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O dia-a-dia do Shantivanam

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Capítulo I Os caminhos de um hindu-cristianismo católico

1.2 Ashram Shantivam – a Montanha da Paz é estabelecida

1.2.3 Saccidananda Ashram: costurando um hindu-cristianismo

1.2.3.1 O dia-a-dia do Shantivanam

O Shantivanam tem seus próprios ritos e cantos, e tudo é descrito pelo Sandhya Vandana:

Vandana significa cânticos de louvor e adoração, Sandhyaa significa literalmente “manter unido, união, junção, ponto de encontro”. Aqui é o ponto de encontro do dia e da noite, da escuridão e da luz, da luz da manhã e do crepúsculo e, portanto, também a junção das três divi- sões do dia: alvorada, meio-dia e pôr-do-sol. (Saccidananda Ashram, 2011, p.4)30

Sandhya também se refere aos atos religiosos (yajnas) realizados pelos Brah- mins. Os Rishis, antigos videntes da Índia, insistiam na oração realizada três vezes por dia. Essas orações eram chamadas de tri-sandhya-prartana ou tri-sandhya-mantra. O ri- tual constituía em aspergir água e repetir invocações e mantras, especialmente o Gayatri Mantra. Esses três movimentos correspondiam com os ofícios monásticos beneditinos: Laudes, Vésperas e Completas. Portanto, baseiam-se principalmente em cânticos e lei- turas da Bíblia, de acordo com as tradições Siríacas e Beneditinas Latinas. A oração

28 “who is considered to be a ‘realised soul, that is, one who has had a deep experience of God and is able

to communicate some of this experience to his disciples” (GRIFFITHS, Saccidananda Ashram)

29 Texto original: “The center of the ashram life is the presence of Christ, the Satguru, and the guru or

spiritual guide in a Christian ashram has to lead his disciples to find their guru in Christ” (GRIF- FITHS, Saccidananda Ashram).

30 Texto original: Vandana means chants of praise and worship, Sandhyaa literally means “holding to-

gether, union, juncture, meeting point.” Here it is the meeting point of day and night, darkness and light, morning and evening twilight, hence also the juncture of the three divisions of the day: dawn, noon, and sunset (Saccidananda Ashram, 2011, p. 4)

cristã é sempre precedida pelo canto em sânscrito e por leituras de Escrituras Sagradas do Hinduísmo e de outras tradições do Oriente (Saccidananda Ashram, 2011, p. 4).

Bede Griffiths descreveu um dia típico no Shantivanam em ume entrevista con- cedida ao jornal The Laughing Man, em 1984:

Levantamo-nos às cinco e meditamos das cinco e meia às seis e meia [...] às seis e meia, temos uma das três orações diárias, as quais sempre começam com cânticos sânscritos. Procedemos, então, para um hino sânscrito, outro cristão e duas canções meditativas. Temos uma leitura bíblica e eu geralmente teço um comentário sobre a passagem. Após canções devocionais, terminamos como uma cerimônia arati (ondula- ções de luzes). No meio do período noturno, temos um culto similar com a oração da noite um pouco mais longa. Após a oração da manhã, temos a Eucaristia, celebrada em um estilo indiano que foi aprovado pelos bispos e pela Santa Fé. (GRIFFITHS, 1984, p.36)31

I) Oração da manhã:

A oração da manhã começa às 6:30 com o Gāyatrī Mantra, principal oração para iniciar as meditações, a missa e o dia, um mantra da tradição hindu que diz:

31 Texto original: “We get up at 5:00 and meditate from 5:30 to 6:30 […] At 6:30 we have one of our

three daily times of prayer, which always begin with Sanskrit chanting. Then we usually have a San- skrit hymn, a Christian hymn, and two rather meditative songs. We have a reding from the Bible, and I usually give a commentary on the reading. After devotional singing, we end with an arati ceremony (waving of lights). At midday sans in the evening, we have a similar service, with the evening prayer being somewhat longer. After the morning prayer we have the Eucharist, celebrated in an Indian style that has been approved by the bishops and the Holy See” (GRIFFITHS, 1984, p. 36)

ॐ भूभभुवस्वः । तत ् सववतभवुरेण्यं । भर्गो देवस्य धीमहि धधयो यो नः प्रचोदयात ् ॥ Om bhūr bhuvaḥ svaḥ tát savitúr váreṇyaṃ bhárgo devásya dhīmahi

dhíyo yó naḥ pracho- dáyāt

Saudação à Palavra a qual está presente na terra, nos céus e que está além: Meditemos no esplendor glorioso do di- vino Doador de Vida. Que Ele ilumine nossa meditação.

