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a crise econômica mundial e sua repercussão no setor florestal brasileiro

síntese de florestas plantadas no brasil em

2 Silvicultura de FloreStaS PlantadaS 1 destaques da Silvicultura em

2.1.1 a crise econômica mundial e sua repercussão no setor florestal brasileiro

Após um período de grande crescimento nos últimos anos, a economia mundial e consequentemente a economia brasileira, entraram nos últimos meses de 2008 em um período de desaceleração brusca. Entre 2005-2008 o crescimento expressivo dos setores industriais, do agronegócio e de serviços no Brasil, foi impulsionado pelo aumento da demanda interna e externa e pela elevação dos preços das principais commodities.

Até o início do último trimestre de 2008 os indicadores nacionais refletiram um crescimento vigoroso da economia sustentado pela expansão do crédito interno, que atingiu o nível recorde de 37% do PIB. O financiamento, em condições favoráveis, impulsionou a venda de diversos bens de consumo, sobretudo os duráveis. Neste mesmo período as expor- tações das principais commodities, com preços em elevação, alavancaram a balança comercial, com superávits cada vez maiores. O gusa, o aço e a celulose, assim como os móveis e os painéis reconstituídos, que são a principal matéria-prima da indústria moveleira, destacaram-se no conjunto dos produtos voltados para o consumo interno e exportação.

No último trimestre de 2008, no entanto, o cenário mudou com a crise financeira iniciada nos Estados Unidos e na Europa, afetando, sobretudo, as economias desenvolvidas e com reflexos negativos nas economias emergentes. O desa- quecimento das principais economias globais motivado por esta crise, e a consequente redução de crédito no mercado mundial diminuiu a demanda por commodities agrícolas e industriais de diversas regiões produtoras, inclusive do Brasil. Entre elas citam-se o ferro gusa, aço, celulose, papéis de imprimir e escrever e embalagens, painéis de madeira e móveis.

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Os elevados estoques e a redução de consumo, em especial no mercado externo, obrigaram os produtores nacio- nais a se adequarem à nova realidade global. Tal fato fez com que se reduzisse a produção de celulose e especialmente de gusa e aços, afetando sobremaneira o desempenho e resultados destes setores, pois a valorização do dólar não compen- sou a queda dos volumes exportados.

Os reflexos desta redução no nível de investimentos e o valor das exportações no quarto trimestre provocaram, dentre outras consequências, o forte desaquecimento de importantes setores com repercussões negativas nos níveis de emprego, renda e arrecadação de tributos.

A crise de liquidez, decorrente da crise de confiança, restringiu o crédito. Como exemplo, até setembro de 2008, 70% das solicitações de crédito das pessoas físicas era atendida. Esse número caiu para apenas 45% no mês seguinte. O crédito escasso e mais caro afetou o mercado doméstico de automóveis, o agronegócio e a construção civil. Além disso, provocou a queda de postos de trabalho e o adiamento ou cancelamento de investimentos da ordem de R$ 65 bilhões nas áreas de celulose, siderurgia, mineração, construção civil e açúcar e álcool, os mais atingidos. Tais ações tiveram uma influência direta na redução de investimentos sobre as atividades florestais e industriais. Em alguns setores da economia os reflexos da crise mostraram-se mais intensos. Empresas brasileiras, incluindo algumas do setor de florestas plantadas, apostaram na desvalorização do dólar no mercado futuro, realizando operações com derivativos e incorreram em grandes perdas trazidas pela valorização da moeda americana, agravadas pela queda dos preços das principais commodities expor- tadas pelas mesmas.

O governo brasileiro, por sua vez, adotou medidas visando minimizar os efeitos da crise, e contribuir para a reto- mada do crescimento da economia brasileira em um cenário internacional nem sempre favorável. Dentre as medidas adotadas pelo governo para reverter este quadro, estão a redução dos empréstimos compulsórios para os bancos e a liberação de linhas especiais de crédito pelo BNDES, em uma tentativa de aumentar a oferta de crédito na economia, além da isenção de alguns impostos para setores considerados prioritários pela geração de emprego, que foram afetados pela crise e pela queda do consumo.

Para parte dos analistas, as economias emergentes, que incluem o Brasil, responsáveis por 2/3 do incremento econômico mundial, continuarão a crescer embora em ritmo mais lento. Estima-se que entre 600 e 700 milhões de chi- neses e indianos migrarão do campo para as cidades nos próximos anos, criando demanda nas áreas de infra-estrutura e habitação, e ampliando as oportunidades para as empresas exportadoras brasileiras produtoras de commodities e bens industriais. O setor florestal poderá ser ainda mais beneficiado por apresentar menor custo de produção nas atividades de florestas plantadas, com menor ciclo e maior produtividade, com ativos menos sujeitos às oscilações do mercado financeiro, aspectos extremamente valorizados em épocas de crise financeira.

• Celulose e papel

A crise financeira internacional afetou a demanda e os preços da celulose e em consequência o respectivo setor produtivo. A celulose que era comercializada em agosto de 2008 por US$ 810,00/t caiu para US$ 530,00/t no 4º trimestre, acompanhando a queda dos preços das principais commodities exportadas pelo Brasil. A redução foi causada por desequi- líbrios no mercado, com elevações dos estoques decorrentes da redução do consumo.

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prejuízos contábeis de empresas do setor. No entanto, estima-se que o novo cenário que irá emergir, após a superação da crise, deverá fortalecer ainda mais o Brasil no cenário internacional devido à competitividade do setor, com baixo custo por tonelada produzida e à elevada qualidade em relação aos principais concorrentes internacionais. Apesar dos percalços espera-se, a partir do segundo semestre de 2009, o início de recuperação do setor.

