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Desigualdades entre países e fatores associados ao trabalho infantil no mundo contemporâneo

INCIDÊNCIA DO TRABALHO INFANTIL EM DIFERENTES PAÍSES: O QUE MOSTRAM OS INDICADORES INTERNACIONAIS

2.4 Desigualdades entre países e fatores associados ao trabalho infantil no mundo contemporâneo

Na seção anterior, buscamos evidenciar que a evolução intertemporal das taxas de atividade econômica entre crianças parece estreitamente associada ao processo de desenvolvimento socioeconômico. Mas será que tais evidências podem ser encontradas também por meio da comparação entre países para o período recente? Se a resposta for afirmativa, quais indicadores econômicos e sociais podem ser identificados como estreitamente associados aos distintos patamares de incidência do trabalho infantil?

Na busca de resposta a estas questões selecionamos um conjunto de 25 países para a comparação desejada. A seleção de países foi precedida da preocupação com a escolha da própria base de dados a ser utilizada como referência para a variável “trabalho infantil”, de forma a minimizarmos os já mencionados problemas de disponibilidade de informações, comparabilidade, e utilização de médias ou valores para grandes agregados.

A opção foi pelo uso das informações disponibilizadas pelo Banco Mundial (2014a) e pelo Programa “Entendendo o Trabalho Infantil” (UCW – UNDERSTANDING CHILDREN’S WORK, 2014), fontes mencionadas no quadro 2 (p. 109) 19.

Considerando questões já apontadas e tendo em vista os nossos propósitos, estas fontes apresentam as seguintes vantagens: a) disponibilidade de informação para grande número de países, com dados para diferentes anos para a maioria deles; b) melhor comparabilidade tendo em vista a padronização quanto à forma de apresentação dos dados realizada no âmbito do Programa “Entendendo o Trabalho Infantil”; c) disponibilidade e desagregação de dados conforme outras variáveis

19. O Programa UCW é uma iniciativa conjunta da OIT, Unicef e Banco Mundial, e objetiva “mejorar la calidad de la información estadística sobre los distintos aspectos del fenómeno del trabajo infantil: su naturaleza y magnitud, sus causas y consecuencias, y los enfoques más eficaces en materia de políticas para solucionar este problema” (UCW – UNDERSTANDING CHILDREN’S WORK, 2010, p. 2). Esta base é bastante ampla, e reúne dados sobre trabalho infantil oriundos de 329 levantamentos de diversos tipos (pesquisas amostrais domiciliares, sobre trabalho infantil, sobre demografia e saúde, orçamentos familiares etc.). As informações sobre o trabalho infantil que o Banco Mundial disponibiliza são oriundos desta fonte.

relevantes ao tema do trabalho infantil (idade, sexo, escolarização, setores de atividade econômica e tipo de vínculo).

Os dados disponibilizados pelo Banco Mundial (2014a) utilizam a variável percentual da população de 7 a 14 anos economicamente ativa. Essa fonte define como economicamente ativa a pessoa que tenha trabalhado pelo menos uma hora na semana de referência. Há informações para 98 países, com dados que cobrem o período entre 1994 e 2012 conforme disponibilidade para cada país.

Na mesma fonte é também possível obter tabela que mostra, para o mesmo grupo de idade, a incidência das taxas de atividade por sexo, e distribuição percentual quanto à situação de trabalho e escolaridade (categorias “estuda e trabalha” e “apenas trabalha”), ao setor de atividade econômica (“agricultura”, “indústria” e “serviços”), e ao tipo de vínculo (“autônomo”, “assalariado” e “familiar não remunerado”). Entretanto, estes dados são apresentados apenas para o ano mais recente para o qual existem informações de cada país.

A partir dos dados disponibilizados nesta fonte (Banco Mundial), realizamos uma pré-seleção da amostra com base em dois critérios:

a) países com dados sobre as taxas de atividade para pelo menos dois anos do período em questão, de forma a permitir a comparação entre as taxas e posterior eliminação dos casos nos quais o indicador referente ao ano mais recente fosse muito discrepante do referente ao ano anterior com informações disponíveis (72 países);

b) países com mais de 20 milhões de habitantes em 2012 (aproximadamente 10% da população brasileira), de forma a evitar a comparação do Brasil com países muito “pequenos” em termos populacionais (29 países).

