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2.2 Música

2.2.3 O ensino da música no Brasil

A música se apresenta como a mais completa das artes e, além de ser prazerosa, possibilita ao indivíduo que seja o autor e intérprete de suas emoções. Com base nessa premissa, a educação musical no contexto escolar tem grande importância para o desenvolvimento cognitivo, perceptivo, expressivo e criativo dos alunos, visto que estudos e projetos apontam que estes tendem a desenvolver, por meio dessa forma de arte, seus potenciais com autonomia, descobrindo, assim, suas próprias formas de expressão. (ABREU, 2016).

No tocante ao contexto social atual, pode-se inferir que várias músicas contemporâneas ouvidas em todos os meios de comunicação do Brasil também são reflexos do que a sociedade enfrenta. Nesse sentido, trazer tais poesias cantadas e tocadas – que expressam ideias críticas ou reflexão – para o espaço da sala de aula significa promover o desenvolvimento crítico e reflexivo do aluno.

Abreu (2016, p. 27), nessa esteira, afirma que “o espaço oferecido por meio da linguagem musical na alfabetização é de liberdade e construção de ideias”. Portanto, associar os acervos musicais existentes em cada período vivenciado pela sociedade pode contribuir para a visão de mundo do aluno que está desenvolvendo o seu potencial cognitivo.

Na história da educação brasileira, nem sempre a população teve acesso à música. Isso somente veio a acontecer com o projeto “Canto Orfeônico”, do músico e compositor Heitor Villa-Lobos. Segundo Abreu (2016, p. 28), o “[...] Canto Orfeônico

na década de 1930, tornou-se disciplina obrigatória no currículo das escolas primárias e secundárias, mediante o projeto desenvolvido por Heitor Villa-Lobos6 com a finalidade folclórica, descritiva e cívica”. Porém, a educação musical era limitada ao conservatório Brasileiro de Música e ao Instituto Nacional de Música. Com um decreto assinado por Getúlio Vargas7 em 1932, o ensino da música e os cursos de canto orfeônico se tornaram obrigatórios nas escolas públicas.

Mas, com a criação da Lei nº 4.024/1961 (Lei de Diretrizes e Bases), o Canto Orfeônico deixou de ser obrigatório e foi substituído pela prática da educação musical, embora o projeto de musicalidade nas escolas públicas tivesse como objetivo exaltar ao governo de Getúlio Vargas, ou seja, restringia aos alunos o direito de apreciar a música como arte, tornando-a simplesmente um mecanismo de promoção cívica (LOUREIRO, 2001).

Em 1945, a prática do canto nas instituições de ensino diminuiu gradualmente, porém, para que a educação musical não desaparecesse do currículo escolar, foi criada uma comissão consultiva musical que tinha como propósito manter o material pedagógico-musical adotado pelas escolas. Nesse caso, houve uma ruptura no ensino da música e algumas instituições priorizaram o ensino da música baseado nos padrões tradicionais europeus, ao passo que as escolas públicas optaram pelos cantos cívico-nacionalistas (LOUREIRO, 2001).

Depois disso, mais precisamente no ano de 1948, no Rio de Janeiro despontaram projetos que tinham o intento de evidenciar a liberdade de expressão e que possibilitaram o desenvolvimento e a relação interpessoal do aluno com outros grupos sociais. Segundo Loureiro (2001, p. 31), um desses projetos foi idealizado pelo professor e artista plástico Augusto Rodrigues e o resultado foi o interesse por parte de outros artistas e professores, como Liddy Chiaffarelli, que demostrava interesse pelo ideário escolanovista – movimento de renovação do ensino que ganhou força no Brasil na primeira metade do século XX –, que influenciou as escolas de artes em todo o território nacional.

No que diz respeito ao movimento da Escola Nova, vale ressaltar que este apresentava como característica central a defesa da ligação da escola à vida e ao meio, focada na proposta de ensino livre, espontâneo, criativo e expressivo, na qual o

6 Maestro e compositor brasileiro, considerado um expoente da música erudita no Brasil.

aluno era o centro da aprendizagem. Partindo desse prisma, o ensino da música permitiu o enfoque no aluno, como afirma Loureiro (2001), e a arte deixou de lado o seu rigor técnico e cientifico para se tornar veículo de expressão humana. Nesse sentido,

[...] O movimento artístico que adentrou os anos 60 representou um despontar de uma nova estética. Numa recusa ao convencional, as artes romperam com a tradição, modificando o processo de “fazer arte”, em que o artista, engajando-se numa nova proposta didática, leva a arte para as ruas, numa aproximação com as massas (LOUREIRO, 2001, p. 143).

Na década de 1970, o país sofreu uma mudança no cenário político com o Governo Militar, o que modificou o currículo da educação musical, que foi limitada somente ao ensino geral da Arte, ou seja, a música, o teatro, a dança e as pinturas não seriam mais exploradas de forma livre e específica, mas em uma só disciplina denominada Educação Artística (LOUREIRO, 2001).

O professor, por sua vez, não possuía formação superior em Arte, como afirma Loureiro (2001, p. 68): a “disciplina música passa a integrar, juntamente com as artes plásticas e o teatro, a disciplina educação artística, estabelecida pela Lei nº 5.692/71, em seu art. 7º”. Nesse período, o professor da disciplina de Artes tornava- se polivalente, porém, as artes plásticas foram privilegiadas nessa proposta de ensino denominada Educação Artística. O aluno perdia, novamente, a oportunidade de expressão, sendo obrigado a reproduzir um ensino superficial e técnico.

Todavia, as escolas públicas, com o ensino tecnicista, como salienta Loureiro (2001, p. 72), “reestruturou o ensino da música que passou a ter como objetivo as práticas recreativas e lúdicas, fugindo totalmente dos conhecimentos técnicos e artísticos musicais”. E apesar de a música possibilitar recreação e ludicidade a seus apreciadores, tal objetivo era uma reprodução limitada dos conteúdos da educação artística, que por seu turno impunha suas regras e músicas. Os conservatórios musicais, por outro lado, eram acessíveis somente a quem tinha habilidade musical, ou seja, limitou-se à elite. De mais a mais, a proposta da liberdade e expressão, proposto pela Arte-educação, foi substituído pelo caráter técnico- profissionalizante na área da música.

Com o fim do Governo Militar, no início da década de 1980, surgiram as novas mudanças na área educacional que apontavam para a democratização do país. A lei que amparava a educação nacional teve suas mudanças discutidas em 8 anos,

chegando a um acordo no ano de 1996: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN - Lei nº 9.394/96. Na Lei nº 9.394/96, “o ensino da Arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (Art. 26, §2º) (BRASIL, 1996, p. 32).

Desta forma, a Arte na escola tornou-se um componente obrigatório com o fim de possibilitar aos alunos o envolvimento com a diversidade cultural existente na sociedade. Volta, com isso, ao verdadeiro objetivo da Arte, utilizada de forma livre e expressiva. Porém, o que é visto atualmente nas escolas é o ensino da Arte ainda vinculado somente a artes visuais, restringindo ao aluno vivenciar a experiência real das artes plásticas, teatral, musical e dança.