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2.2 Música

2.2.2 Música no Brasil

O conceito de educação musical no Brasil foi difundido pelos jesuítas no período da colonização do país com finalidade educativa e civilizatória. Esse fato ocorreu durante o período Renascentista, momento histórico em que a música era usada como forma de firmar a sociedade na fé católica, devido à Reforma Protestante que eclodiu na Europa. Em primeira missão, os jesuítas catequizaram os índios e abriram as primeiras escolas no Brasil, em meados do ano de 1549, a fim de expandir a colonização portuguesa. Diferentemente da Europa, onde o ensino era oferecido somente para a elite, as escolas fundadas no território brasileiro eram usadas como forma de comunicação entre os jesuítas e os índios, conforme destaca Loureiro (2003, p. 43):

Entre os recursos utilizados destaca-se a música, em virtude da forte ligação dos indígenas com essa manifestação artística. Eram eles músicos natos que, em harmonia com a natureza, cantavam e dançavam em louvor aos deuses, durante a caça e a pesca, em comemoração aos nascimentos, casamento, morte, ou festejando vitórias alcançadas.

Desse modo, os índios utilizavam a música relacionada à sua civilização e ao seu estilo de viver, por isso, possuíam elementos sonoros diferentes daqueles utilizados pelos europeus. Segundo Loureiro (2001, p. 43), “os padres jesuítas se apropriaram de tais elementos dos indígenas que proporcionaram a aculturação, a catequese e a aproximação com os índios”.

Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, e as reformas pombalinas2, decorrentes da ênfase dada ao pensamento iluminista que ocorria na Europa, a desestruturação do ensino religioso não possibilitou que a educação fosse pública, gratuita e laica. Ademais, ainda era notória a presença da religião nos ensinos. Segundo Loureiro (2001, p. 45),

[...] Ao lado da escola religiosa, mantida por outras ordens (carmelitas, franciscanos, capuchinhos, etc.) surge a escola leiga (aula- régia). Essas escolas, apesar de incorporarem outras disciplinas, compatíveis com o momento histórico, preservam as marcas da tradição jesuítica. Dessa forma, nelas a música continua presente, com forte conotação religiosa, muito ligada a características e formas europeias, conotação esta que se faz presente em toda a produção musical do período colonial.

No Brasil, a música também sofreu influências dos negros. Com eles, novos instrumentos, ritmos e sons foram introduzidos na formação da cultura brasileira. Esse povo expressava, por intermédio da música e da dança, sentimentos saudosistas que aliviavam a dor de serem trazidos ao Brasil para serem escravizados. Por outro lado, o talento musical era admirado pelos colonizadores, pois as batucadas envolviam alegria e prazer. Ademais, os escravos criavam novas músicas e instrumentos peculiares, o que era divulgado em festividades públicas, na igreja e entre pessoas influentes da época.

Devido a esse aperfeiçoamento e criação musical, que envolvia música com dança em um ritmo contagiante, surgiu o “samba”, que por sua vez se tornou um ritmo característico do Brasil. Entretanto, com o descobrimento do ouro e das pedras preciosas nas capitanias de Minas Gerais, no século XVII, a música passou a ser secularizada e os músicos em busca do ouro contribuíram para um novo caráter cultural. Eles trouxeram consigo cantatas, sonatas e rondós e se apresentavam nas igrejas, praças, sarais e serenatas. Daí, pode-se depreender que o foco musical da época do ouro era tão importante quanto o do período da colonização.

Outra influência relevante para a formação musical no Brasil ocorreu com a chegada da corte portuguesa na Colônia, pois vieram com eles diversos artistas, de várias áreas, com seus instrumentos musicais e tendências experimentadas na Europa pelos artistas renascentistas. A música no Brasil, então, passou a ocupar vários espaços com a inauguração de instituições de ensino da música e com o

surgimento da Capela Real, bem como da orquestra de música erudita e música popular. Com a fundação das instituições, foi nomeado como inspetor geral dos músicos o Padre José Maurício3, considerado o maior músico da época (MIRANDA; JUSTUS, 2010).

Ainda segundo Miranda e Justus (2010, p. 113), o sacerdote era “um homem culto que, além de compor, era excelente intérprete do órgão e do cravo. Por três anos, ele dirigiu todas as atividades musicais da corte portuguesa no Rio de Janeiro”. A Independência do Brasil, é importante destacar, oscilou a arte musical, mas em 1847 foi fundada em Niterói a primeira Escola Normal e seu currículo apresentava disciplinas simples, entre elas a música. De acordo com Loureiro (2001, p. 49), “a função da música nas instituições em que foram professores revela-se eminentemente disciplinar, uma vez que as canções apontavam modelos a serem imitados e preservados, objetivando, fundamentalmente, a integração do jovem à sociedade”.

