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CAPÍTULO 2: TERMINOLOGIA E LEXICOGRAFIA DA LÍNGUA DE SINAIS

2.6 Lexicografia das Línguas de Sinais

2.6.2 Eletrônica

Indubitavelmente, há inúmeras vantagens do suporte eletrônico para a lexicografia das LS. Os sinais podem ser registrados em vídeos e dar maior clareza de como o sinal deve ser executado. Todavia, filmar sinais isolados pode ocasionar expressões não manuais inadequadas que, fora do contexto da sinalização, podem se tornar artificiais e inapropriadas.

As obras lexicográficas em LS têm evoluído com as novas tecnologias disponíveis. Mesmo com o desenvolvimento tecnológico, algumas obras lexicográficas ainda continuam com as ilustrações dos sinais e a busca apenas pelo sistema alfabético da língua oral de maior contato da comunidade Surda. Apresentamos a seguir os quatro dicionários eletrônicos mencionados anteriormente.

                                                                                                                         

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Figura 21 - Verbete do sinal MOT ‘palavra’

 

Fonte: Dicionário Elix. Disponível em: <https://www.elix-

lsf.fr/spip.php?page=signes&id_article=190514&type_vue=unitaire&lang=fr>. Acesso em: 14 dez 2015.

O primeiro dicionário eletrônico que apresentamos é o Elix: Le dictionnaire vivant en

langue des signes da Língua de Sinais Francesa. A obra está disponível na internet em

https://www.elix-lsf.fr/?lang=fr e o sistema de busca do verbete dá-se pela digitação da palavra em Francês. A estrutura do verbete é composta pela definição em LSF filmada, a definição em Francês escrito que é composta de informação sobre a categoria, o gênero da palavra e o vídeo do sinal. Ademais, há um espaço para propor novos sinais da LSF.

Figura 22 - Verbete impresso  

Figura 23 - Verbete ANSWER ‘responder’

 

Fonte: DVD de Valli (2006)

O segundo dicionário eletrônico é o The Gallaudet Dictionary of American Sign

Language de Valli (2005), é impresso e contém um DVD com a execução dos sinais. Esta

obra não é exclusivamente eletrônica, assim como o dicionário infantil que apresentamos a seguir.

A figura 22 mostra a estrutura do verbete da parte impressa do dicionário. A parte da obra que se apresenta em suporte de papel tem a seguinte microestrutura: a ilustração do sinal em desenho preto e branco e o(s) correspondente(s) em Inglês. É valido dizer que o mecanismo de busca das palavras está em ordem alfabética nas partes impressa e eletrônica.

Na figura 23, apresentamos a parte eletrônica deste dicionário, que é um DVD. O verbete no DVD apresenta a seguinte microestrutura: entrada em Inglês, um vídeo com a execução do sinal, abaixo do vídeo os sinônimos da entrada em Inglês e a explicação de algum sinal, quando necessário. O suporte em DVD apresenta algumas funcionalidades: do lado esquerdo do verbete, há uma lista de palavras – denominada de wordlist – que pode ser vista completamente clicando o cursor para baixo; logo embaixo está o recurso de busca em que se digita a palavra ou frase desejada no espaço chamado de Word search. Ademais, podem ser encontradas as ferramentas: help, full screen, play, stop, play slow, step fwd e

quiet. O recurso help explica cada uma das funcionalidades da parte eletrônica. O fullscreen

vídeo com o sinal, o stop serve para interromper a sinalização. O play slow mostra o vídeo em uma execução mais lenta e o stepfwd é o recurso de avançar para o próximo sinal. E, finalmente, o quit é o mecanismo de sair do dicionário.

Figura 24 - Ilustração do verbete do sinal ABOUT ‘sobre’

 

Fonte: Gordon et al. (2014, p. 1)

O terceiro dicionário que apresentamos é o The Gallaudet Children’s Dictionary of

American Sign Language de Gordon et al. Esta é uma obra infantil que, assim como o

dicionário anterior, possui uma parte impressa e uma eletrônica, ambas organizadas em ordem alfabética. A microestrutura do verbete impresso é constituída pela entrada em Inglês padronizada na cor vermelha – quando há sinônimos são listados abaixo da entrada na cor preta. O verbete tem uma frase mostrando o uso da entrada que se relaciona diretamente com a ilustração em cores contida em cada microestrutura, e a representação do sinal é um desenho em preto e branco, como pode ser conferido na figura 24.

