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Cristianismo católico na Índia

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Capítulo I Os caminhos de um hindu-cristianismo católico

1.1 Os eremitas de Saccidananda: Jules Monchanin e Henri Le Saux

1.1.1 Cristianismo católico na Índia

Ninguém sabe ao certo quais foram os primeiros passos do cristianismo em solo indiano, o que se sabe é que o Cristianismo na Índia é antigo. A tradição católica e siríaca acredita que o Cristianismo foi levado à Kerala, Índia, pelo apóstolo São Tomé, que teria ido às terras indianas no ano 52 d.C, sob os auspícios dos Nestorianos (SA- GAYARAJ, 2013, p. 124). Os “cristãos de São Tomé” são conhecidos como cristãos siríacos na Índia por, originalmente, ter sua liturgia na Síria e reconhecer a jurisdição do Patriarca Sírio do Oriente em Damasco (Síria) (SAGAYARAJ, 2013, p. 124).

Conta-se a tradição que suas pregações impactaram a área que hoje é conhecida como Meliapor, um subúrbio da antiga Madras – agora Chennai. Ao que se acredita, as conversões realizadas através da ida de Tomé à Índia foram majoritariamente entre as castas altas do Hinduísmo. As pregações de São Tomé levaram a uma crescente hosti- lidade e violência por parte de hindus ortodoxos, e em 72 d.C. ele teria sido atacado enquanto se escondia em uma caverna em Chinnamalai (SAGAYARAJ, 2013, p. 125). De joelhos em oração, Tomé, segundo a tradição, foi martirizado na Parangimalai,

conhecida agora como Montanha de São Tomé. Seu corpo foi enterrado em Meliapor, onde agora é a Basílica de São Tomé1, em Chennai, Tamil Nadu. (ANTHONYSAMY, 2009, p. 74-90).

As atividades missionárias começaram somente após a chegada das igrejas que vieram com os comerciantes europeus. Muitas das rotas comerciais da Ásia para Europa eram por terra. Segundo Sagayaraj, três rotas da Ásia se encontravam em Constantino- pla. E os comerciantes árabes eram aqueles que levavam os bens da Índia e de outros países asiáticos para vende-los na Europa (2013, p. 125). Portanto, Constantinopla não era apenas um centro Oriental ou da Igreja Ortodoxa, mas também era um grande centro de comércio. Então, em 1453 um desastre acontece; a queda de Constantinopla, que foi invadida pelos Turcos, levando o comércio na Índia a quase fechar suas portas. “Sem pimenta do Ocidente, as pessoas na Europa acharam suas comidas sem sabor. As rotas terrestres estavam bloqueadas. A resposta foi via o mar” (SAGAYARAJ, 2013, p. 124). Esse episódio, após a queda de Constantinopla, dá início as navegações europeias e ao desenvolvimento de melhores e maiores navios e instrumentos de navegação mais apri- morados. A Europa estava começando a explorar o mundo e agora os europeus tinham um novo objetivo para suas explorações: recuperar o sabor das suas comidas, seus arti- gos de luxo.

Encontrar a “Terra das Especiarias” se tornou um objetivo grande, visto que o preço havia aumentando drasticamente após o fechamento das rotas por terra. Então, em 1492, o Rei da Espanha envia Cristóvão Colombo para o oriente com o objetivo de encontrar as Índias Ocidentais. Porém, ele chegou até a América, desembarcando no continente americano em 1498 (CLIFF, 2013, p. 346). Os portugueses navegaram para o sul e encontraram uma rota pela África do Sul. Vasco da Gama navegou para o porto de Kozhikode (Calecute) em maio de 1498. Levou para Portugal grandes quantidades de pimenta, gengibre, joias preciosas e outros bens. Uma nova rota comercial entre a Índia e a Europa foi aberta (WALPOLE, 1993, p. 20-21). Até então, os árabes eram os

1 Em fevereiro de 2018, conheci a tradição de São Tomé na Índia com meus próprios olhos. Estive em

Chennai, no estado de Tamil Nadu. Visitei a Basílica de São Tomé e a Montanha de São Tomé em Meliapor. A tradição permanece viva e há muitos seguidores de São Tomé na Índia e peregrinos que viajam até a Basílica e Montanha para obter milagres e graças.

maiores comerciantes da Índia, porém com a entrada dos portugueses nas rotas maríti- mas o cenário mudou. Os portugueses controlaram as rotas de navegação por mais de cem anos, construindo centros em Goa, Kochi, Tuticorin, Chennai, como também o Sri Lanka (SAGAYARAJ, 2013, p. 124). Comerciantes e soldados, e suas famílias, se es- tabeleceram nesses centros. Seu objetivo principal de estar na Índia eram os negócios e o comércio. Mas a presença deles no país significava que mais cristãos estavam se es- tabelecendo na Índia (WALPOLE, 1993, p. 21).

