• Nenhum resultado encontrado

FATORES ASSOCIADOS À EVOLUÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

3.2 Demografia, urbanização e participação das crianças no mundo do trabalho

3.2.2 As crianças no trabalho segundo a PNAD

Conforme já mencionado, de acordo com os dados da PNAD, desde meados da década de 70 tanto a magnitude da ocupação de crianças quanto as tendências aqui apontadas a respeito de sua evolução podem ter sido diferentes.

O gráfico 16 nos permite comparar os dados relativos à quantidade e à proporção de pessoas de 10 a 14 anos ocupadas na semana de referência conforme as informações coletadas em âmbito nacional pelos censos demográficos e pela PNAD entre 1973 e 2013.

Ao contrário do que ocorreu com a PEA, que teve sua definição alterada em algumas ocasiões conforme foram se sucedendo os levantamentos, a variável

53. Finalizada a análise do gráfico 15, é importante mencionar que as taxas de atividade da PEA de 10 a 14 anos nele apresentadas para os anos de 1980 (14,5%), 1991 (10,5%) e 2000 (9,4%) são muito inferiores às constantes na tabela 2, apresentada no capítulo 2 (ver p. 18), correspondentes respectivamente a 20,3%, 17,2% e 14,9%. Para os demais anos da série as diferenças são inferiores a 0,5%. Entendemos que tais diferenças, embora elevadas, não comprometem o sentido da análise aqui empreendida, na qual se buscou salientar as tendências gerais. Os dados constantes na tabela 2, utilizados para comparação internacional, foram extraídos de publicações da CEPAL (1985; 1996) e do BID (2014), que utilizaram informações provenientes de levantamentos amostrais domiciliares ou de emprego. Para o gráfico 15, utilizamos dados provenientes de levantamentos censitários. Conforme será visto, mesmo para o período recente persistem no Brasil diferenças consideráveis entre os resultados apurados pelos censos demográficos e pela PNAD.

relativa à população ocupada não sofreu mudanças tão significativas, salvo aperfeiçoamento relativo à sua definição no início dos anos 90, sobre o qual comentaremos.

Gráfico 16

Evolução da população de 10 a 14 anos ocupada (em milhares) e da proporção de ocupados (%) na semana de referência

segundo os censos demográficos e a PNAD – Brasil (1973-2013)

Fontes: IBGE, censos demográficos e PNAD referentes ao período entre 1973 e 2013. Notas: Dados trabalhados pelo autor.

As fontes, incluindo os números das tabelas consultadas, estão especificamente mencionadas na tabela 30 (Apêndice B, p. 411), que reúne os dados primários em série histórica.

(1) Períodos ou anos sem realização de levantamentos.

(2) A PNAD de 1977 não publicou dados relativos aos ocupados por grupos de idades.

(3) Até 1979 a PNAD não abrangeu a população rural de oito Estados (Roraima, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Mato Grosso e Goiás). A zona rural de Mato Grosso e de Goiás foi incluída na amostra em 1981, e a dos demais Estados em 2004, quando a amostra passou a considerar de fato todo o território nacional.

(4) A forte oscilação positiva da ocupação em 1992 está associada a melhoria introduzida no questionário.

1.84 6 1.46 1 1.14 2 1.06 9 2.78 0 2.53 3 2.72 8 2.93 4 2.62 2 2.83 1 2.535 2.58 5 2.76 4 2.80 3 2.77 3 2.84 7 2.97 8 2.87 4 3.49 5 3.45 2 3.28 9 2.59 6 2.55 8 2.48 5 2.53 3 1.95 0 1.88 3 1.70 6 1.71 4 1.86 7 1.72 4 1.59 3 1.31 9 1.25 8 1.02 7 797 779 22,4 18,4 20,2 18,4 16,9 20,5 14,9 14,9 11,6 10,4 10,8 7,2 6,0 4,84,7 12,9 8,6 6,6 6,2 0,0 3,0 6,0 9,0 12,0 15,0 18,0 21,0 24,0 0 450 900 1.350 1.800 2.250 2.700 3.150 3.600 1973 1974- 75 (1) 1976 1977 ( 2) 1978 1979 1980 1981 (3) 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 (4) 1993 1994 (1) 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 (3) 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

ocupados (PNAD) ocupados (censos demográficos)

proporção de ocupados (PNAD) proporção de ocupados (censos demográficos)

pessoas de 10 a 14 anos ocupadas (milhares)

proporção de ocupados (%)

