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Crise no capitalismo monopolista

2 DESEMPREGO ESTRUTURAL E CRISE DO SISTEMA

2.3 DESEMPREGO FRENTE ÀS TRANSFORMAÇÕES DO

2.3.3 Crise no capitalismo monopolista

Em diversos momentos, nos tópicos anteriores, foram pontuadas as formas de intervenção estatal, os processos de crises e a adoção de medidas anticíclicas, com o propósito de garantir a manutenção do

sistema do capital como modelo hegemônico de sociedade. A partir desse tópico, é necessário trazer algumas reflexões específicas sobre esses temas.

Desde a análise marxiana sobre as crises estruturais do capital, a partir da explicação da queda tendencial da taxa de lucro, muitos marxistas buscaram entender a abrangência dessa teoria no cenário do capitalismo monopolista.

A partir da análise do que entende como capitalismo tardio, Mandel (1982) faz uma revisão sobre os debates em torno das crises cíclicas do capital. Após o debate com as diferentes vertentes do pensamento econômico a este respeito, Mandel consegue demonstrar, a partir da elucidação teórica e das estatísticas econômicas, a validade do argumento da existência de ciclos econômicos e ondas longas de aumento e redução da taxa de lucros, que são os fatores desencadeadores das crises estruturais do capital.

O eixo das análises sobre o movimento cíclico do capital é apresentado pelo autor como o “encadeamento da acumulação acelerada de capital, da superacumulação, da acumulação desacelerada de capital e do subinvestimento” (MANDEL, 1982, p. 76).

Os ciclos econômicos são definidos por Marx, de acordo com Mandel, a partir da duração do capital fixo, expresso pela maquinaria. O sistema capitalista possui a necessidade constante de alterar ou revolucionar o padrão de produção, para reduzir os custos e ampliar a taxa de lucro. Por conseguinte, a inovação tecnológica proporciona os meios materiais de redução do tempo necessário à produção, com redução de custos das mercadorias. Assim, a revolução tecnológica é um ponto crucial para se entender os ciclos econômicos, pois afeta a composição orgânica do capital.

Para os propósitos de uma transição de um processo técnico menos produtivo a um mais produtivo, muitas vezes é suficiente a introdução de pequenos aperfeiçoamentos na maquinaria, melhor organização e um ritmo acelerado de trabalho ou matérias-primas melhores ou mais baratas. No entanto, para se reorganizar completamente o processo técnico tornam-se necessárias novas máquinas, que devem ter sido projetadas numa fase anterior; muitas vezes são requeridos novos materiais, sem os quais os novos ramos de produção não podem vir a existir; são necessários saltos qualitativos na organização do

trabalho e nas formas de energia, no estilo, por exemplo, da introdução da esteira transportadora, ou das máquinas transferidoras automáticas (MANDEL, 1982, p. 77-8).

O autor explica que, na primeira forma, existe ampliação do capital fixo e variável e certa alteração na composição orgânica do capital; na segunda forma, a taxa de variação do capital fixo fica muito elevada, pela revolução na maquinaria, o que acarreta em uma aceleração da acumulação de capital: “período de inovação técnica radical aparece, dessa maneira, como um período de repentina aceleração da acumulação de capital” (MANDEL, 1982, pp. 78-9).Esse ponto crucial, que determina a aceleração da acumulação, expressa o investimento empresarial como motor do movimento ascendente do ciclo.

O exame dos ciclos econômicos de Mandel baseia-se integralmente nos fundamentos da teoria marxiana à queda tendencial da taxa de lucro:

A transformação tecnológica resultante das revoluções da tecnologia produtiva de base das máquinas motrizes e fontes de energia conduz assim a uma nova valorização do excesso de capitais que vem se acumulando, de ciclo em ciclo, no âmbito do modo de produção capitalista. No entanto, exatamente pelo mesmo mecanismo, a generalização gradativa das novas fontes de energia e novas máquinas motrizes deve conduzir, após uma fase mais ou menos longa, a uma fase igualmente prolongada de acumulação desacelerada – isto é, à renovação do subinvestimento e ao reaparecimento de capital ocioso (MANDEL, 1982, p. 83).