Além destes fatores destaca-se, no cenário internacional, a ação do governo russo que estabeleceu tarifas de ex- portação de madeiras, o que elevou os custos e reduziu os embarques para a Europa em 44% e para a Ásia 15% em 2008. Está prevista ainda, para o início de 2009, uma tarifa de 80% sobre o valor exportado o que poderá reduzir ainda mais o suprimento de madeira russa para os principais concorrentes do Brasil.

• Siderurgia a carvão vegetal

O setor siderúrgico foi um dos mais afetados. As exportações de gusa caíram drasticamente no 4º trimestre de 2008, provocando uma das mais intensas crises no setor nacional com graves repercussões nos preços do produto e do carvão vegetal. Durante o primeiro semestre de 2008, os produtores nacionais, animados com os preços cada vez maiores do ferro gusa, matéria-prima para a fabricação do aço, no mercado internacional, passaram a investir em aumento de produção e a ampliar a contratação de mão-de-obra, inclusive colocando em operação fornos que estavam desativados. Em julho, o preço da tonelada do produto atingiu o valor recorde de US$ 850,00. A crise econômica global que eclodiria dois meses depois, no entanto, alterou completamente a perspectiva dessas empresas com o preço da tonelada atingindo US$ 350,00. No início de 2009 a tonelada havia caído a US$ 260,00, menos de 1/3 do preço praticado seis meses antes e com volume reduzido de negócios.

Consequentemente, o consumo e os preços do carvão vegetal também sofreram o impacto da crise. Os preços, que em julho atingiram o recorde dos US$ 114,50 / mdc, despencaram para US$ 34,17 / mdc em dezembro, decorrente da redução brusca do consumo, conforme ilustrado no Gráfico 2.01.

Gráfico 2.01 Evolução mensal do preço médio do carvão vegetal em 2008 (US$ e R$ / MDC)

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Nos últimos meses de 2008 foram abafados 100 fornos, ou seja, 65% dos 154 existentes no país demonstrando a gravidade da crise que afetou o segmento siderúrgico. Foram demitidos cerca de 4.000 trabalhadores do setor guseiro e decretadas férias coletivas sob risco de novas demissões. Em Minas Gerais, responsável pela produção de 70% do ferro gusa nacional, a crise atingiu o setor siderúrgico a carvão vegetal de forma intensa. De um total de 108 fornos apenas 20% estavam funcionando, em escala reduzida ao final do ano de 2008, algo sem precedentes, de acordo com o Sindicato da Indústria do Ferro em Minas Gerais (SINDIFER). A situação também se tornou grave nos demais estados produtores como Pará, Maranhão, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul.

De acordo com a Associação das Siderúrgicas de Ferro-gusa do Brasil (ASIBRAS) - que representa empresas e sin- dicatos de diferentes estados - o Brasil é o único país a produzir ferro gusa a partir do carvão vegetal, e mesmo com o agravamento da crise, não deve abrir mão deste processo de fabricação. Segundo essa entidade, a meta de suas associadas é que as mesmas deixem de consumir madeira originária de florestas nativas dentro de um prazo máximo de 10 anos.

As empresas e a Associação Mineira de Silvicultura (AMS) em conjunto com o Ministério Público Estadual e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais criaram o “Pacto de Sustentabilidade” que propõe, dentre outras medidas, a utilização de carvão vegetal apenas de florestas plantadas no prazo de 10 anos. O “Pacto de Sustentabilidade” serviu de base para a elaboração de um projeto de Lei Estadual, em tramitação na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

• Painéis de madeira e produtos de madeira sólida

No segmento de painéis de madeira reconstituída, que tem como maior cliente a indústria moveleira, a demanda esteve aquecida até setembro de 2008. Apesar da crise global, os níveis de produção permaneceram altos também no último trimestre de 2008, tendo em vista as vendas de painéis para entrega no 4º trimestre, período de alta demanda de móveis no período final do ano.

Como os demais segmentos da economia, a indústria moveleira experimentou grande demanda de móveis até o 3º trimestre de 2008, tanto para o mercado interno quanto para a exportação, ocorrendo a queda em ambos os mercados no 4º trimestre de 2008.

Em consequência, no último trimestre de 2008, a indústria de painéis de madeira teve grande redução de pedidos para entrega em início de 2009, quando as fábricas de móveis fazem a reposição de estoques, tendo em vista a queda nas exportações de móveis e a expectativa de vendas reduzidas no mercado interno e externo no início de 2009.

O setor de construção civil apresentou, no fechamento de 2008, crescimento superior a 10% em relação ao ano anterior. As expectativas para 2009 foram retomadas com o recente anúncio, e iniciativa do Governo, do programa de construção de 1 milhão de casas populares já a partir de 2009. Desta forma, acredita-se que haja aquecimento na demanda por painéis reconstituídos principalmente para a fabricação de móveis populares.

Por outro lado, os produtos de madeira sólida e os de maior valor agregado (PMVA), os quais participam da produção nacional destinada ao mercado externo, sentiram os efeitos da crise em função da queda expressiva na demanda internacional por estes produtos. Como alternativa, as empresas deste setor têm buscado se adaptar e suprir a demanda por produtos de madeira do mercado interno da construção civil, apesar deste representar um nicho de produtos específicos. Segundo a ABIMCI, ainda assim o crescimento acelerado observado nos últimos dois anos por este segmento é a válvula de escape para o setor de madeira sólida, o qual já sofreu perdas significativas devido à valorização do real ante o dólar até o início da crise financeira.

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2.1.2 a situação favorável do Brasil no iaiF Brasil e a atração de novos investimentos em florestas