Para este conjunto de países, consultamos os dados disponíveis na outra fonte (UCW – UNDERSTANDING CHILDREN’S WORK, 2014), o que permitiu a obtenção de informações adicionais relevantes (por exemplo, moradia em área rural ou urbana), mais desagregadas, e também relativas a vários anos para cada um dos países. Assim foi possível acrescentarmos critérios de forma a melhorar nossa amostra quanto à escolha dos países, anos, e variável principal a serem utilizados:

a) chegamos a um conjunto final de 25 países após optarmos pela eliminação de quatro entre os que compuseram a pré-seleção de 29 – no caso do Sudão

porque os dados disponíveis são anteriores à independência do Sudão do Sul (ocorrida em julho de 2011), o que inviabilizaria o confronto com outros indicadores; e nos casos de Índia, Moçambique e Quênia por serem os dados para os anos mais recentes com informações disponíveis muito discrepantes se confrontados com levantamentos anteriores, o que diminui a segurança quanto à qualidade e uso dos dados 20.

b) nos casos de países com disponibilidade de informação relativa às taxas de atividade para três ou mais anos, buscamos na medida do possível utilizar os dados mais recentes e aqueles de levantamento anterior entre os quais se tenha observado menor variação anual média nas taxas de atividade, e de forma a evitar o uso de indicadores discrepantes em relação aos de outros anos, optamos preferencialmente pelas informações de pesquisas do mesmo tipo (por exemplo, de “demografia e saúde”) que tenham sido repetidas com intervalo de aproximadamente uma década;

c) optamos por definir a taxa de atividade no grupo de 10 a 14 anos como o indicador que servirá de “variável dependente” (ou proxy de trabalho infantil), com a qual buscaremos associar outras variáveis.

Em pesquisas sobre o tema, há ampla utilização de indicadores relativos à participação em atividades econômicas para o grupo de 7 a 14 anos de idade, sobretudo por ser mais abrangente quanto ao número absoluto de crianças em situação de trabalho que o grupo de 10 a 14 anos de idade. Mas, para nossos propósitos a escolha dos dados relativos a esta idade para a “variável dependente” apresenta várias vantagens.

Quanto à disponibilidade de informações, ele possibilita abrangermos maior número de países. Teríamos que eliminar outros quatro países de nossa amostra se adotássemos a faixa de 7 a 14 anos.

Quanto à comparabilidade, as taxas para a faixa de 10 a 14 anos tendem a ser mais fidedignas, já que, por serem menores as taxas de atividade no grupo de 7 e 9 anos

20. As taxas de atividade das pessoas de 10 a 14 anos teriam variado, se corretas as informações de levantamentos realizados em diferentes anos, de 1,8% para 33,6% entre 1996 e 2008 no caso de Moçambique; de 8,8% para 43,1% entre 2000 e 2005 no caso do Quênia; e no caso da Índia, de 7,6% em 2000, para 19,4% em 2005 e para 3,6% em 2010, conforme os dados de pesquisas disponibilizadas na fonte consultada (UCW – UNDERSTANDING CHILDREN’S WORK, 2014).

de idade, neste caso é maior a probabilidade de distorção dos resultados como decorrência dos cálculos relativos à expansão da amostra.

Quanto ao efeito de ocultação das desigualdades contidas nas médias, não há dúvida de que grupo de 7 a 14 anos “empurra” fortemente as taxas para baixo já que entre aqueles com 7 a 9 anos a participação em atividades econômicas tende a ser muito menor que entre aqueles com 10 a 14 anos. Como nosso interesse, em relação à variável dependente, é analisar a incidência do trabalho infantil, e não os números absolutos a respeito, a taxa de atividade do grupo de 10 a 14 anos nos parece mais interessante para a comparação entre países.

Para mensurar a associação entre as taxas de atividade e cada uma das outras variáveis utilizaremos o coeficiente de correlação de Pearson.