O período relativo à semana de referência para esta variável também se manteve permanente ao longo dos levantamentos, o que melhora a comparabilidade dos dados para a análise da evolução do indicador 54.

As diferenças a respeito do número de ocupados no grupo de 10 a 14 anos estimadas ao longo do tempo pelos dois levantamentos são muito acentuadas, com a PNAD apresentando números muito maiores durante quase três décadas consecutivas. Apenas recentemente os dois levantamentos estimaram números similares.

De acordo com os censos a proporção de ocupados declinou expressivamente nos anos 80, passando de 12,9% em 1980, para 8,6% em 1991.

Mas os levantamentos da PNAD, além de detectarem números e proporções muito mais elevados, não confirmam tendência tão clara para aquela década. O gráfico 16 mostra que, entre 1981 e 1990, período no qual a Pesquisa manteve a mesma abrangência territorial (não incluía apenas a zona rural de seis Estados da Região Norte) e também o mesmo padrão de questionário, a situação quanto à ocupação de crianças de 10 a 14 anos teria praticamente se mantido sem alterações.

Segundo esta fonte o número de ocupados cresceu em ritmo próximo ao das estimativas populacionais para o grupo de idade em questão, de forma que, em termos relativos, praticamente se manteve estável. Nos cinco primeiros levantamentos da década (1981 a 1985), a proporção de ocupados se manteve muito próxima do valor médio de 18,5%, percentual que declinou ligeiramente para a média de 17,7%, se considerados os cinco levantamentos realizados no quinquênio seguinte (1986 e 1990).

Vale registrar que parte das variações anuais entre alguns levantamentos realizados na década de 80 quanto ao número absoluto de ocupados pode ter decorrido, ainda que em pequena medida, de mudanças no tamanho da amostra e de revisões das próprias projeções populacionais. Em 1986, por exemplo, ocorreu um

54. Nos levantamentos realizados entre 1992 e 2013 a PNAD pesquisou adicionalmente o número de ocupados no período de referência de 365 dias para os grupos de cinco a nove anos e de 10 a 14 anos de idade. Embora o período de referência de 365 dias seja mais adequado para o dimensionamento da ocorrência do trabalho infantil, no gráfico 16 optamos pela semana de referência de forma a permitir melhor comparabilidade com os censos demográficos e para todo o período analisado. Na tabela 30 (Apêndice B, p. 411) consta a série histórica com os dados brutos da PNAD relativos aos períodos de referência da semana e de 365 dias.

redimensionamento da amostra da PNAD, e em quase todas as unidades da federação a fração amostral foi reduzida para a metade (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1988b). Quanto ao “universo” de crianças de 10 a 14 anos, as estimativas da PNAD resultaram em “crescimento populacional” deste grupo de idade da ordem de 12,3% em apenas três anos (entre 1984 e 1987), contra apenas 6,3% no triênio anterior, e 0,2% no posterior (para os dados primários, ver a tabela 30, Apêndice B, p. 411). Assim, o uso da PNAD requer considerável cautela quando o que se pretende é estudar variações de curto prazo (anuais), e quanto menores forem as unidades geográficas (Estados ou regiões metropolitanas), ou ainda quanto mais desagregados (por diversas categorias) sejam os dados em análise.

Por outro lado, para o conjunto do país, apesar de ser a PNAD composta por amostra muito menor que os censos, os dados obtidos por estes são indicativos de provável subdimensionamento a respeito da ocupação de crianças de 10 a 14 anos em 1980, 1991 e, em menor medida, em 2000. E não estamos nos referido a pequenas diferenças.

