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Tendências recentes e algumas características do trabalho infantil no mundo e no Brasil

NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS 230 4.1 Evolução recente do trabalho infantil

1.1 Tendências recentes e algumas características do trabalho infantil no mundo e no Brasil

Nos últimos anos foi muito expressiva, em todo o mundo, a queda no número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, sobretudo as de menores idades e as inseridas nas piores formas de trabalho infantil.

Para as estatísticas internacionais a OIT vem utilizando as denominações “crianças em atividade econômica”, abrangendo todos com até 17 anos que estejam trabalhando; “trabalho infantil”, para designar entre estas o subconjunto daquelas com até 14 anos de idade (independentemente do que definem, nos países onde vivem, as legislações a respeito da idade mínima para o trabalho) e, adicionalmente, as que tenham entre 15 e 17 anos e estejam inseridas em “trabalho perigoso”; e em “trabalho perigoso” o grupo de todas as crianças e adolescentes com até 17 anos que, independentemente do limite legal quanto à idade mínima para o trabalho, desenvolvam atividades que, por quaisquer razões, coloquem “diretamente em risco a sua saúde, a sua segurança, e o seu desenvolvimento moral” (ORGANIZAÇÃO … – OIT, 2013, p. 16).

Entre 2000 e 2012, de acordo com os números estimados pelo Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC) da OIT, na faixa etária mais abrangente que envolve o grupo dos cinco aos dezessete anos de idade, ocorreu uma queda de quase 78 milhões no número de crianças e adolescentes em trabalho infantil, significando um declínio de 31,6% em termos absolutos e de 33,9% quanto à taxa de incidência, já que em 2000 a proporção de trabalhadores no grupo de idade mencionado atingia 16,0%, e em 2012 este percentual havia declinado para 10,6% (idem, quadro 9, p. 27).

Considerado o mesmo período, a queda foi ligeiramente mais pronunciada no grupo dos cinco aos catorze anos (35,3%) e bastante mais expressiva entre os que, neste grupo de idade, estão inseridos em trabalhos perigosos, já que neste caso o número absoluto declinou dos 111,3 milhões apurados em 2000 para aproximadamente 37,8 milhões em 2012, correspondendo a uma queda de 66,0% (ibidem, quadro 9, p. 27). Mas, apesar destes inequívocos avanços, a mais recente estimativa da OIT, relativa ao ano de 2012, aponta a existência de aproximadamente 168 milhões de crianças e adolescentes em trabalho infantil.

O gráfico 1 apresenta a sua distribuição por grupos de idade e sexo, e também quanto à região e condição de periculosidade no trabalho.

Os números mostram que predomina o trabalho infantil masculino, mas a diferença é praticamente circunscrita ao grupo de 15 a 17 anos, já que entre as crianças de menores idades as diferenças entre os números relativos aos dois sexos são pequenas, sendo inclusive o trabalho infantil no grupo de cinco a onze anos de idade mais frequente entre as meninas, tanto em termos absolutos quanto relativos.

Muito embora o conjunto dos países localizados na região da Ásia-Pacífico concentre maior número de crianças e adolescentes em trabalho infantil (46,3% do total global), as taxas de incidência são consideravelmente superiores nos países da África Subsaariana, para a qual a OIT estima que 21,4% das crianças e adolescentes de cinco a dezessete anos estejam em condição de trabalho infantil, contra 9,3% na região da Ásia-Pacífico.

Além disso, quase metade (48,7%) das crianças em trabalho infantil na África Subsaariana está em condição de trabalho perigoso.

Neste quesito, chama atenção que muito embora a taxa de incidência de trabalho infantil seja menor no conjunto dos países da América Latina e Caribe comparativamente às duas regiões mencionadas, atingindo 8,8% do total de crianças e adolescentes de cinco a dezessete anos, em nosso continente a proporção deles em trabalhos perigosos é maior, com o problema atingindo mais de ¾ do total dos que estão em trabalho infantil.

Gráfico 1

Ocorrência de trabalho infantil (1) na população de 5 a 17 anos

por grupos de idade e sexo, e por região e inserção em trabalho perigoso ou em outras atividades – Mundo (2012)

Fontes: ORGANIZAÇÃO … – OIT, 2013, quadros 8, 9 e 10, e gráficos 5, 6, e 18; ORGANIZAÇÃO …– ONU, 2013, tabelas 7.1, 7.2 e 7.3.

Notas: Dados trabalhados pelo autor. As barras expressam os números absolutos (eixo vertical da esquerda) e os pontos representam as taxas de incidência (escala no eixo da direita).

(1) Crianças com até 14 anos em atividades econômicas e de 15 a 17 anos em trabalhos perigosos.