Ele é utilizado para mensurar o grau de associação entre duas variáveis, e pode variar entre -1 e +1. Quanto mais o seu valor seja próximo da unidade (+1 para correlação positiva e -1 para correlação negativa), mais fortemente associadas entre si estarão as variáveis em questão, de forma que a variação em uma delas é também observável na outra. É aceito que coeficientes a partir de 0,7 (ou entre -0,7 e -1) indicam forte associação entre as variáveis. Ao contrário, os coeficientes que se aproximam do zero (situados, entre -0,3 e 0,3) denotam fraca associação (ou baixa correlação) entre as variáveis (FIGUEIREDO FILHO et al., 2009).

Os 25 países selecionados estão representados no mapa 2 conforme seis faixas para as taxas de atividade da população de 10 a 14 anos.

No conjunto composto pelos cinco países latino-americanos, os quatro situados na porção norte da África e Oriente Médio, além de Turquia e Uzbequistão, a maioria está entre os que apresentam as menores taxas de atividade (4,1% a 9,9%).

São exceções a Colômbia (14,0%), o Iemen (21,7%) e o Peru (23,5%), que apresentam taxas de atividade que podem ser consideradas intermediárias (entre 13,0% e 24,7%). Em posição intermediária estão também quatro dos seis países localizados no sul e sudeste asiáticos (Paquistão, Sri Lanka, Vietnã e Bangladesh), região na qual são exceções a melhor situada Indonésia (8,8%) e, no extremo oposto, o Nepal (52,4%).

Por sua vez, os oito países localizados na porção subsaariana da África estão, sem exceção, entre os que apresentam as taxas de atividade mais elevadas no grupo de

10 a 14 anos de idade, variando entre 24,7% (República Democrática do Congo) e 52,0% (Gana).

Mapa 2

Taxas de atividade da população de 10 a 14 anos (por faixas) – 25 países selecionados (2003-2011)

Fontes: ORGANIZAÇÃO … – OIT, 2014a; UCW – …, 2014. Notas: Elaboração própria.

As siglas adotadas na legenda são as seguintes: BGD (Bangladesh), BRA (Brasil), CMR (Camarões), COD (República Democrática do Congo), COL (Colômbia), EGY (Egito), ETH (Etiópia), GHA (Gana), IDN (Indonésia), IRQ (Iraque), LKA (Sri Lanka), MAR (Marrocos), MDG (Madagascar), MEX (México), NGA (Nigéria), NPL (Nepal), PAK (Paquistão), PER (Peru), TUR (Turquia), TZA (Tanzânia), UGA (Uganda), UZB (Uzbequistão), VEN (Venezuela), VNM (Vietnã), YEM (Iemen).

Quanto à forma de Estado, conforme sinalizado por “(F)” na legenda do mapa 2, oito dos 25 países podem ser considerados federais, a julgar pelo expresso nos textos

de suas constituições: Brasil, Etiópia, Iraque, México, Nepal, Nigéria, Paquistão, e Venezuela. Estando estes oito países distribuídos tanto entre os que apresentam taxas de atividade econômica da população de 10 a 14 anos mais baixas quanto entre aqueles com taxas mais elevadas, logo fica evidente ser inexistente qualquer associação significativa entre trabalho infantil e a forma de Estado 21.

A amostra é composta por países que apresentam, entre si, grandes diferenças quanto aos indicadores socioeconômicos. Mas, apesar dessas acentuadas diferenças, nenhum dos países selecionados pode ser identificado como entre os mais ricos, conforme evidenciado pelos dados apresentados na tabela 3.

Se estabelecermos como linha de corte o PNB per capita correspondente a 18 mil dólares internacionais (ou seja, em paridade de poder de compra), de acordo com os dados calculados pelo Banco Mundial (2014a) temos um conjunto composto por 55 países que representa 18,9% da população mundial mas detém 53,6% da riqueza. Consideremos apenas os 57 países que atualmente contam com mais de 20 milhões de habitantes. Entre estes há 14 países “mais ricos” (PNB per capita acima de 18 mil dólares internacionais), que representam 15,9% da população mundial, mas concentram 45,3% do produto 22.

