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A evolução histórica do sistema jurídico de proteção às crianças e aos adolescentes, revela que os avanços conquistados nessa área reportam-se, sobretudo, às lutas dos movimentos sociais e ao reconhecimento pelo Direito da especificidade da condição de vida desse seguimento da população. O sentido dessa lenta e complexa mudança está, portanto, diretamente relacionado aos esforços destinados à construção de categorias jurídicas que, ao mesmo tempo que expressam e reforçam essa especificidade, criam as condições para o reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos.

Ao fundamentarmo-nos na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente, observamos que é de suma importância o reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de direito, como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e com prioridade absoluta em qualquer circunstância, sob pena de termos, de um lado nossos filhos, crianças e adolescentes com direitos garantidos, e de outro lado, meninos e meninas excluídos, com direitos violados e/ou violadores de direitos. Em outras palavras, trata-se de saber como, em termos estritamente jurídicos, essa categoria social, por definição, que não alcançou auto- suficiência, pode ser concebida, em termos, de cidadania.

A adoção definitiva da Doutrina jurídica de Proteção Integral, a partir da Constituição Federal de 1988, passou a representar um novo marco na proteção da infância e da adolescência. De acordo com esta Doutrina, crianças e jovens, em qualquer situação, devem ser protegidos e terem seus direitos garantidos, além de reconhecidas prerrogativas, idênticas às dos adultos.

Esta doutrina baseia-se na concepção de que “criança e adolescente são sujeitos de direitos universalmente reconhecidos, não apenas de direitos comuns aos adultos, mas, além desses, de direitos especiais, provenientes de sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento que devem ser asseguradas pela família, pelo Estado e Sociedade.” (BRASIL, 1988).

Serem sujeitos de direitos representa, hoje, condição especial que deve garantir-lhes direitos e deveres individuais e coletivos, bem como todas as oportunidades e facilidades a fim de lhes facultar um bom desenvolvimento físico mental, moral, e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Nos estudos de Ariés (1981) a idéia de infância está ligada à idéia de dependência. Só se saía da infância ao sair da dependência, ou, ao menos, dos graus mais baixos da dependência. Portanto, “assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude dos adultos e não se distinguia mais destes”.

Ainda numa concepção histórica, Novaes (2000, p.527) lembra que, a idéia predominante da infância:

era de “um ser incompleto, frágil, que precisa de cuidados físicos para sua sobrevivência e não a de um vir-a-ser; a visão tradicional da pedagogia definia a socialização da criança como algo que só viria mais tarde, ao contrário da visão moderna psicológica que enfatiza as modalidades subjetivas de se integrar ao meio, havendo uma socialização evolutiva e não um período com e outro sem socialização”.

Para Kramer (1990, p.15), “entende-se, comumente, criança, por oposição ao adulto: oposição estabelecida pela falta de idade ou de maturidade e de adequada integração social”.

Segundo a mesma autora, “o sentimento de infância resulta numa dupla atitude com relação à criança: preservá-la da corrupção do meio, mantendo sua inocência e fortalecê-la, desenvolvendo seu caráter e sua razão”.(KRAMER,1990, p. 21).

Podemos afirmar, assim, que a identidade pessoal da criança e do adolescente tem vínculo direto com sua identidade no grupo familiar e social. Seu nome e seus apelidos os localizam em seu mundo. Sua expressão externa é a sua imagem, que irá compor a sua individualização como pessoa, fator primordial em seu desenvolvimento.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), indicou, especialmente, a primazia em considerá-los em suas características e prioridades, destacando sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e sua titularidade de direitos fundamentais. Ao mesmo tempo, no sistema jurídico vigente, seus direitos e deveres devem ser preservados ao considerar sua incapacidade jurídica para os atos da vida civil e a sua inimputabilidade perante a lei penal.

