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Henri Le Saux (Swami Abhishiktånanda)

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Capítulo I Os caminhos de um hindu-cristianismo católico

1.2 Ashram Shantivam – a Montanha da Paz é estabelecida

1.2.2 Henri Le Saux (Swami Abhishiktånanda)

Dom Henri Le Saux, também conhecido como Swami Abhishiktånanda (1910-

1973), nasceu em St. Briac em Bretanha, na França, em 1910. Nascido em uma família católica, sempre foi incentivado a seguir a vida religiosa, se tornando monge aos 19 anos, em 1929, e assim como Monchanin, sempre foi movido pela busca de algo “além” (BELTRAMI, 2013, p. 31). Na abadia beneditina de Kergonan, Le Saux foi ordenado padre em 1935, passando a servir como bibliotecário no mosteiro, o que facilitou a lei- tura da tradição católica grega, dos Padres do Deserto, do misticismo apofático. Lecio- nou direito canônico no mosteiro, entre 1946 a 1948 (VALERA, 2007, p. 8). Já em 1934, “ele havia percebido que ir para Índia significava encontrar sua vocação de vida” (VALERA, 2007, p. 8). No ano de 1947 ele envia uma carta ao bispo de Tiruchirapalli, em Tamil Nadu, pedindo uma autorização para ir à Índia. Quem respondeu a carta em

16 Texto original: “was a pioneer in the Catholic Church of an inclusive view of the relation between Chris-

tianity and Hinduism, The Indian tradition should not be rejected but integrated in the Church." (RODHE, 1993, p. 73).

nome do bispo foi Jules Monchanin, que encontrou as respostas de suas inquietações, e encorajou Le Saux para se juntar a ele (VALERA, 2007, p. 9).

Em 1948, Henri Le Saux chega à Índia. Seu objetivo era buscar uma relação mais íntima com o Absoluto. E então, Le Saux e Monchanin fundam o Saccidananda Ashram, às margens do rio Kaveri, em Tamil Nadu. Na busca de um cristianismo indi- ano, Le Saux, assim como Monchanin, usava as vestes cor de açafrão e mudou seu nome, e é o único do movimento do Shantivanam que é conhecido com o seu nome de iniciação de sannyasi, Swami Abhishiktånanda (BELTRAMI, 2013, p. 32).

Após fundadem o modesto ashram, os dois padres atravessam a Índia até Arunachala para visitar o guru Ramana Maharshi. Esse foi um momento importante para a experiência de Abhishiktånanda com o hinduísmo, encontro que impactou suas obras.

No sábio de Arunachala do nosso tempo, eu discerni o Único Sábio da Índia eterna, a contínua sucessão de seus sábios, seus ascetas, seus videntes; é como se a própria alma da Índia hou- vesse penetrado as maiores profundezas de minha aula e man- tido com elas misteriosa comunhão. (BAUMER-DESPEIGNE, 1983, p. 313) 17

17 Texto original: “In the Sage of Arunachala of our time I discerned the Unique Sage of the eternal In-

dia, the unbroken succession of her sages, her ascetics, her seers; it was as if the very soul of India penetrated to the ve1y depths of my own soul and held mysterious communion with it” (BAUMER- DESPEIGNE, 1983, p. 313)

Nos anos seguintes da morte de Ramana Maharshi, Abhishiktånanda passou dois longos períodos em uma santa Montanha com muitas cavernas. Ele escreveu sobre a grande experiência mística enquanto estava em retiro em Arunachala (OLDMEA- DOW, 2004, p. 107) e afirmou que "verdadeiramente renascido em Arunachala sob a direção do Maharishi (STUART, 1980, p. 170). 18Ele também se tornou discipulo de Sri Gnanananda Giri de Tiruykoyilur, ele conta dessa experiência em dois livros Guru and Disciple (1967) e The Secret of Arunachala (1974). Após esse encontro com Gna- nananda, Abhishiktånanda observa que sua lealdade automaticamente pertenceu ao guru, coisa que nunca havia acontecido com o padre (OLDMEADOW, 2004, p. 106)

Figura 3 Swam Abhishiktananda

Comprometido com a jornada interior, Abhishiktånanda se imergiu em uma pro- funda e transformadora experiência do Hinduísmo. O caminho que ele levou foi muito diferente do seu compatriota Jules Monchanin, porque a identidade europeia e cristã de Abhishiktånanda não foi construída com a noção de superioridade cristã, mas sim em sua vocação monástica (BELTRAMI, 2013, p. 32). Ele se mudou para Índia para evan- gelizar as pessoas, “mas logo descobriu ter natural afinidade com as práticas espirituais

18 Texto original: “Truly reborn at Arunachala under the guidance of the Maharishi" (STUART, 1980,

hindus e se encontrou cada vez mais atraído pelo hinduísmo como modo de perceber o mistério da natureza divina de Deus (BELTRAMI, 2013, p.32). 19Ele teve uma experi- ência profunda com Advaita, inclusive muito mais intensamente que Bede Griffiths, já em 1953 ele escreveu:

