso, o homem é livre com a sua cultura, pois as vezes tem vergonha de mostrar que tem um chocalho na mão ao entrar em algum ambiente. Porém, hoje isso não ocorre, o homem mostra a cara e leva o pandeiro na mão, e o público já se identifica. Hoje se tem um público que, ao mesmo tempo vai assistir o bumba-boi, assistir também outros artistas, vários nomes, apresentação do Cacuriá, sem fronteira.

Para Murilo Santos, é difícil mensurar a importância e contribuições do LABORARTE, pois alguns espetáculos não foram visualizados por conta da censura. Porém, existe a importância, pois colocou-se mais um degrau na evolução da arte.

Não que na evolução antes fosse ruim, mais na dinâmica da arte, seja na música como nas outras, podemos medir o tamanho dessa importância. Mais se pensarmos no dia de hoje, de que há um movimento de resgaste. Essa importância, ou seja, mesmo que o público que é do teatro, que assistia o espetáculo, ou ia pros shows, ouvia uma música, ou ia pra exposição fotográfica, via o material. Via o cinema. Né. Mesmo que tenha visto um pouquinho. Mas era um pouquinho porque a cidade era também menor. Agora, hoje eu percebo que a evolução. Quer dizer, com o passar do tempo. Isso não houve um número vertical, mais horizontal. Cada vez mais cresce, mais estudos, mas aquilo que aconteceu naquele tempo. Essa importância pra cidade está cada vez mais se ampliando, e não vai parar por aqui. Então é importante também nesse sentido. Agora é existiam outras formas de trabalho de arte que não se baseavam na cultura popular nesse conceito do laboratório de expressões artísticas desenvolveu na época (Murilo Santos, entrevista concedida em 28 maio de 2019).

Murilo Santos enfatiza que o contexto traçado por ele sobre o LABORARTE refere-se ao passado, no período em que ali vivenciou, e que, na atualidade não conhece como funciona o LABORARTE e quais as contribuições que ele proporciona. Rosa Reis menciona que as contribuições do LABORARTE foram muitas, não apenas na música, mas em outras áreas nas quais ele foi trabalhado.

São mais de quarenta anos na cidade, tem uma interferência cultural muito forte, nos bairros, nos espaços onde acontece a cultura popular, principalmente hoje que a gente está muito voltado para a questão da cultura popular, então eu acho que é muito forte e hoje a gente é referência para quem chega em São Luís e que quer saber da cultura do Maranhão (Murilo

Santos, entrevista concedida em 28 maio de 2019).

Rosa Reis lembra que naquela época eram feitos laboratórios e que, a partir dos encontros eram criados espetáculos e que o grupo do Reinaldo Farah trabalha muito em cima das obras prontas e o Laborarte contribuía com seu diferencial, pois discutia o cenário político daquela época. Por sua vez, Josias Sobrinho enfatiza que, o Laborarte contribuía com o ensino de música nas escolas, pois o Laborarte vivenciou essa experiência.

Dávamos aula de teatro, de oficinas de música. E o LABORARTE tem toda essa experiência, além dos registros que têm que são muito importantes para dá essa contribuição. Eu acho que de alguma forma ele contribui, porque as filhas de Nelson que são as pessoas que tão hoje à frente do grupo com a viúva, a Rosa, eles fazem projetos pra escolas, para as oficinas e tudo, eles têm uma atuação já.

Rosa Reis completa que o LABORARTE possui projetos e que são realizados todos os anos, e que, ultimamente, estão atuando mais na área do social, começando a trabalhar com jovens de 9 até 16 anos. Ela salienta que já se trabalhou um período e estão retomando novamente alguns projetos ligados ao fundo municipal da criança e adolescente e outros projetos que trabalham nessa área social, e que, fora isso, possuem projetos culturais que não param e estão sempre em movimento. Desta forma, observou-se que, o LABORARTE foi mais do que uma oficina artística, é uma fábrica de talentos, de produções que contribuíram e continua contribuindo de alguma forma no enriquecimento cultural de um povo.