Há outros 38 países com mais de 20 milhões de habitantes cada, mas com PNB per capita abaixo da linha de 18 mil dólares internacionais. São responsáveis por 40,1% da produção mundial, mas neles habitam 70,7% da população. Este conjunto de países inclui China, Índia, os 25 países que compõem a nossa amostra, e mais outros 11 países 23.

21. Evidentemente, o uso do texto constitucional como critério classificativo nas categorias “federal” ou “unitário” não é suficiente para análise comparativa entre países na qual esta variável seja relevante. Mas, em nosso caso, certamente seria inútil buscarmos forma mais sofisticada de classificação, sendo seguro que a maior ou menor incidência de trabalho infantil não podem ter como fator causal relevante a forma de Estado. Para a consulta aos textos das constituições dos países da amostra, foi utilizada a “Natlex”, base de dados sobre legislação nacional disponibilizada pela OIT (ORGANIZAÇÃO … – OIT, 2014a).

22. Em ordem decrescente pelo critério de valor do PNB per capita, os 14 países mais ricos, entre os que têm mais de 20 milhões de habitantes, são os seguintes: Estados Unidos, Arábia Saudita, Alemanha, Canadá, Austrália, França, Japão, Reino Unido, Itália, Espanha, Coreia do Sul, Federação Russa, Polônia e Malásia (BANCO MUNDIAL, 2014a).

23. Em ordem decrescente pelo critério de valor do PNB per capita, os países mais pobres e com mais de 20 milhões de habitantes que não compuseram a amostra são os seguintes: Romênia, Argélia, Tailândia, África do Sul, China, Ucrânia, Angola, Filipinas, Índia, Sudão, Quênia, Afeganistão, e Moçambique (BANCO MUNDIAL, 2014a).

Tabela 3

Distribuição da população e da riqueza segundo grupos de países por faixas de PNB e contingentes populacionais – 214 países (2011)

grupos de países por PNB per capita (dólares ppc) e faixas populacionais (milhões de habitantes) nº de paí- ses

População (1) PNB ppc (dólares internacionais) PNB per capita ppc em mi- lhões de habi- tantes (%) popu- lação de 0 a 14 anos (%) (1) bilhões de dólares inter- nacio- nais (%) valor per capita do gru- po de países país com < PNB per capita país na posi- ção media- na país com > PNB per capita Mundo 214 6.966 (100,0) 26,6 91.746 (100,0) 13.171 400 9.810 50.860

PNB per capita > 18 mil

> 20 milhões 14 1.101 (15,9) 17,2 41.597 (45,3) 37.787 20.560 35.295 50.860

< 20 milhões 41 211 (3,0) 17,2 7.651 (8,3) 36.297 18.520 29.650 133.340

PNB per capita < 18 mil > 20 milhões China 1 1.344 (19,4) 18,1 13.367 (14,6) 9.945 .. .. .. Índia 1 1.221 (17,6) 30,2 5.912 (6,4) 4.841 .. .. .. amostra 25 países 25 1.867 (26,9) 33,6 13.906 (15,2) 7.449 400 4.590 17.810 outros países 11 469 (6,8) 31,7 3.563 (3,9) 7.591 910 6.270 16.820 < 20 milhões 89 487 (7,0) 36,2 2.654 (2,9) 5.447 670 5.710 17.720 sem informação (2) > 20 milhões 5 215 (3,1) 25,6 3.096 (3,4) 12.770 … … … < 20 milhões 27 27 (0,4) 36,3 … … …

Fontes: BANCO MUNDIAL, 2014a; ORGANIZAÇÃO … ONU, 2013. Notas: Dados trabalhados pelo autor.

(1) A população é relativa a 2011, e foi calculada com base em dados do Banco Mundial (2014a); o percentual de 0 a 14 anos foi calculado com base nos dados da ONU (2013) referentes a 2010.

(2) Para este conjunto de 32 países não constam as informações sobre o Produto Nacional Bruto. Os valores apresentados foram deduzidos pela subtração dos demais valores dos totais mundiais, não sendo possível a desagregação por faixa populacional.

