• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4: OS SINAIS-TERMO DO GLOSSÁRIO DO MEIO AMBIENTE:

4.6 Descrição dos mecanismos de criação dos sinais-termo do Meio Ambiente

4.6.10 Criação não linear dos sinais-termo do Meio Ambiente em LSB

Em LP, a especificação dos termos ocorre sempre de forma linear com o acréscimo de palavras à direita do termo. Esta linearidade nem sempre ocorre nos sinais-termo em LSB. Encontramos linearidade nos sinais-termo BALEIA e BALEIA-JUBARTE (figura 60), FLORESTA e FLORESTA-TROPICAL, GÁS e GÁS-CARBÔNICO, MATA e MATA ATLÂNTICA, por exemplo. Todavia, há nesta língua de sinais outros mecanismos gramaticais e visuais para a construção de seus termos. Em LSB, os sinais MICO, MICO- LEÃO e MICO-LEÃO-DOURADO não crescem linearmente como em LP, a especificação

ocorre por meio das ENM, faciais e corporais, e pode haver mudança nos demais parâmetros. No caso de MICO-LEÃO e MICO-LEÃO-DOURADO a especificação ocorre com uma pequena mudança na CM de MICO-LEÃO-DOURADO em que os dedos ficam mais esticados na realização do sinal e os olhos mais abertos em comparação ao sinal MICO- LEÃO.

Figura 60 - Sinais BALEIA e BALEIA JUBARTE

 

BALEIA BALEIA JUBARTE

Fonte: Arquivo pessoal

O crescimento do termo pode ser simultâneo, as expressões não manuais podem ser usadas para especificação do termo e não necessariamente aumentará a extensão do termo em LSB, pode haver uma sobreposição de morfemas-base60 ou mesmo mecanismos visuais da língua que sejam usados na criação de um novo sinal-termo. Servem de exemplo os sinais OZÔNIO, CAMADA DE OZÔNIO e BURACO DA CAMADA DE OZÔNIO, TUBARÃO e TUBARÃO MARTELO, ENERGIA e ENERGIA ELÉTRICA que mostram a não linearidade na criação dos termos.

Além disso, podemos mencionar a grande quantidade de sinais que em LS é simples e em LP é complexa e vice-versa. Serve de exemplo, o termo pantera que em LP é um termo simples e em LSB é complexo e pode ser transcrito como LEÃO^PRETO.

Isso ocorre porque cada língua possui sua estrutura tanto ao nível do significado quanto do significante e os conceitos – significados – podem não corresponder em todos os contextos. Sobre isto Luque Duran explana:

Cada língua não só distribui diferentes níveis ontológicos entre palavras diferentes, mas também podem marcar distinções específicas que talvez não se encontrem em outras línguas, ou se são encontradas, não necessariamente fazem os mesmos grupos de palavras. O inglês faz distinção entre flesh/meat ‘carne viva/carne para comer’ e oferece a dupla designação cow/beef, ‘vaca/carne de vaca, pig/pork, ‘porco/carne de porco’, sheep/mutton ‘carneiro/carne de carneiro’. O espanhol não faz estas diferenças, no entanto,                                                                                                                          

distingue pes/pescado ‘peixe em seu habitat/peixe vivo ou morto para ser preparado como alimento’. Algumas diferenças entre palavras de línguas distintas se referem às divisões em uma realidade ontológica. O inglês tem duas palavras para cobrir uma área ground/floor ‘chão no exterior de um edifício/chão no interior de um edifício’ que é expressa em espanhol por apenas uma palavra suelo‘chão’. (LUQUE DURAN, 2001, p. 20-21, tradução nossa)61

Nos sinais-termo de nossa pesquisa, percebemos essa realidade mencionada por Luque Duran. Enquanto que em LP existe apenas um termo para clone, em LSB precisamos marcar se é o clone de animal, de um vegetal ou se é humano para adequar-se a gramática da língua. As línguas de sinais possuem em sua estrutura o que vem sendo chamado na literatura de Classificadores (CL).

Os CL são marcadores de coisas, pessoas, animais e vegetais. Faria-Nascimento (2009, p. 117) destaca o papel descritivo e especificador dos classificadores. O termo célula em LSB também precisa receber a marca especificadora se são células de animais, vegetais e humanas. Apesar de que na classificação científica da biologia, os seres humanos fazem parte do reino animal. Nos sinais-termo para clone e células em LSB há diferenças entre clone humano e clone de animais, células humanas e células animais, o que é do homem – animal racional – foi diferenciado dos demais animais irracionais. Weinreich (1984, p. 111) esclarece que: “De fato, enquanto algumas descontinuidades, como entre termos para espécies biológicas discretas, parecem ser (muito, mas não totalmente) determinadas pela natureza, muitas outras são específicas de uma língua-e-cultura”. A necessidade de marcar é própria da estrutura da língua.

