• Nenhum resultado encontrado

A proteção integral das crianças e dos adolescentes, garantida pela Constituição Brasileira não se verifica na prática. Explora-se o trabalho infantil; as crianças são submetidas à exploração sexual-comercial e às atividades penosas e insalubres. É preciso refletir sobre o efetivo assumir do Estado e de todas as forças vivas da sociedade, para garantir, efetivamente, que as crianças sejam crianças. Que tenham a infância respeitada.

Delimitou-se por trabalho infantil, tomando como referência o conceito estabelecido pelo Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente (2003) : “todo o trabalho desempenhado por crianças e adolescentes, com idade mínima de início ao trabalho inferior a 16 anos, exceto, na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos”. Ressalta-se, que os documentos internacionais, referentes neste texto, reconhecem a criança até aos 12 anos, e o adolescente como aquela pessoa com idade inferior a 18 anos.

A erradicação do trabalho infantil está na agenda da política social do país, como meta do Programa Nacional de Direitos Humanos. Constitui-se num desafio, tanto para o governo quanto para a sociedade, pois a Infância e a Adolescência merecem proteção especial contra qualquer tipo de negligência, exploração, violência, crueldade e opressão, como determinam a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Na verdade, todas as manifestações de trabalho infantil são consideradas intoleráveis, porque tira da criança a oportunidade de se desenvolver de forma integral, de estudar, de exercer sua cidadania. Nenhuma sociedade democrática pode conviver com o trabalho penoso e degradante de crianças e adolescentes com idade até 14 anos.

Mas, todos sabemos que não se trata de uma missão fácil, ou apenas governamental. A sociedade, como um todo, precisa ser mobilizada, para que o trabalho precoce, que compromete as possibilidades de desenvolvimento integral da criança e do adolescente, seja eliminado, tendo, na oferta educacional, a centralidade inquestionável da política pública.

Como afirma Costa (1997, p. 7-8):

É importante ressaltar que o trabalho infantil deve ser combatido por meio de um pacto político entre empresários, trabalhadores, governo, sociedade e a própria família. Pacto esse, que significa um compromisso de todos ou um esforço concentrado, capaz de mudar essa realidade e estabelecer programas de proteção e desenvolvimento de crianças e adolescentes, como sujeitos de direitos.

Neste contexto, em âmbito nacional, o trabalho infantil vem obtendo especial atenção da sociedade civil organizada, do poder público, dos empregadores, dos trabalhadores e das agências de cooperação internacional.

As ações implementadas de prevenção e erradicação do trabalho infantil e os agentes participantes de tais ações são inúmeros.

Em âmbito internacional, conforme a OIT, UNICEF, a problemática do trabalho infantil está inserida no debate realizado em torno da questão dos direitos humanos, cujo eixo é a proteção dos direitos dos excluídos e vulneráveis, tendo como uma das estratégias relevantes, a mobilização da sociedade civil contra todos os tipos de exclusão, discriminação e repressão. Por meio de tratados, a comunidade internacional tem buscado a garantia de melhoria das condições de vida dos indivíduos, visando assegurar-lhes os seus direitos fundamentais.

Cabe à OIT – Organização Internacional do Trabalho, a proteção dos direitos humanos, no que se refere às esferas econômicas e trabalhistas, estando o combate ao trabalho infantil sob sua alçada. Sua contribuição tem sido registrada, desde 1992, por meio do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil – IPEC. Este programa, juntamente com parceiros locais, vem elaborando diagnósticos, estudos de casos, pesquisas e avaliações, com o objetivo de erradicar o trabalho infantil. (FUNDO, 2004)

O UNICEF tem por mandato, participar da aplicação da Convenção sobre os Direitos da Criança. A prevenção e a erradicação do trabalho infantil constam da cooperação técnica e financeira, desde a década de 90. A participação na definição de políticas, implementação de programas e projetos, elaboração de metodologias e estratégias inovadoras, registro de boas práticas para o enfrentamento do trabalho infantil e atendimento direto à crianças e adolescentes, constituem as ações prioritárias de sua programação no Brasil. (FUNDO, 2004).

Das ações realizadas em âmbito nacional, cabe um destaque à criação do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil - FNPETI, em 1994, com o apoio do UNICEF e da OIT, constituído, atualmente, por 73 entidades: representantes do governo, dos trabalhadores, dos empresários, ONGS, Fóruns Estaduais de Erradicação do Trabalho Infantil, Procuradoria Geral da República e Ministério Público do Trabalho.