Ao final dos anos 80, após oscilações que resultaram em ligeiro aumento no número de ocupados no decorrer da década (entre 1981 e 1990), a PNAD estimava que o total de crianças de 10 a 14 anos nesta condição no país se aproximava de três milhões. Já o censo demográfico de 1991 além de indicar a mencionada tendência de declínio a partir da comparação com o censo anterior (1980), apurou algo próximo a 1,5 milhões de ocupados no grupo de idade em questão.

Além disso, o resultado da PNAD de 1992 aprofundou a diferença entre os valores apurados pelos dois tipos de levantamento, estimando em quase 3,5 milhões o número de ocupados de 10 a 14 anos, valor quase 140% maior que o encontrado pelo censo de 1991.

É certo que, se não a totalidade, grande parte desta forte variação “para cima” do número de ocupados entre 1990 e 1992 tenha decorrido de aperfeiçoamento da PNAD, na qual foi introduzida mudança que tornou mais precisa a definição de pessoa ocupada. O questionário foi alterado de maneira a se tornar mais sensível, sobretudo, à captação de informações relacionadas a formas específicas de trabalho não remunerado, como trabalho “na construção para o próprio uso” e, muito

frequente no grupo de idade de nosso interesse tanto na zona urbana quanto na rural, o trabalho “na produção para o próprio consumo”.

Do aumento contábil de aproximadamente 620 mil ocupados entre os dois levantamentos, pouco mais da metade (51,9%) foi entre residentes em zona urbana, e 48,1% entre residentes em zona rural (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1993, tabela 3.7; 1997a, tabela 4.9).

Esta variação pode ser explicada, em ampla medida, pelas mudanças conceituais e metodológicas introduzidas, conforme deixa evidente a análise dos questionários adotados nos levantamentos realizados pela PNAD em 1990 e 1992, e também a comparação de alguns dados 55.

A comparação entre os questionários utilizados nos dois levantamentos, no que diz respeito aos quesitos relativos ao trabalho, evidencia que o conjunto de modificações introduzidas em 1992 foi o principal fator responsável por esta importante variação no número de ocupados em relação a 1990. Já no início do bloco 9 do questionário de 1992, relativo às “características de trabalho e rendimento dos moradores de 10 anos ou mais de idade” foram introduzidas duas questões nas quais se pergunta se a pessoa exerceu, na semana de referência, “tarefas em cultivo, pesca ou criação de animais destinados à própria alimentação das pessoas moradoras no domicílio” (questão 2), e também “em construção de prédio, cômodo, poço ou outras obras de construção destinadas ao próprio uso de pessoas moradoras do domicílio” (questão 3). No questionário de 1990 estas duas questões ainda não constavam.

Além disso, em 1992, a pergunta destinada à posição na ocupação (questão 8), foi desdobrada em 13 alternativas de resposta, incluindo as categorias “trabalhador não remunerado membro da unidade domiciliar”, “outro trabalhador não remunerado” e “trabalhador na produção para o próprio consumo”. Em 1990, constavam nove alternativas de resposta, entre elas apenas uma genérica denominada “não remunerado” (questão 5) 56.

55. As implicações da mudança no questionário de 1992 para a análise da evolução do mercado de trabalho foram discutidas por Dedecca (1998).

56. Ver nos questionários da pesquisa básica, especificamente o bloco 4 da PNAD de 1990 e o bloco 9 da PNAD de 1992, respectivamente disponíveis em <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ instrumentos_de_coleta/doc0373.pdf>, e em. <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/instrumentos_ de_coleta/doc0377.pdf> (acessos em 23 jul. 2014).

Quanto aos resultados, na PNAD de 1990 não foi publicada tabela com cruzamento de dados relativos à posição na ocupação e aos grupos de idade.

