• Nenhum resultado encontrado

FATORES ASSOCIADOS À EVOLUÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

3.1 Fontes de informações estatísticas

sobre o trabalho de crianças e adolescentes no Brasil

A preocupação oficial com a busca de dados que permitissem a mensuração do trabalho em âmbito nacional já aparece registrada naquele que é considerado o primeiro recenseamento nacional, realizado em 1872 sob a responsabilidade da então recém-criada Diretoria-Geral de Estatística, subordinada à Secretaria de Estado dos Negócios do Império (OLIVEIRA & SIMÕES, 2005).

Na publicação resultante daquele levantamento (SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS DO IMPÉRIO, [1874?]), no qual a população residente no país totalizou pouco menos de 10 milhões de pessoas, se encontra uma tabela denominada “População considerada em relação às profissões”, na qual o mencionado total é dividido entre aproximadamente 4,2 milhões de “sem profissões” (como forma de designação daqueles não inseridos no mundo do trabalho) e 5,8 milhões de trabalhadores.

Estes aparecem subdivididos em 34 tipos de profissões, sendo predominante o conjunto composto pelas então chamadas profissões agrícolas (“lavradores” e “criadores”), que representavam 56,3% do total de trabalhadores. Além do fato de que o mencionado total de trabalhadores apareça desagregado por duas categorias quanto às “condições”, entre os quais quase 80% “livres” e pouco mais de 20% “escravos”, chama atenção também que nada menos que 45,5% daquele contingente fosse composto por mulheres. Mas na mencionada tabela, a única com

dados a respeito, a população de trabalhadores não apareceu contabilizada segundo as idades.

Muito embora os recenseamentos seguintes tenham também coletado informações sobre ocupação, profissão ou cargo, ampliando-se progressivamente o escopo dos levantamentos para outros quesitos como os relativos aos ramos de atividade e posição na ocupação (OLIVEIRA & SIMÕES, 2005, quadro 1), até 1940 os dados relativos ao trabalho, quando apresentados por grupos de idades, aparecem agregados para a faixa muito ampla dos 10 aos 19 anos de idade, o que inviabiliza o dimensionamento da inserção no trabalho daqueles que hoje consideramos como crianças ou adolescentes (INSTITUTO … – IBGE, 1950, tabelas 29 e 33).

O recenseamento de 1950 (CONSELHO … – IBGE, 1956b) é o primeiro que fornece melhor aproximação a respeito, nele sendo apresentadas algumas tabelas sobre o trabalho nos quais os dados aparecem desagregados para o grupo de idade de 10 a 14 anos de idade. Essa prática se tornou contínua somente a partir de 1970 (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1973a) já que no recenseamento de 1960 foi utilizada novamente a faixa dos 10 aos 19 anos de idade (FUNDAÇÃO … – IBGE, [196-]a, tabela 19).

Além dos recenseamentos, outra importante fonte estatística com dados a respeito é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que já no primeiro levantamento, realizado em 1967, coletou informações relativas à “força de trabalho” (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1969b; 1969c). Desde então, a PNAD foi realizada em quase todos os anos, com exceção dos anos de 1974, 1975, 1994, e nos anos censitários de 1980, 1991, 2000 e 2010.

Desde então, em todos os levantamentos foram publicadas várias tabelas sobre aspectos demográficos, habitacionais, educacionais e a respeito de trabalho e rendimentos (INSTITUTO … – IBGE, 2013b, quadro 2).

Já para o ano de 1967, para o Estado de São Paulo, são encontradas duas tabelas com informações por grupos de idade (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1969b, tabelas 3.2 e 3.4), sendo uma delas relativa ao pessoal ocupado por sexo e grupos de horas trabalhadas, e outra relativa ao pessoal desocupado, com dados desagregados por sexo, e segundo o “regime de trabalho procurado” (tempo integral ou parcial), e o “método de procura de trabalho” (agência de emprego, empregadores, anúncios,

amigos ou parentes ou “outros métodos”). Mas o grupo de idade mais jovem para o qual o levantamento coletou informações e agregou dados foi o de 14 a 19 anos. Nos anos seguintes, além da progressiva incorporação de outras regiões, novas variáveis e cruzamentos foram sendo incluídos, mas até o levantamento realizado em 1970 os dados relativos ao trabalho, quando apresentados por grupos de idades, permaneceram agregados para a mesma faixa dos 14 aos 19 anos de idade (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1970).