O FNPETI tem, por finalidade, viabilizar um espaço de articulação e mobilização dos atores sociais institucionais, relacionados com políticas e programas destinados a prevenir e erradicar o trabalho infantil no país.

O governo federal vem se comprometendo com a prevenção e erradicação do trabalho infantil, por meio do desenvolvimento e aplicação da legislação e por ações desenvolvidas pelo poder executivo. Como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, no âmbito da assistência social, assume novas características de gestão a partir da concepção e implementação de ações articuladas entre as três esferas de governo, incluindo-se os Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social; nas ações articuladas entre as diversa políticas setoriais (educação, saúde, assistência social, trabalho e outras) como também, na parceria efetiva com a sociedade civil mobilizada pelos Fóruns Nacional e Estaduais de Erradicação do Trabalho Infantil, sindicatos de trabalhadores e patronais, e organizações não-governamentais de base local.

O Programa, na área da assistência social, teve início em 1996, com a primeira experiência piloto implantada nas carvoarias do Estado do Mato Grosso do Sul. Em janeiro de 1977, o Programa foi lançado nos canaviais da Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco e, em julho, na região sisaleira do Estado da Bahia. Os canaviais do Estado do Rio de Janeiro passam a ser contemplados, em seguida. (Série Programas de Assistência Social, 1997).

O Programa possui três eixos de atuação: concessão da Bolsa Criança Cidadã, execução da jornada ampliada e trabalho com as famílias (educativo e de geração de emprego e renda). O PETI prevê, ainda, o controle social por meio das Comissões de Erradicação do Trabalho Infantil, Conselhos de Direitos da Criança, Conselhos de Assistência Social e Conselhos Tutelares.

Desde 2000, o PETI estabeleceu parceria junto ao Ministério do Trabalho Emprego - MTE, por meio de um Termo de Cooperação Técnica. Essa ação, teve como finalidade, implementar conjuntamente, as ações voltadas à erradicação do trabalho infantil. Esse Termo prevê que uma vez identificada, nas fiscalizações realizadas pelo MTE, a existência de crianças e adolescentes em situação de trabalho precoce, terão

prioridade de ingresso no PETI. Outro aspecto pactuado consiste na delegação de competência ao MTE, para supervisionar a jornada ampliada.(BRASIL, 2004)

O Ministério do Trabalho e Emprego vem contribuindo para o objetivo de erradicação do trabalho infantil, intensificando a fiscalização do trabalho infanto-juvenil, bem como delimitando os procedimentos adotados pelos auditores fiscais do trabalho (Instrução Normativa nº 01/2002), em parceria com os Conselhos Tutelares, entidades sindicais e Ministério Público do Trabalho – MPT. Cabe ao MTE a competência de mapeamento dos focos de trabalho infantil no Brasil. Outra medida efetivada por esse Ministério foi a criação dos Grupos Especiais de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente – GECTIPAs. Estes grupos, instalados nas 27 unidades federativas, foram instituídos no âmbito das Delegacias Regionais do Trabalho – DRTs.

O enfrentamento do trabalho infantil conta também com a participação do Ministério Público do Trabalho, que instituiu a Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente, que tem como principal objetivo: “integrar as Procuradorias Regionais do Trabalho em uma atuação uniforme e coordenada, de combate ao trabalho infantil e de regularização do trabalho do adolescente, assim como fomentar a troca de experiências e discussões sobre a temática”.(FUNDO, 2004)

A Coordenadoria estabeleceu metas prioritárias, definiu as diretrizes a serem seguidas e as parcerias que viabilizaram as ações efetivas. Entre as metas prioritárias eleitas, estão o combate ao trabalho infantil doméstico, o trabalho de crianças e adolescentes nos lixões e em atividades ilícitas (tráfico de drogas e exploração sexual).

No âmbito da sociedade civil organizada, podem ser destacadas as importantes ações desenvolvidas por diferentes e inúmeras organizações não governamentais, como a Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI, Cáritas Diocesana, Fórum Nacional dos Direitos da Criança – Fórum DCA, Fórum Nacional Lixo e Cidadania, Instituto Ayrton Senna, Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, Instituto de Estudos Sócio-Econômicos – INESC, Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – MNMMR, Missão Criança e Movimento de Organização Comunitária – MOC, entre outras.