Ainda entre os mais populosos (acima de 20 milhões de habitantes), há ainda outros 5 países para os quais não obtivemos informação sobre o PNB per capita na fonte consultada 24.

A proporção de crianças com até 14 anos no total da população é de 17,2% para o agregado dos 14 países mais ricos, variando entre 13,3% (Japão) e 19,8% (Estados Unidos) para a maioria deles, sendo elevada apenas na Arábia Saudita (30,7%) e

24. Em ordem decrescente conforme contingente populacional, Irã, Mianmar, Argentina, Coreia do Norte e Síria (BANCO MUNDIAL, 2014a).

Malásia (27,7%). Na China a proporção (18,1%) está situada na mesma faixa observada para a maior parte do conjunto de países mais ricos.

Mas na Índia (30,2%), e para os agregados dos 25 países da amostra (33,6%) e dos demais 11 países com mais de 20 milhões de habitantes (31,7%), estas proporções são muito maiores. Evidentemente, entre eles estes percentuais variam enormemente entre os valores de 13,9% na Ucrânia e 48,9% em Uganda, mas são inferiores a 20% em apenas 3 países, estão entre 20% e 30% em outros 9 (incluindo o Brasil, com 25,5%), entre 30% e 40% em 7 países, e entre 40% e 48,9% em outros 14 países.

Esta simples comparação já evidencia o quão desiguais são as condições de vida nos países com maior renda e nos demais, e mesmo se comparamos apenas estes últimos entre si.

A tabela 3 mostra também que, no conjunto, os 25 países da amostra totalizam quase 1,9 bilhões de pessoas, representando 26,9% da população mundial (ONU, 2013). Se considerada apenas a população com até 14 anos de idade, estes mesmos países totalizavam em 2010 quase 618 milhões de pessoas, representando pouco mais de 1/3 (33,5%) da população mundial neste grupo de idade (ORGANIZAÇÃO … – ONU, 2013).

Mas, apesar de seu peso populacional, sua participação na produção mundial atual é proporcionalmente menor, totalizando 15,2% do total. E, conforme será visto, muito embora nenhum destes países possa, na comparação internacional, ser classificado entre os países “ricos”, isso também não significa que devam ser considerados na mesma medida “pobres”, já que entre eles existam grandes diferenças em termos dos principais indicadores socioeconômicos.

A tabela 4 apresenta um conjunto de dados para uma primeira visão a respeito dos 25 países da amostra.

Os países aparecem listados em ordem decrescente pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano apurado pelo PNUD) para o ano mais recente para o qual foram obtidas informações (ver coluna “período considerado”) sobre as taxas de atividade para o grupo de 10 a 14 anos de idade (coluna “ano final / 10 a 14 anos de idade”).

Tabela 4

IDH, população, proporção da população infantil, dados relativos à ratificação da Convenção nº 138 da OIT, e evolução das taxas de atividade dos grupos de 7 a 9 e de 10 a 14 anos de idade – 25 países selecionados (1998-2011)

Países (siglas) (1) IDH (2)

população em 2010 venção Con- 138: idade mínima e ano de ra- tifica- ção (3)

evolução das taxas de atividade em períodos selecionados segundo os grupos de idade (4) mi- lhões de pes- soas 0 a 14 anos de idade (%) pe- ríodo consi- derado

ano inicial ano final

7 a 9 anos 10 a 14 anos 7 a 14 anos 7 a 9 anos 10 a 14 anos 7 a 14 anos México (MEX) (5) 0,773 117,9 30,0 .. (6) [05-11] … 7,8 … 2,4 9,3 6,8 Venezuela (VEN) 0,746 29,0 29,5 14 [87] [01-11] … 6,5 … … 5,1 … Peru (PER) 0,738 29,3 30,0 14 [02] [04-11] 23,3 35,3 30,8 15,1 23,5 20,7 Brasil (BRA) 0,728 195,2 25,5 16 [01] [01-11] 2,3 10,7 7,7 0,8 6,0 4,2 Colômbia (COL) 0,717 46,4 28,8 15 [01] [01-11] 6,3 16,2 12,2 4,1 14,0 10,4