Mas os números disponíveis mostram que a totalidade de ocupados (todas as idades) aumentou aproximadamente 3,5 milhões entre 1990 e 1992. Enquanto as categorias “empregados” e “empregadores”, sempre em números aproximados, “encolheram” respectivamente 1,6 milhões e 450 mil, os “não remunerados”, a partir de 1992 distribuídos entre “não remunerados”, “trabalhadores na produção para o próprio consumo” e “trabalhadores na construção para o próprio uso”, “cresceram” em mais de 5,2 milhões de trabalhadores.

Somente para o grupo de 10 a 14 anos, estas três categorias relativas à posição na ocupação totalizaram mais de 2,2 milhões de pessoas (1,908 milhões de “não remunerados”, 292 mil “na produção para o próprio consumo” e 17 mil “na construção para o próprio uso”) representando 63,5% do total de quase 3,5 milhões de ocupados deste grupo de idade (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1993, tabela 3.14; 1997a, tabela 4.19).

Por essas razões, para o período de 1992 em diante, os dados da PNAD permitem maior precisão para o dimensionamento da ocupação das crianças de 10 a 14 anos e consequentemente para a análise das tendências a respeito. E, em princípio, esta melhoria também ocorre para os censos, já que os levantamentos de 2000 e de 2010 incorporaram a mudança introduzida no questionário da PNAD de 1992, passando a adotar questões similares na investigação sobre trabalho 57.

E foi justamente a partir dos anos 90 que os resultados obtidos pelos dois tipos de levantamento começaram a trajetória de convergência entre si, ainda que no início da série os dados estivessem situados em patamares tão distintos.

Voltando à análise das tendências de ocupação das crianças de 10 a 14 anos, o gráfico 16 mostra que após o elevado número de quase 3,5 milhões de ocupados estimado para 1992, foi iniciada uma trajetória de queda no número e na proporção de crianças nesta condição, que declinou de 20,5% em 1992 para 18,7% em 1995.

57. Para os censos demográficos, ver nos questionários da amostra, especificamente as questões 41 a 58 (em 1991), 4.39 a 4.56 (em 2000), e 6.41 a 6.55 (2010), disponíveis, respectivamente, nos seguintes endereços (acessos em 22 jul. 2014): <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ instrumentos_de_coleta/doc0167.pdf>, <http://www.ibge.gov.br/censo/quest_amostra.pdf>, e <http:// censo2010.ibge.gov.br/images/pdf/censo2010/questionarios/questionario_amostra_cd2010.pdf>.

Em 1996, a PNAD constatou uma queda abrupta de 21,1% no número de crianças deste grupo de idade ocupadas, que passou de quase 3,3 milhões em 1995 para menos de 2,6 milhões em 1996. A proporção declinou dos mencionados 18,7% em 1995 para 14,9% em 1996.

Dessa forma, no período de quatro anos decorridos entre 1992 e 1996 a PNAD contabilizou um declínio de quase 900 mil crianças ocupadas, correspondo a uma redução média de 7,2% no número de ocupados a cada ano. Isso sugere que os primeiros anos do Plano Real podem ter resultado em importante impacto favorável à redução do trabalho infantil 58.

A partir de então, ou seja, entre 1996 e 1999, a PNAD praticamente não detectou redução da ocupação, com a proporção de ocupados se mantendo um pouco abaixo dos 15%.

A comparação dos dados dos censos de 1991 e 2000 quanto ao número de ocupados também indica clara tendência de queda. Mas, no caso dos censos, os números indicam menor ritmo de redução da ocupação para o grupo de idade analisado. Entre 1991 e 2000 o número de ocupados teria declinado, em média, 2,7% ao ano, contra a média anual de 4,5% se consideradas as estimativas da PNAD para 1992 e 1999.

Não podemos esquecer, no entanto, que o censo de 2000 incorporou ao questionário as mudanças introduzidas pela PNAD de 1992 quanto à ocupação. Assim, devemos considerar que, caso a mudança no questionário já tivesse ocorrido no censo de 1991, o levantamento teria resultado, naquele ano, em número bem maior de ocupados, como evidenciou a forte variação “para cima” ocorrida entre os levantamentos da PNAD realizados em 1990 e 1992.