Outros atores fundamentais são as centrais sindicais e o setor patronal. As centrais sindicais têm se posicionado publicamente contra o trabalho infantil e realizado ações específicas, participando junto com os representantes dos empregadores no FNPETI.

Além disso, desde 1996, a Fundação Abrinq, pelos Direitos da Criança, vem articulando cadeias produtivas para a pactuação de não empregar crianças, apoiar a escola e investir nos fundos municipais. Desenvolve, também, o Programa Empresa Amiga da Criança, que estimula o crescimento do número de empresas engajadas no enfrentamento do trabalho infantil.

Em 1999 e 2001, nota-se uma redução nos índices de trabalho infantil. A influência do PETI nesse resultado é reafirmada por uma relação estatística comprovável entre redução do número de crianças e adolescentes trabalhadores e a elevação do número de crianças e adolescentes atendidas pelo PETI, por unidade federativa. O alto nível de correlação entre essas duas variáveis é expresso pelo coeficiente de correlação de 0,91. Ressalta-se que o coeficiente de correlação “expressa a relação entre duas variáveis. Os valores do coeficiente de correlação variam entre –1 (máxima correlação negativa), 0 (inexistência absoluta de correlação) e + 1 (máxima correlação positiva)”. (FUNDO, 2004, p.11).

A evolução da luta para a erradicação do trabalho infantil nesses anos, estabelece uma conexão que merece destaque: o PETI teve papel fundamental para a diminuição dos índices do trabalho precoce no Brasil. Relacionando os dados do PETI com as informações sobre as variações quantitativas de crianças e adolescentes inseridos no trabalho infantil, pode-se aferir que “o aumento no número de crianças atendidas pelo PETI, no período de 1999 a 2001, corresponde a 72 por cento da redução no número de crianças trabalhadoras (nas faixas de 5 a 15 anos), ocorrida no período” (FUNDO, 2004, p. 11).

De acordo com o UNICEF (2004, p. 7), entre os anos de 1999 e 2001, pode-se aferir que houve uma redução, em termos absolutos, do trabalho infantil em aproximadamente 1,15 milhão, sendo que destes a maior parte (cerca de 750 mil) está compreendida nas faixas etárias de 10 a 15 anos. A redução, em termos relativos, ocorreu da seguinte maneira: na faixa etária de 5 a 9 anos de idade, de 24%, 18% nas

faixas etárias de 10 a 15 anos, enquanto que entre 16 e 17 anos, houve um decréscimo de 8%.

Comparando o ano de 1999 ao de 2001 (FUNDO, 2004, p. 7), identifica-se que, segundo as grandes regiões, houve redução do trabalho infantil em todo país, em diferentes proporções, sendo que este processo foi mais intenso, em termos absolutos, no Nordeste, especialmente na faixa etária de 10 a 15 anos de idade, em termos relativos, correspondente à mesma faixa etária, no Centro Oeste e no Norte Urbano. Os estados que apresentaram maior incidência de trabalho infantil,na faixa etária de 5 a 15 anos, em termos absolutos, foram Bahia, Minas Gerais e Maranhão. Houve uma alteração na distribuição setorial do trabalho infantil, a qual consistiu em diminuição das atividades agrícolas e no aumento da participação nas atividades comerciais e de serviços.

Os eixos do PETI como já mencionamos acima, são o repasse da Bolsa Criança Cidadã; a execução da jornada ampliada; e o trabalho com as famílias, que se subdivide em duas naturezas:sócio-educativo e de geração de emprego e renda.

O público-alvo é a família que tenha filho(s) na faixa etária de 7 a 15 anos de idade, os quais devam estar inseridos em alguma das formas de trabalho caracterizadas como perigosas, penosas, insalubres ou degradantes, regulamentadas pela Portaria nº 20, publicada em 2001, pelo Ministério da Assistência Social. Terão prioridade as famílias com renda per capita de até ½ salário mínimo.

Os valores da Bolsa Criança Cidadã e da jornada ampliada, na época da realização desta pesquisa eram diferenciados segundo as áreas rural e urbana. Os valores da Bolsa são de R$ 25,00 para a área rural e de R$ 40,00 para área urbana, sendo que para os muni’pios com população abaixo de 250.000 habitantes, o valor é de R$ 25,00, independentemente da localização geográfica. Para execução da jornada ampliada, são disponibilizados para a área urbana, R$ 10,00 por criança e adolescente, enquanto que para a área rural, R$ 20,00.