Sri Lanka (LKA) 0,697 20,8 25,1 14 [00] [99-08] 8,6 21,4 17,0 7,1 13,7 11,7

Turquia (TUR) (5) 0,694 72,1 26,7 15 [98] [99-06] 0,9 6,8 4,5 0,7 4,1 2,8 Egito (EGY) (5) 0,625 78,1 31,5 15 [99] [98-05] 1,5 8,7 6,4 … 9,9 … Uzbequistão (UZB) 0,621 27,8 29,8 15 [09] [00-06] 15,3 18,3 17,8 3,3 5,9 5,1 Vietnã (VNM) 0,614 89,0 23,5 15 [03] [06-11] 7,3 27,4 21,3 5,0 17,6 13,0 Indonésia (IDN) 0,611 240,7 29,8 15 [99] [00-09] 2,1 13,0 8,9 3,7 8,8 6,7 Iraque (IRQ) 0,583 31,0 41,2 15 [85] [06-11] 10,1 17,6 14,7 3,8 8,1 6,4 Marrocos (MAR) 0,539 31,6 28,1 15 [00] [98-03] 6,3 17,2 13,2 … 4,4 … Paquistão (PAK) 0,513 173,1 35,4 14 [06] [06-11] … 19,8 … … 13,0 … Gana (GHA) 0,493 24,3 39,0 15 [11] [00-06] 19,5 34,3 28,5 34,0 52,0 45,3 Bangladesh (BGD) 0,481 151,1 31,7 .. (6) [02-06] 2,1 26,1 16,8 8,9 20,9 16,2 Madagascar (MDG) 0,478 21,1 43,4 15 [00] [01-07] 7,5 17,1 13,3 17,2 32,0 26,0 Tanzânia (TZA) 0,470 45,0 44,8 14 [98] [05-11] 22,8 36,3 31,1 22,8 33,6 29,4 Nigéria (NGA) 0,467 159,7 44,0 15 [02] [07-11] 34,5 45,0 40,7 30,0 38,6 35,0 Camarões (CMR) 0,455 20,6 43,4 14 [01] [00-06] 50,9 64,3 59,2 32,7 42,4 38,6 Nepal (NPL) 0,447 26,8 37,1 14 [97] [98-08] 29,0 58,6 47,2 19,8 52,4 40,7 Iemen (YEM) 0,437 22,8 42,0 14 [00] [99-06] 8,0 16,5 13,2 13,1 21,7 18,3 Uganda (UGA) 0,408 34,0 48,9 14 [03] [00-05] 32,4 51,9 44,2 24,1 47,2 38,3 Etiópia (ETH) 0,392 87,1 44,4 14 [99] [01-11] 49,5 63,3 57,1 18,6 31,3 26,1

Rep. Dem. Congo (COD) 0,299 62,2 45,5 14 [01] [07-11] 20,5 37,0 30,5 14,1 24,7 20,5

Posições do Brasil 4º > 2º > 2º < .. .. 5º < 5º < 3º < 2º < 5º < 2º <

Fontes: BANCO MUNDIAL, 2014a; ORGANIZAÇÃO … – ONU, 2013; ORGANIZAÇÃO … – OIT, 2014b; PROGRAMA … – PNUD, 2011; UCW – …, 2014.

Notas: Dados trabalhados pelo autor.

(1) As siglas são as utilizadas pelo Banco Mundial (2014a). Os países estão listados em ordem decrescente do IDH. (2) O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada país é referente ao ano mais recente para o qual há

disponibilidade do dado relativo à taxa de atividade (ver coluna “período considerado”). Como o PNUD não publicou o IDH referente ao ano de 2003, para o Marrocos o valor foi estimado por progressão geométrica da variação entre 2000 e 2005.