É a partir de 1971 que aparecem os primeiros dados sobre a força de trabalho agregados para o grupo de 10 a 14 anos (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1972). Mas neste ano a PNAD ainda ficou restrita aos Estados da Guanabara, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e às regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Foi apenas no levantamento do 4º trimestre de 1973 que a Pesquisa adquiriu abrangência quase nacional, embora ainda não incluísse na amostra a população rural de oito Estados (Roraima, Acre, Amazonas, Rondônia, Pará Amapá, Mato Grosso e Goiás), situação que perdurou até 1979 em relação a Mato Grosso e Goiás, e até 2003 para os outros seis Estados da região Norte. Desde 2004, os dados estão disponíveis para as populações urbana e rural dos 26 Estados e do Distrito Federal (INSTITUTO … – IBGE, 2013b).

Quanto às regiões metropolitanas, além do mencionado levantamento de 1971, o de 1976 também coletou dados para o Rio de Janeiro e São Paulo, acrescentando-se Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre em 1977; e Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba em 1978, desde quando as nove regiões metropolitanas passaram a ser contempladas em todos os levantamentos (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1978; 1979b; 1980).

As variáveis relativas à condição de atividade e ocupação, por exemplo, permitem conhecermos a variação anual dos números relativos à população economicamente ativa (ou seja, ocupados e desocupados), por sexo e situação do domicílio. Isso permite monitorar, por exemplo, a evolução anual do mercado de trabalho e a distribuição da mão de obra pelo território nacional.

Para a “semana de referência” (ou seja, para o período de sete dias antecedentes à data de referência de cada levantamento), é possível conhecer os números relativos

à população economicamente ativa (PEA) para todos os anos entre 1973 a 2011 nos quais o levantamento foi realizado. Em 2012 e 2013 essa informação não foi pesquisada para o grupo de idade de 10 a 14 anos, interrompendo longa série. Neste ano, a única informação disponível para este grupo de idade (e também para o de cinco a nove anos) é a relativa às pessoas ocupadas.

Já para o “ano de referência” (ou seja, o período de 365 dias antecedentes à data de referência de cada levantamento), período de tempo mais interessante para a análise da evolução da taxa de atividade por permitir a “captura” de informação relativa ao trabalho temporário ou sazonal (bastante frequente nas atividades agrícolas), a variável relativa à PEA está disponível para os anos de 1976 a 1978 e de 1992 a 2011. Entretanto, não foi investigada pela PNAD entre 1979 e 1990. As variáveis mencionadas até aqui são alguns exemplos dos dados trabalhados nas pesquisas. O quadro 4 e o esquema 4 fornecem uma visão mais abrangente a respeito das variáveis relativas ao trabalho para os quais os censos demográficos (de 1950, e de 1970 em diante) e a PNAD investigaram e publicaram informações desagregadas para o grupo de idade de 10 a 14 anos.

O mesmo quadro mostra que, apesar das variações quanto ao período de referência (geralmente semana ou ano) considerado em cada levantamento, há variáveis que permitem o confronto de informações entre as duas fontes, e também algumas que permitem a construção de séries históricas.

Assim é em relação à distribuição da PEA ocupada de 10 a 14 anos por atividade no trabalho principal (agrícola ou não agrícola), por setor de atividade econômica, por posição na ocupação (se empregados, não remunerados etc.), por grupos de horas habitualmente trabalhadas por semana, e por condição de contribuição para instituto de previdência oficial.

E, para quase todas as variáveis são apresentados dados por sexo, e para algumas delas também por situação do domicílio (rural ou urbana).