(2) As taxas de incidência são calculadas sobre os totais de crianças e adolescentes nos respectivos subgrupos (exemplos: total de meninas de 15 a 17 anos, ou total de crianças de 5 a 17 anos residentes na região da África Subsaariana).

(3) Na fonte consultada (OIT) as taxas de incidência não aparecem desagregadas pelos extratos de sexo e grupos de idade considerados conjuntamente. De forma a estimarmos o universo de crianças e adolescentes em cada subgrupo e obtermos as taxas apresentadas, calculamos para cada grupo de idade as proporções por sexo, para o que foram consultadas as estimativas populacionais da ONU para o ano de 2010.

Em termos de distribuição por setores de atividade econômica, ainda em âmbito internacional, o trabalho infantil é muito mais frequente no setor primário (agricultura, pecuária etc.), que concentra 58,6% das crianças a adolescentes nesta condição.

8,2% 8,9% 13,3%12,9% 20,6% 5,0% 4,1% 5,2% 10,4%11,0% 6,8% 2,0% 4,7% 3,7% 3,4% 0,9% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 m as cu li n o fe m in in o m as cu li n o fe m in in o m as cu li n o fe m in in o tr ab al h o p er ig o so o u tr as a ti vi d ad es tr ab al h o p er ig o so o u tr as a ti vi d ad es tr ab al h o p er ig o so o u tr as a ti vi d ad es tr ab al h o p er ig o so o u tr as a ti vi d ad es tr ab al h o p er ig o so d em ai s ati vi d ad es

5 a 11 anos 12 a 14 anos 15 a 17 anos Ásia-

Pacífico SubsaarianaÁfrica América Latina e

Caribe Oriente Médio e Norte da África demais países

por grupos de idade e sexo (3) por região e inserção em trabalho

perigoso ou em outras atividades

Taxa de incidência (2) números absolutos

Em seguida, aparece o setor terciário (serviços, comércio etc.), com 25,4%. Este percentual não incluiu o trabalho doméstico, que atinge principalmente as meninas, e isoladamente abrange 6,9% do trabalho infantil. O restante está distribuído entre o setor secundário (indústria), com 7,2%, e os casos “sem informação” a respeito, representando 1,9% do total (ORGANIZAÇÃO … – OIT, 2013, gráfico 8, p. 22). Quanto ao tipo de vínculo, apenas 22,5% dos casos são de emprego remunerado, predominando amplamente os casos “sem remuneração”, classificados pela OIT como “trabalhadores familiares não remunerados” (68,4%) ou como “auto-emprego” (8,1%), sendo 1,1% os casos sem informação (idem, gráfico 9, p. 23).

Esses grandes agregados constituem indicativo preliminar de que diferenças quanto ao desenvolvimento, à divisão internacional do trabalho e à desigual distribuição da riqueza entre os países estão entre os principais fatores fortemente associados à ocorrência do trabalho entre crianças, conforme será discutido no capítulo 2.

Por outro lado, a tendência de queda recente no trabalho infantil, em nível global, constitui sinal de que, mesmo sem alterações de maior relevo no perfil distributivo das riquezas e oportunidades em âmbito internacional, o problema pode ser enfrentado com alguma efetividade por meio de políticas públicas especificamente voltadas ao seu combate, como sinaliza o fato de que avanços expressivos tenham ocorrido em um período de pouco mais de uma década (entre 2000 e 2012) na qual a economia mundial enfrentou dificuldades.

No Brasil a trajetória recente dos indicadores a respeito também evidenciam inequívoca queda do trabalho infantil. Nas duas últimas décadas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi anualmente publicando, praticamente sem interrupção, considerável quantidade de dados a respeito para todo o país, apurados por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e dos Censos Demográficos.

As tendências de contínua queda do trabalho infantil e de expansão também contínua da inserção das crianças na escola reveladas pelos números passaram a ser interpretadas, quase sempre, como clara evidência de que o país finalmente adotara estratégia que se mostrava exitosa, não sendo raras as ocasiões nas quais o Brasil passou a ser mencionado nos fóruns internacionais como uma referência ou exemplo positivo a respeito.

De fato, olhando retrospectivamente os 21 anos transcorridos entre 1992 e 2013 (gráfico 2), se considerados os dados disponibilizados pelos levantamentos da PNAD, é possível que tenha ocorrido uma redução de 79,1% no número absoluto de crianças e adolescentes na faixa etária de cinco a catorze anos trabalhando, sendo a queda ainda mais acentuada (89,8%) entre os de menores idades (cinco a nove anos).