Para nós, o ritmo de queda da ocupação nos anos 90 não é questão de menor importância. Aquela foi a década de implantação do PETI em âmbito federal, mas o impacto do Programa não pode ter sido expressivo até pelo menos o ano de 1999, já que até então a cobertura ainda não havia atingido sequer 150 mil crianças (gráfico

58. No mesmo período, a renda média dos ocupados (todos os trabalhos) se elevou, no conjunto do país, de R$923,18 (1992) para R$1.238,87 (1996), representando um acréscimo de 34,2% em termos reais. A partir deste pico, o indicador declinou até 2003 (R$1.029,72), quando voltou a subir, para então só voltar ao patamar de 1996 no ano de 2008 (R$1.240,79), desde quando continuou subindo até chegar a R$1.475,72 em 2012. Os valores são oriundos da própria PNAD, e foram atualizados para outubro de 2012 pelo IPEA (INSTITUTO … – IPEA, 2014).

4, p. 50). Assim, a compreensão do que ocorreu após 2000 não pode deixar de considerar que mesmo antes do Programa já se configurava clara tendência de queda da ocupação das crianças de 10 a 14 anos.

Neste sentido, a série histórica apresentada no gráfico 16 não deixa dúvida de que os anos 90 marcaram um período de efetiva queda da ocupação de crianças de 10 a 14 anos, seja qual for o levantamento consultado, tendência que foi ainda mais acentuada para o grupo de cinco a nove anos, conforme será visto no capítulo 4. Muito embora as curvas relativas à proporção de ocupados resultantes dos dados dos dois tipos de levantamentos tenham apresentado tendência de convergência durante os anos 90 (gráfico 16), a diferença entre os números estimados permaneceu ainda muito elevada, com o censo demográfico de 2000 encontrando uma quantidade de ocupados de 10 a 14 anos de idade (1,14 milhões) correspondente a 45,1% do número que a PNAD estimara apenas um ano antes (2,53 milhões).

Mas já em 2001 a PNAD estimou número (1,95 milhões) e proporção de ocupados (11,6%) muito inferiores às que contabilizara em 1999, e desta vez a queda no conjunto do país foi da ordem de 24,0% em apenas dois anos. Em 2001, comparativamente a 1999, havia algo em torno de menos 580 mil crianças de 10 a 14 anos ocupadas, das quais 510 mil a menos em atividades agrícolas. Só no Nordeste, no mesmo período, o número total de ocupados declinou 330 mil ou aproximadamente 25% em dois anos, dos quais 300 mil entre moradores em domicílios rurais (INSTITUTO … – IBGE, 2014e, tabela 4.9).

É bastante provável que parte expressiva desta redução esteja associada à forte expansão do PETI ocorrida no mesmo período (de 1999 e 2001), quando o número de beneficiários quintuplicou, passando de aproximadamente 150 mil para 750 mil (ver gráfico 4, p. 50). Adiante, confrontaremos alguns dados a respeito (seção 4.1). Após a redução detectada em 2001, a ocupação se manteve em patamar similar até meados da década, desde quando o número e a proporção de ocupados vêm diminuindo continuamente. Entre 2005 e 2013 o número de ocupados na semana de referência declinou 58,3%, com a proporção de crianças de 10 a 14 anos nesta condição caindo de 10,8% para 4,7%.

O gráfico 16 mostra que após 30 anos os resultados da PNAD finalmente apresentaram números muito próximos aos apurados pelo censo. Mas as distintas curvas relativas às proporções de ocupados no grupo de idade de 10 a 14 anos lançam uma dúvida quanto ao ritmo de declínio do trabalho infantil ocorridos nos anos 90 e 2000.