Quadro 4

Principais variáveis relativas ao trabalho das pessoas de 10 a 14 anos

disponibilizadas pelos censos demográficos e PNAD conforme a desagregação dos dados por sexo e situação de domicílio, o período de referência e os anos dos levantamentos – Brasil (1950-2013)

principais variáveis

[categorias de desagregação dos dados] (1)

dados por … período de refe-

rência

anos dos levantamentos sexo situação do do-

micílio censos PNAD

condição de atividade [população

economicamente ativa (PEA) + população não economicamente ativa (PNEA)]

sim não data 1950

sim não ano 1970

sim sim ano 1980, 1991 1995-99, 01-09, 11 1976-78, 1992-93,

sim sim semana 2000, 2010

1973, 1976-79, 1981-90, 1992-93,

1995-99, 2001-09, 2011 PEA por condição de ocupação

[ocupada + procurando trabalho] sim não ano 1980

[ocupada + desocupada]

sim sim ano 1991

sim sim semana 2000, 2010 1992-93, 1995-99, 1973, 1985-89,

2001-09, 2011 pessoas ocupadas

por atividade no trabalho principal

[agrícola + não agrícola] (2) sim não semana ano e

1992-93, 1995-99, 2001-09, 2011-13 por seção (setor)

de atividade econômica (3) (4)

sim não data 1950

sim não ano 1970, 1980, 1991

sim não semana 2010 1973, 1976

por posição (e subgrupo) na

ocupação no trabalho principal (3) (4)

sim não data 1950

sim não ano 1970, 1980, 1991 1992-93, 1995-99, 2001-09, 2011

sim não semana 2000, 2010 1973

empregados por categoria do

emprego no trabalho principal (3) sim não semana

1976-79, 1981-90; 1992-93, 1995-99,

2001-09, 2011 por grupos de horas habitualmente

trabalhadas por semana (3)

em todos os trabalhos sim não sim sim semana ano 1991 2000

no trabalho principal sim não semana 2010

por número de trabalhos

[1 trabalho + 2 trabalhos ou mais] sim não semana

92-93, 95-99, 01-09, 11

sim sim semana 2010

por condição de contribuição para instituto de previdência oficial no trabalho principal e em qualquer trabalho

[contribuintes + não contribuintes]

sim não semana 1978-79, 1981-90, 1992-93, 1995-99,

2001-09, 2011

sim sim semana 2010

PNEA por situação ou

ocupação não econômica (3) sim sim ano 1991 1973, 1976

Fontes: CONSELHO … – IBGE (1956b); FUNDAÇÃO … – IBGE (1973a; 1975b; 1978; 1979b; 1980; 1981; 1983i; 1983j; 1983a; 1984b; 1985; 1986; 1988a; 1988b; 1990; 1991j; 1991a; 1993; 1997a; 1997b); INSTITUTO … – IBGE (1997a; 1997b; 1998b; 1999; 2000b; 2002a; 2003a; 2003c; 2004; 2005; 2006b; 2007; 2008b; 2009a; 2009b; 2012c; 2012e; 2012f, 2013b).

Notas: Elaboração própria.

(1) Algumas variáveis sofreram, ao longo do tempo, mudanças em relação às suas definições, aos termos utilizados para designá-las, e às categorias adotadas para desagregação dos dados. Optamos pela adoção dos termos e categorias de desagregação empregados no Censo Demográfico de 2010 (INSTITUTO … – IBGE, 2012c) ou, alternativamente, no levantamento mais recente que tenha investigado cada variável.

(2) Dados também disponíveis para o grupo de idade de 5 a 9 anos, com exceção de 1996 e 1997. (3) As categorias de desagregação são as mencionadas no esquema 4, p. 160.

Esquema 4

Principais variáveis relativas ao trabalho investigadas pelos censos demográficos e PNAD com dados para o grupo de 10 a 14 anos de idade – Brasil (1950-2013)

Elaboração própria.

Fontes: CONS HO … – IBGE (1956b); FUNDAÇÃO … – IBGE (1973a; 1983a; 1991a); INSTITUTO … – IBGE (2012c; 2012e; 2012f, 2013b).

