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Os Crimes Sexuais no Direito Brasileiro

Para Rogério Greco, “a lei tutela o direito de liberdade que qualquer pessoa tem de dispor sobre o próprio corpo, no que diz respeito aos atos sexuais. O estupro, atingindo a liberdade sexual, agride simultaneamente, a dignidade do ser humano. (GRECO, 2010, p. 582).

Os crimes contra a dignidade sexual em seu Capítulo I – Dos Crimes contra a Liberdade Sexual no Código Penal abrangem os crimes de estupro (art. 213), violação sexual mediante fraude (art.215), importunação sexual (art. 215-A), assédio sexual (art. 216-A).

No Capítulo II – Dos Crimes Sexuais contra Vulnerável do Código Penal é tipificado os crimes de estupro de vulnerável (art. 217-A), corrupção de menores (art.218), Satisfação de

lascívia mediante presença de criança ou adolescente (art.218-A), Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art.218-B).

A recente Lei nº 13.718 de 24 de setembro de 2018 alterou o Código Penal e tipificou os crimes de importunação sexual (art. 215-A), divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia (art. 218-C).

O referido diploma legal ainda tornou pública incondicionada a natureza da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável e estabeleceu causas de aumento de pena para esses crimes e definiu como causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo.

Destaca-se que o art. 61 do Decreto-Lei nº 3.688/41 (Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor) foi revogado, deixando assim de ser uma contravenção penal e passando a ser tipificado pela conduta de importunação sexual (art. 215-A), que por ser uma alteração que é mais gravosa para o réu não retroagirá aos fatos ocorridos anteriores a ela.

É importante ressaltar as mudanças legislativas que ocorreram nos crimes sexuais, de antemão a Lei n.11.106/05, revogou todos os artigos que continham subjetivismo morais, tais como o Art. 219 (rapto violento ou mediante fraude) que tutelava a “mulher honesta”, passando a ter a redação do Art. 213 (estupro).

O crime de sedução (art. 217 – seduzir mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze anos e ter com ela conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança) foi revogado pela Lei n. 11.106/05, tendo em vista que o crime somente poderia ser praticado com mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze e que se aproveitasse de sua inexperiência ou justificável confiança.

Ainda a Lei n. 11.106/05 revogou os incisos VII (extinção da punibilidade pelo casamento do agente com a vítima, na antiga denominação “crimes contra os costumes”) e VIII do art. 107 (extinção da punibilidade, pelo casamento da vítima com terceiro, se cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não requeira o prosseguimento), o art. 217

(Seduzir mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze) art. 219 (Raptar mulher honesta,) art. 220 (rapto consensual), art. 221 (diminuição de pena do rapto consensual), art. 222 (concurso de rapto e outro crime), o inciso III do caput do art. 226 (aumento de pena se o agente é casado), o § 3o do art. 231 (aplicação de multa se o crime de tráfico de mulheres é cometido com o fim de lucro), o art. 240 ( o crime de adultério).

Destaca-se que Lei 12.015/2009 também trouxe profundas alterações no Código Penal tendo em um primeiro plano alterado o Título VI, que passou à denominação correta: Dos crimes contra a dignidade sexual, em substituição da nomenclatura de crimes contra os costumes, não fazia mais sentido o recato e a moralidade no contexto da sexualidade.

Somente com a Lei 12.015/2009 tipificou-se o Art. 217-A, “Estupro de Vulnerável” em que o tipo penal consiste em ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos, desconsiderando a virgindade e gênero, além de contemplar os que por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Antes da Lei 12.015/09 o sujeito ativo do crime de estupro era tão somente o homem. A mulher podia figurar como sujeito ativo caso agissem em concurso com um homem. Nas hipóteses em que a vítima fosse do sexo masculino configuraria o crime de constrangimento ilegal ou atentado violento ao pudor.

A Lei 12.015/2009 revogou os art. 214 (Atentado violento ao pudor), art. 216( Atentado ao pudor mediante fraude com “mulher honesta”), art. 223 (formas qualificadas do rapto violento ou mediante fraude), art. 224 ( a presunção de violência do rapto violento ou mediante fraude), art.232 (formas qualificadas do tráfico de mulheres) e a Lei no 2.252, de 1954 que tratava sobre a corrupção de menores.

Portanto, o que se pretende tutelar nos crimes sexuais é a dignidade sexual em harmonia com o princípio da dignidade da pessoa humana e não mais a moralidade dos costumes da década de 40.

A Exposição de Motivos da Lei 12.015/2009 deixa claro que “a primeira metade dos anos 40, é de padrão insuficiente de repressão aos crimes sexuais, seja por estigmas sociais, seja pelos valores preconceituosos atribuídos ao objeto e às finalidades da proteção pretendida”.

Neste viés, aquela realidade social dos anos 40, não é mais a mesma dos dias atuais, não atendendo as situações reais de violência sexuais especialmente dirigidos contra crianças e adolescentes, resultando no descumprimento do mandamento constitucional contido no art. 227, § 4º, de que "a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente". (BRASIL, 1988).

Com o advento da lei, tanto o homem quanto a mulher podem ser sujeitos ativo ou passivo do crime de estupro. Logo, o delito do estupro deixou de ser um crime próprio, passando a ser classificado como crime comum.

Nos ensinamentos de NUCCI :

A partir da edição da referida Lei, qualquer pessoa pode cometer estupro contra qualquer pessoa. Anteriormente, no caso de estupro, somente a mulher poderia ser sujeito passivo. A partir de agora, homens e mulheres podem ser sujeitos passivos desse delito. A conseqüência imediata dessa alteração é a criação de um tipo misto alternativo, ou seja, a prática da violência sexual para obter a conjunção carnal e também outro ato libidinoso dá margem à tipificação apenas em um crime: estupro. Não existem mais dois delitos (estupro e atentado violento ao pudor), mas somente o previsto no art. 213 do Código Penal.( NUCCI, 2014, p. 681).

A Lei 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e o atentado violento ao pudor em um só artigo legal disposto no art. 213 do Código Penal passando a conter o seguinte dispositivo “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. (BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 1941).

Diversas Súmulas foram editadas tratando-se da matéria de crimes sexual, tal como a Súmula 593 do STJ, que dispõe sobre o estupro de vulnerável que é configurado pela conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, pontuando a Súmula que o consentimento da vítima, sua eventual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime.

Na íntegra o verbete:

O crime de estupro de vulnerável configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato, experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente. (BRASIL, STF, 2017).

A Súmula 608 do STF “no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada”, no julgado do HC 81848, rel. min. Maurício Corrêa, 2ª T, j menciona que a violência real não é apenas nas situações em que se verificam lesões corporais, mas sempre que é empregada força física contra a vítima, cerceando-lhe a liberdade de agir, segundo a sua vontade.

Nos termo dos art. 234-B do Código Penal, os crimes contra a dignidade sexual, ocorrerão em segredo de justiça, com o fim de resguardar a privacidade e proteção da vítima.