Conforme os dados desta fonte, em termos de mandatos presidenciais, o ritmo de queda foi comparativamente tímido no conturbado período Collor – Itamar Franco, com o número de crianças e adolescentes trabalhadores na faixa de cinco a catorze anos de idade declinando somente 6,8% entre 1992 e 1995.

Já no primeiro mandato de Fernando Henrique a queda do trabalho infantil assumiu maior impulso, certamente em ampla medida como reflexo do Plano Real. E, apesar do ligeiro aumento apurado em 1999, início do segundo mandato e não por acaso, ano no qual a economia brasileira sofreu séria crise com a forte desvalorização da moeda, nos anos seguintes o ritmo de queda do trabalho infantil se intensificou. Assim, no período que vai de 1995 a 2003, o número de trabalhadores na faixa etária aqui considerada declinou 48,1%.

Este mandato foi marcado, também, pela forte expansão da cobertura do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Implantado em 1996, a abrangência (número de municípios atendidos) e a cobertura do Programa permaneceram bastante restritos até 1999, ano no qual atingiu aproximadamente 150 mil beneficiários. Mas, a partir daí, a cobertura cresceu continuamente até atingir quase 810 mil crianças e adolescentes em 2002. No capítulo 4 discutiremos mais especificamente a relação entre a evolução da cobertura do Programa e a queda do trabalho infantil desde a sua implantação, com destaque para o período do início da década passada.

Nos primeiros anos do período Lula, os dados parecem refletir as dificuldades então enfrentadas no plano econômico, sendo inclusive apurado pela PNAD aumento do trabalho infantil em 2005. Dessa forma, a redução do trabalho infantil perdeu ritmo no primeiro mandato, mas ainda assim, entre 2003 e 2007, ocorreu declínio de 9,5% no número de crianças de cinco a catorze anos ocupadas.

Gráfico 2

Evolução anual do número de ocupados na população de 5 a 14 anos segundo a PNAD, por grupos de idade, e de beneficiários do PETI, conforme mandatos presidenciais – Brasil (1992-2013)

Fontes: INSTITUTO … – IBGE, 2014e, tabelas 4.35; MINISTÉRIO … – MDS, 2014b; MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2006, p. 28; 2007, p. 13.

Notas: Dados trabalhados pelo autor.

O número de ocupados é relativo ao período de referência de 365 dias.

Para o número de beneficiários do PETI, os dados foram obtidos em Ministério do Planejamento (2006), para o período de 1997 a 2004; Ministério do Planejamento (2007), para o ano de 2006, no qual o número apresentado está “arredondado”; e em MDS (2014b) para o ano de 2005 e o período de 2007 a 2013, e referem-se ao número total de beneficiários em cada ano, e não ao saldo de atendidos no final do mês de dezembro de cada um deles.

(1) Anos nos quais a PNAD não foi realizada.

(2) Anos nos quais a PNAD não publicou dados relativos à ocupação do grupo de 5 a 9 anos de idade.

(3) Ano a partir do qual a PNAD passou a abranger todo o território nacional, incorporando a zona rural de seis Estados Região Norte.

(4) Anos nos quais os dados sobre beneficiários do PETI constantes nas fontes consultadas são divergentes, optando-se pelos que apresentam maior coerência com a série histórica e com os gastos com benefícios.

Esta perda de ritmo no primeiro mandato Lula foi amplamente compensada no seu segundo período na Presidência, com queda de 38,0% no total de trabalhadores de cinco a catorze anos entre 2007 e 2011. Assim, nos seus dois mandatos, a redução do número de trabalhadores nesta faixa etária foi equivalente a 56,1%, conforme a comparação dos números apurados em 2003 e 2011, superando a verificada nos

4.665.054 2.584.771 976.680 3.975.386 906.069 689.668 70.611 809.228 1.035.473 850.598 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000 4.500.000 5.000.000 1992 1993 1994 (1) 1995 1996 (2) 199 7 (2) 1998 1999 2000 (1) 2001 2002 2003 2004 (3) 2005 (4) 2006 (4) 2007 2008 2009 2010 (1) 2011 2012 2013 Collor /

Itamar FHC 1 FHC 2 Lula 1 Lula 2 Dilma

ocupados 5 a 14 anos ocupados 10 a 14 anos ocupados 5 a 9 anos beneficiários do PETI

dois mandatos de seu antecessor, quando o declínio foi de 48,1%, conforme a comparação dos números relativos a 1995 e 2003.

Ainda de acordo com a PNAD, a queda do trabalho infantil continuou expressiva na primeira metade do mandato Dilma, correspondendo a 23,0% em dois anos (entre 2011 e 2013), período no qual a redução no número de trabalhadores de cinco a catorze anos foi de quase 291 mil pessoas.