Conforme já analisado, os dados dos três últimos censos demográficos (1991, 2000 e 2010) mostram que nas últimas duas décadas a ocupação de crianças de 10 a 14 anos teria declinado de forma modesta. De acordo com os números desta fonte, o total de pessoas de 10 a 14 anos ocupadas teria diminuído, em média, 2,70% ao ano entre 1991 e 2000, e apenas 0,66% entre 2000 e 2010.

Já para a PNAD, o ritmo de redução teria sido muito mais intenso, correspondendo às médias anuais de 6,28% entre 1992 e 2001, e de 6,21% entre 2001 e 2011. A tabela 6 nos ajuda a compreender porque entre os dois tipos de levantamentos os números são tão díspares e onde estão situadas as diferenças entre eles. Ela apresenta os números sobre a posição na ocupação da população de 10 a 14 anos conforme os resultados dos três últimos censos e dos três levantamentos da PNAD realizados nos anos subsequentes aos mesmos.

A comparação entre os dois tipos de levantamentos realizados em cada início de década indica que nos censos demográficos de 1991 e 2000 ocorreu grande dificuldade para captar a informações necessárias ao adequado dimensionamento do trabalho realizado pelas crianças.

Conforme já discutido, em 1991 essa dificuldade foi consequência, em ampla medida, do próprio questionário que até então era adotado para a identificação e caracterização da situação de trabalho das pessoas de 10 anos ou mais. Isso resultou que apenas uma pequena parcela do trabalho não remunerado (405 mil pessoas) fosse identificado, quando a PNAD de 1992 revelou ser este contingente de crianças superior a 2,2 milhões no grupo de 10 a 14 anos de idade. Mesmo entre os empregados a parcela identificada pelo censo de 1991 foi menor que a parcela identificada pela PNAD de 1992.

E, mesmo em 2000 sendo o questionário da amostra reformulado, com a adoção de modelo similar ao adotado pela PNAD desde 1992 no que diz respeito às questões de trabalho, ao contrário do que se poderia esperar, permaneceram grandes as

diferenças entre os dois levantamentos. Como se sabe, além do questionário, muitos outros aspectos influenciam os resultados de pesquisas que requerem operações de grande porte como são os casos da PNAD e dos censos, incluindo robustez (tamanho e qualidade) das amostras, a forma e o valor da remuneração do pessoal envolvido, os critérios de seleção e o regime de contratação dos trabalhadores de campo (entrevistadores), o investimento em treinamento, os mecanismos de supervisão, o processamento dos dados, o tempo disponível para realização de cada etapa etc.

Tabela 6

População de 10 a 14 anos ocupada na semana de referência,

por posição na ocupação no trabalho principal, segundo os censos demográficos e a PNAD em anos selecionados (em milhares) – Brasil (1991-2011)

posição na ocupação no trabalho principal

períodos, levantamentos e respectivos anos de realização início dos anos 90 início dos anos 2000 início dos anos 2010 Censo 1991 [A] PNAD 1992 [B] [B]-[A] Censo 2000 [C] PNAD 2001 [D] [D]-[C] Censo 2010 [E] PNAD 2011 [F] [F]-[E] total 1.461 3.495 2.034 1.142 1.954 812 1.069 1.027 -42 empregados (1) 860 1.091 231 466 511 45 354 304 -50 empregados 860 790 -70 466 368 -98 279 237 -42 trabalhadores domésticos … 301 301 … 143 143 75 67 -8 empregadores 3 0 -3 1 … -1 1 1 0 conta própria 194 186 -8 122 131 9 170 66 -104 não remunerados (1) 405 2.218 1.813 553 1.311 758 545 656 111 não remunerados 405 1.908 1.503 441 1.100 659 289 463 174 construção para o próprio uso … 17 17 … 6 6 0 7 7 produção para o próprio consumo … 292 292 112 205 93 256 186 -70

Fontes: FUNDAÇÃO … – IBGE, 1991a, tabela 5.15; 1997a, tabela 4.19; INSTITUTO … – IBGE, 2003a, tabela 1.1.7; 2014a, tabelas 1962 e 3585.

Notas: Dados trabalhados pelo autor.