Os critérios de permanência da Família no Programa, são os seguintes: todos os filhos com menos de 16 anos devem estar preservados de qualquer forma de trabalho infantil; a criança e/ou adolescente participante do PETI, deverá ter freqüência escolar mínima de 75% e o mesmo percentual de freqüência nas atividades propostas pela

jornada ampliada; e as famílias beneficiadas deverão participar das atividades sócio- educativas e dos programas e projetos de geração de emprego e renda ofertados. O tempo de permanência no Programa é determinado pela idade da criança e do adolescente, sendo também, critério para desligamento.

O financiamento do Programa e sua gestão estão sob a responsabilidade das três esferas do poder público. A disponibilização, dos recursos para execução do PETI está definida na Portaria nº 458, de 4 de outubro de 2001/SEAS. Os recursos são repassados aos municípios através do Fundo Nacional de Assistência Social, junto aos municípios e estados.

O marco inicial de enfrentamento ao trabalho infantil ocorreu nos fornos de carvão e na colheita da erva-mate de 14 municípios do estado do Mato Grosso do sul, tendo, ao longo dos anos, uma expansão significativa, em termos de atendimento.(MPAS/SAS, 1997).

O PETI, como já nos reportamos neste trabalho conta com inúmeros parceiros, entre eles: MTE, MPT, FNPETI, OIT, UNICEF e Fórum Nacional Lixo e Cidadania. Destaca-se a atuação dos gestores locais e dos membros das Comissões de erradicação do Trabalho Infantil, como agentes estratégicos de fundamental importância para construção e sucesso do PETI.

Segundo o Relatório de Gestão 2001 – PETI e Gerência Nacional do PETI (Brasília, agosto 2003), no primeiro ano de execução do Programa, o ano de 1998, o atendimento cresceu cerca de 3.000%, enquanto que os recursos disponibilizados elevam-se na proporção de 4.000%. De 1999 para 2001, o Programa apresentou um crescimento de cerca de 500% em termos de atendimentos e 350% de recursos aplicados. A ampliação da cobertura do Programa de 2001 para 2003, em termos de atendimento, implicou na inserção de apenas 59.795 crianças e adolescentes, representando um incremento muito pequeno, que pode indicar uma desaceleração em termos de atendimento e uma diminuição dos recursos financeiros.

Assim pôde-se observar que o PETI atendeu, no ano de 2003, 809.148 crianças e adolescentes, sendo que, destes, 497.001 eram oriundos da zona rural e 312.147 da zona urbana, contemplando 2.601 municípios das 27 unidades da federação. Os recursos disponibilizados pela esfera federal nem sempre são proporcionais à variação

do atendimento realizado, ou seja, a relação entre o número de crianças e de adolescentes a serem inseridos e o volume de recursos a serem utilizados depende do mês em que os beneficiários, são indicados no Programa.

Em relação ao Estado do Rio Grande do Norte, segundo dados da Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social, o mesmo atende, no ano de 2006, a 154 municípios com a meta de 43.474 crianças e adolescentes no PETI.

No âmbito nacional, houve uma redução nos recursos aplicados no PETI em 2003, mas que não ocasionou diminuição no número de crianças e adolescentes atendidos, tendo existido, ao contrário, um ligeiro aumento em relação ao ano de 2002. A diminuição dos recursos não afetou diretamente o público atendido pelo PETI, já que se estima que o impacto da redução tenha recaído sobre a jornada ampliada e outras ações desenvolvidas pelo Programa, em especial as de geração de emprego e renda. O desembolso mensal de recursos do Programa, para todo o país, tomando como base o mês de agosto de 2003, foi da ordem de R$ 37.189.245,00. Destes, R$ 22.566.955,00 foram destinados à concessão da Bolsa Criança Cidadã e de R$ 14.622.290,00 repassados aos municípios e o atendimento efetivado representa que o governo federal tem assumido, ainda que de forma limitada, os compromissos com o enfrentamento do problema. (BRASIL, 2004).

