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CAPÍTULO 2: TERMINOLOGIA E LEXICOGRAFIA DA LÍNGUA DE SINAIS

2.2 Terminologia

Para iniciar a discussão, primeiramente apresentamos os conceitos e as funções da Terminologia que nos interessam nesta pesquisa. O termo Terminologia pode ser definido de formas diferentes. Cabré (1993, p. 82) menciona três acepções para Terminologia. A primeira significa o “conjunto dos princípios e das bases conceituais que determinam o estudo dos termos”; a segunda, “conjunto dos princípios e métodos utilizados em um trabalho terminológico”; e, por último, o “conjunto dos termos de uma área de especialidade”. O sentido que nos atemos nesta pesquisa é o último, em especial, o conjunto de termos da área do Meio Ambiente na LP e na LSB .

Ainda que as acepções sejam diferentes, há algo em comum em todos os três sentidos apresentados – todas compreendem a terminologia no âmbito do léxico especializado.

                                                                                                                         

23 Martins, Ferreira e Mineiro (2012, p. 23 ) definem os avatares como “figuras tridimensionais que permitem

representar em tempo real dos gestos das línguas gestuais a partir de informação abstrata subjacente pré- programada.”

Para Biderman (2001, p. 163), os objetivos da Terminologia são normalização/ padronização. No caso específico da LSB, acreditamos que o objetivo primeiro seja prover a LSB com terminologias para fins acadêmicos.

O trabalho terminológico possui uma forte relação com a Lexicografia, por isso, tratamos dessas áreas neste mesmo capítulo. Sobre esta relação, Boulanger (2001, p. 9) explica que o termo Terminologia “remete à atividade dicionarística relativa ao(s) léxico(s) das línguas de especialidade ou aos tecnoletos”.

Na continuidade deste capítulo, passamos a discorrer sobre a Terminologia no estudo da LSB relacionado à Lexicografia. Contudo, antes disso, é preciso esclarecer alguns conceitos sobre Terminologia em geral.

2.2.1 A importância da Terminologia

Para desenvolver uma pesquisa de Terminologia existem métodos e princípios que regem a prática do trabalho terminológico. Comecemos pela ISO24704 de 2000, um documento internacional que apresenta princípios e métodos para o trabalho terminológico. Em especial, desse documento, interessa-nos os princípios do trabalho terminológico para formação de termos, conforme dispõe a ISO nas páginas 25-27, que são transparência, coerência, adequação, economia linguística, derivabilidade, correção linguística e preferência pela língua nativa. A seguir, apresentamos cada item.

A Transparência ocorre quando “o conceito de um termo pode ser inferido, pelo menos parcialmente, sem uma definição. Isso quer dizer que o significado do termo é visível na morfologia”25 (ISO, 704:2000, p. 25, tradução nossa). Este conceito de transparência é semelhante ao que Correia (2009, p. 78) explicita ao explicar o que são palavras transparentes. Para ela, itens lexicais cujo significado pode ser depreendido pela estrutura da palavra são transparentes.

A Coerência é manifestada quando “a terminologia de qualquer campo é organizada como um sistema terminológico coerente correspondente ao sistema de conceito, e não uma

                                                                                                                         

24 International Organization for Standardization ‘Organização Internacional para padronização’. 25

“Concept it designates can be inferred, at least partially, without a definition. In other words, its meaning is visible in its morphology.” (ISO 704:2000, p.25)

coleção arbitrária e aleatória de termos. Os termos existentes e novos termos devem integrar- se e ser coerentes com o sistema de conceito” 26 (ISO, 704:2000, p. 26, tradução nossa).

Outro princípio é a Adequação, que ocorre quando “os termos propostos aderem aos padrões familiares, estabelecidos de significado dentro de uma comunidade linguística. A formação de termos que provoquem confusão devem ser evitados. Os termos deverão ser o mais neutro possível e, além disso, devem evitar conotações, especialmente as negativas”27 (ISO, 704:2000, p. 26, tradução nossa).

A Economia linguística “se caracteriza por designações mais concisas possíveis. A extensão indevida é considerada uma lacuna grave. Isso viola o princípio da economia linguística e frequentemente leva a elipses, omissões... A exigência de concisão, muitas vezes, porém, entra em conflito com a exatidão” 28 (ISO, 704:2000, p. 26-27, tradução nossa).

Já a Derivabilidade é a característica de “produtividade dos termos que deve permitir a formação de derivados”29 (ISO, 704:2000, p. 27, tradução nossa), enquanto o princípio da Correção linguística prima pela “observância dos termos às normas morfológicas, morfossintática e fonológicas da língua em questão” 30 (p. 27, tradução nossa).

Por fim, a Preferência pela língua nativa é o princípio que estabelece que é preferível uma forma na língua nativa em detrimento às formas linguísticas estrangeiras. “Apesar do empréstimo linguístico de outras línguas ser uma forma aceitável de criação de termos, as expressões das línguas nativas devem sempre ter preferência frente aos empréstimos diretos”31 (ISO 704:2000, p. 27, tradução nossa). A esse respeito, Quadros e Karnopp (2004, p. 88) advertem que os empréstimos estão na “periferia da LSB” não sendo, portanto, o mecanismo mais produtivo na língua. Dessa forma, os empréstimos, como parte dos processos de inovação lexical e terminológica da língua, provavelmente, não serão muito                                                                                                                          

26  Texto original: “The terminology of any subject field should not be an arbitrary and random collection of

terms, but rather a coherent terminological system corresponding to the concept system. Existing terms and new terms must integrate into and be consistent with the concept system.”(ISO, 704:2000, p. 26).

27

Texto original: “Proposed terms should adhere to familiar, established patterns of meaning within a language community. Term formations that cause confusion shall be avoided. Terms shall be as neutral as possible. They should avoid connotations, especially negative ones.” (ISO, 704:2000, p. 26).

28

Texto original “A term shall be as concise as possible. Undue length is a serious shortcoming. It violates the principle of linguistic economy and it frequently leads to ellipsis (omission)… The requirement for conciseness often conflicts with that for accuracy.”(ISO, 704:2000, p. 26-27).

29 Texto original “Productive term formations that allow derivatives should be favoured.” (ISO, 704:2000, p.

27).

30

Texto original “A term shall conform to the morphological, morphosyntactic and phonological norms of the language in question.” (ISO, 704:2000, p. 27).

31 Texto original: “Even though borrowing from other languages is an accepted form of term creation, native

comuns nos sinais-termo, já que a terminologia também é parte da língua e segue os mesmos princípios de neologismos.

Esses princípios de formação de termos serviram de guia para o desenvolvimento e a avaliação dos sinais-termo em LSB que são apresentados no capítulo 4.