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Seguro-Desemprego Bolsa Qualificação Profissional

2 DESEMPREGO ESTRUTURAL E CRISE DO SISTEMA

3.3 As modalidades do seguro-desemprego frente à heterogeneidade de

3.3.3 Seguro-Desemprego Bolsa Qualificação Profissional

A modalidade Bolsa Qualificação Profissional foi instituída no ano de 200120e vem alterar a forma de organização tradicional do seguro- desemprego no Brasil. Se, quando instituído, o seguro já se vincula a políticas ativas como intermediação de mão de obra e qualificação

20 Instituída pela Medida Provisória nº. 1.726, de 03 de novembro de 1998 (reeditada pela Medida Provisória nº. 2.164-41, de 24 de agosto de 2001) e pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador – CODEFAT (Resolução nº. 200, de 04 de novembro de 1998).

profissional, quando instituída essa modalidade de seguro, ele passa a ser, em si mesmo, uma política ativa, conforme informa a descrição do Programa:

A Bolsa de Qualificação Profissional é o benefício instituído pela Medida Provisória n.º 2.164-41, de 24 de agosto de 2001 (vigente em consonância com o art. 2º da emenda constitucional n.º 32 de 11 de setembro de 2001). É uma política ativa destinada a subvencionar os trabalhadores, com contrato de trabalho suspenso, em conformidade com o disposto em convenção ou acordo coletivo de trabalho, devidamente matriculado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador.

A possibilidade de uso do benefício Seguro- Desemprego como Bolsa Qualificação Profissional para trabalhadores com contrato de trabalho suspenso é uma medida que surge como alternativa à demissão do trabalhador formal, em momentos de retração da atividade econômica que, por razões conjunturais associadas ao ambiente macroeconômico ou motivações cíclicas e estruturais, causam impactos inevitáveis ao mercado de trabalho (MTPS, 2016).

Os dados sobre a modalidade de seguro Bolsa Qualificação Profissional apontam que ela é bastante reduzida, se comparada com as demais modalidades. No entanto, no ano de 2014 foi mais abrangente, por exemplo, do que o seguro-desemprego empregado doméstico. Naquele ano, o número absoluto de segurados foi de 18.756 trabalhadores, sendo a maioria da região Sudeste (48,2%), seguida das Regiões Centro-Oeste (17,8%), Nordeste (17,3%), Sul (16%) e Norte (0,7%) (DIEESE; MTPS, 2015b).

Entre os anos 2009 e 2014, houve grande variação nos números de segurados do Seguro-Desemprego Bolsa Qualificação Profissional. Os dados apontam esse quesito em números absolutos: 2009 (20.524), 2010 (5.567), 2011 (8.841), 2012 (13.497), 2013 (8.432) e 2014 (18.756) (DIEESE; MTPS, 2015b).

Em 2014, os dados do Anuário do Seguro-Desemprego apontam que 91,2% dos beneficiários desta modalidade são homens, contra apenas 8,8% mulheres. A maioria dos trabalhadores segurados nesse ano (61,3%)

está na faixa etária entre 30 e 49 anos de idade. Sobre a escolaridade, os dados apontam que 46,8% dos segurados possuem Ensino Médio Completo ou Superior Incompleto, 24,5% possuem Ensino Fundamental Incompleto e 21,8% Ensino Fundamental Completo (DIEESE; MTPS, 2015b).

Alemão (2016) afirma que a instituição dessa modalidade de seguro-desemprego foi uma alteração importante no seguro como um todo e na destinação dos recursos do FAT, agora voltados também para a preservação do emprego, e não apenas para proteção ao trabalhador desempregado. O autor afirma que essa foi mais uma das medidas de flexibilização da legislação trabalhista instituída pelo presidente Fernando Henrique Cardoso:

Mudança de grande significado jurídico/legal na finalidade do seguro desemprego ocorreria no ano de 2001, quando ela deixou de ficar limitada aos trabalhadores desempregados na busca de novo

emprego, para incluir a busca da preservação do emprego (2001). A partir de então ficou bem

sacramentado que o seguro desemprego atingiria não só os desempregados, mas também os próprios trabalhadores ativos. A preservação do emprego era uma finalidade estranha ao desiderato

histórico de atingir o desempregado. Pode parecer a mesma coisa, mas individualmente não o é, pois desvia-se os recursos dirigidos ao protegido pela lei. Uma política contra demissões, principalmente as demissões em massa, talvez devesse ter outra regulação, mais específica, como reivindicado diversas vezes pelo movimento sindical.

Agora definitivamente os recursos do FAT se voltariam para cursos de qualificação ou complementação de custos com manutenção de empregados em empresas privadas em crise (ALEMÃO, 2016 grifos do autor).

A suspensão de contrato de trabalho para qualificação profissional é uma estratégia prevista em lei para subsidiar trabalhadores e empregadores em momentos de crise, visto que, de acordo com alguns critérios específicos, prevê a concessão de uma bolsa-qualificação ao trabalhador que estiver em período de suspensão contratual e, nesse

período, estiver cursando projetos de qualificação profissional oferecidos pelo próprio empregador.

É evidente que, de maneira geral, ambos são beneficiados com essa situação. O empregador, no período de dois a cinco meses (com possibilidade de prorrogação) fica isento do pagamento dos salários e dos demais encargos sociais e terá, após o período da suspensão contratual (período que deve ser idêntico à duração do curso de qualificação), um trabalhador melhor preparado para a sua atividade.

A queda na produção, decorrente do total afastamento do empregado, pode ser vantajosa (em períodos de crise que exijam retração da produção) e/ou pode ser compensada com o aumento do ritmo de trabalho dos demais empregados.

Para o empregado que participa desta estratégia, que de certa forma pode ser tomado como um empregado em situação de vulnerabilidade (visto que foi indicado para tal, aceitando essa condição, individualmente, e por meio de acordo coletivo sindical), a possibilidade de manutenção de seu emprego é fundamental. Essa possibilidade, somada à aquisição de uma qualificação adequada (entende-se que é bastante adequada, pois é oferecida pelo próprio empregador e, de fato, condizente com os objetivos da sua atividade) é bastante vantajosa.

Cabe identificar até que ponto essa forma de incentivo público ao investimento privado em qualificação profissional é vantajosa em relação ao valor do benefício21 de que é alvo o trabalhador, entendendo que pode ser inferior ao salário recebido anteriormente, além do tempo da suspensão, que não é considerado para fins de contribuição previdenciária.