• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: TERMINOLOGIA E LEXICOGRAFIA DA LÍNGUA DE SINAIS

2.6 Lexicografia das Línguas de Sinais

2.6.1 Impressa

A Lexicografia impressa das LS tem a característica de representar os sinais por meio da ilustração. Este é o recurso que serviu e ainda serve para registrar as línguas de modalidade espacial e visual. Muitos dos materiais didáticos usados para o ensino de LSB em instituições como escolas, igrejas e associações, são desenhos feitos à mão por surdos. Estes materiais contribuíram para a documentação da língua. Os primeiros dicionários de língua de sinais eram, geralmente, coleções de desenhos ou fotos de sinais organizados em ordem alfabética com base em alguma língua oral, como bem mencionou Reagan (2006, p. 334).

A Lexicografia impressa limita a representação das LS – que são tridimensionais –, já que as obras em papel são bidimensionais. Sobre esta dificuldade de representação das línguas de sinais por meio de desenhos ou fotografias, Zwitserlood (2010, p. 461) adverte que nem sempre os símbolos adicionais, as sequências de imagens e as setas usadas nestas obras – como informações adicionais das ilustrações – dão conta de representar os movimentos realizados pelas mãos e pelo corpo na execução do sinal, como já foi mencionado na seção sobre ilustrações em obras lexicográficas.

Sobre a limitação do suporte papel impresso, Correia (2009, p. 36) também alerta que “a publicação em papel de dicionários de gestos inibe não apenas a representação da complexidade do gesto, mas, sobretudo, a representação do movimento, que é uma das suas partes constitutivas essenciais”.

Concordamos com os autores que os dicionários impressos das LS não são o melhor suporte para registrar os sinais. Vários dos problemas mencionados podem ser solucionados pela Lexicografia eletrônica. Zwitserlood (2010, p.461) apresenta quatro desvantagens dos dicionários de LS impressos. A primeira é que a representação dos sinais não é clara o bastante; a segunda diz respeito às opções de busca que são limitadas – e também o número de sinais é limitado – e, por último, os sinais não são usados no contexto.

Apresentamos, a seguir, algumas obras lexicográficas de diversas Línguas de Sinais pelo mundo. As obras selecionadas têm como suporte as línguas orais Espanhol, Francês, Inglês e Português. Primeiramente, mostramos os dicionários impressos e em seguida os eletrônicos online ou em DVD. Os dicionários impressos que apresentamos são: o

Diccionario Básico de la Lengua de Señas Colombiana, Diccionario Bilingue Lengua de Señas Chilena – Español: Tomo II, o Manos con voz: Diccionario de Lengua de Señas Mexicana, o The American Sign Language Handshape Dictionary e o “Dicionário

Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira: LIBRAS”. Os dicionários eletrônicos que apresentamos são: Elix: Le dictionnaire vivant en langue des signes, The

Gallaudet Dictionary of American Sign Language, o The Gallaudet Children’s Dictionary of American Sign Language e o “Dicionário da Língua Brasileira de Sinais: LIBRAS”.

Figura 16 - Sinal CEJA

 

Fonte: Diccionario Básico de la Lengua de Señas Colombiana do INSOR (2006, p. 21)

A primeira obra a ser apresentada é o Diccionario Básico de la Lengua de Señas

Colombiana (2006). O dicionário tem o apoio do Ministério da Educação da Colômbia e é

uma realização do Instituto Nacional para Sordos (INSOR). Este é um dicionário organizado em campos temáticos e, dentro desses campos, as entradas estão dispostas em ordem alfabética. Além disso, a representação dos sinais é feita por meio de fotografia. A estrutura do verbete é composta pela microestrutura: entrada na primeira linha; na segunda, a categoria gramatical seguida da definição em língua espanhola; na terceira e quarta linhas está o exemplo de uso do sinal CEJA – na linha três está a glosa e, na linha quatro, a tradução da glosa –, na linha cinco está a descrição de como se executa o sinal e, por último, à direita, está a ilustração do sinal representada por meio de fotografia, como pode ser observada na figura 16 que representa o verbete do sinal CEJA, ‘sobrancelha’, da Língua de Sinais Colombiana.