Observa-se, a partir dos dados acima, o quanto é preciso ainda fazer muito pelas crianças e adolescentes que são exploradas pelo trabalho. O valor inegável das ações empreendidas para erradicação do trabalho infantil, através do PETI é visível, apesar das imperfeições e incompletudes desse processo, o especial mérito da intervenção foi o de se ter desenhado um quadro geral de possibilidades de ação em favor da criança e do adolescente, envolvidos em trabalho degradante e desumano.

Em relação ao estudo que vimos desenvolvendo, aprendemos que o Programa vem se constituindo num desafio permanente de um gerenciamento

marcado por grande complexidade, dada a necessidade da articulação de iniciativas de muitas e diferentes organizações, exigindo um exercício permanente de negociação e consensualização das decisões nos diversos níveis de competências e responsabilidades.

Entrevistada sobre a existência de fragilidades no processo de execução do PETI, uma das técnicas, afirma que há necessidade de:

Mobilização e conscientização da Sociedade para os malefícios do trabalho infantil; combate às formas de exploração infanto-juvenil através de denúncias aos órgãos competentes e proposta pedagógica que trabalhe o desenvolvimento sócio educativo e cultural da criança e do adolescente, assistidos com um instrumento de consolidação de inclusão social.

Como vimos, a centralidade do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil está na educação, buscando o reingresso, a permanência e o sucesso escolar de crianças e adolescentes. E mais, a oportunidade de implementação de ações complementares, que garantam o desenvolvimento das competências básicas necessárias ao sucesso escolar, ao domínio da vida e ao exercício da cidadania, tem exigido a aceleração do atendimento educacional, a melhoria da oferta desse serviço, e a estreita relação entre a escola e as ações complementares.

Quanto ao trabalho sócio-educativo com as famílias, o mesmo baseia-se nas ações que oferecem oportunidade de desenvolvimento social, humano e econômico, visando a socialização, à ampliação do campo de conhecimento, dos vínculos relacionais e da convivência comunitária. (Manual de Orientações do PETI, 2002).

Entretanto, é na explicitação da coordenação do PETI, que vemos revelada uma das fragilidades do Programa:

Acreditamos que algumas ações precisam se implementar para o bem estar das famílias. Consideramos que existiram mudanças muito significativas em relação a questão do trabalho infanto juvenil, pois os responsáveis mostram-se comprometidos com os critérios do Programa. São bastantes assíduos aos encontros e reuniões. No entanto, faltam cursos de qualificação profissional destinado a uma especialização de uma clientela com quase nenhuma qualificação, que busca a inserção no mercado de trabalho e isso, na maioria das vezes, acontece de maneira informal, com baixos salários e péssimas condições de trabalho.

Neste sentido, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, operacionaliza uma Política de Proteção Social que busca intervir, na realidade, tendo em vista a transformação desta mesma realidade, melhorando as condições de vida de

seus usuários e famílias, como também, viabilizar os direitos sociais, condição básica para a superação da vulnerabilidade de crianças e jovens adolescentes. Sendo o PETI um instrumento de gestão social, buscaremos, a seguir, fazer uma reflexão e análise, do que se constituirá a base da nossa contribuição em relação à da avaliação do programa, na perspectiva da Assistência Social, ou seja, desse Programa no âmbito do estado do Rio Grande do Norte e, mais especificamente, na cidade do Natal, em um dos núcleos que se constituiu “lócus”da nossa pesquisa o Núcleo Social de Cidade Nova.

3 O PETI NO NÚCLEO DE CIDADE NOVA EM NATAL – RN: O LIXÃO NUNCA MAIS!

Retorno mais uma vez ao Lixão de Natal, situado no bairro de Cidade Nova, hoje, não para entrevistar os seus sobreviventes. Hoje, as vítimas não precisam falar, não precisam retratar a desgraça em que foram mergulhadas. Hoje elas não precisam dizer o que sentem, as suas angústias, as suas desesperanças, as suas tristezas, as suas frustrações, os seus sonhos irrealizáveis. Toda essa fatalidade eu leio nos seus olhos sem brilho, nas suas vestes, na sua face, no seu corpo marcado pela dor e maltratado pela fome, pelo abandono social, pela omissão da sociedade. (SILVA, 1999, p. 23).

O levantamento do Jornalista João Edmilson Silva constituiu-se um dos estudos que muito influenciou o processo de mudança de todo um quadro de miséria das