Nota: Algumas variáveis sofreram, ao longo do tempo, mudanças em relação às suas definições, aos termos utilizados para designá-las, e às categorias adotadas para desagregação dos dados. Optamos pela adoção dos termos e categorias de desagregação empregados no Censo Demográfico de 2010 (INSTITUTO … – IBGE, 2012c) ou, alternativamente, no levantamento mais recente que tenha investigado cada variável. Além disso, nem todas as variáveis estão disponíveis para todos os anos nos quais foram realizados censos demográficos e PNAD (ver quadro 4, p. 159).

Tanto nos censos quanto na PNAD ocorreram mudanças ao longo dos anos quanto às variáveis selecionadas, às categorias adotadas para sua desagregação, e ao plano tabular para apresentação de dados. Mas é possível, com as devidas cautelas, constituir séries históricas relativas ao trabalho para grupo de idade de 10

não economicamente ativas economicamente ativas

ocupadas

por número de trabalhos: 1 trabalho + 2 trabalhos ou mais por grupos de horas habitualmente trabalhadas por semana:

até 14 horas + 15 a 29 horas + 30 a 39 anos + 40 a 44 horas + 45 a 48 horas + 49 horas ou mais

por posição (e subgrupo) na ocupação no trabalho principal: empregados (trabalhadores domésticos + demais empregados) + conta própria + empregadores + não remunerados + trabalhadores na produção para o próprio consumo

por seção (setor) de atividade econômica: agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura + indústrias extrativas + indústrias de transformação + eletricidade e gás + água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação + construção + comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas + transporte, armazenagem e correio + alojamento e alimentação + informação e comunicação + atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados + atividades imobiliárias + atividades profissionais, científicas e técnicas + atividades administrativas e serviços complementares + administração pública, defesa e seguridade social + educação + saúde humana e serviços sociais + artes, cultura, esporte e recreação + outras atividades de serviços + serviços domésticos + organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais + atividades mal definidas

por condição de contribuição para instituto de previdência oficial no trabalho principal e em qualquer trabalho: contribuintes + não contribuintes

pessoas de 10 a 14 anos out ra s va riá ve is condiç ão de ocupa çã o condiç ão de ativ ida de desocupadas

por situação ou ocupação não econômica: aposentadas + pensionistas + viviam de rendas + estudantes + doentes ou inválidas + afazeres domésticos + sem ocupação

por atividade no trabalho principal: agrícola + não agrícola

empregados por categoria do emprego no trabalho principal:

a 14 anos que permitem compreendermos de que forma evoluiu desde meados do século passado até a atualidade.

Entretanto, há vantagens e limitações quanto ao uso dos dados publicados em cada um destes dois tipos de levantamentos.

No caso da PNAD, uma das principais vantagens consiste no fato de permitir o acompanhamento da evolução de algumas variáveis no curto prazo, dada a periodicidade anual do levantamento.

Outra vantagem da PNAD comparativamente aos censos demográficos é que, desde 1992, vem investigando também para o grupo de pessoas ocupadas de cinco a nove anos de idade, se a atividade no trabalho principal é agrícola ou não-agrícola, sendo exceção apenas os levantamentos de 1996 e 1997.

Também deve ser mencionado a facilidade proporcionada pelo livre acesso ao conjunto de informações da PNAD, que ocorre sem nenhuma dificuldade por questões de natureza burocrática (exigências quanto a solicitações, prazos, senhas para acesso eletrônico etc.). Para toda a série histórica do levantamento, o IBGE disponibiliza as publicações originais no seu catálogo on-line. E, para os levantamentos realizados entre 1992 e 2013, todas as tabelas sobre trabalho e rendimento estão disponibilizadas em planilhas do tipo excel (INSTITUTO … – IBGE, 2014e) 37.