Além dos ciclos econômicos mais restritos, Mandel defende a existência de ondas longas vinculadas a esses ciclos, e determinadas por diversos fatores, incluindo uma série de mudanças sociais. Dos períodos marcados por ondas longas, o autor elenca quatro períodos:

O longo período compreendido entre o fim do século XVIII e a crise de 1847, basicamente caracterizado pela difusão gradativa, da máquina a vapor de fabricação artesanal ou manufatureira, por todos os ramos industriais e regiões industriais

mais importantes. Essa foi a onda longa da própria Revolução Industrial;

O longo período delimitado pela crise de 1847 e o início da década de 90 do século XIX, caracterizado pela generalização da máquina a vapor de fabrico mecânico como a principal máquina motriz. Essa foi a onda longa da primeira revolução tecnológica;

O longo período compreendido entre o início de 1890 e a Segunda Guerra Mundial, caracterizado pela aplicação generalizada dos motores elétricos e a combustão a todos os ramos da indústria. Essa foi a onda longa da segunda revolução tecnológica; O longo período iniciado na América do Norte em 1940 e nos outros países imperialistas em 1945/48, caracterizado pelo controle generalizado das máquinas por meio de aparelhagem eletrônica (bem como pela gradual introdução da energia nuclear). Essa foi a onda longa da terceira revolução tecnológica (MANDEL, 1982, p. 83-4). Este primeiro capítulo da tese procura localizar o leitor na perspectiva sob a qual se assenta esta pesquisa, que parte da argumentação geral dada pela teoria marxista e TMD. Sendo assim, é ponto de partida para as análises mais específicas a respeito do mercado de trabalho no Brasil e política do seguro-desemprego, objeto desta pesquisa.

A partir do próximo capítulo, após um enunciado geral sobre as políticas sociais, são apresentados elementos técnicos que demonstram a situação do mercado de trabalho no Brasil e as características que derivam da condição geral do mercado de trabalho capitalista e da condição dependente do Brasil, enquanto país situado na periferia do capitalismo mundial. Essa seção tem por objetivo caracterizar, na realidade social, os aspectos teóricos apresentados, bem como novos elementos para as análises posteriores.

Ademais, o próximo capítulo apresenta inicialmente a caracterização do seguro-desemprego enquanto política de mercado de trabalho no Brasil e possibilita considerar a distância entre a situação geral do mercado de trabalho e a formulação do seguro-desemprego enquanto política, devido ao descompasso entre a demanda dos trabalhadores e a oferta do benefício.

3 MERCADO DE TRABALHO E O SEGURO-DESEMPREGO Inserido no contexto das políticas sociais, o seguro-desemprego éum dos indicativos da atuação do Estado para promover a reprodução do modo de produção capitalista.Marx, em seu contexto, realizou o exame da legislação contra a vagabundagem, identificando essa legislação como a criação, por parte do Estado, das condições gerais da consolidação do modo de produção capitalista. Para ele, os trabalhadores, desfiliados do sistema servil e escravocrata, foram postos no “estreito caminho que conduz ao mercado de trabalho”(MARX, 2011, p. 417), por meio da coação e da atuação do Estado.

Nesse sentido, ficam evidentes as condições de implantação do sistema do capital, em que o Estado assume papel fundamental, seja de forma econômica, ampliando o espectro de atuação do capital, seja no sentido jurídico e político, criando, forçosamente, uma massa de trabalhadores aptos ao sistema do trabalho assalariado. Essa interação entre capital e Estado ganha contornos e propriedades diversas, mas se mantém de uma forma ou outra no desenvolvimento do capitalismo.

Inserido nesse contexto de atuação estatal e de implantação de políticas sociais como ação estratégica para manutenção do sistema, mas também como conquista histórica dos trabalhadores, coma finalidade de sua reprodução, o seguro-desemprego se apresenta como um mecanismo de intervenção estatal para garantir a assistência ao trabalhador em momentos de desemprego, situação gerada no interior do sistema capitalista12

A seguir, são apresentados os dados gerais sobre o mercado de