Em 1841, foi fundado o Conservatório Musical do Rio de Janeiro, primeira escola de música do Brasil até os dias atuais. O seu fundador e primeiro diretor foi Francisco Manuel da Silva4 (1795-1865), que proporcionou uma base pedagógica sólida para a educação musical, de modo que fosse favorecida a vocação do aluno à música e o gosto da música para o povo. Devido às mudanças sofridas, o conservatório se transformara na Escola Nacional de Música. Todavia, esta funcionava precariamente por causa dos poucos recursos de que dispunha. Isso fez com que houvesse uma nova elaboração no currículo, passando a ser oferecidos cursos profissionalizantes na área e novas escolas foram criadas em todo o país (LOUREIRO, 2001).

Outro fato histórico do Brasil muito relevante e que deixou marcas na música foi a Semana da Arte Moderna5, realizada em 1922, em São Paulo. Esse movimento, entre outras coisas, possibilitou o surgimento de novos artistas que integrariam uma produção cultural brasileira, trazendo uma nova proposta de fazer artístico. É válido destacar também que com a expansão e difusão da música no Brasil,

3 Padre, professor de música, maestro, multi-instrumentista e compositor brasileiro. 4 Compositor, maestro e professor brasileiro.

5 A Semana da Arte Moderna foi realizada em São Paulo, no Teatro Municipal, de 11 a 18 de fevereiro. Teve como principal propósito renovar/transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música.

influenciada pela revolução tecnológica, como o rádio, surgiram novas ideias musicais, consideradas avançadas para a época, mas que refletiam a rápida mudança do homem nesse período, rompendo, assim, com as músicas tradicionais ouvidas até então (MIRANDA; JUSTUS, 2010).

Os artistas que mais se destacaram nessa nova musicalidade do Brasil exerceram um papel importante para a consolidação e apreciação do público ouvinte. Entre eles, Pixinguinha (1897-1973) foi um dos maiores flautistas de todos os tempos. Sua música intitulada “Carinhoso” é bastante conhecida e reproduzida de várias maneiras até a atualidade. Nesse cenário musical, destacam-se também outros nomes, como João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Sinhô, Ismael Silva, Guerra Peixe, Claudio Santoro, Noel Rosa e Dorival Caymmi, que introduziram a fala urbana, ou seja, as expressões típicas das falas brasileiras na música popular.

Na década de 1940, outros artistas se destacaram ao darem mais ênfase ao canto popular, como Ary Barroso, que em sua poesia melódica exaltou o Brasil por meio da música “Aquarela do Brasil”. A contribuição de Luiz Gonzaga, com seu baião, também introduziu o cenário nordestino na musicalidade, sendo “Asa Branca” uma de suas obras mais conhecidas e considerada o hino da região nordeste do Brasil. Além disso, foi executada internacionalmente, quando interpretada em inglês por Raul Seixas e Demis Roussos.

No final dos anos de 1950, surgiu a Bossa Nova, um novo movimento musical formado por jovens que se reuniam para cantar e tocar. A proposta de tocar o violão e o ritmo ao mesmo tempo deu origem a esse gênero musical, que incorporou elementos do jazz e também da música clássica. João Gilberto, Vinícius de Morais, que utilizou a poesia nas canções, e Tom Jobim, que complementou com as melodias, foram os artistas que se destacaram. Vinícius de Morais e Tom Jobim, é pertinente lembrar, compuseram a mais bela e mais conhecida canção brasileira no mundo inteiro: “Garota de Ipanema”.

Na década de 1970, a música no Brasil ganhou uma característica própria, que ficou conhecida como Música Popular Brasileira (MPB), tendo como valorização a melodia. Ela constitui a contemporaneidade das cidades, revelando por meio das canções a situação social que o povo enfrentava, sendo uma junção das classes sociais que constituíam o país. Atualmente, a MPB é conhecida e estudada internacionalmente (TÔRRES, 2008).

Ditadura Militar, esta se tornou a expressão da população brasileira mediante a censura e opressão da liberdade de expressão de artistas como Edu Lobo, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Elis Regina, Geraldo Vandré, entre outros. Nos estilos românticos, destacaram-se Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, sendo estes três últimos símbolos da Jovem Guarda. Na década seguinte, a música ganhou uma nova expressão, conhecida por um estilo de rock despojado, com letras significantes para a juventude da época. Representam esse período as bandas Titãs, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, entre outras. De meados dos anos 1990 em diante, outros ritmos foram incorporados na musicalidade brasileira, como o axé, o pagode, a lambada, o funk, o sertanejo e o forró (SANTOS, 2015).