O que corrói tanto meu corpo quanto minha mente é isto: após ter encontrado na advaita a paz e regozijo nunca antes experimentados, viver com a apreensão de que, provavelmente, tudo que o latente cris- tianismo me sugere é, não obstantemente, verdade e, portanto, ad-

vaita deve ser sacrificada a isso… ao me devotar totalmente a advaita,

se o cristianismo é verdadeiro, eu arrisco a me comprometer a um ca- minho falso pela eternidade (LE SAUX in du Boulay, 1953)20

E em 1956:

Como, então, posso viver como cristão? É como se Tu tivesses me compelido do exato lugar, das profundezas do meu Eu, do meu mais interno cerne, no mais maravilhoso mistério da minha consciência, onde eu costumava Te adorar (LE SAUX in du Boulay, 1956)21

Nos anos seguintes Abhishiktånanda foi gradualmente foi perdendo suas cone- xões com o Shantivanam (embora tenha continuado a visitar até a sua morte) e começou a passar mais do seu tempo sendo um errante sannyasi pelas montanhas do Himalaia (OLDMEADOW, 2004, p. 107). A convicção que levava era que a vida de renunci- ante/desapego era o ponto de encontro entre Hinduísmo e Cristianismo:

Acredite, é além de todo mistério de sannyasa que a Índia e a Igreja irão se encontrar, descobrir-se nas partes mais secretas e escondidas de seus corações, no lugar em que elas são verdadei- ramente elas mesmas, no mistério de suas origens em que cada manifestação externa é enraizada e, a partir da qual, se desdobra. (Abhishiktananda, 1974, p. 162)22

19 Texto original: “But soon discovered to have a more natural affinity for the practices of Hindu spiritual-

ity and found himself increasingly attracted by Hinduism as a way of realising the mystery of the di- vine nature of God” (BELTRAMI, 2013, p. 32).

20Texto original: “What gnaws away at my body as well as my mind is this: after having found in advaita

a peace and bliss never experienced before, to live with the dread that perhaps. most probably, al that my latent Christianity suggests to me is none the less true, and that therefore advaita must be sacri- ficed to it... in committing myself totally to advaita, if christianity is true, I risk committing myself to a false path for eternity.” (LE SAUX in du Boulay, 1953)

21 Texto original: How then can I live as a Christian?... It is as if You had driven me from the very place,

at the very depth of myself, in the innermost center of myself, in the most wonderful mystery of my consciousness, where I used to adore You (LE SAUX in du Boulay, 1956).

22 Texto original: Believe me, it is above all in the mystery of sannyasa that India and the Church will

meet, will discover themselves in the most secret and hidden parts of their hearts, in the place where they are each most truly themselves, in the mystery of their origin in which every outward

Em 1968 entrega o Shantivanam para o padre inglês Bede Griffiths, fundando um pequeno eremitério nas margens do Ganges em Uttarkashi nos Himalaias. Lá que foi mergulhando ainda mais nas profundidades das Upanishads. Também consolidou sua compreensão do sânscrito, tâmil e inglês, participando de inúmeros retiros e confe- rências na temática do diálogo inter-religioso. A maioria de seus livros foi escrita aos pés do Ganges, lugar muito apropriado para tal. Faz alguns discípulos, e em 1971 recebe como discipulo o seminarista francês Marc Chadus. “No ano seguinte, em Rishikesh (no sopé do Himalaia), juntamente com o sannyasi hindu Swami Chidananda, em uma dupla cerimônia, iniciou Chaduc como monge cristão e sannyasi hindu” (VALERA, 2007, p.10)

Abhishiktånanda morre em 1973. Em sua doença final, experimenta nova- mente um “apocalipse interior”, “um despertar além de todos os mitos e símbolos”

23(BAUMER-DESPEIGNE, 1983, p. 327-328), fazendo-o retornar a uma das suas pas-

sagens preferidas nas Upanishads, que se encontra na Svetasvatara Upanishad, 111.8:“Conheci, além de toda a escuridão, aquela grande Pessoa de fulgor dourado. Somente através do conhecimento dele se pode conquistar a morte” (OLDMEADOW, 2004, p. 106).

A vida de Abhishiktånanda em si constitui sua maior obra. Na vivên- cia do silêncio, em sua mais profunda interioridade, deixou como le- gado um grande tesouro – a sua autorrealização. Esse tesouro se ex- pressava claramente em sua renúncia, simplicidade e gentileza com todos que estivessem dispostos a conversar e a ouvi-lo. Foi também um inalcançável escritor e deixou vários livros, cartas e artigos, inclu- sive muitos não-publicados (VALERA, 2007, p. 11).

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