Costa (1992, p. 39) alerta que a condição peculiar de desenvolvimento:

não pode ser definida apenas a partir do que a criança não sabe, não tem condições e não é capaz. Cada fase do desenvolvimento deve ser reconhecida como revestida de singularidade e de completude relativa, ou seja, a criança e o adolescente não são seres inacabados, a caminho de uma plenitude a ser consumada na idade adulta, enquanto portadora de responsabilidades pessoais, cívicas e produtivas plenas. Cada etapa é, à sua maneira, um período de plenitude que deve ser compreendido e acatado pelo mundo adulto, ou seja, pela família, pela sociedade e pelo Estado.

Ao garantir, com “prioridade absoluta” o exercício dos Direitos Fundamentais da população infanto-juvenil, a Constituição e o Estatuto convocaram, além do Poder Público, quanto a destinação dos recursos e a sua efetiva aplicação, os operadores do direito, para promoverem procedimentos e medidas judiciais que garantam essa preferência.

Observa-se, nesse sentido, que a proteção, com prioridade absoluta, é um dever social e, como norma constitucional, não é conselho ou sugestão, é determinação.

Ao tomarmos como referência a posição de outros autores, vimos que para Vercelone (1992, p. 18-19):

o termo proteção pressupõe um ser humano protegido e um ou mais seres humanos que o protegem, isto é, basicamente um ser humano que tem necessidade de outro ser humano. Obviamente, este segundo ser humano deve ser mais forte que o primeiro, pois deve ter capacidade para protegelo. Como corolário lógico, a proteção pressupõe uma desigualdade ( um é mais forte que o outro) e uma redução real da liberdade do ser humano protegido: ele deve ater-se às instruções que o protetor lhe dá e é defendido contra terceiros ( outros adultos e autoridade pública) pelo protetor.

Temos escutado depoimentos de pessoas e autoridades que acreditam que vale a pena lutar pela igualdade de direitos e oportunidades para nossas crianças e adolescentes. Em Natal, ao pronunciar-se sobre a violência, o Juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude, (Dr. José Dantas Paiva) afirma que:

Em Natal, uma das causas de violência e exclusão dos jovens é a ausência de políticas públicas e comunitárias tanto de ordem preventiva, quanto terapêutica, que possam garantir aos jovens os seus direitos fundamentais. Nenhuma criança nasce ou nasceu ruim, foram os adultos que as fizeram assim, mas, todos, estão disponíveis para exercerem com dignidade a sua cidadania.

O MM. Juiz entende que, se os direitos fundamentais de todas as crianças e adolescentes fossem respeitados, estes cresceriam como verdadeiros cidadãos, preparando-se para o futuro.

Da leitura e análise que vimos realizando, podemos dizer que o primeiro mecanismo de responsabilização de crianças e adolescentes consistiu na sua inclusão circunscrita ao campo do “direito penal”, no tempo da chamada “doutrina do direito penal do menor”. No Brasil, as ordenações Filipinas já dispunham sobre as penas aplicáveis aos menores. Nesse período, crianças e adolescentes interessavam ao Direito, fundamentalmente, a partir do momento em que praticassem ou sofressem alguma ação ou omissão passível de ser alcançada pela norma penal. Conforme Saraiva (2002, p.14), não se verificava, portanto, a existência de normas específicas de proteção à infância e à adolescência. De modo geral, predominava uma baixa diferenciação entre o direito penal dos adultos e das crianças. Para esse autor, o segundo mecanismo de responsabilização alicerçou-se na consagrada doutrina da situação irregular. Aqui, se verifica um avanço na produção de normas jurídicas, especificamente voltadas às crianças e aos adolescentes. No Brasil, esse avanço se traduziu num esforço de codificação, do qual resultaram os Códigos de Menores de 1927 e 1979 do Séc.XX. O Código de Menores de 1927 consolidou toda a produção normativa sobre crianças, até então emanada por Portugal, pelo Império e pela República. Segundo uma análise bastante conhecida, o Código consagrou um sistema dual no atendimento à criança, na medida em que atuava, especificamente, sobre os chamados efeitos da ausência, que atribui ao Estado a tutela sobre o órfão, o

abandonado e aquele com pais presumidos como ausentes, tornando disponíveis os seus direitos de pátrio poder.