Dessa forma, o atual desafio do país com vistas à erradicação do trabalho infantil é, em termos de magnitude do problema, 4,8 vezes menor do que no início dos anos 90. As estimativas mais recentes a respeito, relativas a 2013, apontam para pouco menos que 980 mil crianças e adolescentes com até 14 anos inseridas em atividades econômicas, considerado o período de referência de 365 dias, das quais aproximadamente 71 mil no grupo de idade de cinco a nove anos. Se o parâmetro for a semana de referência, o total é ainda menor, correspondendo a aproximadamente 840 mil crianças e adolescentes com até 14 anos inseridas em atividades econômicas (INSTITUTO … – IBGE, 2014e, tabela 4.35, relativa a 2013). Mas a magnitude do problema não está restrita aos números mencionados, já que eles não incluem os adolescentes com 15 anos, e nem aqueles com 16 e 17 inseridos em trabalhos perigosos.

Além disso, a queda do trabalho infantil talvez não esteja ocorrendo em ritmo tão acelerado quanto nos fazem crer os dados da PNAD.

A série histórica desta Pesquisa permite estimar para a década passada uma queda anual de 6,48% (em média) no número de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos de idade economicamente ativos na semana de referência dos levantamentos. Mas quando, para o mesmo indicador, consideramos os números dos censos demográficos de 2000 e 2010, o cálculo resulta em queda de apenas 2,47% ao ano, em média. No capítulo 3, e de forma mais específica nas seções 3.1 e 3.2, serão discutidos os limites das distintas fontes de informação estatística, e mesmo as causas das diferenças entre os dados oriundos dos diversos tipos de levantamentos. De qualquer maneira, apesar das divergências estatísticas a respeito, é incontestável que importantes avanços vêm ocorrendo, tanto no que diz respeito às dimensões quantitativas do trabalho infantil, quanto no que concerne aos fatores associados às suas diversas causas.

Para isso vêm contribuindo um amplo leque de processos que direta ou indiretamente afetam a incidência do trabalho infantil. Alguns deles dizem respeito a mudanças mais amplas de médio e longo prazo no quadro social brasileiro, incluindo as alterações no perfil demográfico da população, a urbanização ainda em marcha, e várias outras mudanças na estrutura produtiva e no mercado de trabalho.

Outras mudanças importantes podem ser situadas no contexto macroeconômico recente (expansão no mercado interno, geração de empregos, recuperação do salário mínimo etc.) e no plano das políticas e programas sociais, como as que dizem respeito ao combate à pobreza (notadamente o Programa Bolsa Família), à melhoria da educação (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, transporte escolar etc.), ao apoio à agricultura familiar (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF), apenas para citar alguns importantes exemplos. Mas, em que medida a redução do trabalho infantil pode ser creditada ao conjunto de estratégias adotadas especificamente para o seu combate? Muito embora o cenário dos números pareça tão animador, será que erradicaremos o trabalho infantil em mais alguns poucos anos? Estará o Estado brasileiro efetivamente aparelhado para que avancemos rumo à conquista de objetivo socialmente tão relevante? Os recursos públicos voltados à questão estão adequadamente alocados para que continuemos avançando? Será o desenho da principal estratégia especificamente voltada ao combate do trabalho infantil – o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) – adequado para o Brasil dos dias atuais? Os mecanismos de cooperação intergovernamental previstos no desenho deste Programa têm sido estimulantes para que se obtenha ampla adesão e adequada atuação dos entes federativos subnacionais com vistas à superação do problema? São estas as preocupações gerais que orientam este estudo. Evidentemente, assim formuladas, estas questões são bastante amplas e certamente admitem diferentes respostas conforme o enfoque analítico e o percurso metodológico que se adote. Na seção 1.3, na qual discutiremos os objetivos e hipóteses deste trabalho, essas questões preliminares assumirão contornos mais nítidos.

Mas, a título introdutório, é importante destacar ainda alguns aspectos relevantes sobre o trabalho infantil no Brasil contemporâneo.

O mapa 1 utiliza dados do censo demográfico de 2010 para evidenciar que a ocorrência do trabalho infantil se distribui desigualmente no território nacional.

Mapa 1

Taxas de atividade da população de 10 a 14 anos (por faixas) segundo as unidades da federação – Brasil (2010)

Fonte: INSTITUTO … – IBGE, 2014a, tabela 616. Notas: Elaboração própria.

Dados relativos à população economicamente ativa de 10 a 14 anos de idade na semana de referência como proporção do total de população no mesmo grupo de idade. Para os dados por Estado, ver tabela 10, p. 224.