Bede Griffiths aponta que o evangelho trazido por Portugal, através dos sol- dados e políticos portugueses, serviu para fazer os indianos convertidos renunciarem todos seus costumes indianos (no qual era considerado contaminado pelo Hinduísmo) e se tornarem, o quanto mais possível, portugueses. Eles foram obrigados a mudarem de nome e a adotarem hábitos europeus de vestimentas e alimentação. (1984, p. 57).

Não só todas as formas de religião, liturgia, teologia e rígidos padrões de costumes ocidentais de devoção, como também todas as formas externas, igrejas, estátuas, pinturas e músicas, foram cópias fiéis de modelos ocidentais. Exagerar os efeitos promovidos na Igreja na Índia é difícil. (GRIFFITHS, 1984, p. 57)2

Já entre o século XVI, os missionários jesuítas foram para Goa e lá fizeram sua base missionária, pois o Império português havia tomado conta do estado de Goa e foi se espalhando para outras partes ao sul da Índia indo até o Sri Lanka. Nessas movimen- tações, inevitavelmente, eles encontraram os “cristãos de Tomé” que foram “convida- dos” a romperem os laços com a Igreja Nestoriana e passar a pertencer sob a jurisdição de Roma. Essa pressão levou a uma divisão: metade da comunidade cumpriu e começou a fazer parte da jurisdição romana, enquanto outra metade reafirmou a lealdade ao Pa- triárca Sírio de Antioquia (SAGAYARAJ, 2013, p. 124). Uma outra questão que dis- córdias e discussões entre os “cristãos de Tomé”, assim como os missionários jesuítas, era se o evangelho devia ser propagado apenas em castas superiores, se a casta real- mente deveria ser considerada uma instituição religiosa e, assim sendo, abolida, ou se era apenas um arranjo social secular, que portanto, poderia ser tolerado (MADAN,

2 Texto original: “Not only were all the forms of religion, liturgy, theology and devotional customs of a

rigidly western pattern but all the external forms, churches, statues, paintings and music, were faithful copies of western models. It is difficult to exaggerate the effect that this has had on the Church in In- dia.” (GRIFFITHS, 1984, p. 57)

2011, p. 213). Infelizmente, essas questões de casta se fazem quase ausentes nas temá- ticas do diálogo inter-religioso entre hinduísmo e cristianismo, como veremos mais à frente no decorrer desta pesquisa.

Os portugueses eram Católicos Romanos. Então, as congregações que eles es- tabeleceram por eles mesmos nos centros comerciais seguiam os ritos e práticas dos missionários Católicos. No ano de 1542, um missionário chamado Francis Xavier chega as terras indianas. Ele passou muitos anos com os pescadores na costa de Coromandel, milhares de pessoas foram batizadas por ele. Anos depois, Roberto de Nobili chega a Índia e começa a trabalhar com pescadores antes de ir a Madurai. Nobili sentia que os portugueses estavam fazendo que os “seus cristãos” se convertesse ao Ocidente (SA- GAYARAJ, 2013, p. 125). Então, o missionário português começa um empreendimento para deixar a Igreja mais indianizada, ele passou a viver como um Sannyasi indiano – guru. Assim, a Igreja Católica se espalhou por toda Índia. E ainda é hoje a maior igreja cristã no país. (WALPOLE, 1993, p. 22)

Por controlar as rotas comerciais no Oriente, Portugal, por mais de cem ano, era um dos países mais poderosos na Europa. Porém, algumas mudanças no poder vie- ram na Europa; outros países como Inglaterra, França, Holanda e Dinamarca também queriam partilhar das riquezas do Oriente, assim, gradualmente, também estabeleceram centros comerciais na Índia. Quando a Compania Inglêsa das Índias Orientais foi for- mada em 1600, capelães anglicanos foram indicados para os navios comerciais e depois para os centros de comerciais. Assim, a St. Mary’s Church in Fort St. George, foi a primeira e mais antiga igreja protestante construída na Índia, 1680, foi o marco da vinda da Igreja Anglicana em Madras (SAGAYARAJ, 2013, p. 125).

Em 1620 a Dinamarca começa seu centro comercial em Tarangambadi e sua colônia foi estabelecida. A maioria dos dinamarqueses eram luteranos, e então, a Co- mapania Dinarmarquesa construiu uma pequena igreja para eles e proveu capelães lu- teranos. Após esse período, três grandes ramos do Cristianismo se estabeleceram em solo indiano, Igreja Católica, Igreja Ortodoxa e Igreja Protestante. Isso foi aproximada- mente cem anos antes da Igreja Luterana, a primeira Igreja Protestante a enviar missio- nários para trabalhar na Índia, se tornar realmente interessada na obra missionária entre os indianos (1993, p. 23)

Introduziremos dois missionários católicos que foram importantes para a ex- pansão e início do cristianismo na Índia:

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