Acrescenta Silva (1996, p.179-180), “Os chamados direitos civis, entendidos como os direitos pertinentes à criança inserida em uma família padrão, em moldes socialmente aceitáveis, continuou merecendo a proteção do Código Civil Brasileiro, sem alterações substanciais” .

Ao analisarmos o que dita o código de menores, de 1979, vimos que nos termos da doutrina da situação irregular, o fundamento da regulação jurídica especial de crianças e adolescentes repousa na idéia de patologia social (artigo 2º do Código de Menores de 1979). O tratamento jurídico específico justifica-se sempre que a infância e a adolescência se distanciarem do padrão social dominante. O reconhecimento da irregularidade poderia derivar tanto da conduta pessoal do agente na prática de atos infracionais ou desvio de conduta, como das ações e omissões da família – maus-tratos – e do próprio Estado – abandono.(Ver código de menores 1979-Art. 2º).

Um traço distintivo da doutrina da situação irregular, reside na possibilidade social produzida pela família e pelo Estado. Não por acaso, nos grandes institutos desenhados para abrigar menores, era comum encontrar-se misturados, abandonados e infratores (SARAIVA, 2002, p. 14). Com efeito, crianças e adolescentes que, na terminologia do Código de 1927, eram catalogados como expostos – menores de 7 anos - ,abandonados, vadios, mendigos e libertinos, na nova dicção do Código de 1979 passaram todos a viver sob o guarda-chuva unificador da situação irregular (SILVA, 2001).

Situando o que analisam os autores Saraiva(2002) e Silva(2001), observamos que não há distinção significativa entre os “códigos de menores” de 1927 e o de 1979 no que se refere ao distintivo da “situação irregular”. O que se verifica, portanto, à medida em que a doutrina da situação irregular vai se consolidando no país, é que a crescente diferenciação da proteção jurídica de crianças e adolescentes convive com uma boa dose de indiferenciação entre as diversas situações vividas por essas crianças e adolescentes. Na percepção de Silvia Andrade Stanisci, na medida em que a pobreza era entendida como uma irregularidade, crianças e adolescentes nessa condição se

constituíram como objeto de medidas de cunho assistencialista ou repressivo (STANISC, 2000,p.34).

A Constituição Federal de 1988 assinala o ponto de inflexão na passagem da doutrina de situação irregular, para o novo modelo de proteção integral de crianças e adolescentes. Com efeito, no marco do terceiro mecanismo de responsabilização, identificado na passagem da situação irregular para o modelo de proteção social integral, verifica-se o reconhecimento jurídico da especificidade vivida por esses sujeitos. Assim é que o artigo 227 da Constituição Federal considera:

dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente os direitos reflexos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, descriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)

Observa-se assim, que tais direitos têm que ser levados em conta como direitos que se reportam a uma categoria específica do sujeito, cuja marca é dada pelo seu desenvolvimento incompleto e que está a requerer, por isso mesmo, uma proteção especial. Não por acaso, os aspectos abrangidos por esse direito à proteção especial, consoante a terminologia constitucional, vêm arrolados no parágrafo 3º do artigo 227 da Constituição. E, entre os inúmeros aspectos, “reconhece-se expressamente o da obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa de liberdade” (inciso V, artigo 227).

Na esteira do texto constitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA vem reconhecer, expressamente, a natureza específica dessa proteção jurídica, ao assinalar que na interpretação dessa Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirigir, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento (artigo 6º).(ECA)

O reconhecimento jurídico da proteção integral às crianças e aos adolescentes só pode se dar quando pressupõe o caráter especial desse sujeito de direitos. A afirmação de que crianças e adolescentes gozam de “todos os direitos fundamentais

inerentes à pessoa humana”, tem que ser compreendida no contexto maior do objetivo a ser propiciado por esse reconhecimento jurídico de direitos, a saber, lhes facultar os desenvolvimentos físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade” (ECA, artigo 3º, in fine).