Figura 17 - Sinal JOVEN

 

Fonte: Robertson, Quintela e Ramírez (2009, p. 56)

A segunda obra impressa que apresentamos é o Diccionario Bilingue Lengua de

Señas Chilena – Español: Tomo II de Robertson, Quintela e Ramírez (2009). O dicionário

está organizado em ordem alfabética e utiliza fotografias digitais para apresentar os sinais da Língua de Sinais Chilena e, sempre que necessário, utilizam um conjunto de símbolos específicos para representar os movimentos dos sinais. A estrutura do verbete é organizada da seguinte forma: do lado esquerdo, uma foto representando o sinal; do lado direito, na primeira linha, a entrada, que é uma glosa apresentada em Espanhol e com as letras maiúsculas. Na segunda linha está a definição apresentada em Língua Espanhola, mas que, de acordo com as informações contidas no dicionário, explica o significado que tem o determinado sinal da Língua de Sinais Chilena. Na terceira linha, aparecem informações relacionadas à Língua Espanhola, apresenta-se a classe gramatical por meio de abreviatura, a palavra correspondente em Espanhol e seus sinônimos; na linha quatro, estão os antônimos desta mesma língua oral, como apresentada na figura 17.

Figura 18 - Sinal GALLO

 

Fonte: Fleischmann e Pérez ( 2011, p. 56)

A obra lexicográfica Manos con voz: Diccionario de Lengua de Señas Mexicana de Fleischmann e Pérez (2011) é organizada por temas, os sinais são apresentados em fotografias coloridas e, quando necessário, utiliza símbolos para representação de movimentos. A estrutura do verbete é composta por uma ou várias fotos em sequência, segue a glosa em negrito e depois a explicação de como executar o sinal, conforme pode ser visto na figura 18.

Figura 19 - Sinal BELIEVE

 

O próximo material a ser apresentado é o dicionário The American Sign Language

Handshape Dictionary de Tennant e Brown (1998). Esta pode ser considerada uma obra

inovadora em relação ao sistema de busca dos sinais, pois a forma de organização dos verbetes é com base na configuração de mão inicial do sinal, o que permite um tipo de busca diferenciado que leva em consideração a língua de sinais. Além disso, o consulente pode encontrar o sinal sem precisar do apoio da glosa ou da Língua Inglesa, conforme explicam Tennant e Brown (1998, p. 24). Este dicionário apresenta uma proposta que se destaca da tradição de organizar os sinais apenas em ordem alfabética, com base em alguma língua oral, no caso o Inglês. As informações contidas no verbete são mais de natureza fonológica em que se apresentam a(s) configuração(ões) de mão, a(s) orientação(ões) da palma, a(s) locação(ões), o(s) movimento(s) e quando há, as expressões não manuais também são descritas. Além disso, o verbete pode conter notas que são utilizadas para sugerir como usar determinado sinal, para apresentar variações alternativas e para indicar se determinado sinal dever ser usado preferencialmente. O dicionário é organizado em três seções: a primeira é composta pelos sinais executados com apenas uma mão; a segunda, pelos sinais feitos com duas mãos; e a terceira, que é uma espécie de índice em que as glosas da ASL são apresentadas em Inglês, segue a ordem alfabética e identifica a página em que determinado sinal pode ser encontrado.

O verbete é composto pela palavra em Inglês, também denominado glosa, e quando uma só palavra em Inglês não é considerada suficiente para explicar o sentido do sinal, utilizam-se outras palavras. Em ASL, o sinal BELIEVE, ‘acreditar’, tem em sua composição o sinal THINK, ‘pensar’ junto ao sinal MARRY, ‘casar’, como pode ser visto no verbete da figura 19.

Figura 20 - Verbete do sinal MAR

 

O último dicionário – exclusivamente impresso – que apresentamos aqui é o “Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira” de Capovilla e Raphael (2001). Este dicionário é organizado em ordem alfabética. Os verbetes apresentam a palavra-entrada em Português, Inglês e em signwriting35, a categoria, o gênero, a definição em LP, um exemplo, a explicação de como se realiza o sinal, a ilustração do objeto/conceito e a ilustração do sinal, conforme podemos conferir na figura 20.

Com os avanços, notamos também o uso de novas tecnologias para o desenvolvimento da Lexicografia das LS. As primeiras obras têm como forma de representação o desenho dos sinais, que são identificados por palavras da LO. Esta prática é recorrente até os dias de hoje e ainda tem sido a escolha de muitos para o registro dos sinais, sendo o tipo de obra lexicográfica mais comum. Em decorrência dos avanços tecnológicos, a fotografia também passou a fazer parte das obras lexicográficas e, posteriormente, a tecnologia dos vídeos permitiu um registro mais fiel dos elementos constitutivos das LS. Com base no desenvolvimento dessas tecnologias, podemos classificar as obras em impressas e eletrônicas.