Tal qual a publicação impressa, a parte eletrônica do dicionário apresenta a entrada na cor vermelha. Além disso, o sinal é executado por uma criança surda, e se repete automaticamente. Há um ícone verde, no formato de tartaruga, que tem a função de apresentar a execução do sinal de forma mais lenta. Estes mecanismos de velocidade e de repetição também funcionam quando há um vídeo com a frase em ASL, que demonstre o uso do sinal – a sentença em ASL é apresentada por um ator adulto.

A ilustração e a frase de como usar o sinal são as mesmas na parte impressa e na eletrônica do dicionário. No caso da frase, na parte impressa, a língua usada é o Inglês escrito e na parte eletrônica é em ASL sinalizada. Além disso, todos os sinais que constam do

dicionário impresso estão na parte eletrônica em vídeo. Apenas 150 frases com exemplos de uso do sinal estão no DVD.

Figura 25 - Verbete do sinal PALAVRA

Fonte: Felipe e Lira (2005)

Por fim, o Dicionário da Língua Brasileira de Sinais: LIBRAS versão 2.0 (2005) de Felipe e Lira é um marco na lexicografia brasileira pela inovação do suporte eletrônico e por permitir a busca por um dos parâmetros da LSB, a CM inicial do sinal. O dicionário apresenta outras forma de busca, como pesquisar por assunto, que está organizado em 21 campos temáticos, e a busca pela LP usando o alfabeto ou digitando a palavra.

As informações encontradas nos verbetes são: a entrada, o assunto (campo temático em que a palavra está inserida), a classe gramatical, origem, acepção, exemplo em LP, exemplo em LSB por meio de glosa, um vídeo com a execução do sinal e a CM inicial do sinal em destaque. Este dicionário possui também um recurso para repetição do sinal. Quanto à parte denominada origem, é uma função que não está clara no glossário. E o exemplo em LSB por glosa também é problemático já que a transcrição se utiliza da Língua Portuguesa e não se pode ter certeza de quais sinais seriam usados em LSB.

Figura 26 - Aplicativos e recurso de tecnologia assistiva

 

Fonte: Elaborada pela autora

Ainda sobre as obras eletrônicas para LSB, gostaríamos de mencionar os aplicativos Hand Talk e o ProDeaf, bem como o Rybená, que é um recurso de tecnologia assistiva. Esses três recursos tecnológicos não são dicionários da LSB, apesar de que o ProDeaf também é considerado como dicionário por seus criadores, possuem a função de tradutores do português para LSB, todavia, às vezes podem ser usados para se chegar a alguns sinais. Obviamente essas ferramentas ainda não conseguem fazer uma tradução sem defeitos. Para isso, é preciso um longo trabalho de descrição da sintaxe da LSB para estabelecimento de referências, de relações sintáticas pelas expressões não manuais, os usos lexicais dos sinais, bem como o aprofundamento dos estudos para a tradução automática de português para LSB. É válido mencionar que os aplicativos ProDeaf e HandTalk são softwares livres e qualquer pessoa que dispõe de um Smartphone ou tablet pode ter acesso. Essas obras têm aperfeiçoado as expressões não manuais dos sinais, o que sem dúvida é um elemento essencial na produção da língua.

Para a criação do nosso glossário, não identificamos, até o momento, nenhuma obra lexicográfica ou terminológica direcionada ao nosso público-alvo da mesma faixa etária; tampouco com objetivos que se assemelhem à nossa proposta. Desta feita, consultamos as obras mencionadas, tendo como suporte teórico as áreas da Terminologia e da Lexicografia, bem como apresentamos e descrevemos as funcionalidades identificadas nas obras lexicográficas das LS no intuito de chegarmos a um modelo que atenda às especificidades e necessidades educacionais dos surdos do Ensino Fundamental II.

Consideramos o glossário da BSL a obra mais completa em termos de informações em LS e na busca de estratégias que esclareçam os termos científicos. Além disso, o fato de

contarem com uma equipe de surdos cientistas é uma característica necessária em todo processo terminográfico, mas que nem sempre é possível ter essa situação ideal.

Como pudemos observar ao longo deste capítulo, poucas são as obras que contêm a definição em LS, ou mesmo que deixem explícita a preocupação de apresentar as definições da LO na perspectiva de uma segunda língua. Apesar de nossa proposta não apresentar a definição em LSB, apresentamos reflexões sobre a temática na próxima seção.