Além disso, o IBGE já disponibiliza em sua página eletrônica os microdados relativos aos levantamentos realizados desde 2001 (INSTITUTO … – IBGE, 2014d), o que não apenas facilita muito o acesso ao conjunto completo de todas as informações coletadas, organizadas segundo domicílios e pessoas, mas viabiliza que agora os usuários possam realizar os cruzamentos de dados que desejarem.

E, por fim, para os anos de 2001 e 2006 o IBGE publicou, com base em tabulações específicas e informações adicionais coletados pela PNAD, dois suplementos que apresentam amplo conjunto de dados relevantes para interessados na temática do trabalho infantil (INSTITUTO … – IBGE, 2003d; 2008a).

37. O catálogo on-line do IBGE (disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/>) permite a obtenção de grande parte do acervo relativo à produção do órgão, incluindo não apenas toda a série da PNAD, mas também todos os recenseamentos demográficos e econômicos já realizados, além de muitas outras publicações.

Assim, vantagens em relação a outras fontes tais como a abrangência nacional, a anualidade, o amplo conjunto de variáveis e a facilidade de acesso ao conjunto de informações nos ajudam a compreender porque a PNAD vem sendo fonte amplamente utilizada por pesquisadores interessados no uso de dados estatísticos para a análise do trabalho infantil 38.

Os censos demográficos, comparativamente à PNAD, apresentam a “desvantagem” da periodicidade decenal. Mas, por outro lado, há duas vantagens consideráveis. A primeira delas decorre justamente de seu caráter censitário, com a aplicação de questionários em todos os domicílios do país. O IBGE vem utilizando dois instrumentais. Na maior parte dos domicílios é aplicado o questionário básico, que contém apenas algumas questões relativas ao domicílio e à composição da família. Nos demais domicílios é aplicado o questionário da amostra, muito mais detalhado. Em 2010 o questionário da amostra incluiu 22 questões sobre trabalho e rendimento, que são coletadas para cada um dos moradores de 10 anos de idade ou mais. O planejamento do censo demográfico de 2010 previu a aplicação do questionário da amostra em nada menos que 11% dos domicílios (quase 5,9 milhões, abrangendo 21 milhões de pessoas), com frações amostrais que variaram conforme a classe de população dos municípios: 50% em 260 municípios com até 2,5 mil habitantes, 33% em 1.912 municípios com mais de 2,5 mil até 8 mil habitantes, 20% em 1.749 municípios com mais de 8 mil até 20 mil habitantes, 10% em 1.604 municípios com mais de 20 mil até 500 mil habitantes, e 5% nos 40 municípios com mais de 500 mil habitantes (INSTITUTO … – IBGE, 2013a, tabela 7.1, p. 218). Para efeito comparativo, vale mencionar que em 2013 a PNAD foi realizada pela aplicação de questionários em uma amostra probabilística que engloba 1.100 municípios, 148.697 unidades domiciliares e 362.555 pessoas em todos os estados da federação, com frações de amostragem que variaram entre 1/150 no Acre e em Roraima, e 1/950 em São Paulo (INSTITUTO … – IBGE, 2013b, tabela 1).

A diferença entre os tamanhos das amostras dos censos demográficos e da PNAD pode ser um dos fatores que resultam em expressivas divergências entre as duas

38. Além de alguns estudos que utilizaram dados da PNAD comentados no Apêndice A, muitos outros poderiam ser citados, entre os quais alguns de autores com produção muito relevante sobre o tema, como BARROS et al. (2009), SCHWARTZMAN et al. (2004), ROSEMBERG et al. (2002), e CARVALHO (2008), por exemplo.

fontes quanto aos dados relativos ao trabalho para o grupo de 10 a 14 anos, podendo tais divergências levar a equívocos analíticos a respeito da magnitude do trabalho infantil e do ritmo de sua queda.

Associada à maior robustez amostral dos censos, a segunda vantagem é que este tipo de levantamento viabiliza a publicação de dados sobre trabalho para todos os municípios brasileiros, enquanto o tamanho da amostra da PNAD só viabiliza que as informações sejam publicadas tendo como menores níveis de agregação geográfica os Estados e as regiões metropolitanas.