4.6.11 Restrições fonológicas: condições de simetria e dominância e mudança da mão dominante

Nos sinais-termo da área do Meio Ambiente, identificamos alguns sinais que violam as restrições de condição de simetria e de dominância postuladas por Battison (2003, p.22).

                                                                                                                         

61 Texto original: “Cada lengua no solamente reparte diferentes ámbitos ontológicos entre distintas palabras,

sino que además estas pueden marcar distinciones específicas que pueden no encontrarse en otras lenguas, o si se encuentran, no lo hacen necesariamente en los mismos grupos de palabras. El inglés distingue entre flesh ‘carne viva’ y meat ‘carne para comer’ y ofrece los dobletes designativos cow/beef, pig/pork, sheep/mutton. El español carece de. estas diferencias pero, sin embargo, distingue entre pez y pescado. Algunas diferencias entre palabras de diferentes idiomas se refieren a distintas particiones de una realidad ontológica. El inglés tiene dos palabras ground/floor para cubrir un área que el español expresa solamente con una palabra (‘suelo’).”  (LUQUE DURAN, 2001, p. 20-21).

Os sinais nessas condições são: CONFERÊNCIA DAS PARTES (COP), PAPEL RECICLADO e OSTRA.

Figura 61 - Sinais CONFERÊNCIA DAS PARTES e PAPEL RECICLADO

 

CONFERÊNCIA DAS PARTES

PAPEL RECICLADO

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 62 - Sinal OSTRA

Fonte: Arquivo pessoal

Ao observamos os dados apresentados nas figuras 61 e 62, identificamos uma característica em comum nos sinais que violam as restrições, todos são derivados de um sinal já existente. O sinal CONFERÊNCIA DAS PARTES é motivado pelo sinal REUNIÃO. Este sinal apresenta as duas mãos na CM “R”. Já o sinal CONFERÊNCIA DAS PARTES tem uma das CM em “R” e a outra em “C”. A CM “C”, neste caso, é uma CM faz menção ao tamanho do referente que é uma reunião de grande porte. Outro exemplo é o sinal PAPEL RECICLADO que é derivado do sinal RECICLAGEM. O sinal PAPEL RECICLADO é constituído por uma CM que especifica objetos como papel. Esta mesma configuração de mão pode ser encontrada nos sinais PAPEL, DOCUMENTO, TEXTO, etc. O sinal OSTRA segue as mesmas características dos demais, isto porque é derivado do sinal existente CONCHA e é composto na sua estrutura por duas CMs icônicas, uma que remete a concha e outra a pérola.

Em resumo, todos os sinais, que violam as restrições de condição de simetria e de dominância identificados nos dados, têm em comum serem derivados de sinais já existentes, apresentam mudança na CM de uma das mãos em relação a forma dos sinais que os originaram.

Além disso, identificamos o fenômeno da mão dominante que se torna não dominante durante a execução de alguns sinais-termo. Os sinais que mudam a mão dominante identificados foram: CÉLULA ANIMAL, CÉLULA VEGETAL, OCEANO RESÍDUO SÓLIDO e RESÍDUO ORGÂNICO, TRÁFICO DE ANIMAIS e USINA NUCLEAR. Apresentamos alguns desses sinais nas figuras 63, 64 e 65.

Figura 63 - Sinais CÉLULA ANIMAL e CÉLULA VEGETAL

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 64 - Sinal RESÍDUO SÓLIDO

 

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 65 - Sinais TRÁFICO DE ANIMAIS e OCEANO

Fonte: Arquivo pessoal

Os sinais mencionados são todos compostos. Em especial, o sinal TRÁFICO DE ANIMAIS foi questionado por um participante, durante as sessões de validação, porque estranhou a mudança de mão ativa na execução deste sinal. Devido a este fato, levantamos a hipótese de que se trata de um sinal em fase de acomodação a língua. Além disso, o sinal TRÁFICO DE ANIMAIS não perdeu movimentos internos ou repetições que é a regra da

 

CÉLULA ANIMAL CÉLULA VEGETAL

 

sequência única, uma das três regras morfológicas, propostas por Liddel (1984), para os sinais compostos da ASL, todavia também é válida para os sinais compostos da LSB de acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 104). Em resumo, os sinais que mudam a mão ativa podem estar em fase de acomodação a língua. Sobre este assunto, Battison explica que este fenômeno de mudança de mão em sinais adjacentes, pode ser uma potencial transformação (metamorfose) em sinais compostos (2011, p. 208), o que corrobora a nossa hipótese de que o sinal esteja em fase de acomodação. Talvez, por serem sinais terminológicos, pode ser que permaneçam com a estrutura de mudança de mão ativa afim de que não se perca a informação conceitual, uma vez que é essencial à terminologia. Importa lembrar que esse fenômeno de mudança de mão ativa é bastante comum à sintaxe da LSB.

As restrições fonológicas atípicas da LSB apresentadas, nesta seção, podem ser características mais recorrentes nas linguagens de especialidade desta língua como alternativa para criação de sinais compostos de menor extensão e mais fluidos.