Crianças e adolescentes constituem-se, pois, sujeitos de direitos, uma vez reconhecida, aceita e promovida a sua condição jurídica peculiar de sujeitos titulares de direitos que devam propiciar condições favoráveis à complementação do processo de desenvolvimento de suas personalidades. Trata-se, noutras palavras, de sujeitos de direitos em processo de constituição do sujeito adulto, plenamente livre, responsável por seus atos e com capacidade de autodeterminação, cujos direitos visam a garantir parâmetros mínimos que possam realizar essa formação.

Enfim, crianças e adolescentes são titulares de direitos que possam completar o seu desenvolvimento como sujeitos.

O reconhecimento jurídico da especificidade de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos assim é expresso no sistema especial de proteção, adotado pelo ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente. Nos moldes da proteção integral, a estrutura do Estatuto da Criança e do Adolescente contempla três sistemas articulados de garantia: o Sistema primário, que trata das políticas públicas de atendimento à criança e ao adolescente voltadas à efetivação dos direitos referidos na Constituição (artigos 4º e 87); o Sistema secundário, que trata das medidas de proteção dirigidas à criança e ao adolescente, em situação de risco pessoal ou social (artigos 98 a 101); e o Sistema terciário, que trata das medidas sócio-educativas aplicáveis aos adolescentes em conflito com a lei, ou seja, aos autores de atos infratores (SARAIVA, 2002, p.16). A relação entre as políticas públicas e a efetivação dos direitos, indica que a proteção integral de crianças e adolescentes requer um arranjo intersetorial capaz de efetivá-la. A pedra de toque do sistema de proteção integral reside na prioridade expressamente conferida pelo texto constitucional à efetivação dos direitos de crianças e adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente especifica em que consiste essa prioridade, nos seguintes termos: a) Primazia de receber proteção e socorro em quaisquer

circunstâncias; b) Precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) Preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d)

Destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude (artigo 4º, parágrafo único)

Por força de dispositivo constitucional (artigo 207, parágrafo 7º), estendem-se política pública da criança e do adolescente, as diretrizes fixadas para a assistência social, ou seja, a descentralização político-administrativa e a participação da população na elaboração da política e no controle das ações em todos os níveis (CF,artigo 204, I e II ). O caráter articulado das ações de proteção às crianças e aos adolescentes, vem sendo expressamente reconhecido no ECA:

A política de atendimento nos direitos da criança e do adolescente far- se-á por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios(artigo 86)

No âmbito das diretrizes específicas de atendimento, o mesmo diploma legal refere-se, em sintonia com os balizamentos traçados pela Constituição Federal, à municipalização do atendimento, à criação de conselhos nas diferentes instâncias federativas e à integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA criou as bases legais para a implementação de um verdadeiro Sistema de Garantia de Direitos, canalizando ações de diversos atores sociais, à proteção integral dos direitos das crianças e dos adolescentes, porém, dados alarmantes com relação ao ingresso precoce de crianças e adolescentes ao trabalho infantil, chamam-nos a atenção, no sentido de verificar até em que nível institucional está sendo consolidada a garantia dos direitos da criança e do adolescente, na problematização do trabalho infantil?

Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 20 0 Inciso XXXIII do art. 7 da Constituição, passou a ter a seguinte redação: “Proibição do trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos adolescentes com menos de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos (BRASIL, 1988, p. 24). Fixam-se, assim, três idades mínimas: a) inferior aos quatorze anos para trabalho em regime de aprendizagem; b) básica, de dezesseis anos, para trabalho comum; c) superior de dezoito anos, para trabalho noturno, insalubre, perigoso.

Tecnicamente, define-se, como trabalho infantil, o trabalho que se executa abaixo da idade mínima básica, para o trabalho.

Conseqüentemente, passa a ser considerado infantil, e como tal, proibido, o trabalho comum que se executar antes dos dezesseis anos de idade. Quando se trata, ou se fala do trabalho infantil proibido, refere-se àquele em que a criança ou o adolescente, abaixo da idade mínima, se vê obrigado a fazer, em uma empresa ou fora dela, entrando no processo produtivo, para manter sua subsistência e/ou de sua família, sobretudo quando compromete a escolaridade, a saúde e a integridade física ou psíquica.