O Gāyatrī Mantra é cantado três vezes. Após esse momento de oração, há os

versos introdutórios que são alguns mantras hindus unidos em uma só oração:

a)

लोकाः समस्ताः सभखिनो भवन्तभ,

b)

Lokah Samastah Sukhino Bhavantu

Que todos os seres em to- dos os lugares possam ser felizes.

ॐ असतो मा सद्गमय

तमसो मा ज्योततर्गमय

मृत्योमाग अमृतं र्मय

Om Asato Maa Sad-Ga- maya

Tamaso Maa Jyotir-Ga- maya

Mrtyor-Maa Amrtam Ga- maya

Om. Do irreal conduza-me

ao real. Das trevas con-

duza-me a luz. Da morte

conduza-me à imortali-

c)

पूर्गमदः पूर्गतमदं पूर्ागत्

पूर्गमुदच्यते

पूर्गस्य पूर्गमादाय

पूर्गमेवावतिष्यते ॥

pūrṇamadaḥ pūrṇami-

daṃ pūrṇāt pūrṇamu- dacyate pūrṇasya pūrṇamādāya pūrṇamevāvaśiṣyate ॥

Aquilo é pleno. Isto é pleno. Do pleno vem o pleno. Tirando o pleno do pleno ou acrescentando o pleno ao pleno, apenas o

pleno permanece.

d)

Após a recitação de mantras, acontece a leitura de alguma escritura Hindu, Bha- gavad-Gita, Upanishads ou outros escritos sagrados. Depois da leitura há a oração da li- turgia Siríaca, leitura dos salmos (um em inglês e outro em tâmil) e uma leitura do Antigo Testamento da Bíblia. E a Eucaristia é servida, que Bede Griffiths assim descreve: “Sen- tamo-nos no chão e oferecemos pão, vinho e os quatro elementos - água, terra, ar e fogo. A ideia é que represente o sacrifício cósmico. Cristo assume toda a criação e a oferece a Deus.” (1984, p.36) 32

II) Oração do meio-dia

É novamente recitado o Gayatri Mantra, um hino é cantado em sânscrito: “Senhor do Universo, Ó Eterna Consciência, eu reverencio diante de Ti. Santíssimo, Supremo Es- pírito, agora e para sempre reverencio a Ti” (Saccidanda Ashram, 2011, p. 8). Uma leitura de alguma Sagrada Escritura é feita. A oração do rito siríaco é realizada novamente. Sal- mos 118 é lido juntamente com algum escrito dos Padres da Igreja. Após a leitura a Oração pela Paz é feita, ela é inspirada no mantra Asato ma:

Lead me

from death to life, from falsehood to truth.

Lead me from despair to hope, from fear to trust.

Lead me from hate to love, from war to peace.

Let peace fill our hearts, our world,

our universe (Saccidananda Ashram, 2011, p. 9).

Depois de realizado esses passos a prática do Archana é feita. Archana é a prática de adoração a divindade através da repetição de 108 nomes de Deus. E após a recitação dos nomes a cerimonia de Arati é realizada. Arati é o oferecimento das luzes para a dei- dade. As lamparinas são feitas de ghee e oferecidas no altar com cânticos e mantras. O Shantivanam assim entende o Arati:

32 Texto original: “We sit on the floor and offer bread and wine and the four elements – water, earth, air and

fire. The idea is that it represents the cosmic sacrifice. Christ assumes the whole creation and offers it to God” (1984, p. 36)

Consiste-se na ondulação de luz ou incenso, como um sinal de honra e adoração realizado antes de qualquer coisa ou pessoa sagrada. A origem de arati diante do principal santuário do templo (o qual é sempre mantido no escuro) significa a habitação de Deus nas profundezas do coração. Quando as luzes se ondulam diante disso, revela-se o Deus (como se es- tivesse) escondido. A ondulação das luzes diante do Santíssimo Sacra- mento e de toda congregação manifesta-se (como se fosse) o Cristo es- condido. (Saccidananda Ashram, 2011, p.7)33

III) Oração da noite

Como todas as orações, a oração da noite se inicia com o Gayatri Mantra. Após a repetição do mantra é cantado o cântico Vande Saccidananda, que foi escrito pelo sannyasi cristão Brahmbandhab Upadhyay. A leitura de sábios de Tamil é feita e novamente a ora- ção do rito siríaco. Leitura de dois salmos e uma leitura de um texto do Novo Testamento da Bíblia juntamente com um comentário é feita. Depois das leituras bhajans, cânticos devocionais, são tocados e a cerimônia do Arati é realizada.

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