Para os dados coletados nos censos de 2000 e de 2010 são disponibilizadas pelo “Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA” algumas tabelas sobre trabalho, com informações para cada um dos municípios brasileiros, como é o caso da que fornece os números sobre a PEA na semana de referência, por grupo de idade, sexo e situação do domicílio (INSTITUTO … – IBGE, 2014a, tabela 616), permitindo confiável análise da evolução ocorrida na década.

Além dos censos e PNAD, sem dúvida as duas mais completas e abrangentes fontes com dados estatísticos úteis à análise do trabalho infantil, há algumas outras que podem fornecer informações estatísticas úteis para a análise de alguns aspectos ou tópicos específicos.

Realizada pelo próprio IBGE, há também a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Com série iniciada em 1980, esta fonte é muito utilizada para análises relativas ao comportamento conjuntural do mercado de trabalho. É realizada com periodicidade mensal, e para o grupo de 10 a 14 anos publica as estimativas relativas à PEA e à população ocupada. Mas seu uso é bastante restrito já que a abrangência geográfica do levantamento fica limitada a seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre).

Além disso, ao menos no que diz respeito ao grupo de idade em questão, os dados devem ser vistos com reserva. Para o levantamento da PME realizado em agosto de 2010, as taxas de atividades (PEA / população) na semana de referência estimadas para o grupo de idade em questão variaram entre o mínimo de 1,3% para a Região Metropolitana de São Paulo e o máximo de 2,3% na de Porto Alegre, situando-se em valores intermediários nas demais regiões (INSTITUTO … – IBGE, 2014c, tabelas completas, tabela 20).

O mesmo indicador, apurado pelo Censo Demográfico de 2010, que teve como data de referência o dia 31 de julho daquele ano, resultou em percentuais de valores aproximadamente duas a quase quatro vezes maiores para as seis regiões, variando entre 3,6% na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e 5,8% na de Salvador (INSTITUTO … – IBGE, 2014a, tabela 616). Uma vez que a PME trabalha com uma amostra de aproximadamente 44 mil domicílios no total das seis regiões metropolitanas, e que nos municípios com mais de 500 mil habitantes o questionário da amostra do censo demográfico de 2010 foi aplicado, conforme mencionado, em 5% dos domicílios, sendo ainda maiores as cotas amostrais nos demais municípios, a julgar pelo tamanho da amostra os resultados desta segunda fonte são seguramente mais confiáveis.

Outra interessante fonte de dados, conforme a especificidade do enfoque de análise, pode ser o conjunto dos censos agropecuários, que podem auxiliar para uma melhor compreensão do trabalho infantil realizado no setor primário da economia, ainda de grandes proporções no Brasil. Esse levantamento tem, atualmente, periodicidade decenal.

Diferentemente dos censos demográficos, PNAD e PME, para os quais a unidade de coleta de dados é o domicílio, os censos agropecuários são realizados a partir de aplicação de “entrevista direta com o produtor” em todos os estabelecimentos agropecuários do país. O primeiro levantamento foi realizado em 1920, mas nele não foram levantadas informações sobre o trabalho realizado nos estabelecimentos. Mas já o levantamento seguinte, realizado em 1940, passou a coletar dados sobre o pessoal ocupado (FLORIDO, [2001?], 10).

Desde o levantamento de 1960 a conceituação utilizada para a coleta de dados sobre o pessoal ocupado permanece praticamente sem alterações de maior relevância, mantendo-se o mesmo formato para agregação por sexo e faixa etária, para a qual os quantitativos do pessoal ocupado aparecem subdivididos entre as categorias “de 14 anos e mais” e “menores de 14 anos” (FUNDAÇÃO … – IBGE, 1975a; 1979a; 1984a; 1991i; INSTITUTO … – IBGE, 1998a; 2006a; SERVIÇO … – IBGE, 1967) 39.

39. Em 1960, “a indagação sobre pessoal ocupado abrangeu tôdas as pessoas que na data do Censo participavam das atividades do estabelecimento. As pessoas residentes no estabelecimento,