Embora exista um conjunto de instrumentos jurídico-normativo, convenções, declarações, tanto internacionais como nacionais, já citados neste estudo, que oferecem proteção à criança e ao adolescente, ainda convivemos com a realidade massacrante vivenciada por nossas crianças e adolescentes.

Isso ocorre, por causa de um conjunto de fatores, no qual a pobreza não é um fator exclusivo, responsável, por si só, pela entrada das crianças no trabalho. O trabalho é aceito por uma parcela significativa da sociedade, pelos mitos que ele enseja: é formativo, é melhor criança trabalhar do que não fazer nada; ele prepara a criança para o futuro. Fatores como a estrutura do mercado de trabalho, na qual o que se busca é o lucro desenfreado, mesmo às custas da exploração dessa mão-de- obra dócil e frágil; a pouca densidade da educação escolar obrigatória de qualidade ofertada pelos poderes públicos, além da inexistência de uma rede de políticas públicas sociais fundamentais ao desenvolvimento da infância, são algumas outras razões apontadas, como o incentivo à família para a incorporação de seus filhos nas estratégias de trabalho e/ou sobrevivência.

A sociedade, influenciada por estes motivos, associa o não-trabalho à marginalidade e à delinqüência, corroborando com a idéia de que o trabalho é, por excelência, formador das crianças e adolescentes das camadas populares.

As conseqüências físicas e biológicas do trabalho sobre a criança, podem ser classificadas segundo o tipo de trabalho que ela exerce.

O trabalho penoso provoca estresse, danos físicos e prejuízos mentais; o trabalho insalubre provoca doenças e intoxicações; e o trabalho perigoso pode

ocasionar acidentes ou danos à vida da criança ou do adolescente trabalhador. São locais insalubres e perigosos, entre outros, as minas, os ambientes frios, úmidos ou com calor excessivo, galerias de esgotos , matadouros, curtumes e locais com desprendimento de poeira e resíduos, como do algodão e da cerâmica. As ruas, carvoarias, pedreiras, lavouras e batedeiras de sisal, o corte da cana-de-açúcar e os depósitos de lixo também são exemplos de trabalho infantil perigoso, penoso e insalubre.(Manual do PETI, 2002).

De uma série de conseqüências sociais indesejáveis do trabalho infantil, uma das mais graves é o prejuízo que o trabalho causa à educação escolar das crianças, dado que as inovações tecnológicas têm requerido um novo tipo de trabalhador.

Assim, a escola acaba tendo uma importância muito maior para o desenvolvimento cognitivo das crianças, do que em outros tempos. O nível de escolaridade e a qualidade de ensino constituem-se pré-requisitos para a entrada no seletivo mercado de trabalho. Desse modo, não se pode admitir que lugar de criança seja no trabalho. Ao contrario, lugar de criança é na escola, com uma educação pública de qualidade, que garanta, não apenas o seu ingresso, mas principalmente o seu sucesso escolar.

Como mecanismos e sujeitos mobilizadores na defesa e garantia do direito da criança e do adolescente, o ECA deixa claro que, há um conjunto de circunstâncias especialmente difíceis, que afeta parte dessa população. Uma delas é o trabalho infantil, que acaba discriminando, violentando e oprimindo a população infanto-juvenil das camadas populares, revelando a negligência do Estado e da Sociedade na realização do direito à educação, saúde, ao lazer, à profissionalização, entre outros.

O Estatuto da Criança e do Adolescente indica programas comunitários e governamentais de apoio à família que necessita da força de trabalho de seus filhos para sua sobrevivência, podendo ser acionados para a recuperação de seu verdadeiro papel: provedores da infância e adolescência (artigo 129, parágrafo 1º e artigo 101, parágrafo 4º).

Assim, estabelecem a gestão participativa entre governo e sociedade civil na