Para o conjunto do país a taxa de atividade (ou seja, a proporção economicamente ativa da população) no grupo de 10 a 14 anos de idade na semana de referência correspondeu a 7,4% no ano de 2010. Mas, em termos regionais, variou entre 5,3% no Sudeste e 10,3% no Norte. Em Rondônia a taxa de atividade (11,8%) apurada

naquele ano para o mesmo grupo de idade foi três vezes maior que a verificada no Rio de Janeiro (3,8%).

Mas as consideráveis diferenças regionais e entre os Estados quanto a este indicador não podem ser atribuídas exclusivamente aos seus distintos níveis de desenvolvimento socioeconômico.

O mapa 1 evidencia que no três Estados da Região Sul, as taxas de atividade são mais elevadas que no Rio Grande do Norte e em Sergipe, por exemplo. Distribuídos os Estados brasileiros em cinco faixas quanto às taxas de atividade no mesmo grupo de idade, encontramos em situação intermediária no cenário nacional Estados tão distintos quanto o Ceará, Paraíba, e Pernambuco, no Nordeste, Tocantins, na Região Norte, e Paraná e Rio Grande do Sul, no Sul do país. No capítulo 3 as diferenças regionais a respeito serão analisadas pormenorizadamente. Na seção 3.4 discutiremos especificamente a associação entre a maior ou menor incidência de trabalho infantil nas unidades da federação e outros fatores ligados à produção e renda, demografia e urbanização, mercado de trabalho e gasto público. Mas o mapa 1 já é um primeiro indicativo de que desenvolvimento econômico e pobreza não são suficientes para melhor compreensão sobre a ocorrência e as taxas de incidência do trabalho infantil.

Um segundo aspecto a ser destacado a respeito do trabalho infantil no Brasil contemporâneo é que o mesmo não pode mais ser considerado como causa ou fator estreitamente associado ao abandono escolar.

Conforme os microdados da PNAD de 2012 (INSTITUTO … – IBGE, 2014d), do total de 65.842 crianças e adolescentes de 5 a 15 anos de idade identificadas nos domicílios da amostra, 95,2% não trabalharam no período de referência de 365 dias. Entre eles, 60.645 (92,1%) só estudavam, e 2.045 (3,1%) não estudavam, sendo mais da metade destes últimos situados na faixa de 5 a 6 anos de idade (ou seja, ainda não ingressaram na escola).

Por sua vez, do total de 3.152 crianças e adolescentes (4,8% do total) que trabalharam no período mencionado, 2.877 (4,4% do total) estudavam, e somente 275 (0,4% do total) não o faziam, cabendo observar que 176 destes já tinham 15 anos de idade.

O terceiro aspecto relevante a ser destacado nesta introdução diz respeito à renda das famílias. A mesma PNAD de 2012 nos fornece informações relativas ao rendimento domiciliar mensal per capita (RMDpc).

No gráfico 3 os dados a respeito são apresentados segundo as grandes regiões, para as quais os domicílios da amostra foram subdivididos em três categorias. A primeira delas é composta pelos domicílios nos quais não residem crianças e adolescentes de 5 a 15 anos; a segunda pelos domicílios nos quais residem crianças e adolescentes neste grupo de idade que não trabalharam no período de referência (365 dias); e a terceira pelos domicílios nos quais residem um ou mais crianças e adolescentes do mesmo grupo de idade, e nos quais pelo menos um deles esteve ocupado, considerado o mesmo período de referência.

Para o conjunto do país, os dados revelam haver grande diferença quanto ao perfil de distribuição pelas distintas faixas de rendimento quando comparamos os conjuntos de domicílios com e sem crianças e adolescentes no grupo de idade em questão.

Entre os domicílios sem crianças e adolescentes de 5 a 15 anos, somente 13,8% está na faixa de RMDpc de até ½ salário mínimo (s. m.). Entre os domicílios com crianças e adolescentes do mesmo grupo de idade que não trabalharam no período de referência, 37,8% estão situados na mesma faixa de renda. Quando considerado o conjunto de domicílios nos quais pelo menos uma criança ou adolescente tenha trabalhado, o percentual chega a 47,8%.

Os dados mostram que a distribuição pelas faixas de renda é, para os dois conjuntos de domicílios com crianças, relativamente similar, havendo maior contraste destes dois conjuntos com aquele composto pelos domicílios sem crianças na faixa etária em questão.

Vale notar que a similaridade entre aqueles dois conjuntos não se explica pela própria contribuição da renda do trabalho infantil. De acordo com os dados constantes no Suplemento da PNAD de 2006, 78,5% das crianças de 5 a 13 anos