(3) A idade mínima de ingresso no trabalho é a especificada pelo país na Convenção nº 138, conforme consta na fonte consultada. Não corresponde, necessariamente, à idade mínima atualmente vigente na legislação de cada país. (4) O Banco Mundial (2014a), fonte que também apresenta os dados relativos ao grupo de 7 a 14 anos, informa que as

taxas de atividade são referentes à proporção de crianças no grupo de idade envolvidas em atividade econômica por pelo menos uma hora na semana de referência. Mas é possível que alguns levantamentos nacionais tenham adotado outra definição. As taxas de atividade específicas para os grupos de idade de 7 a 9 e de 10 a 14 anos foram calculadas pelo autor a partir dos dados brutos obtidos em UCW – … (2014), de onde foram extraídas as informações apresentadas nessa tabela.

(5) Para tornar as taxas relativas ao ano inicial comparáveis com as do ano final realizamos cálculos estimativos já que os levantamentos consultados utilizaram outra forma de agregação dos grupos de idade (México e Turquia) ou publicaram os dados apenas em percentuais (Egito).

A mesma tabela 4 apresenta ainda informações sobre a população, a proporção de crianças de 0 a 14 anos, a situação dos países em relação à Convenção nº 138 da OIT (ano de ratificação e idade mínima para ingresso no trabalho), e as taxas de atividade desagregadas para os grupos de 7 a 9 e 10 a 14 anos para dois anos diferentes em cada país.

Uma primeira observação é que a proporção de crianças (considerada a faixa de 0 a 14 anos de idade) no conjunto da população está estreitamente associada às taxas de atividade, com o coeficiente de correlação entre estas variáveis correspondendo a 0,70, e atingindo 0,80 se excluirmos do cálculo o Iraque (taxa de atividade relativamente baixa frente à elevada proporção de crianças no conjunto da população) e o Nepal (situação inversa, ou seja, taxa de atividade relativamente alta frente ao menor peso das crianças no contingente populacional). O Brasil é o país que apresenta a segunda menor proporção (25,5%) de crianças de 0 a 14 anos frente ao total da sua população.

Entre os 25 países, todos ratificaram a Convenção nº 182 da OIT, e apenas dois (México e Bangladesh) não ratificaram a Convenção nº 138. O Iraque (em 1985) e a Venezuela (em 1987) a ratificaram ainda nos anos 80, enquanto os demais países o fizeram mais recentemente (entre 1997 e 2006). Entre os 23 países que ratificaram esta última, 11 definiram os 14 anos como a idade mínima para o ingresso no trabalho e outros 11 definiram os 15 anos.

O Brasil é o único país da amostra que, na ratificação da Convenção nº 138, definiu a idade mínima de 16 anos para ingresso no trabalho.

Conforme evidenciam a primeira coluna da tabela 4 e o gráfico 8, os países da amostra são muito diferenciados entre si quando adotamos como parâmetro o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Eles estão distribuídos entre o mínimo de 0,299 para a República Democrática do Congo e o máximo de 0,773 para o México 25.

25. O Índice de Desenvolvimento Humano é publicado anualmente pelo PNUD. Ele é composto por três dimensões (saúde, educação e renda) a partir de indicadores a elas associados (expectativa de vida; média de anos de estudo das pessoas com 25 anos ou mais e a expectativa em termos de anos de escolaridade para crianças em idade de início da vida escolar; e o Produto Nacional Bruto per

capita expresso em termos de poder de paridade de compra). Os indicadores encontrados para os

países são transformados em escalas a partir das quais são procedidos os cálculos para a obtenção do Índice, que em princípio pode variar entre 0 e 1. Na prática, no mais recente Relatório publicado (PROGRAMA … – PNUD, 2013), a escala variou entre o mínimo de 0,304 (IDH da República Democrática do Congo e do Níger) e o máximo de 0,955 (Noruega). Maiores detalhes sobre valores e

Como seria de se esperar, na medida em que seja maior o IDH, menores são em geral as taxas de atividade para os grupos de 7 a 9, e de 10 a 14 anos de idade.

Gráfico 8

Taxas de atividade da população de 7 a 14 anos e

Índice de Desenvolvimento Humano – 25 países selecionados (2003-2011)

Fontes: PROGRAMA … – PNUD, 2011; UCW – …, 2014. Notas: Dados trabalhados pelo autor.

Para os dados numéricos, ver na tabela 4 (p. 128) as colunas relativas ao “ano final”.